Saturday, December 30, 2006

Thursday, December 28, 2006

CARLOS ÁVILA

Pedro Maciel

menciona a:
Augusto de Campos
Affonso Ávila
Laís Corrêa de Araújo
Décio Pignatari
Sebastião Nunes
Régis Bonvicino
Júlio Castañon Guimarães
Angela de Campos
Ronald Polito
Cláudio Nunes de Morais
Guilherme Mansur




3 poemas do livro “Bissexto Sentido”:


POETRY: THE WORD I AM THINKING OF
& não será
a poesia
(femme fatale)
apenas uma palavra
dentro de outra palavra
que não quer dizer nada
& não será
a poesia
(femme publique)
apenas a migalha
dentro de outra migalha:
fogo de palha
& não será
a poesia
(femme de chambre)
apenas o ar assoprado
por um aloprado
no ouvido do olvido
& não será
a poesia
(femme grosse)
apenas o resto
de um almoço indigesto
entre convivas no inferno
?

o que será
(une femme: infâme)
será



BAUDELAIRE SOB O SOL

o sol
(a ser adjetivado:
im-pla-cá-vel)
descorou a capa
de um volume de baudelaire

as flores do mal
(descubro)
não resistem à lenta
violência do sol
(sol de boca-de-sertão
que estorrica o solo?)

também
quem mandou
colocar a estante
nesta posição:
o que estaria baudelaire
(em efígie gráfica)
fazendo no sertão?

se as flores do mal
não suportam o sol
(répondez baudelaire)
resistiriam aos punhais
do óxido e do sal?




NARCISSUS POETICUS

secou

(no vaso
sem água)

mal plantado
numa waste land
(minúscula)
de apartamento sombrio:
como resistir
a pó poeira poluição?

maltratado ex-narciso
à própria sorte abandonado
(rente ao piso)
sem fonte
nem espelho

secou
(só no vaso)
sem suor nem saliva
sem lágrima
que o pudesse salvar

morreu

(fuligem
na alma)


Breve bio/biblio:

CARLOS ÁVILA nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1955; é poeta e jornalista. Publicou, até o momento, três livros de poemas: Aqui & Agora (BH, Edições Dubolso, 1981), Sinal de Menos (Tipografia do Fundo de Ouro Preto, 1989) e Bissexto Sentido (SP, Editora Perspectiva, 1999). Publicou também um livro de ensaios - Poesia Pensada (RJ, 7Letras, 2004) - e duas plaquetes: LOA – aos pequenos lábios (Brasília, Edições Civilização Arcaica, 1999) e Obstáculos (BH, Memória Gráfica, 2004). Está presente em diversas antologias no Brasil e no exterior, entre elas, Nothing the sun could not explain (20 Contemporary Brazilian Poets), publicada nos Estados Unidos, e Brésil: nouvelles générations, publicada pela revista francesa Action Poétique. Foi editor, por quatro anos (1995/98), do Suplemento Literário de Minas Gerais, indicado para o Prêmio Multicultural Estadão (1999). Atualmente, é assessor da Rede Minas de Televisão, para a qual escreveu as videocrônicas e coordenou os videoversos, entre outros trabalhos.


Poética:
“Viver a poesia é muito mais necessário e importante do que escrevê-la.” (Murilo Mendes)





RENATO NEGRÃO



mencionado por:
Estrela Leminski
Marcelo Sahea

menciona a:
Júlio César Abreu
Makely Ka
Marcelo Sahea
Augusto Nesi
Nicolas Behr



poemas:


INFLAME

o dilúculo
influi
magenta no pântano
e a última estrela intensa
incensa
luz
ao único sapo molhado no olhar
que intenta vê-la

a úmida e fria
atmosfera
solta
a cadente wega

e o sapo
coaxa
que se fora

salta
do brejo para a estrada
atropelado
lusco-fusco

murmura
um koan acende
velado
por vagos lumes





CIBORGUE
para donna haraway


ciborgue me deu
um beijo na boca e me disse

não me peça
para gostar dos seus poemas ou que
você goste dos meus

ou não me impeça
de não gostar dos meus ou de
gostar dos seus

porque tudo quanto é aço
silício alicate
interno e déu aqui

tudo quanto é melopéia
logopéia ali
e de lá a fanopéia nada traz

para a elípse entre nós
proezas no breu






Julieta de Souza faz filosofia pelo suporte música
Astolfo Andrade mostra escultura análoga ao teatro
Epaminondas Cerqueira diz cinema com a mão da literatura
Mestra Elza joga capoeira no suporte do design

Tiago José define a curadoria ao manejar parangolé
Carlos Martins sujeita tela e teclado para produzir tipos
Roberta encontra na moda a forma da instalação
Em Marcos Ubaldo arte gourmet e astronomia uma coisa só

Martina transpõe o bordado para a dança
Denise transforma romances em ready-mades
Dayse liga lógica e dada no mamulengo
Magela une cinema e performance nas ciências aquosas

Kátia Suzy realiza poesia pela auto-ajuda
Jean Cardoso faz auto-ajuda na plataforma da poesia
Jorge Ramos pensando fazer poesia faz história
Clara Arantes faz poesia para afugentar o tédio



bio
Renato Negrão (BH) é poeta, performer, compositor. Autor de Os Dois Primeiros e um Vago Lote (Selo Editorial, 2004). Ministrou oficinas de poesia e performance na FUNARTE/SP e no Festival de Inverno de Ouro Preto UFMG/UFOP. Ministra a oficina Palavra Imagem no Programa para Jovens da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte. Como compositor, tem composições gravadas por Alda Rezende, A Danaide e Bossacucanova, dentre outros. Apresenta-se em diversos eventos caracterizados pelo uso experimental e transtécnico dos meios de expressão.

Tuesday, December 05, 2006

OS PRIMEIROS CEM

Escolhas está de festa: enquanto no foro continua uma boa conversa sobre poesia brasileira (veja aqui) nesta parte do blog, chegamos aos cem poetas - justamente com alguem que fazia tempo estavamos esperando: Francisco Alvim.
Agradeço a todos os poetas, amigos, costureiras, budas e sambistas que cada dia colaboram e pasam por aqui: a casa é de vocês, e continuamos tendo convidados.
Também, e para fazer juz nessa comemoraçao, um grande abraço pro Alejandro Mendez, quem desde Argentina começou o "elecciones afectivas" de lá -para quem nao conhece: nao perca- e tem ajudado em tudo e mais.
Um grande abraço, parabéns para todos,
anibal.-


FRANCISCO ALVIM
VERA PEDROSA
MARIA LÚCIA ALVIM
EUDORO AUGUSTO
ROBERTO SCHWARZ
JOÃO CARLOS PÁDUA
GERALDO CARNEIRO
CHARLES
VERA AMERICANO
NICHOLAS BEHR
ÂNGELA MELIM
MARIA LÚCIA VERDI
JOÃO MOURA
DUDA MACHADO
SEBASTIÃO NUNES
AUGUSTO MASSI
ANGELA DE CAMPOS
AGE DE CARVALHO
RONALD POLITO
JOSE ALMINO



A MORTE DE ALGUNS

Procuro na pasta
algum endereço
para orientar-me
em busca do termo

Mais certo talvez
olhar da janela
na tarde cruenta
tribos se devoram

Como sofreá-las
no impulso hediondo?
As leis não coíbem
a antropofagia

Ora, não me preocupo:
só termos pelejam
Os poetas se escondem
atrás de janelas

E não vejo sangue
na aragem anêmica
(termos se devoram
incruentamente)


