Wednesday, July 23, 2008

DANILO BUENO









Menciona:
Claudia Roquette-Pinto
Horácio Costa
Josely Vianna BatistaJúlio Castañon Guimarães
Ronald Polito




POEMAS




irmão



mãos trêmulas

vontade de matar-se para esquecer

fuga de si

para outra vez ser genuíno

voltar do naufrágio hepático

limpo, intacto

menino afogado no fígado


(de Fotografias, 2001)





ocorrência n.º 3



seqüências sem escape
outros fogem
por tabuleiros,

desterrado da última
face,
ponto cego de relógios

construir o óbito
o corpo em si
desabitado

espelhos encarcerados
nos opostos

uma tábua viva
no espaço
(de crivo, 2004)




Nadia Comaneci



Tudo assiste crescer em seu mergulho: águas expandidas, estrelas imemoriais. Tesa de intensa delicadeza desenha a teia certeira, estrita esgrima com a brisa, sem arrimo ou amarras, perdura o arco dorsal enquanto desmorona o fôlego suspenso dos metais — vôo que anula o entorno e batiza o desgoverno: múltiplo rebento do movimento, um impulso para o centro de si até construir o desfecho: o solo brotando para a planta dos pés.


(de Corpo sucessivo, 2008)






BIO/BIBLIOGRAFIA



Danilo Bueno nasceu em Mauá, São Paulo em 1979. Reside na cidade de São Paulo desde 2006. Publicou a plaquete Fotografias (Alpharrabio Edições, 2001), o volume crivo (Alpharrabio Edições e Fundo de Cultura do Município de Mauá, 2004), menção honrosa no prêmio Redescoberta da Literatura Brasileira – 2001, promovido pela Revista Cult e Corpo sucessivo (Oficina Raquel, 2008). Veiculou resenhas e ensaios por revistas e páginas eletrônicas do Brasil e do exterior. Formou-se na Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo e atualmente é mestrando em Letras no programa de Literatura Portuguesa da Universidade de São Paulo (USP).





POÉTICA



Ao escrever dou forma a algo impossível de prever. Talvez um poema. Quase sempre nada. Toda possibilidade torna-se arremedo de uma força maior que concilia escrita e vida. Intuição, pensamento, atenção. E muito mais, claro. Dentre todos os mistérios fica o extremo prazer de escrever. E de errar
.

Friday, July 18, 2008

ELISA ANDRADE BUZZO








Mencionada por:
Andréa Catrópa
Ana Elisa Ribeiro

Menciona:

Reuben da Cunha
Flávia Rocha
Douglas Diegues
Vinícius Rodrigues Vieira





POEMAS




Planície argentina

chuveiro de partículas desintegrando-se na névoa
vacas voam na nevasca
o firmamento
- composição azul -
se desloca

(In: Panamericana, poetes americanes nascudes a partir de 1979, sèrie
Alfa, n. 30, 2006)





Renascimento

Criei-me santa
mas sou perversa,
galho de mil pontas.


(In: Se lá no sol, Rio de Janeiro, 7Letras, 2005)





Obsessão

como muito pão de mel
como como como
pacman cor-de-rosa
não vivo sem você
acordo à noite pra comer
minhas pílulas rosadas
enamoradas
até enjoar
não posso mais ver
não quero mais ver
agora é pão de queijo
meu amor é pra você
foi redirecionado


(In: Poesia do dia - poetas de hoje para leitores de agora, São Paulo, Ática, 2008)






BIO/BIBLIOGRAFIA



Elisa Andrade Buzzo nasceu na cidade de São Paulo em 1981. É jornalista formada pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Depois de seu primeiro livro de poesias, Se lá no sol (Rio de Janeiro, 7Letras, 2005), seus trabalhos apareceram em diversas antologias no Brasil e exterior como Cuatro poetas recientes del Brasil (Buenos Aires, Black&Vermelho, 2006), Caos portátil, poesía contemporánea del Brasil (Cidade do México, El Billar de Lucrecia, 2007), Antologia Vacamarela (São Paulo, 2007) e Poesia do dia - poetas de hoje para leitores de agora (São Paulo, Ática, 2008). Co-edita a revista de literatura e artes visuais Mininas.
Na internet, mantém o blog Calíope (
http://caliope.zip.net) e uma coluna no Digestivo Cultural (http://www.digestivocultural.com).





