Sunday, January 27, 2008

BONUS TRACK: DEREITO DE RESPOSTA

Os editores da "Modo de Usar & Co." devem ter publicado já, no Caderno Idéias do JB, una versao curta e editada do texto completo da resposta. A íntegra se reproduz no blog da revista (http://revistamododeusar.blogspot.com) e, como complemento à correspondência do domingo passado, também aquí. O meu respeito pela seriedade do texto que segue e pelas opinioes que foram expressadas aqui no "Escolhas..." me impede seguir postando comments anônimos. Um abraço e bom domingo. a.-


Seleção e síntese: resposta a uma resenha


Quem se dispõe a iniciar ou contribuir com um debate em que as opiniões diversas geram entrincheiramentos inevitáveis prepara-se para oposições e discordâncias, e seria pueril surpreender-se com elas. A existência de opiniões contrárias não ofende quem realmente acredita na necessidade deste debate, pois são até mesmo essenciais à sua criação, e se as escolhas de um poeta não tivessem implicações ético-estéticas sérias, estas discussões muitas vezes não passariam de pequenas batalhas entre egos. No entanto, a postura de muitos poetas nestes debates acaba por desnudar o caráter de hegemonia que segue guiando a discussão do que chamamos muito candidamente de cânone e tradição. O texto de Felipe Fortuna, publicado no Jornal do Brasil a 19 de janeiro e apresentado pelo crítico como “resenha” do número de estréia da revista Modo de Usar & Co., infelizmente ultrapassa qualquer limite aceitável de leviandade. Poderíamos assumir a velha estratégia do silêncio e de “guerra nos bastidores”, já enraizada entre os escritores brasileiros, mas decidimos tomar isto como oportunidade para aclarar e avançar no debate que Felipe Fortuna tentou obscurecer.

O que se pede de um crítico é que primeiramente compreenda o projeto e a proposta que se dispõe a analisar, e então possa debatê-los de acordo com os seus próprios parâmetros estéticos. Felipe Fortuna falha claramente nesta tentativa. Sua resenha do número de estréia de uma revista que traz textos de 22 autores brasileiros e 22 estrangeiros, muitos traduzidos pela primeira vez no Brasil, sem mencionarmos os ensaios, concentra-se em sua maior parte na análise do texto de imprensa enviado por correio eletrônico. Após assumir o papel de gramático iracundo e desperdiçar tanto espaço discutindo este “press release” - desonestamente fazendo-o passar por editorial da revista e ignorando o trabalho de mais de 40 poetas incluídos na publicação que, em sua opinião, não merecem figurar em sua resenha, o autor passa a discorrer sobre seu diagnóstico do que vem devastando a poesia e crítica brasileiras: a “endogamia” que, em sua opinião, rege a crítica contemporânea, demonstrando que a resenha sobre a revista nada mais era que um pretexto para seu trabalho de catequese sobre a situação genérica do cenário poético nacional, para a qual ele oferece a bibliografia que remediaria tal quadro clínico. Fortuna aproveita ainda a ocasião para investir contra o blog Escolhas Afectivas, um dos poucos sites de divulgação de poesia brasileira com regras claras e honestas. O resenhista diz ter buscado simplesmente “compreender” os propósitos dos editores, e que suas críticas foram feitas em um contexto bastante específico. Ora, “contexto” foi a última coisa que Felipe Fortuna respeitou em sua resenha. O que Felipe Fortuna procura escamotear, analisando um press release com tanto afinco? E seria esta revista realmente um exemplo de endogamia?

