Friday, June 27, 2008

EDSON CRUZ












Mencionado por:
Micheliny Verunschk
Menciona:

Augusto de Campos
Antonio Mariano
Wilmar Silva
Vicente Franz Cecim
Ricardo Silvestrin
Márcio-André
Claudio Willer
Floriano Martins
Marcelo Ariel
Flavio Viegas Amoreira
Marcelo Tápia
Jorge Tufic



POEMAS




agnosia

as palavras
não sabem nem
saberão o quanto
já sabemos
então




vestais


o coro de virgens
em uníssono:
aqueles que alçaram
completa inocência
podem manter o fogo
sagrado de meu sexo
que venham bispos
do rosário
em cardumes





lágrimas oceânicas

Portugal
quanto de tua riqueza é o sumo
de nossas tristezas?

Ano Bom Arzila Ormuz Azamor
Ceuta Flores Agadir Safim
Tanger Acra Angola Mogador

Aguz Cabinda Cabo Verde Arguim
São Jorge da Mina Fernando Pó
Costa do Ouro Portuguesa Zanzibar

Melinde Mombaça Moçambique
Guiné Portuguesa Macassar
Quíloa São Tomé e Príncipe Mascate

Fortaleza de São João Baptista de Ajudá
Socotorá Ziguinchor Bahrain Paliacate
Alcácer-Ceguer Bandar Abbas Cisplatina

Ceilão Laquedivas Maldivas Baçaim
Calecute Cananor Chaul Chittagong
Cochim Cranganor Damão Bombaim

Dadrá e Nagar-Aveli Damão Mangalore
Diu Goa Hughli Nagapattinam
Coulão Thoothukudi Salsette Masulipatão

Surate Nagasaki Timor-Leste
São Tomé de Meliapore Mazagão
Malaca Molucas Guiana Francesa

Nova Colónia do Sacramento Bante
Macau
Brasil

Portugal
Oh sal que corrói a pele de nossas almas.



[poema presente no livro Sortilégio, 2007]





BIO/BIBLIOGRAFIA


Edson Cruz é baiano de Ilhéus e paulista de formação. Estudou música e psicologia até reconciliar-se com a literatura. Foi editor do site Capitu e agora é editor-fundador do site Cronópios (
http://www.cronopios.com.br/). Lançou o livro de poesia, Sortilégio, pelo selo Demônio Negro. Bloga no http://sambaquis.blogspot.com/





POÉTICA


palimpsesto
toda poesia já
escrita

não se equipara
a toda poesia

inscrita
a poesia jaz

Friday, June 20, 2008

RODRIGO MAGALHÃES











Mencionado por:Eli Castro
Marcos Siscar


Menciona:

Cândido Rolim
Ivaldo Ribeiro Filho
Rodrigo Marques
Soares Feitosa



POEMAS

Cadeira de balanço


A casa do meu avô beirava a estação.
De longe, ele parecia aprender com os homens
e com os olhos dos homens seguindo viagem.

O apito de uma locomotiva é
mais agudo quando se aproxima
do observador e mais grave
quando se afasta.

Não descobri isso lá.
Uma enciclopédia me trouxe em cores esquecidas.

O meu avô parecia dizer que, antes,
lhe sobrava uma vida em festa.
Antes da ressaca.

Sem qualquer livro, o velho sabia que o trem se afastava.

(De O legado de Beltrano, 7Letras, 2005)








À beira


Cristina parte enquanto deixa Cristina aqui.

Cristina parte com velas enfunadas,
enquanto Cristina tenta se esvaziar,

fitando o seu homem e Cristina indo, expirando.

(Inédito)



Fátima


E eu chorava muito, sabe,
minha mãe na sala, eu no quarto,
revoltada, sem entender, até que dois
homens, de branco, assim como dois anjos
do Senhor, me disseram, as suas lágrimas não
deixam ela subir, molham o vestido, pesam, e aí
eu fiquei quieta, e aí eles levaram ela, e aí eles se foram.

(Inédito)


BIO/BIBLIO

Rodrigo Magalhães nasceu em Fortaleza em 1980. Tem um livro de poesias publicado pela editora 7Letras, “O legado de Beltrano”.
Poética



POÉTICA


Notícia do poema

O estudante Jacó Lima da Silva, 21, foi morto a tiros, ontem, na favela do Cabeção. O acusado é o seu irmão, o vigilante noturno Esaú Lima da Silva, 25. O homicídio ocorreu durante uma roda de samba organizada pela comunidade da favela. O motivo do assassinato ainda é desconhecido.


Poema da notícia

O pandeiro e a mão caindo e batendo. O ritmo.

À esquerda, os outros, Rosa e a mão de Esaú na mão de Rosa.
À direita, os outros, Jacó e os olhos de Jacó nos olhos de Rosa.

Bumbo.

Pra lá, um terreiro. O homem chega, a galinha corre.
A galinha percebe só de estar no olho do homem.

A alça de Rosa. O ombro deslizando por baixo.
Cavaquinho, reco-reco. Ponta de língua.
Lábio deslizando por cima.