POÉTICA




“Tem sangue eterno a asa ritmada”

(Cecília Meireles)

Tuesday, July 15, 2008

DELMO MONTENEGRO










Mencionado por:

Reynaldo Damazio
Micheliny Verunschk
Menciona:
Frederico Barbosa
Claudio Daniel
Augusto de CamposRicardo Aleixo
Horácio Costa

Eduardo Jorge
Amador Ribeiro NetoMicheliny Verunschk
Virna Teixeira

Marcelo Sahea

Ana Rüsche
Antônio Vicente Pietroforte
Thiago Ponce de Moraes
Leonardo Gandolfi
Adriana Zapparoli





POEMAS



Beppo Now



desde Egdar Allan Poe
The Philosophy of Composition (1846)
— queremos explicações
——— demais — talvez porque
o poema
, não esteja entre nós
— a não ser como farsa ———
suturas, ataduras
, remendos
— medula, não
pré-
texto ————— nenhuma Glaukopis
Athena
a nos
vigiar ——
não — isto não
é a poesia —— nenhuma Glaukopis
a nos
vigiar

poesia,
— hamburger de miragem —




os super-heróis



$n "x (x Î n « j (x))


‘todos os cretenses são mentirosos’ —————— Epimênedes de Creta
(século IV a.C.)

nenhuma língua
nos


liga ———— ‘the Muse learns to write’,
a Musa

aprende


a escrever ———— para cada poeta,

uma escrita
—— para cada
poeta ———————————————— o poema

de
Gödel





De
“Épater le Noir”



..........................................................SATOR
..........................................................AREPO
..........................................................
TENET..........................................................OPERA..........................................................ROTAS



Ogum
semeador

Ogun alakaiye

Ogun agbeja fun ení ti o yá owo
Ogum aliado daquele que tem a mão rápida

que
disseca
a
palavra
(tendão-asfixia:
despele

nervo
gordura
)
[ perfuratriz
contra o
óbvio ] : arado-tripálio

carcicoma-
espátula


Ògún alada méjì
Ogum dos dois facões

um que
prepara a horta


outro que
abre os caminhos





BIO/BIBLIOGRAFIA




Delmo Montenegro (Recife-PE, 1974) é poeta, ensaísta e tradutor. Publicou os livros de poesia Os Jogadores de Cartas (2003) e Ciao Cadáver (2005). Organizou, em parceria com Pietro Wagner, a antologia Invenção Recife. É um dos editores (em conjunto com os escritores Fabiano Calixto, Marcelino Freire, Micheliny Verunschk e Raimundo Carrero) da revista literária Entretanto. Prepara atualmente dois novos livros de poemas: Épater le Noir e Velvet Apalache (ambos previstos para 2008). Contato:
rimbaudgraphis@uol.com.br





POÉTICA



(Trecho de entrevista concedida a Carlos Augusto Lima)