A revista Modo de Usar & Co. não possui um editorial em seu número de estréia por decisão de seus editores, que seguiram sua crença na responsabilidade de evitar o risco da criação de uma narrativa crítico-ideológica com o uso dos poemas de autores convidados, a partir de sua ordenação nas páginas da revista. Assim, optou-se pela estratégia, neste número, da adoção da ordem alfabética de acordo com o título dos poemas, na tentativa de quebrar com uma noção de hierarquia entre poetas, e também para privilegiar os próprios poemas, que deveriam responder, cada um a seu modo, às necessidades críticas do momento atual. Isto é coerente com o debate sobre “sincronia/diacronia” defendido pela revista. Guiados pela mesma responsabilidade, excluímos qualquer nota biográfica, espalhando pelas páginas da revista textos de poetas de diversas idades e línguas, sem compartimentos de caráter nacional ou escola literária. Poetas da primeira vanguarda, ligados a DADA, como Hans Arp e Pierre Albert-Birot (inéditos no Brasil e vertidos diretamente do alemão e francês, respectivamente), são colocados entre poetas brasileiros surgidos nos últimos anos, como Juliana Krapp e Walter Gam, autores contemporâneos como os franceses Jean-François Bory (importante poeta sonoro e visual) e Joseé Lapeyrère, também traduzida pela primeira vez no Brasil, textos dos norte-americanos John Cage e Jack Spicer, austríacos do Grupo de Viena (poetas experimentais da década de 50, pouquíssimo conhecidos no país que o resenhista parece querer salvar de nossa “irresponsabilidade”) como H.C. Artmann e Gerhard Rühm, além de autores de língua hispânica, como os espanhóis Benjamín Prado e Sandra Santana, ou os argentinos Cristian De Nápoli e Martin Gambarotta. Todos traduzidos pelos editores da revista diretamente dos originais (francês, alemão, inglês e espanhol), trabalho que o resenhista tenta fazer parecer apenas outro sintoma de sua teoria da “endogamia”, da qual seríamos exemplo. No entanto, nenhuma destas traduções é mencionada na resenha tendenciosa e leviana de Felipe Fortuna, que provavelmente não saberia como discutir tais poetas. Das traduções da revista, ele limita-se a mencionar uma única, feita por Rodrigo Ponts, de uma letra de John Lennon para uma canção assinada por ele e Paul McCartney, mesmo assim sem explicitar se discorda das escolhas de Ponts ou da decisão de uma revista de poesia ao publicar letras de música, tema polêmico que, obviamente, serve melhor à tentativa do resenhista de anulação completa do trabalho empreendido pelos editores da revista com responsabilidade, em debate constante e colaboração. A recusa de Felipe Fortuna é, no entanto, completa e totalitária. Nada entre as 204 páginas da revista com dezenas de autores de 5 línguas tem qualquer valor para o diplomata-crítico, e resulta em um produto de “qualidade duvidosa” e atos de camaradagem. É a primeira vez que presencio uma revista de poesia ser condenada por possuir uma linha editorial e fazer escolhas, essência do trabalho crítico: assumir uma posição, ser capaz da difícil conjugação de seleção e síntese. Certamente não se espera dos editores da revista que passem a editá-la com aqueles que possuem parâmetros estéticos de que discordam frontalmente, ou com poetas como Felipe Fortuna, que consideramos medíocre.

O resenhista tenta sugerir que a escolha do conteúdo da revista seguiu apenas questões de amizade e politicagem, prática com a qual ele talvez esteja acostumado, já que trabalha para o governo. Além disso, a citação entre poetas é coisa antiga mas, para nos limitarmos ao material em discussão, bastaria que Felipe Fortuna conhecesse melhor os poetas que publicamos para saber que isto foi prática comum entre os dadaístas, sendo uma das características e técnicas de contextualização (especialmente em Pierre Albert-Birot) que mais tarde influenciariam poetas da chamada New York School, como Frank O´Hara e James Schuyler, sendo que outras de suas práticas de intervenção e reação contra noçoes puristas e equivocadas de “universalidade” teriam efeitos sobre o trabalho “grupal” do, ora veja, Grupo de Viena. No entanto, o crítico deveria buscar entender o “uso” (Modo de Usar & Co., lembra-se?) que todos estes poetas fizeram destas estratégias em seus contextos específicos de intervenção poética, seja na Europa de 1916 ou década de 50, nesta mesma década nos Estados Unidos ou no momento atual da poesia brasileira. Mesmo assim, é ridículo criticar um grupo de poetas que se respeitam mutuamente e compartilham parâmetros críticos por decidirem editar uma revista em conjunto. A crítica deveria recair sobre estes parâmetros, já que o convite aos poetas publicados foi feito a partir de nossa fé em seus trabalhos e na necessidade de suas propostas estéticas para o debate poético contemporâneo. É completamente lícito que Felipe Fortuna discorde dos nossos parâmetros e critérios, mas é necessário que ele demonstre poder compreendê-los. Os próprios editores da revista criticam abertamente os parâmetros poéticos de outros poetas e “grupos”, por um questionamento das implicações ético-estéticas destes no contexto atual. Não somos adeptos da “estratégia do silêncio”, agindo como se fôssemos os únicos poetas ativos no Brasil de hoje.