Nesta guerra é certo
como em Uccello
só se valorizam
os gestos mais belos

Mesmo porque desertas
de homens as janelas
nelas só se vêem
poetas

(in Sol dos Cegos, 1968)


ORDENHA

Os dedos flácidos
acompanham trôpegos
o embate da testa
Ordenham esta idéia
e mais aquela outra
espremem bem a teta
Longe o telefone
acorda um latido-
o bastante afinal
para que a córnea escorra
sobre a fronha


(in Passatempo, 1974)





SONHAR OS HOMENS CANIBAIS

Sonhar os homens canibais
que moqueiam as carnes do combate-
em cada mão uma cabeça
nos ombros as pernas guerreiras

Lembrar os degraus da ilha
que algum passo há de descer.
Com paciência esperar

Pensar o mar

(in Lago, Montanha, 1981)



VARANDA DE UM VÔO

Um tempo de neve-
volta
por dentro do sol
e da água

Olho de um lago
que olha dentro de si
para se ver
não se ver

Olhar de fora
luz tamanha
névoa na neve-
montanha

(in Festas, 1981)


OS DOIS NA COZINHA

Entre os picumãs do teto da cozinha
havia um cipó velho
Que cipó é aquele meu tio?
Prendia umas cabaças com sebo de boi
Os pretos
antes de ir para o eito
untavam-se

Evitavam as frieiras
o reumatismo

(in O Corpo Fora, 1988)



UM TELEFONE

De nosso bisavô Teófilo
passou pra Vovô
de Vovô pra Tilê
de Tilê pro Nico
Agora está com Clara
Eu, criancinha, lá em BH
Ouvia: aqui é 2-7359
Hoje o prefixo é outro
221 mas o número
7359
o mesmo



(in Elefante, 2000)


Francisco Alvim
Nasce em 1938, em Minas Gerais. Livros: Sol dos cegos (ed. do autor, 1968); Passatempo (coleção Frenesi, 1974, Rio de Janeiro); Dia sim dia não, com Eudoro Augusto (coleção Mão no Bolso, 1978, Brasília); Lago, montanha (coleção Capricho, 1981, Rio de Janeiro); Festa (id.); Passatempo e outros poemas, coletânea dos livros publicados, à exceção de Dia sim dia não (Brasiliense,1981, São Paulo); Poesias reunidas, com o conjunto dos livros anteriores, inclusive Dia sim dia não, e mais o inédito O Corpo fora (Duas Cidades, 1988, São Paulo). Elefante (Companhia das Letras, 2000, São Paulo); Poemas – 1968/2000 (Cosac & Naify, 2004, São Paulo).

POÉTICA
Acho que os poemas acima, uns de modo mais direto, como “A Morte de Alguns” e, num de seus planos, “Ordenha”, dizem bastante do modo que tenho de pensar, quase sempre sem que tenha (se isso não é absurdo) conciência do que estou pensando, a poesia. A idéia que tenho deles, quando os leio sob esse prisma e neste momento, é de um certo jogo do poema com o real (no fundo, meu único interesse), o que traz de aparente vitória e de segura derrota. Nisso, devo estar tentando uma poesia que nasceu no sec. XIX e agonizou no sec. XX; que está morta, e não traz nenhuma idéia de futuro. Trago para aqui (sem estabelecer um vínculo com o que acabo de escrever) duas imagens, de duas poéticas que me encantam particularmente: a poesia como espécie de líquido amneótico que banha o universo e a vida humana, de Bandeira, e a imagem do poeta como esgrimista, numa luta incessante com o real, o dentro versus o fora (e vice-versa), de Baudelaire.

FRANCISCO DOS SANTOS














mencionado por:
Eduardo Jorge
Virna Teixeira

menciona a:
Antônio Moura
Maria da Paz Ribeiro Dantas
Eduardo Jorge



poemas:







A árvore no sonho

Dentro dele as coisas que entram pelo olho misturam-se às coisas amorfas.
Sua mãe vem em sua direção e nunca acaba de chegar.
Retira da árvore um filhote gordo, branco, contempla-o em sua desgraça de pássaro,
depois volta-o as ramas rendadas de escamas.
Sua mãe vem em sua direção e nunca acaba de chegar. Ela tem dois rostos e se debate.
Entre as ramas uma cobra se move lentamente, como ferrugem, como olhos carcomidos.
Sai de sua boca um navio, todos os mastros quebrados.





sobre o país o monstro

a Maria da Paz Ribeiro Dantas

— devorados
erguemos
com escoras
a pele em declives —
uma linha passou por nós,
obliqua
então surgimos do outro lado sem geometria, sem flor, sem espelho



Era uma vez num país de árvores dois heróis

O primeiro nãonascido da flornão, de um O cuspido; malicioso, mulherengo, meio
mau-caráter etc, etc. Todos conhecem sua história. O segundo de uma idade
física nascido, habilíssimo, adorado pelo povo polvo... Ora, vejam, um trocadilho,
essa forma rudimentar de humor ainda tão cara a nós povo povo; mas não se
distraiam com essa rameira que pisca e ri para vocês, a ironia — ah, a ironia,
a ironia, a ironia, dizem que ando doente de ironia, que corrompo pessoas com meu
dom — mas não se distraiam também com isso, vão trocar nossos heróis
e não será por um herói ideal qual o grande Boon, idiota o bastante para enfrentar
um urso com uma faca. Não, não precisam confiar em mim, aliás é bom que não
confiem mesmo, olhem por entre essas letras e vislumbrem — eis que surge o
bólido veloz.






Nota biobibliográfica: Francisco dos Santos nasceu em 1967 no Matogrosso do Sul. Autor dos livros: M, 1991/2001; Solilóquio, 1997/2002; A reinvenção do mesmo, 2002/2003 (trê livros de poemas reunidos com cinco fragmentos de Prosa de O Grande Cineasta no livro Francisco de Todos-os-Santos, Lumme Editor, 2003); A imagem recorrente, 2003/2004, contos; Topografia de um homem urbano, 1986/2001, desenhos (ed. do autor); O Golpe do Anti-ceifo, 1997/2001, pinturas; Diálogo com Goya, 2000/2002, pinturas; “No american, latins”, 2005, libreto de contos; A árvore no sonho, poesia (em processo). Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, DC, O Povo, A Crítica, O Liberal, JC, revistas Monturo, Medusa, Oroboro, Zunái, Etecetera, Gazua, Tsé-Tsé (Argentina), Serta (Madri), Proler (Moçambique), entre outros veículos publicaram trabalhos seus. Editor de títulos como: Presque-songes, de Jean-Joseph Rabearivelo (1a. edição no Brasil); Rio Silêncio, de Antônio Moura; Sunyata, de Víctor Sosa; Shakti, de Reynaldo Jiménez; Antes que chegue a noite, de Juan Luis Panero, (livro ganhador do Prémio Ciudad de Barcelona); Contra o segredo profissional, de César Vallejo; Bocage, Corpo de Delicto; Contos africanos tradicionais; Folclore Brasileiro; Budissatva de Jade, conto da Dinastia Sung etc. Trabalha atualmente na preparação de dois fac-símiles de Camões: primeira edição de Os Lusíadas, 1572, e códice apenso ao volume das Rhythmas, 1595. 






poética: para mim a coisa toda se move junto com o poema, mudando uma linha o desenho dela.
me agrada a possibilidade de deslocar uma arquitetura possível.

