Saturday, March 24, 2007

MARCELO NOAH






mencionado por:Angélica Freitas


menciona a:Paulo Wainberg
Fabio Godoh
João Mognon
Diego Petrarca
Patrick Matzenbacher










3 poemas










"Através" poema-objeto, 2003. Fotografia de Camila Schenkel.




























a. bioPoeta pós-contemporâneo, Marcelo Noah é adepto do postulado do ecletismo radical. Curte a Maria Callas, o Nijinsky, a Angélica Freitas e o Carl Solomon. Foi acusado de envolvimento no "I Congresso de Poesia Totalitária - Algonauta Navepoesia Galacto-canibal", bem como da difusão do joliz e revolucionário programa de rádio "Clara Crocodilo Show!". Lançou em 2006 o CD "Trinta em Transe", que faz um apanhado da poesia no sul do Brasil e organizou o primeiro Slam de Poesia do país. No cinema, dirigiu o curta-metragem "Mel do Zé", que cobre uma noite de prazeres de Zé Celso Martinez em Porto Alegre. Atualmente mantém atividades mais-que-literárias junto ao grupo "Nave Vazia" e à rádio Ipanema fm. Marcelo Noah transa um vegetarianismo e o tráfico de uísque importado na fronteira com o Uruguai.

links







b. poética

a poesia ereciona as idéias.















Friday, March 16, 2007

CAMILA DO VALLE



mencionada por:Izabela Leal
menciona a:Armando Freitas Filho
Guilherme Zarvos
Izabela Leal
Rod Britto
Ana Rüsche
(e já que ando lendo muitos argentinos, deixarei que os vizinhos invadam _ por favor, um pouco mais _ este território: Cecilia Pavón e Washington Cucurto)




3 poemas:





Missão diplomática na China (pianíssimo)





Onde pousar a palavra?




Como se a caneta fosse a asa de uma xícara




de porcelana rara que eu estaria a segurar




com todo o cuidado




no ar.




Do ar ao pires, podemos,




ou não,




espatifar a dinastia Ming.




Delicadamente.










Memorial de uma oração por um amor com flores


Os olhos dos outros regam a nossa existência.
Os olhos do jardineiro desconfiam:
— O marido é ou não é o homem que sabe fazer a mulher feliz?
Perguntam-me esses olhos com um início de indignação:
— Então, por quê? Por que trabalho para fazer bonito este jardim?
Respondo, entre tímida, estiolada e resoluta,
passeando com os olhos no rosto dele,
que um belo jardim ajuda-me a ter esperanças
de que o marido aprenda a amar com flores.
Entendemo-nos, pois:
gente com gente, trabalho com trabalho.
Choro minhas pitangas por cá
[quando o trabalho não dá certo.
Certamente ele chora as dele em algum lugar
[longe dos meus olhos.
Não fosse assim,
não teríamos esse diálogo de olhos tão claros
[um ao pé do outro.
E cheios de pétalas de rosas.
O jardineiro espalha o adubo sobre a terra
(um tom de marrom a mais que o adubo).
Parece um balé de cores próximas.
Um balé de movimentos leves
executado delicada e magicamente pelo jardineiro
com o aparente desauxílio da força muscular.
Meus olhos marejam sobre terra firme e adubada.
Os olhos dos outros rezam a nossa existência.




















Carta aos novíssimos


Hay que decir aos poetas muito, muito jovens que
Enforcar-se não é um exercício de equilíbrio entre a obra e a vida.
Há muito mais a se fazer com uma corda:
Girá-la.
Armá-la num laço.
Trazer para junto de seu corpo de poeta
o corpo do inimigo.
Seduzi-lo ou matá-lo.
Ou ser morto por ele.
Tudo com a mesma corda.
Mas a herança que se deixa nunca é a morte,
Mas a forma como se vive.
Que é a mesma de como se morre.
E ainda que o efeito de morte possa ser o mesmo para todos,
A vida resta de herança.
Portanto: hay que convencer muitas das novíssimas gerações de aqui e de allá que
Enforcar-se no es um exercício de equilíbrio entre la vida y la obra.






bio/biblio

Camila do Valle nasceu em Leopoldina, Minas Gerais. Publicou o livro de poemas Mecânica da distração: os aprisântempos pela Editora Casa 8 em 2005. Em 2006, este livro foi traduzido e publicado na Argentina pela Siesta Editorial. Seu livro bilíngüe de contos Roubei e engoli um colar de pérolas chinesas/Robé y me tragué un collar de perlas chinas foi publicado pela Editorial Eloisa Cartonera com tradução da escritora argentina Cecilia Pavón. Trouxe a Editorial Cartonera, pela primeira vez, oficialmente, ao Brasil, em 2005. Esta operação foi feita em conjunto com o poeta Guilherme Zarvos. Em 2006, a Cartonera foi convidada a participar da Bienal de Arte de São Paulo. Também no ano que passou, integrou a antologia de poetas mineiros contemporâneos Livro de 7 faces (Nankin Editorial / Funalfa) e foi traduzida ao alemão por Timo Berger para o Latin log. Está terminando de preparar seu próximo livro de poemas: Modos de abrir o mundo com as mãos. E organiza, para muito breve, um Festival de Literatura Latino-Americana em Niterói. É doutora em Estudos Literários com o ensaio Literatura de semicolônia.





