Monday, August 20, 2007


SIMONE CURI



mencionada por:
Joca Wolff

menciona a:
(aqui desencontrados)
David Lopes da Silva
Sergio Medeiros
Wladimir Garcia
Tomaz Tadeu da Silva
Sandra Corazza




3 poemas:


(inéditos)

a dor sem nome
passou a chamar-me
na cadeira basculante
no corpo sem parapeito
na viseira do filme português
a dor-costumbre
tomou a dianteira
e algumas taças de nada
brindando a vida
desassombrada opereta
entreato do infinito
do-ser-dor-em-mim
esse pássaro sem ar.



medéia
tramada da vida
o outro sucumbindo
aos ares da renovada mesa

escassa gramática
para dizer isso
se bem mantém contato
ei-los pontos difusos de alegria

ah, pensar que se sabe!
me perco dizendo o que não sei
dando o que não se tem
meu bem, escorreram-me os lábios

se não entende
a pele bem bem recorda
a criança chora
não sei me divertir

espera consoante
quer partir?

diabos o parta.
a filha, carne para o abatedouro
infinitamente renovado
sabe, servida à mesa.

Horror indolor.






os que dormem como cães

ontem fiz cem anos,
ele recém abre os olhos
vive na emergência da carne,
à imagem dela torneada, viril,
sucumbe.
não fui convidada a sua festa,
a minha está aqui
sorrisos dribles sofismáveis e claro carne,
(há mesmo quem diga espírito).
ele pediu entrada
então, comemorou-se em quase silêncio.
parte da noite toquei-o onde,
por prematura visão,
não ousou reconhecer-se.
é que na memória da carne
- nuas vibrações reproduzidas em tela plana -
amanheceu ao lado dessa centenária
e tudo e nada que tem a lhe oferecer.



bio/biblio - nasci em Campinas SP, no ano de 69. De lá pra cá, disseminei-me em outras, hoje somos 5. Anacoreta das letras, deslizei em alguns poemas, ensaios e artigos e o livro A escritura nômade em Clarice Lispector (Argos, 2001). Doutora em Teoria Literária (2004), dou aulas de Literaturas e Produção textual.



poética – mapa-múndi de si, desdobramentos entre o mundo e o imundo; móbile de vozes e de veras mentiras.


Saturday, August 18, 2007

MARCELO SANDMANN


mencionado por:
Joca Wolff

menciona a:
(bons poetas amigos que ainda não se encontram no índice do blog)
Luciana Martins
Jussara Salazar
Adalberto Müller
Mário Domingues
Celso Borges



poemas


PRESTIDIGITAÇÕES



1.

Nada nesta mão,
nada nesta outra.

Agora um gesto rápido
(movimento insidioso do braço).

E extraio, entre os dedos,
do espaço abstrato,

um pássaro, que se desata,
ascende e se desbarata:

magnífica elisão
de todo este cenário!



2.

EI-LO: UM PÁSSARO EM CHAMAS



3.

Partamos do pressuposto
de que as plumas que caem
sobre o tablado
(lâminas luminosas
de silêncio concentrado)
são os fragmentos impossíveis
de uma metáfora irrecusável.

Partamos do pressuposto
de que um novo gesto lépido e enigmático
(costura musical
invisível no espaço)
logrará remendá-la,
propondo de novo o pássaro,
posto que agora empalhado.

Partamos do pressuposto.






PARA QUE LEDA ME LEIA
(voltas sobre mote de leminski)



para que leda me leia
escrevo em papel de seda
à mão, mas mão que tateia
muito lenta, quase queda
a mão de alguém que receia
romper a trama da teia
queimar-se na labareda

para que leia me leda
escrevo com grãos de areia
que ampulheta, sim, me ceda
sobre manchas, a mancheias
grãos bem claros, como greda
por que a gemas só suceda
de restarem na bateia

para que leda me leia
escrevo a vera vereda
que a laguna, em lua cheia
logo leve, lá onde leda
ao doce canto que enleia
(fero canto de sereia?)
seu sorriso me conceda





3 POSTAIS



1.

no viaduto, em
pleno lusco-fluxo
atrelados à própria miséria

eles voltam para casa

centauros do cu-do-mundo
carregados de refugo
eles mesmos: refugo?