CLÁUDIO NUNES DE MORAIS

Caraíva-BA 2006. Foto: Verônica Mendes Pereira


mencionado por:
Júlio Castañon Guimarães
Carlos Ávila

menciona a:
Laís Corrêa de Araújo
Affonso Ávila
Wladir Caldeira de Morais
Duda Machado
Júlio Castañon Guimarães
Suzana Nunes de Morais
Carlos Ávila
Ronald Polito
Júlio César Abreu
Andityas Soares de Moura



poemas:



ÁGUA-TINTA


Fevereiro é um pássaro. Veio, março
na flor das águas, num momento, e partiu.

O que veio a seguir foram águas. Águas
de janeiro, as primeiras chuvas que caem

depois de um verão. Assim como as primeiras-
águas, chuvas de trovoada em novembro

e dezembro. Assim, sem dizer água vai,
e a dizer água vem, gravaria, um por

um, todos os meses, as quatro estações
a água-tinta, gravada à vista de ex-

tintas águas. Água passada. Se é que
passou. O certo, certíssimo é que não

ficou. Nem fevereiro. Veio, janeiro
na flor das águas, num momento, e partiu.

(do livro Xadrez via correspondência, 1997)



ALGUNS GUITARRISTAS


Ouvi Manolo Sanlúcar
e Isidro, o mano fiel:
de suas cañas, o açúcar

por entre os caules de fel.
Ouvi também, no Brasil,
Cañizares (Juan Manuel):

ciência, vasta e não fácil,
mas espontânea, apresenta.
Ouvi depois esse anil

das mãos de Amigo (Vicente),
que apresenta em outro tom
Córdoba: explosivamente.

E antes Solera (Antonio)
–– ouvi (ou vi) bem de perto
(e revi) ––, em Carmen: dom,

Bodas de Sangre em concerto.
Mas ouvi Francisco Sánchez
Gómez, Paco (o mais deserto

da história: numa avalanche
de toques que invade e muda
o toque, como revanche:

a guitarra mais aguda,
mais musical, a fronteira
também do grave, sisudo):

“o de nervos de madeira,
de punhos secos de fibra”,
o que calcula as maneiras

de cada corda que vibra
e acorda em toda a magia
do “fluido aceiro da vida”

a frágua, a gitanería,
sim, ouvi Francisco Sánchez
Gómez, Paco de Lucía:

cultivando uma avalanche
de toques, mas com mão certa,
não deixa que se desmanche

o toque que se completa
com o elenco dos tablaos
e das peñas mais secretas,

pois tal guitarra, ou granada
que explode à frente do elenco,
sempre renasce –– extremada ––

dos pés, da voz do flamenco.

(publicado na revista Cacto, n. 2, outono/2003)



PUNHAL DE PRATA


E ouvi muitas outras coisas.
Águas fundas. Águas rasas.

Nesta rua (Amor de Dios),
por exemplo, as águas bravas
de sua guitarrería.

Sempre soube o que matava.
Sempre soube quem morria.

(publicado na coleção Relógio do Rosário, outubro/2004)



breve bio/biblio:

Cláudio Nunes de Morais nasceu em Belo Horizonte (MG), em 1955. Músico, autor do livro de poesia Xadrez via correspondência (Sette Letras, 1997), traduziu duas séries de poemas de Paul Valéry: a primeira foi estampada na revista Cacto, n. 2 (outono de 2003); a segunda no Suplemento Literário MG, em abril de 2006 (
www.cultura.mg.gov.br/arquivos/SuplementoLiterario/File/sl-abril.pdf). Traduziu também, desta vez em parceria com Rogério Silveira Muoio, o Dicionário abreviado do surrealismo, de André Breton e Paul Éluard (publicado em edição especial do Suplemento Literário do jornal Minas Gerais, em 1986), e participou da antologia Na virada do século, organizada por Claudio Daniel e Frederico Barbosa (Landy, 2002).




poética:



O LIVRO ABERTO


Muito além (e aqui
as nuvens, o chão)
de um livro fechado
na palma da mão

(a rua, folhinhas
ou dias, semanas
e meses do ano
as fases da Lua

das noites ardentes
à manhã mais fria
entre um par de datas
igualmente exatas)

E a canção de suas
páginas ao vento
(de duas em duas
sob o firmamento)

(publicado no Suplemento Literário MG, maio/2005)




Tuesday, November 28, 2006

CARLOS TAMM


mencionado por:
Janice Caiafa
Lu Menezes

menciona a:
(Ausentes do site)
Dora Ribeiro
Ferreira Gullar
José Almino
Lúcio Autran
Ronald Polito
Vivien Kogut




poemas:
Carne crua
Nas telhas dos dias claros
os portos de ruptura
o antes onde inteiro
escrevo e arranco
o papel da parede
e busco a camada
atrás da camada
por trás da qual
outra camada
parede toda amassada
onde o que é cru -
crua carne vermelha.

(De Osso e Vento, 1996)



Outra Família
Aquela dor sem culpa
ou sentido
imóvel, estalando
longe da vítima
ou algoz.
Fria, gelo no olho
emaranhado, aquilo
atroz – repartido
entre todos, vidro estilhaçado
de fé cega – o que sempre
já está tarde – neve
lama, luto – linha
sem chegada – urtiga
à beira da estrada, estrépito:
alma
entre nós.
(De Sob Luz Branca, 2002)

História


Era uma vez.
Havia uma voz.
Tudo era escuro.
No princípio era o Verbo.
E então.
Para sempre.
Que.
Disse o lobo.
Seu pai tinha morrido.
Eles eram pobres.
Ela era uma princesa.
O gigante.
Havia um castelo.
Floresta.
Foi deixado na floresta escura, nu e pobre.
Fez-se a luz.
Hoje está aqui.
A floresta também.

(Inédito)





bio/biblio: Carlos Tamm, carioca com raízes mineiras, tem 46 anos, é poeta e psicanalista. Mestre em Letras pela PUC-Rio com tese sobre Ana Cristina Cesar, é membro e professor da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Colaborou com poemas, contos, traduções e ensaios com o Jornal Verve, revistas Poesia Sempre, O Carioca, Azougue, Trieb, Ficções, EntreClássicos e Revista Camoniana, entre outras publicações. Foi premiado nos concursos de poesia Raimundo Corrêa (1988), Jornal Verve (1989) e Stanislaw Ponte Preta, da Secretaria Municipal de Cultura (1992). Publicou os livros de poemas Osso e Vento (Ed. Sette Letras/ 1996) e Sob Luz Branca (Azougue Editorial/2002), premiado no Concurso Literário Internacional Maestrale-San Marco, na Itália (2003). Finalizou recentemente o romance Esse Rio Sem Ponte.



Poética:
Na poesia e na arte de que gosto penso que atua uma força centrípeta: lapidar para chegar ao mais bruto, como fez Paul Klee, como faz Gullar. Gosto também da idéia expressionista de receber o impacto do mundo (externo e interno) para devolvê-lo transformado – no nosso caso operando com a sintaxe - de acordo com a própria percepção.
Acho que a poesia é mais busca do que descrição de algum sentido. Esbarramos a todo momento nos limites da linguagem, como faz a Alice de Lewis Carroll. Ocasionalmente roçamos esses limites, tornando evidentes as falhas de sentido ocultas na fala comum, terra estreita para tanto mar. É o máximo que podemos alcançar: Holanda construindo diques.


