mencionado por:
Ricardo Aleixo
Greta Benitez
Claudio Daniel
Rodrigo de Souza Leão
Virna Teixeira
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Onze poetas que ainda não estão no site:
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Micheliny Verunschk
Gabriela Marcondes
Gabriel Pedrosa
Rica P
Donny Correia
Eduardo Lacerda
poemas:
Desexistir
Quando eu desisti
de me matar
já era tarde.
Desexistir
já era um hábito.
Já disparara
a auto-bala:
cobra cega se comendo
como quem cava
a própria vala.
Já me queimara.
Pontes, estradas,
memórias, cartas,
toda saída dinamitada.
Quando eu desisti
não tinha volta.
Passara do ponto,
já não era mais
a hora exata.
(in Contracorrente, São Paulo, Iluminuras, 2000)
Memória se
A mais íntima
memória se
desdobra cega
e surda:
A presença tátil
de suas dobras
incrustadas
nas marcas linhas
das minhas mãos.
O gosto redondo
do seu corpo
na retina língua
do meu gesto
ou rosto.
E seu perfume
rio riso colorido
escorrendo
sobre o corpo
sopro e calor.
Memória se
deseja. O resto,
se ouça ou veja.
(in Contracorrente, São Paulo, Iluminuras, 2000)
Rua da Moeda
tapa na cara dos reaças
enquanto
o poeta reaça
na lagoa
(maranhense) carioca
realça a garça
e condena o rock
lá em recife
a turma dança
de negro (fear of the dark)
e canta contra
(quanto mofo
gullar/tinhorão
surdo ao novo
patronos do pagode
banal)
tapa na cara dos reaças:
rua da moeda
dos punks do heavy
do soco socorro
metal pernambuco
contra a paralisia mental
enquanto
um passadista
síntese da direita
do preconceito
da retro seita
brada armorial
na rua da moeda
camisetas negras
mimetizam arrecifes
contra a onda
do fácil fascio
o burro coro coreto
nacional-popular
(quanto mofo
intolerância tola
implicância ditadura
na voz do velho
ariano feito dogma
preconceito feito god)
tapa na cara dos reaças:
rua da moeda
onde rock faz mais sentido
ácido pesado e divertido
contra a nação mesmice
um louco pernambuco dadá
(in Invenção Recife – Coletânea Poética 2, Recife, Fundação de Cultura, 2004)
bio/biblio:
Frederico Barbosa - Poeta e professor de literatura, nasceu em Recife, em 1961, e mora em São Paulo desde a infância. Publicou os livros de poesia Rarefato (Iluminuras, 1990), Nada Feito Nada (Perspectiva, 1993), que ganhou o Prêmio Jabuti, Contracorrente (Iluminuras, 2000), Louco no Oco sem Beiras (Ateliê, 2001), Cantar de Amor entre os Escombros (Landy, 2002), A Consciência do Zero (Lamparina, 2004) e Brasibraseiro (Landy, 2004), em parceria com Antonio Risério, pelo qual recebeu seu segundo Prêmio Jabuti.
Pela Landy Editora, para a qual dirige a Coleção Alguidar, publicou a coletânea Cinco Séculos de Poesia (2000), a seleção de sermões de Antônio Vieira, O Sermão do Bom Ladrão e outros sermões (2000), a edição comentada, em parceria com Sylmara Beletti, dos episódios camonianos Inês de Castro e O Velho do Restelo (2001) e, com Claudio Daniel, a antologia Na Virada do Século, Poesia de Invenção no Brasil (2002). Organizou também os volumes Clássicos da Poesia Brasileira, Poemas Escolhidos de Fernando Pessoa, Os Sonetos de Camões e Contos Escolhidos de Artur Azevedo, para a Editora Klick.
Dirige, desde a sua inauguração em 2004, o Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura – Casa das Rosas e é curador da primeira biblioteca temática de poesia do país, a Alceu Amoroso Lima, inaugurada em 2006 pela Prefeitura de São Paulo.
Seus poemas podem ser lidos em http://fredbar.sites.uol.com.br
poética:
O P.S.
