mencionada por:
Armando Freitas Filho
Eucanaã Ferraz
Heitor Ferraz
Virna Teixeira
Caio Meira
Sérgio Alcides
Jorge Lucio de Campos
Paula PadilhaLuíza Mendes Furia
Cláudio Oliveira
Danilo Bueno
menciona a:
Alberto Pucheu
Caio MeiraFrancisco Bosco
Heitor Ferraz
Marcelo Sorrentino
Micheliny Verunschk
Paula Padilha
Paulo Henriques Britto
Pedro Cesarino
Régis Bonvicino
Renato Rezende
Sergio Cohn
Virna Teixeira
Angélica Freitas
poemas:
Cinco lições de inglês
That summer he missed his lover – Ele puxou do bolso, com máximo cuidado, a última carta, a qual imediatamente rasgou-se ao longo das dobras puídas.
The letter confused her – Mesmo depois de ler e reler a carta ela não conseguia impedir que suas maiores expectativas, seus piores temores, oscilassem em sua mente _ crianças numa gangorra.
She felt very sad – Ela andava, dia e noite, como se levasse no peito a vidraça que uma pedra acabou de acertar.
He was angry – Ele batia com insistência a ponta do sapato no rodapé, e, repentinamente, repetia entre dentes alguma frase incompreensível, que pontuava com um soco.
She begged him to stay – Ela agarrou-se à manga de sua camisa sem dizer palavra
That summer he missed his lover – Ele puxou do bolso, com máximo cuidado, a última carta, a qual imediatamente rasgou-se ao longo das dobras puídas.
The letter confused her – Mesmo depois de ler e reler a carta ela não conseguia impedir que suas maiores expectativas, seus piores temores, oscilassem em sua mente _ crianças numa gangorra.
She felt very sad – Ela andava, dia e noite, como se levasse no peito a vidraça que uma pedra acabou de acertar.
He was angry – Ele batia com insistência a ponta do sapato no rodapé, e, repentinamente, repetia entre dentes alguma frase incompreensível, que pontuava com um soco.
She begged him to stay – Ela agarrou-se à manga de sua camisa sem dizer palavra
Alma corsária
De tanto sono me baixa uma lucidez estranha
em que a amendoeira pousa, luminosa, rara,
sob o fundo escuro da noite meio baça
(cilíndrica, roliça, bizarra)
seu vulto verde acocorado sobre a água
da piscina que não tem um pensamento.
Eu sinto inveja dessas águas anuladas
tão plácidas, idênticas ao próprio contorno
enquanto eu mesma nem sei onde começo,
quando acabo
e sofro o assédio de tudo o que me toca.
O mundo ora me engole, ora me vara
e tudo o que aproxima me desterra.
Chorei, ao ver no chão da cela,
o botão arrancado na contenda,
os óculos pisados do escritor judeu.
Tenho um coração que estala
com o peteleco das palavras de Clarice.
Numa vila miserável na Bahia,
um negro lindo, lindo,
dança ao som do corisco
_ e só me apaixono por casos perdidos,
homens com um quê de irremediável.
Mais de uma vez, imóvel, circunspecta,
vi abrir-se a máquina do mundo
sob a luz inclinada de Ipanema,
na Serra da Bocaina, no meio da floresta,
no alto da escada no topo do morro
por onde a moça seqüestrada vinha subindo
debaixo das lágrimas do pai.
* * *
Mais de uma vez meu coração trincou feito vidro
diante da página impressa,
e sempre que a palavra justa vem tirar seu mel
de dentro da copa do desespero de amor.
Acredito, do fundo das minhas células,
que uma amizade sincera “é o único modo de sair da solidão
que um espírito tem no corpo”.
Sim, eu acredito no corpo.
Por tudo isso é que eu me perco
em coisas que, nos outros,
são migalhas.
Por isso navego, sóbria, de olho seco,
as madrugadas.
Por isso ando pisando em brasas
até sobre as folhas de relva,
na trilha mais incerta e mais sozinha.
Mas se me perguntarem o que é um poeta
(Eu daria tudo o que era meu por nada),
eu digo.
O poeta é uma deformidade.