EDUARDO STERZI



mencionado por:
Tarso de Melo
Leandro Sarmatz

menciona a:
(Só poetas que ainda não foram citados aqui)
Veronica Stigger (escolha mais afectiva, impossível...)
Leandro Sarmatz
Jean de Oliveira Ferreira
Age de Carvalho



poemas


Jogo

depois do primeiro chute
é fácil alguém pergunta
pra que tanta violência
aos poucos vai até
serenando como se
entranhasse a contragosto
a lâmina do sono
suja do próprio sangue
do sangue de outro
aos poucos vai até
afogando no sono
que desce pela garganta
vem dos ouvidos
só pensa
proteger os olhos
proteger a nuca
proteger a têmpora
parece que sorri
à espera do último
que não vem
à espera do próximo
é fácil é só
esquecer
que aquela é
a sua
(só) a sua cabeça




Vapor e cimento


Enquanto deslizo – serpente
metálica – ao longo do arroio,
a proa rasgando o
asfalto, temente apenas
a radares e outros
roedores,

meus olhos se despregam
do fluxo apático
e, de repente,
descobrem, ao fundo,
formações efêmeras
de algodão e
reboco, vapor e
cimento – o assim
chamado «horizonte» –
morrendo em rosa e
cinzento;

poderia ser o fim do mundo,
mas aqueles óculos
mudaram a percepção
de tudo, e ela pôde,
ao meu lado, mesmo
assustada, sorrir,
embora sua fala,
no rapto do instante,
cessasse abrupta, à espera
de alguém – tigre ou
anjo – que, munido
de ferramentas apropriadas,
nos arrancasse
do cerrado cipoal
das ferragens;

poderia ser o fim
do mundo, mas,
hóspede perpétuo
da mais ímpia
masmorra
(onde o chão
morde o teto)
do palácio
gasoso
das lembranças,
fantasio-me liberto,
preso apenas a
um que outro
relâmpago: o prego,
áspero de cimento,
cravado no pé esquerdo;
o primeiro golpe
da adaga (a vítima
sobre a pia,
ao lado de uma
privada); o lustre
de inúteis tentáculos
rebentando no ventre
da sala; tua última
palavra.

Porto Alegre, 31 dezembro 2002




Manhã carvão, manhã
carnívora:
medo
que a sombra
morda, olhos
abstratos
por sobre o ombro
esquerdo


[Os três poemas integram o livro inédito Aleijão. «Jogo» foi publicado na revista eletrônica Trópico; «Vapor e cimento», na Cacto n. 2. «Manhã carvão» é apresentado aqui pela primeira vez.]




bio/biblio

Nasci em Porto Alegre, em 1973; desde 2001, moro em São Paulo. Meu primeiro (e até hoje único) livro de poesia – Prosa – saiu em 2001. Organizei um livro de ensaios sobre Augusto de Campos, Do céu do futuro, que saiu este ano pela editora Marco. Escrevi também uma dissertação de mestrado sobre Murilo Mendes e uma tese de doutorado sobre Dante e a origem da lírica moderna.



poética

A imagem certamente não é minha (mas, como não sei de quem é, fica sendo minha): escrever poesia, hoje, me parece semelhante a arremessar dardos contra um alvo inexistente, o qual, no entanto, vai começando a existir à medida que os dardos o alcançam. O poema, então, aparece como algo paradoxal, inexistente-existente, perfurado/ferido.



Friday, November 24, 2006

CAETANO GOTARDO




mencionado por:
Marco Dutra
Angélica Freitas

menciona a:
Carlito Azevedo
Heitor Ferraz
Angélica Freitas
Marco Dutra
Lilian Aquino
Carla Kinzo
Juliana Rojas
Gilson Soares
Maria Eugênia



poemas:


Motor

Vou acabar machucando minha boca você diz
seus lábios estão ressecados pelo frio
seus dentes encontram as pontas de pele
para arrancá-las

Antes que se pense a respeito
os dentes lá estão

Mesmo que se pense a respeito
os dentes lá estão

Há pouco você evitou um outro gesto irrefletido
quando sua mão e seu fôlego
estavam prontos a acender um cigarro

Sem um maço
e sem fogo
no bolso
o gesto não se completa

e ainda que o sabor da fumaça não mais o mova
por um instante a mão e o fôlego
são no seu corpo algo que falta

trata-se de um buraco

a morte difícil de um hábito


Meus lábios também se partem no frio
e também os mastigo

Não precisa esperar comigo você diz
passar frio à toa
o ônibus vem logo
ou demora pouco
posso esperar sozinho

Eu sorrio
não sei dizer nada
não saio daqui
necessito
(como sua mão de um cigarro que se tire do maço
e se prenda entre os dedos)
ver você entrar no ônibus olhar ao redor sentar-se
ver você
ainda
enquanto desaparece




Cebolinha

I. Um relato de Cebolinha

O louco está louco

No meio da lua cheia
(a lesma de papel na lama)
o louco toma pastilhas valda




II. A amante de Cebolinha

Quando ele disse a ela
Você é minha selva
Ela respondeu
Sim
espero suas ordens




III. O jardim de Cebolinha

Não vou legar nenhuma flor




Dezesseis anos

O encontro entre as famílias
foi marcado
na churrascaria
para que os pais verdadeiros
conhecessem
o filho
roubado um dia depois
de nascido
outros pais
idade
nome

como foi chegar até aqui
digo o trânsito
esta cidade hoje em dia
o tempo não avisa mais
como
quando vai mudar
por favor
uma lâmina
apenas
a carne fica sempre presa
entre meus dentes


claro







sua falta
cavado um buraco
não deixou de ser
cavado um buraco
falta




não obrigada
leve daqui
estou satisfeita
leve este talho
foi como
morrer
bom
o almoço




eu me lembro do seu rosto




você me lembra
um dia
depois
do outro






Breve biografia:

Nasci em 1981 em Vila Velha, no Espírito Santo. Moro em São Paulo desde fevereiro de 1999. Estudei cinema na USP. Dirigi dois curtas-metragens e alguns vídeos, escrevi três peças de teatro, sempre em processo colaborativo (o texto sendo escrito ao longo dos ensaios). Tive dois poemas publicados na Inimigo Rumor 18. Fiz algumas letras para melodias dos outros (e descobri nisso uma alegria grande).



Poética:

“Visto. / Ouvido. // Anotado.” (Jacques Roubaud)

Coisa que se pode pegar com as mãos.

“(…) como a bola azul em suas mãos é a bola azul
em suas mãos e o verão é outra bola azul em suas mãos.” (Carlito Azevedo)


FABIANA FALEIROS



mencionada por:
Angélica Freitas

menciona a:
Angélica Freitas
Felipe Ribeiro
Vanessa Reis



poemas


Estação e Salvo
Boa tarde. Vocês podem todos aqui se sentar.
Vamos suplicar como funcionam as medidas.
O metrô é uma linha que vai e fica e é colorida.
Tanto é que no vagão já temos de antemão ela representada por bolinhas.
Por que vocês estão dentro do vagão. Só não vale dar a mão.
Tá bom. Assim, se posicionem. Para onde vocês vão?
Cuidado com o espaço entre. Agora entrem (mais de um).
Entrem. Entrem. Separados. En trem en trem. En trem en trem.
Entrem em si e em partes. Parem. Pa rem Par em Par em.
Isso, vocês precisam entrar e os olhares se cruzam.
Só não pode parecer como ontem. On tem On tem.
Mais de um, por favor, mais de um precisa participar.
Usuário na pista. Você pare de ler revista.
E você passe a se comportar.
Agora deu. Agora desce.