Mas a resenha de Felipe Fortuna é o atestado de que ele não compreendeu as implicações de uma revista sem editorial que o guiasse, ou que ele deliberadamente agiu de má-fé, tentando fazer estes parâmetros passarem por inexistentes. Sua resenha dá sinais de sua incapacidade para o trabalho crítico, tanto por não estar aparelhado para discutir uma possível poética contemporânea, como por agir de forma leviana e tendenciosa ao discutir o trabalho de poetas que claramente seguem parâmetros estéticos diferentes dos seus. Como exemplo, basta que os interessados leiam os poemas “Sobre portas”, “Interior Via Satélite” e “Deustchkurs” de Carlito Azevedo, Marcos Siscar e Aníbal Cristobo publicados na revista, e decidam por si mesmos se estão ali por politicagem ou por serem poemas de uma qualidade que Felipe Fortuna jamais consquistou, segundo nossos critérios, é claro. Também desafiamos o resenhista a discorrer sobre esta suposta “fórmula” que ele acredita flagrar sob o trabalho editorial de uma revista como a Inimigo Rumor, crendo que nós a “repetimos” neste primeiro número da Modo de Usar & Co. Poderíamos ser acusados de endogamia se tivéssemos tentado apresentar nossa seleção de autores como canônica, ou como único grupo no país, da maneira como editores de certas revistas e curadores de festivais organizam seleções dentro de seus grupos e as apresentam como “A Poesia Contemporânea”, no Brasil e América Latina. Não foi o caso desta revista, outro motivo pelo qual evitamos um editorial. No entanto, o sarcasmo arrogante de Felipe Fortuna não pode esconder a pobreza de sua argumentação, que evitou ao máximo a discussão de autores de que ele discorda. Só isto explicaria a decisão deliberada de adulterar o trabalho editorial desta revista, ignorando seu conteúdo, 22 autores brasileiros, 22 autores estrangeiros, ensaios sobre Alexander Calder e Dom Tomás de Noronha; ou o caso específico do ensaio dedicado ao trabalho de Sebastião Uchoa Leite, sobre o qual a tentativa de crítica de Felipe Fortuna merece reflexão, pois parece mostrar que o resenhista não leu muito atentamente o ensaio antes de alinhavar suas afirmações, e que não conhece muito bem a bibliografia sobre Sebastião Uchoa Leite. O ensaio de Alves Dassie é uma contribuição importante para a tentativa de ler a obra de Uchoa Leite fora dos parâmetros usuais de concretude, concisão/minimalismo e objetividade (dita cabralina), que o próprio poeta pernambucano declarou passar a questionar de forma sistemática a partir de seu livro Antilogia. No entanto, a opinião de Felipe Fortuna sobre Uchoa Leite, que ele considera poeta epigonal, impede-o de apreciar ou sequer compreender o que Franklin Alves Dassie aporta ao debate poético contemporâneo e criação de possíveis parâmetros estéticos para o nosso momento histórico, a partir da releitura que empreende em seu ensaio. Esta releitura está intimamente ligada ao questionamento dos parâmetros críticos hegemônicos no país há vários anos, como os já mencionados: objetividade, concretude, concisão, economia de meios, precisão, repetidos à exaustão, e que os editores da revista não crêem poder seguir guiando o trabalho poético contemporâneo em todos os seus meandros. Simplesmente por não “darem conta” de poetas que interessam aos editores, como Jack Spicer e John Ashbery, Emmanuel Hocquard e Josée Lapeyrère, Hans Arp e Tristan Tzara, além de condicionar e limitar a leitura das obras de poetas como Gertrude Stein e August Stramm. Estes são questionamentos e discussões que este primeiro número da Modo de Usar & Co. buscou iniciar, publicando poemas que deliberadamente não se encaixam facilmente em tais parâmetros de qualidade, como os de Franklin Alves Dassie, Walter Gam, Juliana Krapp, além da quebra deliberada de hierarquias culturais em textos como os de Veronica Stigger ou Marcelo Montenegro. Estes são exemplos de poetas reagindo e questionando os parâmetros críticos hegemônicos atuais, e não é à toa que um poeta conservador como Felipe Fortuna os rejeite por completo. Se ele houvesse lido com mais cuidado e respeito, poderia usar a própria inteligência para compreender as implicações éticas e estéticas de nossas escolhas, e teria obtido todas as suas respostas, implícitas ou não, espalhadas pelas páginas da revista, como o nome da publicação, que busca dialogar, entre outros, com o Wittgenstein que escreveu: “O significado de uma palavra é seu uso na língua”, citado em meu ensaio, ou o Georges Bataille que escreveu: “Um dicionário começaria a partir do momento em que já não fornecesse o sentido senão o uso das palavras.”, citado por Franklin Alves Dassie, além da quebra de dicotomias de pureza/impureza literárias e lingüísticas, já discutidas por ensaístas que tratam o trabalho poético dos editores desta revista com seriedade. Será preciso explicar a Fortuna de que maneira isto se relaciona ao questionamento dos parâmetros mencionados acima? Não estou tentando criar a ficção de um bloco monolítico de interesses e critérios em comum a todos os poetas publicados neste primeiro número da Modo de Usar & Co. Há na revista poetas que seguem relaçoes distintas com a tradição e que muito provavelmente não concordam com todas as opiniões expressas neste texto. Poetas com pesquisas diferentes dos mencionados acima, ligados a outras revistas e grupos, e com trabalhos e critérios que não se confundem aos que discuti até aqui, como Eduardo Sterzi, Dirceu Villa ou Andréa Catrópa.

Se ele houvesse lido com mais acuidade, teria nos poupado parte de seu sarcasmo, como ao afirmar que o press release sugeria uma “revista espírita”, mudando de forma desonesta o verbo “surgir” por “nascer”, e mais uma vez falhando em compreender o debate sobre “sincronia/diacronia”, já mencionado, num desapego ao idioma e à lógica que o impediu de perceber que nos referíamos a poetas inéditos, espalhados pelo país, com os quais buscamos estabelecer um contacto e oferecer parâmetros alternativos aos vigentes, da mesma forma que a obra de poetas mortos passa por releituras a cada nova geração, unido à nossa recusa em participar da prática contemporânea de deduzir do conceito de sincronia histórica a noção equivocada de trans-historicidade, defendida por certos grupos de poetas nos dias de hoje. Melhor aparelhado, o resenhista teria percebido que nossa preocupação primordial não reside na discussão de “formas poéticas”, mas nas funções que estas exercem no cenário contemporâneo e em suas implicações éticas ou mesmo políticas.