Na margem
No seu rosto algumas mulheres mergulham desabaladamente.
Outras, mais cautelosas, já tendo apanhado da vida, chegam pisando de lado, aproximam-se devagar. Começam por molhar os dedos, depois, com um olhar que se quer
distraído, dispõem-se a banhar os pés (são estas, talvez, as que correm maior perigo – pois, ao senti-las reticentes, suas águas se temperam de encantos luminosos, flutuantes, evanescentes, e em breve se estendem, em pequenas ondas graciosas, ao redor dos tornozelos. Quando dão por elas – pronto!- já estão mergulhadas até o pescoço).
Outras, ainda, (as tolas) acreditam possuir alguma qualidade especial que as tornará necessárias ao mistério das suas profundezas. Como se os seus corpos, ao se banharem naquele líquido, estivessem, por contraste, oferecendo a ele alguma coisa de útil.
Pura ilusão. Não percebem, as desavisadas, as pretensiosas, que, no contato íntimo da sua água com a pele, ela nunca, propriamente, as penetra. Envolve, talvez. Adula, acaricia Aquece. Recebe, torna macia e cheia de luz – mas nunca, nunca a ela se mistura.
Aos seus olhos, portanto, cada mulher não passa de um corpo, massa sólida a se deslocar de um lado para o outro, com maior graça ou menor grau de desconforto, mas ainda e apenas isso: um objeto fugidio, que nada tira nem em nada lhe acrescenta – um acaso do movimento que, meramente, se dá.
Não eu. Eu não sou como nenhuma _ nem uma única _ dessas tristes mulheres.
Conheço e palmilho, a cada dia, a completa extensão da sua orla. Percorro, de pés descalços, sua órbita, tropeçando em pequenas pedras, cortando a pele no espinhal. Há ocasiões em que sangro profusamente, e é preciso que pare e me sente para descansar em alguma pedra da região desértica que circunda o seu perímetro. Nestas vezes, tenho oportunidade de observar de perto o banho das outras mulheres: seus movimentos, a princípio aéreos e leves; tremeluzindo no rosto, a surpresa e a delícia iniciais; a seguir, o despontar do desconforto, e nas sobrancelhas franzidas, a breve desconfiança da promessa de saciedade que nunca se realiza. E, logo, ao constatarem a perda do próprio reflexo, os músculos que se retesam, os esgares aterrorizantes, a tentativa de fuga entre grunhidos – apenas para, no fim, o corpo, como um menir, ser tragado, inerte, para a areia escura lá no fundo.
E é só por isso _ por ter assistido tantas e tantas vezes a este terrível espetáculo
que reúno em mim as forças para manter a disciplina: por maior que seja a sede, por mais que me deforme e arda no rosto esta máscara de barro ressecado (à noite, sonho com o bálsamo do seu úmido abraço), em suas águas não entrarei.
No seu rosto algumas mulheres mergulham desabaladamente.
Outras, mais cautelosas, já tendo apanhado da vida, chegam pisando de lado, aproximam-se devagar. Começam por molhar os dedos, depois, com um olhar que se quer
distraído, dispõem-se a banhar os pés (são estas, talvez, as que correm maior perigo – pois, ao senti-las reticentes, suas águas se temperam de encantos luminosos, flutuantes, evanescentes, e em breve se estendem, em pequenas ondas graciosas, ao redor dos tornozelos. Quando dão por elas – pronto!- já estão mergulhadas até o pescoço).
Outras, ainda, (as tolas) acreditam possuir alguma qualidade especial que as tornará necessárias ao mistério das suas profundezas. Como se os seus corpos, ao se banharem naquele líquido, estivessem, por contraste, oferecendo a ele alguma coisa de útil.
Pura ilusão. Não percebem, as desavisadas, as pretensiosas, que, no contato íntimo da sua água com a pele, ela nunca, propriamente, as penetra. Envolve, talvez. Adula, acaricia Aquece. Recebe, torna macia e cheia de luz – mas nunca, nunca a ela se mistura.
Aos seus olhos, portanto, cada mulher não passa de um corpo, massa sólida a se deslocar de um lado para o outro, com maior graça ou menor grau de desconforto, mas ainda e apenas isso: um objeto fugidio, que nada tira nem em nada lhe acrescenta – um acaso do movimento que, meramente, se dá.