2.

que saltimbanco é esse
que salta ao
sinal vermelho?

nas mãos, três
bolas de meia
pés descalços sobre o asfalto

e uma intangível labareda
no bafo na lata
de cola



3.

ali

naquele trecho da calçada
agora à noite
alguns se deitam, cobrem-se
com sacos de estopa

e dissimulam
piras
funerárias





bio/biblio

Nasci em Curitiba, em 15 de novembro de 1963, onde moro e não pretendo sair, a menos que receba uma intimação para ir habitar os Campos Elíseos. Em 1998, lancei o CD Cantos da palavra, em parceria com Benito Rodriguez, produção musical de Paulo Brandão e interpretações de Silvia Contursi. Meu primeiro livro de poemas, Lírico Renitente, veio a público em 2000, sob a chancela da Editora 7Letras, do Rio de Janeiro. Em 2006, pela Editora Medusa, de Curitiba, saiu Criptógrafo amador, de onde extraí os poemas acima transcritos.







Poética (à guisa de)




POÉTICA NEGATIVA (do livro Lírico renitente)




Não quero a palavra enrijecida:
pedra circunspecta
impermeável à vida.


Não quero a palavra mutilada:
autópsia incisiva,
vísceras reviradas.


Não quero a palavra intransponível:
ponte que pende
no vão do invisível.


Não quero a palavra imaculada:
ária rarefeita
avessa a ser cantada.



Friday, August 17, 2007


PAULO SCOTT



mencionado por:

Ronaldo Bressane
Fabricio Carpinejar
Joca Reiners Terron
Valério Oliveira


menciona a:

(autoras que ainda não foram citadas)

francieli spohr
mara coradello
ana paula freitas
fernanda d'umbra
monica de aquino






3 poemas


PISCINA, TRÊS DA MANHÃ

meu esforço dá grampos,
se apaga no azul
da água fria

meu olhar é cinza
e sangra um sumário
de lambaris agitados

(poema do livro "Senhor escuridão", Ed. Bertrand, 2006)


SKATE

rápido, só enxergo vogais
quando tento sorrir
o pescoço dá um rabo
de azulejos quebrados

(poema do livro "A timidez do monstro", Ed. Objetiva, 2006)



GRUPO ESCOLAR APAIXONADO POR RESTAURANTE

soube que lhe deram um novo apelido: dino
então, tudo bem, você repetirá o bufê pela quinta vez

o código que inventamos não funciona
lamento que você não consiga parar

restos de comida voam sobre nossas cabeças
e nossos amigos riem pra valer durante esta guerra

o dono do restaurante ameaça quebrar a vidraça para a polícia entrar
condimento de gás e cães para desmanchar a trilha de feijões brancos

nossas calças xl cumprirão a penitência
antes, porém, canetas quatro-cores serão armas

o colega mais velho tem catorze anos e manchas de se pendurar
o sabonete em meu prato fundo tem metade de um número sem cicatriz

um de nós será karatê e também fabuloso porta-jóia:
gritará que sua mulher se tornou as letras vogais da palavra ansiedade



bio/biblio

PAULO SCOTT mora em Porto Alegre, seu primeiro livro foi o "Histórias curtas para domesticar as paixões dos anjos e atenuar os sofrimentos dos monstros", publicado sob o pseudônimo de Elrodris - Editora Sulina, 2001 (o mesmo pseudônimo que utiliza para escrever no www.sanduichedeanzois.blogspot.com). Em 2002, com o músico Flu (ex-Defalla), criou o evento literário de dez edições chamado "Póquet: ruído & literatura: escritores que tocam - músicos que escrevem". Em 2004, foi um dos três finalistas do Prêmio Açorianos de literatura com o livro de contos "Ainda orangotangos" - Editora Livros do Mal, 2003. No mesmo ano, com o ilustrador Fábio Zimbres, criou o projeto "Na Tábua", misturando literatura e ilustrações (http://www.tonto.com.br/natabua/). Em 2005, publicou o romance "Voláteis" - Editora Objetiva, 2005. No mesmo ano, co-roteirizou o filme "O início do fim" (Curta metragem de Gustavo Spolidoro, 2005, Melhor Curta Brasileiro no Prêmio Jameson Short Film Awards / European Coordination of Film Festivals; selecionado para o SUNDANCE 2006) e passou a integrar o grupo de colunistas na revista literária eletrônica Cronópios (http://www.cronopios.com.br). Em 2006, publicou "A timidez do monstro" - Editora Objetiva, 2006, e "Senhor escuridão" - Editora Bertrand Brasil, 2006. No mesmo ano, fui convidado do OFF-FLIP (evento oficial paralelo à FLIP, em Parati, RJ) e escreveu a peça "Crucial dois um" (Texto de dramaturgia; contemplado no Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz). Ainda em 2006, ocorreram as filmagens do longo metragem "Ainda orangotangos", adaptação de 6 contos do livro "Ainda orangotangos" (Projeto de Longa metragem contemplado no Edital para Produção de Longas-Metragens de Baixo Orçamento do Ministério da Cultura de 2005). É colunista semanal do Portal Terra (http://terramagazine.terra.com.br).

poetica

a oficina da literatura