Este primeiro número da revista dá passos e inicia ainda um questionamento que pretende intensificar, sobre o engessamento de uma certa “taxinomia” de gêneros literários que segue controlando o trabalho crítico contemporâneo. Refiro-me aqui à prática de primeiramente buscar “encaixar” um texto em gêneros com características estanques, seja poesia ou prosa, tanto por críticos como por escritores, que desde meados da década de 90 tem levado a poesia e prosa brasileiras a retornar a parâmetros de gênero do fim do século XIX e início do XX, antes que as vanguardas borrassem tais fronteiras, sugerindo a crença de saberem exatamente o que é um “poema” e o que é um “conto”, por exemplo, numa década em que prosadores e poetas deram-se as costas, e que hoje gera uma postura que se recusa a compreender muitos textos por não se filiarem de forma óbvia ao conceito tedioso de “poesia-poesia”. Penso em certos livros de Roland Barthes como Fragmentos de um Discurso Amoroso ou Barthes por Barthes, nas lectures de John Cage e Gertrude Stein, em “peças” de Heiner Müller e Bernard-Marie Koltès, nos questionamentos de Susan Howe quanto às intervenções editoriais na obra de Emily Dickinson e outros autores norte-americanos, em roteiros de Isidore Isou ou Guy Debord, em certos textos dos poetas da Escola de Nova Iorque, como Three Poems de John Ashbery ou Meditations in an Emergency de Frank O´Hara, nos textos coletivos do Grupo de Viena, especialmente com Konrad Bayer e Gerhard Rühm, em trabalhos como o Livre des Questions de Edmond Jabès ou I, etc de Susan Sontag, ou mesmo em propostas como a de Michael Davidson de ler os manuscritos de George Oppen, com fragmentos, lembretes, citações e mesmo listas de compras, como textos em si.

Isto se reflete, nós cremos, em certa atitude comum na resenharia do país, de autores que acreditam que a mera avaliação “Isto não é poesia” constitua crítica e encerre o debate sobre determinado texto. Unido à obsessão por Guttemberg, tanto por parte de poetas como críticos, vemos como o trabalho crítico no Brasil em grande parte exila áreas gigantescas do trabalho poético e recusa-se a discutir ou interessar-se por poetas como Henri Chopin, Bernard Heidsieck, Brion Gysin, François Dufrêne, Bob Cobbing, para quem a noção de poesia concreta não implicou obsessão pela semântica (penso no manifesto de Henri Chopin em que ele declara: “Não podemos seguir com a palavra todo-poderosa”); e assim segue-se ignorando outras vanguardas do pós-guerra, como os trabalhos dos letristas, já mencionados, (surgidos no fim da década de 40 em Paris) como Isidore Isou, Maurice Lemaître, Guy Debord ou Gil J. Wolman (estes dois últimos mais tarde ligados à dissidência da Internacional Letrista e Internacional Situacionista), as performances e intervençoes públicas do Grupo de Viena, o círculo de poetas ligado a Jack Spicer, ou todo o trabalho em vídeo, som e performance sendo empreendido por jovens como Maja Ratkje, Amanda Stewart, Jörg Piringer, Eduard Escoffet, Michael Lentz e tantos outros. É devido a isso que decidimos, como editores da Modo de Usar & Co., dividir os esforços da revista em duas frentes: como revista impressa, anual, divulgando os trabalhos de poetas que seguem contribuindo para a manifestação da poesia como escrita; e como revista virtual, usando o blog para passar a divulgar, em breve, o trabalho de poetas que se concentram em outras mídias como vídeo, ou seguem a pesquisa no campo da poesia sonora.

Que isto não seja confundido com a tentativa de anulação do trabalho das vanguardas brasileiras do pós-guerra, por quem mantemos o respeito que não só permite como incentiva o questionamento. Não defendemos a prática do que Marjorie Perloff chama de therapy of replacement, substituindo uma vanguarda por outra ou certos poetas por outros poetas no cânone. Os editores da Modo de Usar & Co. rejeitam o trabalho de estabelecimento deste cânone que segue praticando a crítica como instituição de hegemonias, e pretendemos radicalizar ainda mais estas escolhas e questionamentos. De qualquer forma, não há motivos para que o resenhista Felipe Fortuna, que colaborou inconscientemente com nosso desejo de “acionar um clima de intervenção”, perca o sono e reste “acordado como um cão”, pois jamais correu o risco de ser convidado a publicar poemas na revista Modo de Usar & Co. A isto ele chamará de endogamia. Nós chamamos de crítica.

Ricardo Domeneck



Sunday, January 20, 2008

CARTAS DE AMOR : CRITICA BRASILEIRA LIMITADA

para que ninguém fique com sono: correspôndencia completa fortuna-cristobo de leitura inversa


cristobo / 04

Por supuesto que son cartas de amor: del amor que uno tiene o debería tener por aquello que hace, y por lo que otros hacen y uno tiene el gusto de comentar, como forma de aporte, de buscar complementar el trabajo de otro, no creés?

