Tuesday, August 29, 2006

Fabiano Calixto
Marília Garcia


poemas:

§

falar hoje exige
elidir a própria
voz as transações
inventivas entre
interno e externo
demandam
que a base venha
à tona e a
superfície seja
da profundidade da
história ímpeto
denotando o
centrífugo
o corpo público
que exibo como
palco fruto
da ansiedade
do remetente
o interno ao longo
da epiderme
como emily
dickinson terminando
uma carta de minúcias
com „forgive
me the personality“

(2004)


Auto-retrato para agência de acasalamento
A-
pós
a noite
em claro com
Antonioni / Plath / Radiohead
você pergunta-me
pela vida humorosa?
(cf. O. de A.)
auto-devastar-se
a única
art we master,
só nos entendendo
via subtração,
nossos encontros
fantásticos!, cavalheiros,
como anseio
por ele
que piora tudo;
horas
para arrumar-se
e no fim
este trapo?
ornam,
combinam,
caem
tão bem;
aguardo o dia
em que tudo
o que disser-me
o ventríloquo
seja a citação
de alguém algures,
como desaparecer
completamente;
nosso amor durou
quinze hematomas e
a incubação
da escabiose,
minha herança!;
quando acordei,
cada coisa em seu
lugar onde
eu, eu, eu
deixara;
ah! amar é
inter-
ferir,
salvar
se de si

(2005)


Enteléquia

total
idade
mediada
por angulos e novas
operações,
triangular-se
mas coordenada
pela posição empírica
do sujeito
a objeções
como
criatura de
30
ou
criatura de
80
dizendo: "a seara
está branca"
em plenitude, resignação
e as superfícies
concavas, convexas
de Alice B. Toklas
sugerindo a Gertrude Stein
"A rose is a rose is a rose is a rose"
& eu, etc e preferência
escrevo
arroz, arroz, arroz, arroz
ou qualquer brancura
sobre o seu
rosto
sobre o seu
dorso
sobre o seu
sobre
& que eu
sobre quando
esgotarem-se
todas as outras possibilidades eretas
se não
do mundo,
da cidade,
então, esqueça meu nome
se a mim basta-me
um assovio
para que minhas palmas e joelhos
apresentem-se ao seu tapete
e minha saliva não
frustre a minha língua
pois a aprendizagem com
Oswald de Andrade / Frank O'Hara
demonstra que nomear muitas vezes
simplesmente
acalma,
Johannes Göhlich Johannes Göhlich
e venho com este
chamar sua atenção
não-lusófona
conquanto este sujeito
sempre perturba
minhas reflexões
e intromete-se
nos objetos, no ambiente
como se a cutícula
se desprendesse e começasse
a distanciar-se
e fosse obrigado
a admitir
como apêndice
as unhas



bio/biblio
Ricardo Domeneck. Paulista, vive em Berlim, Alemanha. Além de poeta,
é tradutor, ensaísta, videomaker e DJ. Como DJ, organiza a festa semanal
Berlin Hilton (www.berlinhilton.net). Edita o fanzine Hilda
e o site Flasher (www.flasher.com), para o qual escreve artigos
e entrevista artistas e músicos em Berlim e Londres.

Publicações: "Carta aos anfíbios" (Rio de Janeiro: Editora Bem-Te-Vi,
2005); "A cadela sem Logos", no prelo; "Ideologia da percepção", em
Inimigo Rumor — Revista de poesia, n. 18 (São Paulo/Rio de Janeiro:
editoras CosacNaify/7Letras, 2006); "Cuatro Poetas Brasileños
Recientes", organização e tradução de Cristian de Nápoli (Buenos Aires:
Editorial Black & Vermelho), "When they spoke I / confused cortex / for
context" (London: Blow de la Barra, 2006).

8 comments:

Anonymous said...

espero que saiba o efeito estrondoso que você tem na minha vida, ricardo. bueno, aqui nao é lugar pra declaraçoes de amor (you must know ich habe dich lieb), mas preciso dizer que os teus "carta aos anfíbios" e "ideologia da percepçao" sao MUITO importantes pra mim. depois de ler o segundo, escrever poesia ficou muito mais interessante. devo ter acumulado bonus points de karma positivo nas vidas passadas pra ser sua contemporânea. bem menos difícil fazer o que é necessário tendo amigos como você.

ps: e nao pense que esqueci do "when they spoke i/...", que é genial.

Anonymous said...

O trabalho exaustivo de Ricardo Domeneck, que recolhe e elabora as experiências não tão palpáveis da vida contemporânea, é realmente exemplar. Sua percepção e sensibilidade são simplesmente estrondosas. É uma honra contá-lo entre os meus amigos.

Érico Nogueira.

Salga Canhotinha de Ouro said...

Rapaz, um dia a gente vai acabar se conhecendo. Acredito na benigidade do acaso... Seu leitor e colega de editora, L.M.

Anonymous said...

uau

Anonymous said...

Entre todas as imagens,as que nos fazem, forçar a olhar, as imagens da chama, escrita, fingida anacronica - apuradas, sensatas, às mais loucas - sonhador inflamado és um poeta em potencial, em vontade infinita de misturas.
afonso alves

alejandro mendez said...

Ricardo, desde que te escuché leer
en el festival Salida al Mar, en Buenos Aires, advertí la incandescencia de tu poesía; sin duda una de las más interesantes de Brasil.

**
Acá un collage en portuñol:

pois

ninguém me arranha
ninguém me cospe
ninguém me chama
de kate moss

(oh, how
elisabeth chamber
of you)

ah el martirio
rosa de nunca
tener hijos a
quienes llamar
Rocamadour Abel Luke Skywalker.



Un abrazo

Alejandro Mendez
www.laseleccionesafectivas.blogspot.com

Anonymous said...

Compartilho da opinião da Angélica, minha visão das coisas mudou depois de "Ideologia da Percepção", que conheci via Paulo Henriques Britto! Fantástico! "Cadela sem Logos" é igualmente impactante! Tenho o prazer de ser seu contemporãneo, pois sua contribuição para o debate sobre a poesia de hoje é, sem dúvida, inestimável!

Unknown said...

Ricardo
Sabia que você é realmente uma pessoa especial....desde os primeiros desenhos seus que tive a oportunidade de ler e sentir.
Obrigada por existir....tão longe e tão perto com suas palavras de sonhador em potecial, de poeta e de companheiro de noites insones !
Um grande abraço, da amiga e leitora dos seus devaneios disfarçados de palavras serzidos pela sua sensibilidade infinita !
Júnia