Elementos visuais, grafismos, ideogramas, símbolos, arcaísmos, trânsito verbal, sonoro. O que mais cabe nos seus poemas? O que eles não suportam?
Trabalho sempre no limite da linguagem, testando novas configurações expressivas, novos designs para o pensamento. O que busco é a tensão constante. É preciso aprender e depois jogar tudo fora. Jamais acomodar-se, reinventar-se constantemente. Cada livro que produzo é o resultado deste esforço. No primeiro (Os Jogadores de Cartas, de 2003) pensamos num livro-atlas, que armasse um diálogo entre a Ilíada de Homero e Um Lance de Dados de Mallarmé. Os versos explodiam pela página. No segundo (Ciao Cadáver, de 2005) pensamos num livro-esquife, que trabalhasse mixando as invenções vocabulares de e.e. cummings com a “angústia fraturada” dos poemas “da fase da loucura” de Hölderlin e dos poemas terminais de Paul Celan. Em vez de uma explosão tipográfica pela página, um corte sádico, um corte cirúrgico nas sombras da palavra. A palavra-cadáver, a palavra-verso, vísceras expostas. Não à toa muitos enxergaram nesse livro a imagem especular pós-moderna de um Augusto dos Anjos redivivo (da mesma forma que aconteceu com a jovem poeta Micheliny Verunschk, no seu Geografia Íntima do Deserto, que foi comparada a João Cabral de Melo Neto sob um viés feminista). Tudo o que a minha aventura com a linguagem não suporta – o medo do diverso, do risco, do novo. Não faço literatura para seres covardes, acomodados. Busco sim o leitor em expansão, o leitor-criador, o demiurgo, o agente faústico. Minha literatura não faz concessões a idiotia das massas. Eu quero o leitor inteligente.
Você se apropria de elementos das vanguardas, mas, de certa forma, você aproveita para ironizar a própria idéia de vanguarda. Como se você as consumisse, levando-as ao excesso. Parece devorar-se a si. É esse o jogo e o risco?
Reduzir minha literatura a sua filiação ou não aos movimentos de vanguarda é querer encapsulá-la num jogo colonialista superficial. As vanguardas, enquanto propostas ideológico-políticas, já se esgotaram há muito tempo. Só podemos retomá-las pelo viés crítico, pelo viés irônico, arrancando-lhe as máscaras. No limite extremo, há um sentido épico e religioso no Nazismo que o aproxima do conceito de Obra de Arte Total do Teatro de Bayreuth. E isto é terrível. Terrível, porque profundamente verdadeiro. Porém só quem vivenciou esta angústia pode fazer a crítica da cultura dos postulados dominantes da arte do século XX. As metáforas militares, as metáforas de poder, sempre permearam os instrumentos eurocêntricos de estudo e dissecação da língua – verbo, sintaxe, regência, etc, todas são expressões de origem militar – o próprio termo página, do latim pagus, carrega essa idéia de territorialidade, de espaço de posse, de espaço de luta. O local da página sempre visto como um local de combate. A própria idéia de uma literatura de infantaria, de avant-garde, nada mais é do que a radicalização explícita desses movimentos de autoridade. Minha literatura aposta na diversidade, no outro, na polissemia dos sentidos, no extravasamento das normas. Não há pontos de fuga ou uma teleologia de fundo místico onde escoro as minhas verdades. Todas as minhas verdades são transitórias. Não aposto numa ideologia da História. Diante de Heráclito, cai o edifício do poema cósmico de Parmênides.

Monday, July 14, 2008

DIEGO GERLACH









Foto: Martina Nobre

Menciona:

Nathalia Silva
Francisco dos Santos
Renato Mazzini
Greta Benitez
Marcello Sorrentino





POEMAS




Rixa líquida

nunca nem sequer nem
tinha prestado atenção no cinzeiro de baquelite
sempre no meio da mesa
quando a fumaça do cigarro começou com aquela putaria --
era como se diz inacreditável:
subindo não em círculos não em coluna:
a brasa tossia a fumaça em todas as direções
como uma daquelas velas de aniversário que somente um não-fumante
pode extinguir;
comentei com joana, puxando conversa
-- a essa altura é bem verdade que pouco conversávamos, eu e ela,
e alguma coisa me dizia que tudo tinha começado quando
resolvi arrebentar o celofane e assistir aquele dvd do popeye
que ela tinha comprado pro sobrinho --
mesmo que ela em geral cantarolasse algo ao invés de responder
mas nessa noite
[não me restava qualquer $$$ e os cigarros eram dela]
ela não levantou os olhos do que estava fazendo (que era destruir as cutículas com os olhos brilhando enquanto assistia o noticiário)
mas explicou que a fumaça era na verdade o espírito santo
me mandando saltar na frente de um ônibus
o quanto antes possível.
me magoava que ela não dissesse isso com todas as letras,
mas eu aparentemente tinha acabado com os cigarros.

===

Biografia líquida

Mensagem de texto pedindo minha biografia com menos 48 horas de antecedência;
Perguntei se estavam me pedindo isso por causa do período
passado em Londres e de meu envolvimento com __________ [famosa ventriloquista],
ou então se queriam detalhes sobre a temporada de quase 27 anos passada
no eixo tênue entre minha mórbida cidade natal e algum lugar quente onde carne de bode é iguaria;
A resposta que obtive foi de que deveria tentar relaxar, e que mandariam uma datilógrafa para que me sentisse mais oficial;
Perguntei sobre valores com certo sobressalto;
Disseram-me que as coisas não estavam começando no pé certo dessa forma;
Perguntei se podia escolher ao menos a fonte em que o negócio seria impresso;
Retrucaram 'Olhe pra si mesmo e me diga se confiaríamos isso a você';
Finalmente decidi por uma ligação
perguntando quem diabos eram, afinal.