Bueno, no. Seguramente que no creés eso.

Yo creo que el asunto no es únicamente de interés para el blog: lo reproduzco en ese espacio porque es lo que está a mi alcance, claro. Pero creo que la irresponsabilidad y arrogancia con la que un crítico es capaz de tratar la producción ajena es algo sobre lo que vale la pena reflexionar.

Por último: lo opuesto a los poetas que mencionan a otros; serán los poetas que se mencionan a sí mismos? O dicho de otro modo: el vanidoso solipsista que acusa al resto de endogamia -y que no se mezcla con ellos porque no están a su altura- que siga gozoso, manchándose de su propia pluma, única tinta con la que sueña concebirse a sí mismo para el resto de la eternidad.



fortuna / 04

Anibal Cristobo,
Considero que o assunto é público e oportuno o debate. Se são "cartas de amor", na sua opinião...
Observo, no entanto, que não pretendo responder a possíveis interlocutores por meio do blog, mas unicamente por meio deste e-mail. Não me importo, obviamente, se o assunto tratado aqui for de interesse para As Escolhas Afectivas e precisar ser reproduzido, segundo a sua decisão ou a decisão dos poetas que se mencionam uns aos outros.
Felipe Fortuna



cristobo / 03


Fortuna, comprendo el mensaje. Es sensato y razonable decir en el JB que el release de Modo de Usar & Co. fue escrito por un "talentoso meteorologista ou astrônomo amador"; es una crítica seria y responsable afirmar que la "Proposta ideal para formar a equipe de colaboradores de uma revista espírita" sea "convidar poetas que ainda não nasceram para se juntarem aos que já se encontram no além", pero es inconcebible que alguien suponga que esas anotaciones denotan "deshonestidad y sarcasmo", y eso hace imposible que sigas conversando conmigo. Lamento haberme excedido: tiendo a olvidar el delicado sistema de castas que articula nuestro intercambio.
Aplaudo, sin embargo, tu infinita tolerancia con el blog: que consideres la iniciativa como "verdadeiramente importante" nos alegrará el día a los pocos que leamos esa afirmación. Los lectores de JB, creo, se quedarán con una idea muy diferente; pero sabemos que para la prensa, eso de elogiar no queda bien, verdad?
Personalmente, seguiré sin entender qué sistema podría ser más permeable que el de esta cadena rizomática de indicaciones; más abierto a la incorporación de aquellos que no forman parte de nuestro grupo. Quizás, si en vez de que cada poeta mencione a otros, los eligiera a todos yo, tendríamos un sistema menos endogámico. O talvez lo que hubiera que hacer es llamar a alguien que brinde una lista única de poetas que deben ser publicados. Por ejemplo, podríamos llamar a Felipe Fortuna. Creo que eso sería más plural y menos endogámico.
No te insistiré con que sugieras otra opción porque sé que no es lo que te hace sentir cómodo. Mucho menos, teniendo que intercambiar opiniones con Dirceu Villa, Ricardo Domeneck, Marcos Siscar, Carlito Azevedo, Heitor Ferraz, Mariano Marovatto, Susana Scramim, Cristián de Nápoli, Masé Lemos, y, enfin, todos y todas aquell@s poetas y lectores que, con su "nivel muito baixo de opinioes", no merecieron que te mezclaras con ellos.
Entiendo entonces tu afirmación de que no "possamos prosseguir no mesmo nível": me siento orgulloso de haber coincidido con ése tu nivel al menos durante un par de e-mails. Es una distinción que nunca olvidaré.

P.D.: He creído oportuno subir este intercambio de mensaje al Blog en cuestión. Creo que se trata de un asunto público y que sería valioso que cada lector pueda formarse su propia opinión.