Jacó sorri sem os dentes. A tensão na boca
e o risco na boca. Jacó sorri o elástico.

Esaú cisma. Cavaquinho, reco-reco e atabaque.
Cisma.

O pandeiro e a mão caindo e batendo. O bolso e a mão caindo.

Esaú e os olhos de Esaú nos olhos de Jacó.
A galinha percebe só de estar no olho do homem.

Esaú, Jacó. À esquerda e à direita, os outros.
A mão subindo, a pressão do dedo,
o pandeiro, o gatilho. O ritmo.

Bumbo.

O morto sorri o elástico. Só o chocalho.
Levemente.

(De O legado de Beltrano, 7 Letras, 2005)
Lucas Viriato



POEMAS

quarta-feira
comprava uma bala de tamarindo
depois da aulapara fazer companhia
na volta pra casa.
rabo de cavalo preso
no alto da cabeça, dentes da frente
separados. o caderno de pauta
tem linhas azuis
e a ponta da caneta bic
está em apuros de tanto ser
mastigada (talvez daí
os dentes separados).
não quer adivinhar
o futuro, o cadarço do tênis
desamarrou, talvez ganhe muito dinheiro
com pensamentos em caixinhas
ou receba estudantes estrangeiras
(pode ser que more numa casa
com longos corredores). a única
coisa certa é que quarta-feira
tem carne moída com purê de batatas
e aula de piano às seis


cine palácio

sentada no sofá
do cine palácio
caderno na mão rosto sem
maquiagem espera terminar
a sessão de indiana jones
às oito e vinte
os dias têm sido longos
e não chove há três semanas
a promessa de que algum dia
vai morar
bem longe
o senhor na bilheteria
reclama do preço do ingresso
não tem meia-entrada? a mocinha
é irredutível
luz fraca e quadrados
de mármore nos pés
uma vassoura esfrega o salão
nenhum sinal de besouros
ou fuligem de mariposa






na esquina da rua
um piano que toca
notas esparsas
em lá menor

nunca vi
o rosto de quem
se esconde por trás
de acordes sustenidos

e que desfila dedos no teclado
com a leveza de quem
sustenta passarinhos
no ar



MINIBIOGRAFIA

Alice Sant'Anna tem 20 anos e é carioca. É estudante de jornalismo, tecladista da banda Os subterrâneos e estagiária do selo Alfaguara, da Editora Objetiva. Os poemas acima foram publicados no blog
www.adobradura.blogspot.com. Em agosto, lança o seu primeiro livro, Dobradura, pela 7 Letras.



POÉTICA

Andar de ônibus

Thursday, June 19, 2008

MICHELINY VERUNSCHK

















Mencionada por:
Ademir Assunção
Cláudia Roquette-Pinto
Cadão Volpato



Menciona:

Ana Rüsche
Delmo Montenegro
Edson Cruz
Wilson NaniniDaniel Sampaio
Weydson Barros




POEMAS (do livro inédito A Cartografia da Noite)



Tróia

Toda saudade
repousa nas palavras,
tem cheiro de pinho
e ossos muito brancos.
Toda saudade:
velas arreadas
dos mastros dos batéis,
última visão da chama apagando,
canção de helenas nuas
perdida nos lábios de Ílion.
Em tudo,
o teu nome de pedra,
Saudade,
cadela morta.





A Barata

A barata
tensa
atônita
atenta
frente a folha
pegajosa do poema.
Um calafrio quase
na carapaça dura
e o poema agridoce
acenando
acendendo
dentro da madrugada escura.

O dia nasce
parindo um novo solstício
e ela, impressa,
presa no poema-suícidio.





O Leão

Flor carnívora,
ele aquece a paisagem:
sol sobre cinzas
salsugem.
Apenas uma carícia
cabe no seu nome,
faro aceso
a contrapelo,
e uma mulher de luz
......................................(borboleta tumescente)
chupa-lhe o mastro.
Simétrico
e circular
o seu rugido
fere tulipas,
pequenos coleópteros,
enche copos, cálices, calas.
Ácido e doce
amamenta
todas as suas fêmeas.
Depois dorme,
cidade inexistente.




BIO/BIBLIOGRAFIA
Micheliny Verunschk, nasceu em Recife, Pernambuco. Publicou os livros Geografia Íntima do Deserto, Landy Editora, SãoPaulo, 2003 (poesia) e O Observador e o Nada, Edições Bagaço, Pernambuco, 2003 (poesia). Foi indicada ao Prêmio PortugalTelecom de Literatura-2004. Entre os 10 finalistas foi a única mulher, única estreante e também a mais jovem. Tem trabalhospublicados nas revistas Cult, L’Ordinaire Latino American (França), Poesia Sempre, Cacto, Coyote, Oroboro, Vallum:contemporary poetry (Canadá), Rattapalax (EUA), entre outras.





POÉTICA


"Existir como quem se arrisca"
...........................João Cabral de Melo Neto)

Poesia é a minha percepção e o meu diálogo com o real, o meu risco de cada dia, o meu pão. Marca de nascença que foi construída muito depois do nascimento. Única forma de estar no mundo.