===
Apelido líquido
Evitei e tentei tanto quanto pude
Mas um dia tive que confessar para ela
Que 'Anticlímax' não era apelido que me deixasse dormir.

===



BIO/BIBLIOGRAFIA


Diego Gerlach, 27 anos, está em seu segundo nome. Nasceu em São Leopoldo, RS, e atualmente trabalha em seu primeiro romance.






POÉTICA

Quatro cordas ou menos
eu e mingus no inferno dos baixistas
ele por ter socado jimmy knepper na boca
eu por ser medíocre
os dois tomando cerveja morna
'vocês não vão entrar?', pergunta o bode

Wednesday, July 02, 2008

MARCELO ARIEL











Mencionado por:

Edson Cruz

Menciona:


Daniel Faria
Felipe Stefani
Flávio Viegas Amoreira
Ademir Demarchi
Beatriz Bajo





POEMAS



1.

PHOTOMATON PONGE


O olhar-sombra é o efeito-Velázquez Ela imita o eu :A máscara imaterial em volta do objeto-vivocomo um galho na ponta da auréola O Eu-Anêmônada Esperando o Virgílio das coisaspor ele a noite enrugada tira os óculospara a infinita transparência
da ausência como um Método Eidético,Esse olhar inaugura o agógico para o véu de Berkeley Canta o grão no vidro de água,A madeira no olhar do ouro,A aurora efervescente da pérola de lôdo,O 'Bateau-Ivre' no sangue chamandoa infância da névoa que escondiao incêndio no bosque filológico.

2.

PHOTOMATON CECIM :


Por que se reescrever..
E se agora em mim viesse o vão da voz..
No amazôniko..
Sim, no espelho que nos cega apesar do SoL do sonho brilhando fora da literatura , além do vôo sem asas da ave-Flaubert que já anunciavam as transfigurações que já anunciavam as transfigurações que depois ouviremos nos sinos de Andrei Rublev e Lars Von Triers
Como te sentes diante de tuas partes invisíveis ?
Depois de atravessar a água da obscuridade a flor do silêncio começa a ofuscar o ouro do tempo
Esse ladrão de auroras capaz de imantar um cristal escuro no permanente eclipse branco da memória
E o que somos além do intrumento da tua invisibilidade?
Um vôo para essas asas que afundam no rio das imagens
Como o menino vicente franz cecim na ilha das cigarras
se lembrado dos pássaros que também já foram nuvens...

Cantando o lendário salmo dos fios
Enquanto segura nossas mãos
Na alma ,
Por que só há uma para acordar tudo ?

Para ir a uma festa triste, que insiste em nos convidar para essa dança das falsas dualidades ?
Por que essa beleza assustadora e estonteante do invisível e sua embriaguez de sonho ?
Como a sensação de perseguir uma miragem onírica, a vida
Não se toca nela por dentro
Para isso usamos o fantasma do mundo da palavra
Esse que fala Corrompendo a névoa do silêncio onde afunda
a casca lendo a casca

3.

SEM-TÍTULO

A linguagem foi criada para fixar a vida, mas ela não consegue fazer isso, ela apenas cava a aura da vida, sua aura de acontecimento puro imune a eventos e outras simulações, embora cave fundo e incessantemente, a linguagem jamais encontra um centro ou essência da vida para fixá-la em seu corpo de signos e sons. Por isso não acredito na linguagem como um lugar que será um dia visitado pela vida ou seja pela essência do acontecimento, mas apenas como uma ponte utilizada pelos que se afastaram muito dela por dentro para tentar atravessá-lae vê-la ao mesmo tempo, enquanto outros se afastaram muito dela por fora, para tentar atravessá-la e controlá-la ao mesmo tempo.Ambos fracassam, seja lá o que fizermos sempre estaremos nos afastando da vida por dentro ou por fora e estamos todos em cima dessa ponte erguida aqui sobre o rio morto das coisas-mercadoria, de um lado os escravos-fantasmagorizados por seu próprio reflexo nas águas do rio morto das coisas mercadoria se encontram conosco, nós os enfeitiçados e domados pela mistificação da linguagem, os escravos presos na ponte, que para nós é um local de observação, nos movemos por dentro através da ponte, os fantasmagorizados passam por nós e nós ficamos ali até que o silêncio e a morte unem as duas margens do rio, cancelando a ponte e finalmente fixando a vida em algo.
...............................................................................