Aníbal Cristobo









fortuna / 03

Aníbal Cristobo,
Por favor, seja razoável ao reconhecer que a única crítica realtiva a "& Co." foi feita num contexto muito específico: o editorial da revista afirmava que "A partir de seu nome, a revista aciona um clima (...)". Não compreendi qual a relação estabelecida pelos editores e por isso perguntei: "nem sequer explicaram a preferência pela abreviação Co. em língua inglesa, em vez de Cia." Longe de mim o sentimento nacionalista, que mesmo como diplomata não move os meus ideais mais queridos. Você saberia explicar por que "& Co." foi utilizado?
Fico satisfeito ao saber que o crescimento da família de poetas está permitindo tanto intercâmbio. Fico perplexo, no entanto, que a amizade e a endogamia se transformaram até mesmo em tema de poemas - na minha opinião, sem qualquer mérito. Trata-se, na minha percepção, do mesmo problema apontado pelo crítico Dana Gioia, cujo artigo menciono e cujo livro, Can Poetry Matter? poderia em alguma ocasião constituir matéria de debate no seu blog ou em qualquer outro espaço de debate. recomendo a leitura
Atenção, não me confunda: jamais afirmei que "seguramente viviríamos mejor sin un blog de poesía brasileña". Considero a iniciativa de As Escolhas Afectivas verdadeiramente importante, mas continuo a avaliar o sistema de menções como propício à tendência endogâmica, sim, na linha apontada por Mario Faustino em seu artigo. Acompanhei o debate do Foro 1 do seu site, "O que você acha da situação da poesia no Brasil?", e considerei o nível das opiniões muito baixo, e muito alto o da cumplicidade. Não há propriamente um debate ali, mas uma troca de opiniões quase sempre aproximadas e semelhantes. Detestaria entrar nesse espaço para o debate: prefiro a forma de um texto articulado que possa gerar discussões posteriores, como aliás tem sido boa parte das polêmicas nos principais suplementos literários, como London Review of Books, The New York review of Books, entre tantos outros.
Com essa minha mensagem, estou possivelmente atingindo o limite do meu diálogo com você. Minha tendência ao debate esbarra na sua observação sobre "la deshonestidad y el sarcasmo" que marcariam a minha visão crítica. Por certo você permanecerá com essa impressão, mas ela impede que possamos prosseguir no mesmo nível. Convido-o então a conhecer meus livros de poesia, crítica, tradução (www.felipefortuna.com) e a seguir lendo os artigos no JB. Convido-o também a reler Modo de Usar & Co., que deu início a essa troca de mensagens: posso assegurar-lhe que é uma revista de qualidade duvidosa, porém importante como sintoma de uma etapa da poesia brasileira em que o talento da voz individual foi trocado pela força, débil e equivocada, de um grupo de assemelhados.
Felipe Fortuna



cristobo / 02

Fortuna, disculpe, no había entendido que cuestionar por ejemplo la no-explicitación del término "& Co.", en lugar de su versión brasileña fuese estar haciendo crítica - me parecía apenas un intento de pactar con el sentimiento nacionalista más atávico de tus lectores.

Luego, sobre el blog, debo disculparme nuevamente por no haberme dado cuenta del engendro en cuestión: la numerosa -y en permanente creciemiento- familia endogámica nos ha permitido, a muchos, ponernos en contacto, conocer, leer y debatir a, y con, muchos poetas que no conocíamos antes. El hecho de que haya un espacio, una alternativa más, siempre me pareció algo positivo, un modo de aportar a las posibilidades de la pluralidad. Pero quizás sea otro de mis errores perceptuales: seguramente viviríamos mejor sin un blog de poesía brasileña, y sin una nueva revista y sin, enfin, cualquier otra opinión, órgano de expresión, crítica y poesía que no sea la tuya. Es una pena que alguien ya tan fogueado en el discurso crítico no sea capaz de percibir sus propios prejuicios personales y su mala predisposición a la hora de sentarse a escribir sobre el trabajo de lo otros. O de aceptar que talvez, simplemente, no seas el interlocutor idóneo para entender el valor de algunas cosas y, desde esa incapacidad, quieras extender su lectura negativa a los demás.

Y por cierto: el blog ha sido y es un espacio de debate público; no sólo potencialmente sino de hecho: allí se han producido debates abiertos entre poetas - con el único límite de que los mismos aceptaran exponerse a discutir sus ideas con sus pares en una estructura no-jerárquica. Mi mala memoria me impide recordar haberte visto por allí, conversando y debatiendo con otros poetas sin necesidad de "passar o recado" mediante los lectores del JB: me disculpo también por ese fallo de mis recuerdos.

Tan carente de juicio como soy, el numero de lanzamiento de la revista me impide ver su trayectoría, dinámica y modificaciones futuras, como para poder hacer un juicio adivinatorio tan terminante como el tuyo -que Modo de Usar & Co. no es una revista nueva, que repite la fórmula, etc- pero, en cambio, percibo la deshonestidad y el sarcasmo con el que buscás descalificar el trabajo ajeno con ironías tan delicadas como la de convidar a los poetas aún no nacidos. Una vez más, Fortuna: es eso crítica? Porque yo aprendí que el discurso y la reflexión sobre la producción ajena tenían sentido cuando uno era capaz de tender nuevos puentes interpretativos a otros lectores, no para intentar dejar en rídiculo a quienes emprenden una tarea con frasecitas ingeniosas. Y ahora no sé si aprendí mal, si hace 20 años sería diferente, o si todos esos años te fueron haciendo perder el respeto hacia los demás.


Aníbal Cristobo.