Não eu. Eu não sou como nenhuma _ nem uma única _ dessas tristes mulheres.
Conheço e palmilho, a cada dia, a completa extensão da sua orla. Percorro, de pés descalços, sua órbita, tropeçando em pequenas pedras, cortando a pele no espinhal. Há ocasiões em que sangro profusamente, e é preciso que pare e me sente para descansar em alguma pedra da região desértica que circunda o seu perímetro. Nestas vezes, tenho oportunidade de observar de perto o banho das outras mulheres: seus movimentos, a princípio aéreos e leves; tremeluzindo no rosto, a surpresa e a delícia iniciais; a seguir, o despontar do desconforto, e nas sobrancelhas franzidas, a breve desconfiança da promessa de saciedade que nunca se realiza. E, logo, ao constatarem a perda do próprio reflexo, os músculos que se retesam, os esgares aterrorizantes, a tentativa de fuga entre grunhidos – apenas para, no fim, o corpo, como um menir, ser tragado, inerte, para a areia escura lá no fundo.
E é só por isso _ por ter assistido tantas e tantas vezes a este terrível espetáculo
que reúno em mim as forças para manter a disciplina: por maior que seja a sede, por mais que me deforme e arda no rosto esta máscara de barro ressecado (à noite, sonho com o bálsamo do seu úmido abraço), em suas águas não entrarei.
bio/biblio
Claudia Roquette-Pinto nasceu no Rio de Janeiro, em 1963. Formou-se em tradução literária pela PUC-RJ. Dirigiu, durante cinco anos, o jornal cultural Verve. Tem cinco livros de poesia publicados: Os Dias Gagos (Edição da autora, RJ,1991); Saxífraga (Editora Salamandra, RJ, 1993); Zona de Sombra (Editora 7 letras, RJ, 1997); Corola (Ateliê Editorial, SP, 2001 – Prêmio Jabuti de Poesia/2002) e Margem de Manobra (Editora Aeroplano, 2005).
Seus poemas foram incluídos em várias antologias nacionais e internacionais, tais como
Nothing the Sun Could Not Explain - 20 contemporary brazilian poets (Sun and Moon Press, Los Angeles, 1997)
Norte y Sur de la Poesia Iberoamericana (Editorial Verbum, Madrid, 1997)
Outras Praias – 13 poetas brasileiros emergentes (Iluminuras, São Paulo,1998)
Esses Poetas, uma antologia dos anos 90 (Editora Aeroplano, Rio de Janeiro, 1998)
Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século (Objetiva, Rio de Janeiro, 2001)
Correspondencia Celeste - Nueva Poesía Brasileña (1960-2000) (Ediciones Ardora, Madrid, 2001)
Enciclopédia de Literatura Brasileira (Afrânio Coutinho e J. Galante de Souza, Fundação Biblioteca Nacional, 2001)
Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras - Nelly Novaes Coelho (Escrituras, São Paulo, 2002) Literatura Brasileira Hoje, Manuel da Costa Pinto (Publifolha, São Paulo, 2004)
Revistas:
O Carioca (Rio de Janeiro, 1998)
Poesia Sempre (Rio de Janeiro, edições de 1999 e 2004)
Tsé-Tsé (Buenos Aires, 2000)
Serta - Revista Iberoromânica (Madrid, 2000)
New American Writing (Chicago, 2000)
Inimigo Rumor (Rio de Janeiro, 2001)
Sebastião (Nova Iorque, 2002)
Sibila (São Paulo, 2002)
Rattapallax (Nova Iorque, 2003)
Relâmpago (Lisboa, 2004)
Oroboro número 3 (Curitiba, 2005) -dossiê sobre seu trabalho, com texto crítico, entrevista e poemas inéditos
Tradução:
O Livro das Virtudes para Crianças (tradução dos poemas) (William J.Bennett, Ed. Nova Fronteira, 1997)
Primeiras Palavras, (poemas do americano Douglas Messerli, Ateliê Editorial, São Paulo, 1999) com Régis Bonvicino
A Vida das Musas – nove mulheres e os artistas que elas inspiraram (Francine Prose, 2004) – co-tradução
No momento está trabalhando em um livro de poesia infantil. Claudia vive no Rio de Janeiro com seus três filhos.