Sim,ela foi a democratização absoluta da graça...me lembro quando todas as cascas foram dissolvidas e a bem-aventurança ainda estava lá...a absolvição geral e irrestrita de toda a humanidade...o cancelamento do suicídio do espírito e etç...
Você ainda estava lá quando a terra parecia vazia e totalmente devastada...ainda estava lá para ver a rosa


(textos do livro inédito : TEATROFANTASMA)





BIO/BIBLIOGRAFIA



Nasci em 8 de julho de 1968, sou escritor,editor e andarilho.
Publiquei até o momento 2 livros: ME ENTERREM COM A MINHA AR 15 ( COLETIVO DULCINÉIA CATADORA) e
TRATADO DOS ANJOS AFOGADOS ( LETRASELVAGEM)

http://www.teatrofantasma.blogspot.com/
http://www.letraselvagem.com.br/
http://www.ouopensamentocontinuo.blogspot.com/






POÉTICA


A poética para mim é uma busca através da palavra de uma autenticidade dentro do mundo, é um passeio por um campo ontológico
onde podemos colher flores de silêncio.

Tuesday, July 01, 2008

WILSON NANINI










Mencionado por:
Micheliny Verunschk

Menciona:
Micheliny VerunschkLau Siqueira
Jussara Salazar
Ricardo Corona
José Aloise Bahia
Leonel Delalana Jr.





POEMAS (do livro inédito Quebrantos, Relances e Abismos Ao Relento)



BOI

I
Apenas a metafísica
de nossos mitos
explica-nos

– enquanto o boi ergue a cauda
e produz matéria

II
Solene,
com mãos transfiguradas,
afago na
(dele) face minha hoje
escassa identidade.

III
No meio-dia sem álibi...
Na meia-noite sem alento...
O boi (peso, pêlo e poesia
isenta) se indifere pois
intui que plenitude é
– rente ao prazer manufaturado –
deitar-se entre flores
na relva úmida
ao relento
e lamber apenas
as próprias narinas.



BESOUROS

Aladas quase
cegas semi-
(es)feras
negras

chovem se acumulam
à penumbra pública

(sem que as lâmpadas
dos postes que os
alumbram de-
batendo-se em câmera

len-
ta

esforçados virados saibam
o que pensam os transeuntes
que passam por
sobre
e os esmagam
indiferentes)



FAMÍLIA

Um sino de missa
inaugura o domingo

O girassol sorri
na sombra do muro

– sentinela das galinhas
que ciscam na horta

esperando a hora
da (alheia) fome





BIO/BIBLIOGRAFIA



Wilson Torres Nanini, policial militar de minas gerais por ofício, poeta por extravio, nasceu em Poços de Caldas/MG, em 25/01/1980. Casado, reside com a mulher Carolina em Botelhos. Cursou Letras na Unifeob, de São João da Boa Vista/SP, contudo, abandonou o curso antes de se formar. Seu primeiro livro de poemas, ainda não publicado, intitula-se Quebrantos, Relances e Abismos ao Relento.





POÉTICA



“Enquanto a vida me obriga a transitar por ela com humildade, a poesia é uma via alternativa, é um modo de empunhar empáfia para me vingar do mundo, reinventando-o. Contudo, não busco um mundo perfeito. Quero chegar apenas a meio-instante de uma realização plena. Cultivo uma ardente aspiração pela coisa que não se completa nunca, que se dá sob a forma de um quase, mas que ao mesmo tempo me repleta, enquanto transito de asas atadas no território de meus automuros. Quero algo além da indecisão de uma pedra que indaga se acaso uma flor entre flores é mais flor do que uma flor entre pedras.”