*

Nós, no raro café, sempre nos sentávamos numa mesa onde na qual existia
outra por baixo da mesma onde nos deitávamos e começávamos a conversar.
Muito embora houvesse entre a gente um cano que mantinha mesa de cima
pendente era nossa estratégia de me aproximar. Havia um buraco onde o café
passado a vácuo era colocado para nos banhar. O garçom já cansado servido
do café cheiroso na gente e eu nem dizia, ai tá muito quente, e as feridas nasceram
dormentes. Queres levantar? Nessa pergunta se decide passar açúcar e começa
a me coçar. Raspa este elemento acessório que faz parte de todo empório:
"Forneço gosto mas não sou a coisa em si. How do you know me?"
Se a minha brancura associada a espessura da tua pele te repele te repele.
Se queres ser um adoçante. Se queres atingir a forma que retorna sem ser
mero acompanhante. Passe café por mim.

*

Lá, no início da paulista tem:
uma estátua de um homem equilibrista
temuma empresa que cortou e cuidou da grama
e estancou
uma placa com seu nome
na pista

*



breve-bio/biblio
Nasci em PelotasRS, em 1980 e atualmente moro em São Paulo. Faço mestrado em
comunicação e semiótica na PUCSP. Minha pesquisa é sobre vigilância distribuída na cultura digital.
Os poemas enviados são do meu primeiro livro - no prelo - Ou Seja (Ediciones Cerro Colorado).
Escrevo aqui:
www.virandooazeite.blogspot.com




poetica
)Coloque pelos menos o que você não precisa numa mesa de apoio( Coloque os cotovelos sobre a mesa e abra parênteses para fora

menciona a:
(quem ainda não está presente)
Camila do Valle
Masé Lemos
Maurício Matos
Gabriela Nobre
Sebastião Edson Macedo




poemas


CINEMASCOPE

I

A VIDA SECRETA DE BARBARA STANWYCK

ninguém sabia
mas barbara era poeta e odiava o lirismo hipocondríaco
tinha paixão por carros conversíveis
e um namorado depressivo e maníaco
a moça estava cansada de seus óculos escuros
com eles o mundo era sempre noir
e ela
que não conseguia esperar
desejava compulsivamente
as novas lentes varilux

barbara não escrevia versos como quem joga xadrez
desprezava os assíndetos e os oximoros
e aprendia chinês

foi quando o sr. lin
– o professor de chinês que só falava mandarim –
denunciou a estupidez dos homens
e seus pensamentos em off
ela tomou um porre de vodka orloff
e decidiu abandonar hollywood

então armou um golpe fatal
com um quê de experimental

pagaria um piloto de prova
que já estava com o pé na cova
para capotar com o seu MP Lafer
ela receberia uma double indemnity
e viveria feliz em new york city

mas o plano não foi adiante
porque ela detestava destruir veículos
e raciocinava com perspicácia

barbara stanwyck achava que um automóvel tonitruante
era mais belo que a vitória de samotrácia




II

MARROCOS OU ALÉM

W. L. sempre chegava à noite, depois de ter matado baratas

ele precisava escrever o acúmulo viscoso dos devaneios noturnos, os vazios desproporcionais entre a realidade e o fora

sua mulher o beijava e o pó resplandecia na boca, ela desabotoava a blusa, o hálito entrelaçado aos odores da rua

era preciso matá-la

e o médico, um certo doutor B., abria portas janelas corredores oblíquos onde se morre aos poucos com o veneno agudo das lacraias

talvez ele devesse partir para Tanger, estremecer os ossos nos ruídos distantes em meio aos ávidos olhos mouriscos
ou permanecer de pé enquanto o veneno se misturava ao sangue

as palavras infestavam seus ouvidos, ele passava para o outro lado

alguém havia puxado um fio em alguma parte do universo e a trama do mundo se esgarçava

onde estaria sua clarck nova?

ele procurava

e sabia

sabia que o assassinato era uma alucinação na rotina, um espasmo entre as fibras da memória, uma contração nos molares

era preciso escrever ou permanecer para sempre em interzona



III

O NÚMERO TRANSCENDENTE

tudo se passou em chinatown
quando o cérebro esguichava a monocromática
tinta
e ele procurava a decifração do mundo
e os números
da bolsa

as entranhas expostas do computador
cuspiam uma álgebra difusa
confusa
de teclas e letras reluzentes
e uma pálpebra fina junto às outras membranas
congelava o tempo nos chips
de joalheria

depois vieram os rabinos
a cabala o sefer yetzirah
as perseguições casuísticas
a perfuração do hipotálamo
os anagramas convulsivos
as aptidões taumatúrgicas
e os jogos de azar

e ele
que amava insensatamente
os ângulos agudos
contemplava espirais segundo a razão áurea
nas folhas das árvores
na fumaça dos automóveis
na mistura de café com leite numa xícara
e esquecia arquimedes

por fim uma limpidez varava os espaços
tumultuosos
enquanto a transcendência do número brilhava
trivialmente
no sorriso da menina





BREVE BIO/BIBLIO:

Nasci em 1969 no Rio de Janeiro. Sou formada em psicologia, professora e doutoranda em literatura portuguesa. Pari alguns poemas publicados na revista Inimigo Rumor e na Zunái. Também estou prestes a parir uma menina.



POÉTICA:

Cinemascope: processo de filmagem com lentes especiais que deformam anamorficamente as imagens registradas em negativo de 35mm e as recompõem em cada cópia final, positiva, projetada em telas de grandes dimensões.

"O que eu pretendo fazer é distorcer o objeto até um nível que está muito além da aparência, mas, na distorção, voltar a um registro da aparência." (Francis Bacon)



Wednesday, November 22, 2006


MARCO DUTRA




mencionado por:
Heitor Ferraz
Caetano Gotardo

menciona a:
Juliana Rojas
Carla Kinzo
Vanessa Reis
Caetano Gotardo
Rafael Gomes
Paula Manzo
Lilian Aquino




Poemas:



máquina extraordinária

o jornal noticiou o lançamento do novo disco
de uma adorada cantora pop

o jornal revelou que, durante os seis anos em que esteve sumida,
ela não comprou nenhum sapato novo
nem ficou se espreguiçando por aí

“ainda tenho o costume de andar a pé, e a pé os caminhos são mais longos

vamos colocar minha ausência numa linha do tempo
e dividi-la em três fases

o recolhimento
eu me deitava e rolava no chão
chorando
e não recebia visitas

a calmaria
era a casa da praia
não muito longe daqui
eu não recebia visitas

a inspiração
eis que deus me devolveu as canções
e a única visita que recebi
que me quiseram fazer
nessa terceira fase
foi a dele”

cantora pop, você ainda acredita no suicídio?

“não, não mais”

e ainda não acredita em casamento?

“em casamentos passei a acreditar”

quando diz em sua canção
que foi estuprada aos nove anos
é a verdade?