1.
em terra de profetas
quem se cala
é o poeta
2.
porque houve auschwitz
2.
porque houve auschwitz
porque o caos é aqui
porque a palavra consola
porque há tantos brasis
porque arte é ordem
escrevo e sou gris
3.
entre a expressão
(banal)
e a invenção
(genial)
fico com a impressão
invento
fico com a impressão
invento
no leitor
a expressão
do meu horror
imprima-se
(in Louco no oco sem beiras, São Paulo, Ateliê, 2001)
imprima-se
(in Louco no oco sem beiras, São Paulo, Ateliê, 2001)
Três fragmentos de uma entrevista a Claudio Daniel
· Já que pouco podemos fazer para minimizar o caos do mundo, pelo menos podemos, através da poesia, tentar organizar o nosso horror interior. Alertar e protestar. Encontrar parceiros nessa revolta e dar voz aos que, mesmo a sentindo, nem sempre a conseguem expressar.
· Sempre cri que o que importa mesmo na poesia é a forma. Não a fôrma, prisão, mas a estrutura orgânica do texto. O que importa é como se diz e não o que se diz. Se o que importa é a forma, o vigor da composição, por que não unir à preocupação estrutural a busca de um conteúdo que tenha impacto e fale das coisas que, de fato, preocupam e afligem as pessoas hoje? Já cansei de poetas ditos refinados que fazem uma poesia frouxa, cheia de artifícios e que nada dizem do nosso tempo. Estou certo de que é possível unir a experimentação inventiva e rigorosa dos concretos ao ímpeto de denúncia e protesto dos “engajados” e a o que há de engenhoso e inventivo dos “marginais”. É possível conseguir tudo isso ao mesmo tempo? É a minha busca.
· Inventivo sempre é quem enfrenta de frente os principais problemas da arte no seu tempo. Creio que os principais problemas da poesia brasileira hoje sejam o neoconservadorismo; o abandono da experimentação formal, substituída por fórmulas arcaizantes; a autocomplacência das panelinhas; a quase completa inexistência de uma crítica literária inteligente e estimulante; a falta de comunicação com o público leitor e uma pobreza semântica assustadora (em outras palavras: falta do que dizer). Assim, creio que os poetas que seguem experimentando, com muita autocrítica e exigência, procurando abordar aspectos significativos da vida de hoje, sem receio de buscar um público leitor mais amplo, são aqueles que praticam uma “poesia de invenção”. São apenas esses que me interessam. Como eu já disse algumas vezes, qualidade sem inventividade não é arte, é burocracia, é papo furado, papo de otário. O conceito de “invenção” não foi criado pelas vanguardas, muito menos pela Poesia Concreta, como pensam alguns desinformados. Invenção é tudo na poesia, desde Homero. O resto é conversa para boi dormir, picaretagem.
· Já que pouco podemos fazer para minimizar o caos do mundo, pelo menos podemos, através da poesia, tentar organizar o nosso horror interior. Alertar e protestar. Encontrar parceiros nessa revolta e dar voz aos que, mesmo a sentindo, nem sempre a conseguem expressar.
· Sempre cri que o que importa mesmo na poesia é a forma. Não a fôrma, prisão, mas a estrutura orgânica do texto. O que importa é como se diz e não o que se diz. Se o que importa é a forma, o vigor da composição, por que não unir à preocupação estrutural a busca de um conteúdo que tenha impacto e fale das coisas que, de fato, preocupam e afligem as pessoas hoje? Já cansei de poetas ditos refinados que fazem uma poesia frouxa, cheia de artifícios e que nada dizem do nosso tempo. Estou certo de que é possível unir a experimentação inventiva e rigorosa dos concretos ao ímpeto de denúncia e protesto dos “engajados” e a o que há de engenhoso e inventivo dos “marginais”. É possível conseguir tudo isso ao mesmo tempo? É a minha busca.
· Inventivo sempre é quem enfrenta de frente os principais problemas da arte no seu tempo. Creio que os principais problemas da poesia brasileira hoje sejam o neoconservadorismo; o abandono da experimentação formal, substituída por fórmulas arcaizantes; a autocomplacência das panelinhas; a quase completa inexistência de uma crítica literária inteligente e estimulante; a falta de comunicação com o público leitor e uma pobreza semântica assustadora (em outras palavras: falta do que dizer). Assim, creio que os poetas que seguem experimentando, com muita autocrítica e exigência, procurando abordar aspectos significativos da vida de hoje, sem receio de buscar um público leitor mais amplo, são aqueles que praticam uma “poesia de invenção”. São apenas esses que me interessam. Como eu já disse algumas vezes, qualidade sem inventividade não é arte, é burocracia, é papo furado, papo de otário. O conceito de “invenção” não foi criado pelas vanguardas, muito menos pela Poesia Concreta, como pensam alguns desinformados. Invenção é tudo na poesia, desde Homero. O resto é conversa para boi dormir, picaretagem.