Poética:

COMIDA
“Trouxe papéis com versos, é tudo quanto tenho.”(Camões, psicografado por Saramago)
Às vezes, muitas vezes, de dentro da sala da minha felicidade, onde fico me distraindo,
me divertindo, pulando meu carnaval íntimo,
olho pelo buraco da fechadura e dou de cara com o olho da tristeza a me espreitar.
Levo um susto: "Lá pra trás, ó homem!"
Não sei nem o porquê do susto se o olho sempre esteve lá.
Fico a vigiar se ele vai embora,
No entanto, ele, de quando em vez, me toma de assalto.
Está lá. Dá um medo...
Pode ser a morte ou um fim qualquer.
Enquanto isto não chega,
Sigo a marcha das tentativas de diversão o mais coletiva possível.
E, quando não é possível, passo aos projetos de vida como antídotos contra a tristeza:
melhorar o mundo, transformá-lo, essas coisas: projetos de vida, não de morte...
Ainda que não sejam, necessariamente, divertidos, eles o serão, quiçá um dia, na memória.
Tenho alguns. Outros desenvolvo.
Poesia?... É, infelizmente, um projeto muito pouco sólido, pouco palpável.
Pouco realizável, quero dizer. Muito pouco.
Poesia é maniçoba. Uma comida que não sei explicar o que é, mas que tem um nome bonito.
E vivo disso: de uma comida pouco encontrável,
que eu não sei explicar ao certo o que é,
mas que tem, seguramente, um nome bonito.
Angústia de quem vive? Alguém sabe ao certo do que vive?

Thursday, March 01, 2007

REYNALDO DAMAZIO


(foto: Regina Kashihara)


mencionado por:Tarso de Melo

menciona a:
Priscila Figueiredo
Astier Basílio
Linaldo Guedes
Delmo Montenegro
Fernando Paixão
Carlos Felipe Moisés




[Poemas de Reynaldo Damazio]

Sem título

Olhos-cogumelo explodem
Na tarde opaca, sem trânsito,
Absorvem conceitos

E inventam o olhar carícia

Vazio de palavras

Onde só o relevo da pele

* * *

Distúrbio periférico
Tonto, não porque o planeta
se mova em órbita improvável,
a mente plane liberta da
física do corpo, os objetos
saltem frenéticos e inaugurem
nova e paradoxal inércia;
tonto de náusea labiríntica, esquiva
de argumentos, aflita de
incompletudes, movimento interno
de suspensão do tempo,
este presente instável, parêntese
ziguezagueante, ávido de concretude,
embora órfão de referências, à guisa
de ancoradouros; tontura
antimelancólica por excelência,
projeção de lapsos mentais,
zunindo, carrosséis, caracóis,
livros, sinais, lombadas, vozes
sem palavras, música sem instrumentos,
texturas e cheiros, cambaleando na
calma aparente da noite, ressonar
do pequeno ao lado: o quarto
se move, ou sou eu que me movo,
extático?

* * *



Desmesurado humano

A fúria que amiúde
Me fascina
Não é a do intelecto
Fescenina
Mas a do corpo
Anti-euclidiana
Feminina

Aquela que arrebata
Salto cego
E faz da presa
Amuleto
Gesta do gozo obsceno
Extrai do tato
Seu sustento

Vivo fruto sem polpa
Flor transversa
Tesa trama de amianto
Feita de pele
Matéria lassa
Que contra si revele
O espanto

A fúria do corpo
Não é mental
Antes um soco
Aos poucos instalado
No incerto do gesto
Oca caverna
Desabrigo do mito

Enfurecido o vasto
Mundo não é nada
Senão a pálida
E pífia ilustração de
Um ideograma
Verso de pé quebrado
Osso sem tutano

O nó da fúria
Não se desata
Com palavras ou
Teorias da falibilidade
Ele nos ata ao
Mais íntimo
O inumano


Bio/biblioReynaldo Damazio (São Paulo, 1963) trabalha como editor e escreve resenhas e artigos sobre literatura, entre outras atividades. Autor dos livros O que é criança (Brasiliense), Poesia – linguagem (Fundação Memorial da América Latina) e Nu entre nuvens (Ciência do Acidente). Participou das antologias Na virada do século (Landy), de Frederico Barbosa e Cláudio Daniel; Paixão por São Paulo (Terceiro Nome), de Luiz Roberto Guedes; e Antologia comentada da poesia brasileira do século 21 (PubliFolha), de Manuel da Costa Pinto. Faz parte do conselho editorial de “K – Jornal de Crítica” e dirige o site Weblivros. Apaixonado pelo Corinthians, devoto de São Francisco de Assis, pai do Nícolas e do Aléxis.

Poética
A poesia acontece quando alguém desconfia da linguagem e tenta reinventá-la, achando que, com isto, pode mudar a própria realidade, ou a nossa compreensão dela. Às vezes dá certo.