“desde setembro de 84 que sonho
em encontrar uma pessoa
que não seja eu
e que não seja outra pessoa”
o jornal noticiou o retorno da cantora pop
com alguma ironia

“eu ainda choro e quase sempre é ao redor das dez da noite, e várias vezes me encontro andando pela praia quando estou na casa de praia, mas isso é o presente e eu não consigo dividir o presente em fases. vocês conseguem fazer isso? me parece muito complicado.”

o jornal noticiou
a pausa que a cantora pop fez
antes de continuar

“na canção eu digo que sou uma máquina extraordinária porque tudo que acontece eu consigo aproveitar, coisa boa, coisa má, tudo que me acontece eu uso. o meu terapeuta disse que essa é a melhor fase da minha vida, essa pela qual estou passando agora, mas o meu terapeuta, apesar de não ser eu, infelizmente é outra pessoa. prometi a ele que tudo ia ficar bem. mas as histórias precisam ser contadas ao contrário pra que os finais sejam felizes, e não se pode fazer isso por causa da linha do tempo. me parece muito complicado.”

estas últimas falas
o jornal não noticiou
por falta de espaço




13 de fevereiro

Hoje só me ocorreu

“O amor também
é como uma nectarina”

Não porque o sentimento
tenha qualquer coisa a ver
com a fruta

As duas palavras
boiaram juntas
e foram encontradas
à margem
como cadáveres

Amor

Nectarina







O convento abandona Maria

Um capitão com sete crianças

Uma casa enorme
e um capitão
com sete crianças

Uma baronesa
numa casa enorme
com sete crianças
e um capitão

Ontem mesmo eu rodopiava pelas colinas
E elas estavam vivas
Com o som da música
E eu não era uma governanta

Agora
até aquela mulher que me encara
sorrindo
e me oferece tomates
nesta feira em Salzburg
neste país que eu amo
acima de tudo
menos de Deus
Até dela e dos seus tomates
eu tenho medo

Mas não

Tenho medo é do capitão

Que
Por ter sete crianças
Sem contar a que nasceu morta
Deve gostar muito
De fazer sexo








Breve biografia:

Nasci em 1980. Estudei Cinema. Escrevi e dirigi os curtas “O lençol branco” (com Juliana Rojas) e “Concerto número três”, entre outros. Gosto de escrever e escrevo menos do que gostaria. Algo do pouco que foi terminado está no blog (
http://www.marcodutra.blogger.com.br/), o resto está espalhado ou perdido. Só me publicaram antes no colégio, num livro com as supostas melhores redações do ano.

Poética:
Como uma mesa num bar, num café, as pessoas ao redor.
LUÍZA MENDES FURIA



mencionada por:Angélica Freitas

menciona a:
(praticamente todos já indicados, fazer o quê? por ordem alfabética e sofrendo por ser injusta com muitos outros que também já estão neste blog):
Angélica Freitas
Carlos Machado
Donizete Galvão
Eunice Arruda
Ruy Proença
(os quais tive a felicidade de conhecer pessoalmente, e )
Claudia Roquette-Pinto

poemas:


SCHERZO

Num dia leve assim
é o pássaro que em mim baila
seu allegro, scherzando
celebrando a infinitude azul

Mas quando tudo se adensa
é a fera lenta que rasteja
as notas solitárias de um violoncelo
fremindo as guelras do silêncio.

***

VERÃO

Às vezes
é assim a manhã:
bolha de Tempo
que explode
incandescente.

Dói e queima
o dia todo.

O corpo
só se acalma
quando adere à pele
o cataplasma translúcido da noite.
(de Inventário da Solidão, ed. Giordano, 1998)

***
Enquanto o desespero
reverbera a dor
nas ondas do silêncio

no marulhar do vento
a noite vai e vem
regurgitando gritos
redondos e obesos
fora do tom.

Um bicho com medo
o coração.
Mas, no tambor das horas,
o susto da canção.
(de Incisões no Branco, livro inédito)

***
Breve biografia: Luíza Mendes Furia nasceu em 21 de novembro de 1961 em Caçapava (SP). Em 1978 publicou Madrugada e Outros Poemas e em 1999 lançou Inventário da Solidão (Ed. Giordano). Tem poemas em antologias e suplementos literários do Brasil e de Portugal e alguns livros ainda na gaveta, como o Incisões no Branco, ao qual pertence um dos poemas acima. Um comentário sobre seu trabalho consta do Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras, de Nelly Novaes Coelho (Escrituras, 2002). Tem um site (
http://br.geocities.yahoo.com/malufuria) e um blog (http://litera-mundi.blogspot.com). Seus poemas estão também nos sites www.germinaliteratura.com.br/erot_mai06_lmf.htm, www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet168.htm e em alguns blogs. Radicada há 26 anos em São Paulo, é jornalista e tradutora. Atualmente, negocia a publicação de seu livro infantil O Escocês Que Tinha um Jardim de Poemas e de uma fotobiografia de Hilda Hilst.

***
Uma póetica: poesia é a mátria. E também uma religião. Uma forma, talvez, de encantar a morte. Não há como não responder a isso com um poema: “Escrever, talvez,/ para si mesmo/ para compreender os mistérios/ que em cada ser se acorrentam/ elo por elo// poço sem fundo/ poço sedento// talvez para o vento/ agradecendo a música// para que a morte/ seja mais intensa/ e menos dura// para não morrer/ feito uma pedra escura.” (Explicação, de Inventário da Solidão)

***

Thursday, November 16, 2006

O CARNAVAL DO ESCOLHAS COMEÇA JÁ


tem coisa nova por ai: um foro

-porque ninguém é de ninguém-

para todos explicarem o que acham

sobre a poesia brasileira contemporanea.

o que for.

poetas ou nao, leitores, quem quiser.

ai a dereita, gente, no começo do indice.

e desculpem a bagunça. coisas de pasar

o carnaval pra novembro. abraços, a.-


ninguen é de ninguem : 1 : foro :

o que você acha da situaçao da poesia no brasil?

fale, diga, escreva, minta, explique, psicosomatize, desabafe,

peça desculpas, taquigrafe, cante, grafique, expresse suas emoçoes,

jerarquize, rascunhe, confesse, incite, negue, jure, faça o que deva -

e deixe aqui sua opiniao sobre a poesia brasileira hoje. -




DANIELA RAMOS





mencionada por:
Virna Teixeira

menciona a:
Francieli Spohr

Anita Costa Malufe
Ana Rüsche

Roberto Romano
Cristian De Napoli
Pablo Araujo



poemas:



21/12
Hoje, acho,
provoquei um acidente.

Cruzamentos,

enquanto houver dados
suspensos
intensos
suspeitos pairando.



Balançou o fundo da rede

Júlia ficou com Nikos
Achei meio esquisito

O Surfista ama Shala Ball
Mas está em exílio astral

Mary Jane e Peter Parker
Não podem ficar juntos
sob hipótese nenhuma,
mas ela não casou com o
filho do Jameson.

Ao invés, al revés,
aparece, ainda com o
Vestido de Noiva(tragédia em três atos)
realidade, delírio, lembrança,
na casa de Parker.

O beija. Ele ouve uma
sirene, precisa sair,
combater o crime,
não pode, não pode,
mas pode, só um
pouquinho.