fortuna / 02


Aníbal Cristobo,

Agradeço sua leitura do meu artigo e sua carta. Em resposta à primeira pergunta que me fez, afirmo que escrevi crítica literária, sim, não sem fazer observações que mais se enquadram no contexto a crítica cultural. A minha crítica, por exemplo, não tem o caráter rotineiro da que escreveu Franklin Alves Dassie sobre Sebatião Uchoa Leite, na revista Modo de Usar & Co.: velhas percepções, repetidas à exaustão, sobre um poeta enfim epigonal da literatura brasileira. Meu artigo expressa a percepção de quem acompanha com seriedade a produção da poesia brasileira e vem escrevendo sobre o assunto há mais de 20 anos, juntamente com a publicação de livros de poesia, que obviamente se expõem à interpretação dos críticos.
Quanto ao seu blog, interpreto-o - como quis demonstrar no meu artigo - como a potencialização de uma tendência da endogamia que marca a poesia brasileira. Há pouco debate, atualmente, sobre o assunto - e muita produção que só vem a público por causa de um circuito de amizades e da força centrípeta mencionada. Mario Faustino, num artigo da década de 60, já havia diagnosticado a situação: "Vida literária, emulação, reuniões sérias, leituras de poesia inédita, troca de experiências, debates, nada disso temos. Quando se conversa sobre um poema, o mais que sai, em geral, é o ‘tá bom’, o ‘muito ruim’, o ‘é uma beleza’. Em lugar disso tudo, há o fenômeno amizade, o mesmo que se verifica em nossa administração, em nossa política: meu amigo escreve bem, meu inimigo escreve mal.” O texto completo, se lhe interessar, encontra-se em Poesia-Experiência.
Ao contrário do que você pensa, Modo de Usar & Co. não é uma revista nova: repete a fórmula de Inimigo Rumor.
O que você chama de "leitura rizomática" (se é que existe algum valor nela), eu chamo de círculo vicioso, aliás sem qualquer valor para a poesia. Leia, por exemplo, esse trecho do poema "A Falta que Ela me Faz", de Fabiano Calixto: “ontem falei ao telefone com Carlito / (estava calçando seu All-star verde / e ia dar uma volta à Lagoa com Marilinha)”. Alguns outros trechos do livro possuem essa mesma indulgência, sem que sirvam à poesia.
Espero que você esteja equivocado ao afirmar que eu não trouxe idéia alguma com meu artigo. Felizmente, algumas mensagens já recebidas, de poetas e críticos, me dizem o contrário, e assim não preciso mais me defender a mim mesmo.
Sugiro que esqueça a retórica sobre o "pequeno espaço de poder". O caderno Idéias & Livros, tenho certeza, publicaria qualquer artigo bem argumentado que se confrontasse à minha posição - que é isso mesmo, somente uma posição.
Se estamos em desacordo, pelo menos encontramos esse espaço para o debate e a conversa.

Felipe Fortuna



cristobo / 01

Fortuna: eso es crítica? Hablar del círculo vicioso y de fuerzas centrípetas de un blog que debe andar por los 150 poetas sin ser subvencionado es suponer que el pequeño grupo de amigos no es tan pequeño; o que tu lectura es tendenciosa. Del mismo modo que, desde el JB, querer ensañarse con el primer número de una revista solamente porque no comparte tu gramática ni tu lógica es un exceso. Que un grupo de colaboradores de una revista cree una nueva publicación habla de la necesidad de abrir nuevas líneas; y no creo que sea una muestra de monogamia, sino más bien lo contrario.

No te queda ni un poco de sentimiento de respeto por el trabajo ajeno, verdad? Las afinidades entre pares son lógicas; pero los poetas se mencionan entre ellos y mencionan también a otros: así el juego va abriéndose en una lectura rizomática; lamentablemente todo eso no te sirve para mostrarte sarcástico desde tu pequeño espacio de poder, porque son lecturas que implican ejercitar la empatía, o al menos una suspensión del prejuicio - y lo tuyo, a la vista está, está más cercano a la ironía resentida. Para intentar seguir el tono de tu nota, sólo se me ocurre decirte una cosa: resulta un poco inapropiado que hayas publicado eso en el cuaderno "Idéias & Livros", porque no se trata de un libro sino de una revista - e ideas, está claro, no aportás ninguna.

Aníbal Cristobo.-





fortuna / 01 : enviado por mail

Jornal do Brasil

Caderno Idéias & Livros

Sábado, 19 de janeiro de 2008

Poesia Brasileira Ltda.

Felipe Fortuna

Fui incluído entre os destinatários de uma mensagem eletrônica que convidava para o lançamento da revista literária Modo de Usar & Co. (Berinjela, 204 p., R$20) e indicava os propósitos de sua publicação: “A partir de seu nome, a revista aciona um clima de intervenção e propõe uma mudança em certos ângulos e perspectivas, convidando o leitor a observar as escolhas tidas como naturais sob uma outra luz possível.” Reli a frase algumas vezes e por fim concluí que ela fora escrita por um talentoso meteorologista ou astrônomo amador. Afinal, o que é “acionar um clima”? Como poderei “observar as escolhas tidas como naturais sob uma outra luz possível”? E o que tem o nome da revista a ver com isso, se nem sequer explicaram a preferência pela abreviação Co. em língua inglesa, em vez de Cia.?

A apresentação da revista prossegue em tom desmiolado, com o qual se proclama que “os editores da revista ocupam-se com a discussão de possíveis novas formas (...) e noções de objetividade e concretude lidas com a lente do significado das palavras em seu ‘uso na língua’”. A bizarra explicação, como já se percebeu, ignora qualquer arranjo coerente ou gramatical, e prossegue em seu disparate: afirma-se que “a seleção dos textos (...) teve uma avaliação [sic] que procurou medir, antes, sua necessidade para o cenário (...)”. Os editores informam, ainda, que “dentre os trabalhos selecionados, estão poetas brasileiros recentes [sic], unidos a poetas já ativos desde a década anterior” – mas seriam estes últimos também brasileiros, embora todos tenham sido confundidos aos trabalhos selecionados? Por fim, os editores acreditam que “um novo momento histórico traz novas necessidades [sic], às quais os poetas a surgir – e a obra dos poetas mortos – acabam por ter que responder.” Proposta ideal para formar a equipe de colaboradores de uma revista espírita: convidar poetas que ainda não nasceram para se juntarem aos que já se encontram no além.