08/08
A vida sentimental da lagarta: ela se apaixona enquanto está no casulo. Depois, o oráculo avisa e não há hesitação: partir não envolve arrependimento. Preciso tirar os pesos da carteira. Quando ele voltar eu aviso, mas não vou ao cinema. Isso falha. Muita gente. É São Paulo. Muitos têm compromisso, e ainda mais isso. A pedra atrás da orelha.


breve bio/biblio:

Come bebe dorme levanta, vende a alma e o corpo como professora de Novas Tecnologias da Comunicação para sobreviver, viajar e jantar fora em São Paulo. Torce pelo Sport Club Internacional de Porto Alegre. Tem poemas publicados na Inimigo Rumor 18 e na plaquete “Poetas jovens no papel rascunho”, organizada por Virna Teixeira, e traduções de Henri Michaux, por quem morre de amores, na Zunai (http://www.revistazunai.com.br/traducoes/henri_michaux.htm).



poetica:

Poesia é como capoeira, que é tudo que se come, dizia Mestre Pastinha. Ler. Escrever. Henri Michaux. O resto é puro capitalismo.

Friday, November 03, 2006

LUCI COLLIN


mencionada por:
Sergio Cohn
Adelaide do Julinho
Fernando Koproski
Estrela Leminski

menciona a
Sylvio Back
Alice Ruiz
Silvana Guimarães
Sônia Regis
Luiz Roberto Guedes
Renato Rezende
Sergio Cohn



poemas



FIGURANTE



os papéis menores
as falas insignificantes
aceito
até os silêncios
que me forem dados
expressar

com a transparência das deixas
nem tanto o que
represento
mas sim o que representa
a minha presença
nesse
palco




DOR MESMO


dor mesmo nem tanto a incisiva
- surpresa da faca na pele –
intensa dor mas reversível
ferida que enfim cicatriza

dor mesmo é aquela miúda
dor sempre que não envelhece
lateja esta dor – a mais funda –
de um ontem que nunca se esquece








SCHRIFTSTELLER
(o livro de fotos)


assustador um homem que inventa
outros homens

o que vêem seus olhos
abertos ou fechados
noite ou dia

assustador um nome que ao ser pronunciado
faz existir as frases que aguardam na estante

Nabokov caça borboletas
com uma rede adequada e pisará sobre flores
Estaremos numa primavera?
Beckett mira qualquer botão da camisa
no quarto de negra totalidade
Estaremos loucos?
Char segura uma bengala
ou uma espada
Estaremos mortos?
Kerouac vê cadeiras, teto, tapete,
cortina e um despertador automático
Estaremos prontos?
Borges se você sair desta enorme janela
não vinga a eternidade
Estaremos rindo?
Genet sentado no chão desconsidera
a última moda em lenços de couro
Estaremos quites?

E você escritorzinho sem fotografia
precisa de um blazer axadrezado
com mangas puídas
um aluguel vencido
um cabelo sem corte
um olhar indecifrável
um cachorro latindo
uma dor aguda nas costas
ou no braço
ou de dente
um copo vazio
outro copo
ônibus barulhentos passando
a manhã inteira
a tarde inteira
a noite inteira
passando
uma solidão que semelha a brasa
comendo o cigarro
(por falta de imagem mais nobre)

precisa abraçar uma enorme estátua
e pensar numa palavra não inventada

Estaremos salvos?







bio/biblio

Luci Collin – (Curitiba, 1964) Graduada no Curso Superior de Piano, em Letras e no Curso Superior de Percussão Clássica. Doutora em Letras pela USP com tese sobre Gertrude Stein. Recebeu premiações em concursos de literatura no Brasil e nos EUA. Representou o Brasil no Projeto Literário da EXPO 2000 em Hannover. Participa de antologias nacionais, com destaque para Geração 90 – Os Transgressores (Boitempo:2002) e 25 Mulheres que estão Fazendo a Nova Literatura Brasileira (Record:2004), e internacionais (EUA, Alemanha, Uruguai e Argentina). Leciona Literaturas de Língua Inglesa e Tradução Literária na UFPR.
Livros publicados – Poesia: Estarrecer (1984), Espelhar (1991), Esvazio (1991), Ondas e Azuis (1992), Poesia Reunida (1996), Todo Implícito (1998); contos: Lição Invisível (1997), Precioso Impreciso (2001), Inescritos (2004). Publicações como tradutora: Re-habitar - Ensaios e poemas, de Gary Snyder (Azougue: 2005) e Etnopoesia no Milênio, de Jerome Rothenberg (Azougue: 2006).






POÉTICA:

poesia é a sonora frase/ que em si o silêncio profundo/ segundo em que se percebe/ que a ordem rasa do mundo/ não é sequer parecida/ coma ordem maior/ da vida

Thursday, November 02, 2006

ANDRÉA CATROPA


mencionada por:Fabiano Calixto


menciona a:(seguindo a linha de “quem não vi no blog”):
Afonso Henriques Neto
Ana Rüsche
Celso Borges
Eduardo Lacerda
Elisa Andrade BuzzoLilian Aquino
Lúcia Santos





poemas:

o sem-nome
vermelho-laca com grandes brasas por detrás dos olhos,
os cães ouviram o assobio,
o homem ouviu – lhe disseram é o que anda sem os pés,
o que se esgueira por entre as copas de árvore e não
é cobra
– e virá

encarnado é texto, oração, pensamento,

desencarnado é sangue, suor, frio na espinha, a ameaça
da terra, o chão.
sob as ondas

vamos a um lago
ou cachoeira imaginária
um pouco de torpor é preciso
talvez lá
nos espere um outro reflexo
estranho como deve ser o rosto
de um afogado









musa

fantasma do texto boca da palavra sexo de mulher que fala
serpente que engole a própria cauda
e no branco espalha o gozo
lágrima da tara







Pequena bio: Nasci em São Paulo, em 1974. Estou concluindo Mestrado em Teoria Literária. Edito o jornal de literatura contemporânea O Casulo. Os poemas enviados pertencem ao livro inédito Linha d´água.



Poética: Propor uma poética é quase tão complicado quanto não propor. Quase. A polifonia que nos leva à beira da surdez pode induzir ao silêncio por desorientação, ou por amor à higiene sonora. Fiquemos com esta última. Mas não seria isto consentir com o calar? Entremos no coro, então. Nem que seja para desafinar. A poesia é o que não deveria ser. Mas é. Sem que isso signifique comprazer-se com a gratuidade. A poesia é tradição e revolta, Eros e Thanatos, Dioniso e Apolo. E por isso, onde o homem é, ela precisa ser.

Wednesday, October 25, 2006

SERGIO COHN


Renato Mazzini

menciona a
danilo monteiro
claudio willer
ronaldo bressane
alexandre barbosa de souza
luci collin







poemas

mnemo.

Há um resíduo de futuro
no vento, fotograma ante-
cipado, montagem de fragmentos
induzindo à cena. Como
aquela árvore se curvando com-
placente aos invisíveis pesos,
como o mormaço
predizendo chuva. Repito,
há um canto anterior
a qualquer canto, uma réstia,
um eco primeiro, como um som
que ressoa por dentro de cada
palavra, como todo gesto se
desenha e apaga, então
novamente. Há o revés,
o diáfano, o termo, beleza
posta e perdida, o desen-
cadeamente, assim
como a sede do vapor
por uma forma, assim
como tudo retorna
à imaginação
por trás da cortina
da memória.

(Horizonte de Eventos, 2002)


da visão.

desfazer o puzzle
e encontrar outro dentro:

não me interessa
o que esse pôr-do-sol
na Lagoa me oferta
com seus passantes
o horizonte amplo
e a árvore fincada
em pleno desvão
da Pedra da Gávea:

as verdadeiras questões
ainda estão para ser inventadas

(mas se o olhar perco
é asa de borboleta
pura chama congelada
o sol indo de encontro
com a água)

(O Sonhador Insone, 2006)


um contraprogama.

1
Esta montanha invade a cidade
e à sua margem penso
não no silêncio, na astúcia
e no exílio (que já foram
tentados a contento) mas
do lado de dentro
mesmo que impossível
extraviar-me no alheio

2
o alheio: não o outro
do morro ou o rosto
da rua, mas o que
ainda despercebido pulsa
e sobreviverá ao tempo
porque o fim disto
– desta cidade – não é
o de todas as coisas

(Revista Sibila, 2006)




mini-bio

Sergio Cohn nasceu em São Paulo, em 1974. É editor desde 1994 da Revista Azougue, e em 2001 criou a Azougue Editorial. É autor de “Lábio dos Afogados” (Nankin, 1999), “Horizonte de Eventos” (Azougue, 2002), e “O Sonhador Insone” (Azougue, 2006). Mora atualmente no Horto, no Rio de Janeiro, junto da Araci e do Leo.
editor@azougue.com.br



poética

Ruptura e encantamento.





JOSÉ RODRIGO RODRIGUEZ


mencionado porÉrico Nogueira

menciona a
Priscila Figueiredo





poemas


Terra
O momento certo
não existe
pois é o tentar fazer-se homem
quem dita meu lento ritmo.

afazeres
tentações
diluições, tentativas
álcool, fumo, jornais
muito pouco importa o vício
a idade certa que avança
onde, longe, liga e gira
o chão das idéias esparsas
e afiados cacos precisos

isso quando pensar é possível
fumar longamente o salário
na tarde que antecede
cede a morte
em estado líquido

isso quando é aceitável
a busca seca de sentido
a boca seca ausentada
da palavra
suicídio.

(em Meus Seios, ed. Nankin, São Paulo)





Meus seios

Mãos sobre o peito,
procuro ar nos pulmões,
meu filho escolhe andar
com suas próprias pernas.

Faz frio, faz calor, escuto
o cantar de pássaros sujos
entre ônibus e motocicletas,
meu filho escapa entre luzires.

Acordo sentado na cadeira
vejo sinais de sangue e espuma
sobre seus ombros, o filho
que herdei de seu Pai morto,

espera algumas palavras antes
de ir dormir. Esqueço de lembrar
meu nome, mãos em meu peito
quem extirpou-me os seios?

A mulher que me tornei responde
atenta, com gestos curtos por trás
do bigode, recolhe seus véus entre
as pernas, oculta anatomia.

A mulher que me tornei derrama
soluços sobre o chão de pedra,
seus pés descalços ... Ofereço
o leite de meus seios aleijados

ao vazio de meu corpo estranho.
Marcas do filho que nunca pari
doem fundo, longamente,
exasperando uma a uma
cada fibra.


(em Meus Seios, ed. Nankin, São Paulo)








Flower Children




Pessoas que não fôra,
o semblante espelhado
nas letras; ásperas letras
de sangue e papel, tinta e lágrima.


Eu teria sido aquele que li,
eu teria vida assim, vagido,
pequenas flores cultivadas
em cada pedacinho de chão.


Quem sabe? Eu gostara que
plantássemos milho e cevada;
eu esperava pelo homem
na varanda pintada de azul.


Sangue e papel, tinta e lágrima,
veja as fotos e as pegadas
e eu, por onde andarei?
Que vagares? Que derivas?


Eu também te amaria, também
as pessoas mortas que eu não fui;
amor, vem comigo, esperar a memória
fazer renascer a manhã espessa,


aqui a memória da palavra
hoje,
nossa vida
nossa casa.


(em Meus Seios, ed. Nankin, São Paulo)














bio/biblio


José Rodrigo Rodriguez é poeta, professor e pesquisador. Estuda Direito e Filosofia.
Publicou Meus Seios pela Editora Nankin de São Paulo mais livros de circunstância.




poética


É comum as palavras se cansarem de mim. Então, eu fico muito aflito, sem saber o que fazer. Comprar-lhes um vestido novo? Levá-las para passear? Nada disso funciona. Não adianta nada. A melhor coisa a fazer é sentar e ouvir o que elas têm a dizer.


Para além de seus afazeres diários, de nomear as coisas para que possamos comprá-las, pegá-las e comê-las, há muito que figurar.


A poesia se faz assim, quando permitimos que as palavras não cumpram o seu dever.

























Sunday, October 22, 2006

LU LAPAN


mencionada por
.
menciona a
Maira Parula
Caco Ishak
Fred Girauta
Mariana Lavrado
.
poemas
.
1
o ciclo do alho
a aba do despenhadeiro esconde o aberrante Klor.
vive sossegado nas paragens de Murmur, onde os homens são respeitados na proporção das florescências de alho que carregam em volta do pescoço.
sua mente sanada pelo apaziguamento meditativo não perde tempo elocubrando o ócio.
nos dias em que a passagem do tempo dá aquela acelerada habitual, aproveita para pastar capim gordura e promover uma gama de reações cínicas anti-explosão plasmolisante do lisossomo mau.
mesmo que cacareje o Sr. Consul, dono das geladeiras, e relute na não reposição dos ovos nas portas, nada impedirá que desmaiem as margaridas recostadas no declínio abismal, devido à tamanha despretensão que acompanha a nuvem sabor alho que se forma quando Klor berra de serenitude e satisfação.
.
2
Os Mistérios da Punta que Pariu
Punta era garbosa.
Suas cores farfalhafatosas lhe incumbiam utilidade na função de figurinha auto-adesiva.
A qualidade do grude, porém, revelava deslizes em sua ab-rogada aderência.
Falava-se sobre sua existência tal qual a de um sabonete submarino de banheira.
Cansou de si perdida e, subexistindo com fantasia de panfleto, foi ter com o mestre Super Bonder.
Pariu. Uma possante tarja de patrulha somente arregaçável pela força de 95 macacos-zumbis babadores de gosma guar.
.
3
tio darwin disse isso
a praia foi a porta de entrada desses seres então diminutos.
sustenidos com negação em afinar, preferiram, no remoto, o som de uma nota de
crack de carapaça de caranguejo, de ploft de bolha de ar de peixe respirando e tchaaahh! de onda muito forte batendo.
e não compraram o óleo para besunte e fritação da pele.
despareceriam facilmente murchos de desidratados.
e salgados de tanto beber água de caldo de caixote, correriam o perigo de serem confundidos pelo vendedor de lagostas.
hoje gostam de ficar na sombra bonitinhos sem emitir percussões, inspirando conspiração para a evolução de espécies comportadas.
.
bio/biblio:
Lu Lapan confecciona monstros de pelúcia para esquisitolândia(http://esquisitolandia.blogspot.com) e escreve textos para a baleia pelancuda(http://abaleiapelancuda.blogspot.com). Eventualmente compõe letras e/oumúsicas para os extraterrestres (ou ostrasterrestres). É autora da letra de“Malditos Decompositores”, canção da banda Gritadores, e do poema “o acaso doporco” (publicado na revista Cult de maio/2006 na matéria “Virando as Latas doContemporâneo”, por Marcelo Diniz).
.
poética:
próximo à janela havia um velho barbudo eterno que grunhia i...
todos passavam.
por uma estranha razão saíam cantando i-i-i-i-i dadaradá...
foi então que no fim do dia chegou o entregador de bezerros.
e o velho finalmente concluiu:
ich liebe dich.