Tamanha imperícia com o idioma e tanto desapego à lógica preparam mal o leitor de Modo de Usar & Co. Ainda assim, começa-se a leitura com a aspiração de que a insensata apresentação nada tenha a ver com a qualidade dos colaboradores reunidos ali. Os editores são Angélica Freitas, Fabiano Calixto, Marília Garcia e Ricardo Domeneck – eles mesmos também poetas e quase todos tradutores, cuja produção se espraia nas páginas da revista. Subitamente, porém, ocorre a observação: como pode a publicação trazer nova proposta se os seus colaboradores são os mesmos que já fazem parte da revista Inimigo Rumor, editada a partir de 1997? A pergunta, no entanto, é superada por outra observação, que diz respeito ao estado atual da poesia brasileira: boa parte dos poetas se compraz num rotineiro processo de endogamia, no qual se alinham e se combinam os membros da mesma tribo.

Está no ar, por exemplo, o site “As Escolhas Afectivas”, organizado pelo poeta argentino-brasileiro Aníbal Cristobo – também presente na revista Modo de Usar & Co. Nele se criou um sistema de indicações pelo qual o poeta mencionado deve mencionar outros poetas, num círculo vicioso e de força centrípeta: é lá que Fabiano Calixto escolhe Ricardo Domeneck (que escolhe Marília Garcia e Angélica Freitas) e Marília Garcia (que escolhe Ricardo Domeneck), cujos afetos se expandem aos nomes dos demais colaboradores da revista. Por sua natureza passional e comunitária, esse sistema poderia ser melhor compreendido com a releitura do capítulo “O Homem Cordial”, de Raízes do Brasil (1936), no qual Sérgio Buarque de Holanda comenta o pacto emotivo no qual o indivíduo se reduz em nome da coletividade, dado o “pavor que ele sente em viver consigo mesmo”.

Esse aspecto gregário, que repele a voz individual e se fundamenta na informalidade, seria apenas uma anotação sociológica se não apresentasse fundas repercussões na obra literária: em Modo de Usar & Co., desdobra-se a cumplicidade não somente nas dedicatórias, mas também na falta geral de surpresa com a originalidade de um poeta ou com a visão crítica sobre, por exemplo, a poesia de Sebastião Uchoa Leite. Num ensaio justamente intitulado “A Poesia Pode Interessar?”, que causou forte debate a partir de sua publicação, em 1991, o crítico norte-americano Dana Gioia examina o isolamento dos poetas, condenados a lerem a si mesmos e a não criarem novos leitores, ao mesmo tempo em que organizam revistas e antologias sob o critério do oportunismo grupal. Na sua percepção, muitas dessas iniciativas “dão a impressão de que a qualidade literária é um conceito que nem o editor nem o leitor devem levar muito a sério.” As conexões entre resenhistas e poetas, bem como a criação de uma linguagem própria ao inner circle têm contribuído para a falta de prestígio da poesia na cena cultural.

Para cada um dos poetas reunidos em Modo de Usar & Co., e estimulado pelo inesquecível editorial da revista, poderia ser formulada a pergunta de Carlos Drummond de Andrade em famoso poema: “Trouxeste a chave?” O utensílio não estaria com o Fabiano Calixto do poema “Animal Boy” – no qual menciona o poeta Aníbal Cristobo – e seus versos de extenso prosaísmo como:

no Brasil, os deputados se reuniam

para dividir a pizza da corrupção que assola o país

quando ouviram a maléfica notícia

os ratos

resolveram abrir uma CPI para

verificar os fatos.

Muito menos na tradução equivocada de uma canção de John Lennon e Paul McCartney, “Na Minha Vida”, feita por Rodrigo Ponts, o mesmo poeta que na revista inicia o poema “Odelegia à Quimioterapia” assim:

o céu era todo azul

azul de céu quase-amarelo

nem uma nuvenzinha

sujava a planura da cor

: só mesmo a luz planava.

Lucidamente (já que o editorial mencionava “uma outra luz possível”), ao menos o poeta Manoel Ricardo de Lima, em entrevista a Modo de Usar & Co., põe em dúvida a existência de “poetas jovens com voz forte” que estão “questionando as estruturas”, assim como a “cartografia simplória que vai desde certas antologias (...) até a sugestão do cânone.” Ele tem razão: a ação entre amigos se esgota em si mesma e nas suas simplificações e provincianismos. E todo o resto é literatura.






Tuesday, January 01, 2008

2008

parabéns para tod@s mais uma vez : enquanto tira umas mini-férias virtuais aqui, o curador convida para pasar lá em casa:

http://cristobo.livejournal.com

abraço,
a.-