Nothing the Sun Could Not Explain - 20 contemporary brazilian poets (Sun and Moon Press, Los Angeles, 1997)
Norte y Sur de la Poesia Iberoamericana (Editorial Verbum, Madrid, 1997)
Outras Praias – 13 poetas brasileiros emergentes (Iluminuras, São Paulo,1998)
Esses Poetas, uma antologia dos anos 90 (Editora Aeroplano, Rio de Janeiro, 1998)
Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século (Objetiva, Rio de Janeiro, 2001)
Correspondencia Celeste - Nueva Poesía Brasileña (1960-2000) (Ediciones Ardora, Madrid, 2001)
Enciclopédia de Literatura Brasileira (Afrânio Coutinho e J. Galante de Souza, Fundação Biblioteca Nacional, 2001)
Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras - Nelly Novaes Coelho (Escrituras, São Paulo, 2002) Literatura Brasileira Hoje, Manuel da Costa Pinto (Publifolha, São Paulo, 2004)
Revistas:
O Carioca (Rio de Janeiro, 1998)
Poesia Sempre (Rio de Janeiro, edições de 1999 e 2004)
Tsé-Tsé (Buenos Aires, 2000)
Serta - Revista Iberoromânica (Madrid, 2000)
New American Writing (Chicago, 2000)
Inimigo Rumor (Rio de Janeiro, 2001)
Sebastião (Nova Iorque, 2002)
Sibila (São Paulo, 2002)
Rattapallax (Nova Iorque, 2003)
Relâmpago (Lisboa, 2004)
Oroboro número 3 (Curitiba, 2005) -dossiê sobre seu trabalho, com texto crítico, entrevista e poemas inéditos
Tradução:
O Livro das Virtudes para Crianças (tradução dos poemas) (William J.Bennett, Ed. Nova Fronteira, 1997)
Primeiras Palavras, (poemas do americano Douglas Messerli, Ateliê Editorial, São Paulo, 1999) com Régis Bonvicino
A Vida das Musas – nove mulheres e os artistas que elas inspiraram (Francine Prose, 2004) – co-tradução
No momento está trabalhando em um livro de poesia infantil. Claudia vive no Rio de Janeiro com seus três filhos.
8 comments:
...uma amizade sincera “é o único modo de sair da solidão
que um espírito tem no corpo”.
Sim!!!! e que poema brilhante!! abs!!
Ihhhhhhh... olha aqui... ;)
Quem floresce aos meus olhos! Que linda!
Mil beijos,
C
Claudia,
Nem sei se voce se lembrará de mim, do tempo da OLAC. Mas deixo o meu nome e o meu blog. Anibal Menezes Neto - www.producoesinfimas.blogspot.com
Claudia,
meu coração "trincou feito vidro" diante de sua palavra impressa. Gostei do seu jeito de escrever - sem medo de discutir liricamente o mundo ao redor, a vizinhança do eu. Creio que se trata de uma qualidade rara nos poetas de hoje, mais encontrada nos de língua inglesa, que não tiveram o azar de sentir-se, como nós brasileiros, obrigados a uma vigilância exagerada sobre o poema, com as armas da concisão, da parataxe, da elipse, todos escravos de uma crítica pós-modernista equivocada. Sorte dos portugueses, que não tiveram esse tipo de crítica, a meu ver nociva, e que souberam manter a poesia como um organismo sadio, não um esqueleto sem vida. Talvez nós, que vivemos ao lado da selva, tenhamos ganas de podar, podar e podar o que há de verde em volta...
Prazer em conhecer.
Davino Sena
Claudia,
Depois de tantos anos, só duas palavras traduzem o quê continuo a sentir: saudade e irmandade. Sobre o trabalho, sempre soube que você ia em frente, pra sempre! Abraços em todos! Tenho duas meninas: Ana Teresa e Isadora. Conto nossas estórias pra elas !
http://yaradigiorgio.blogspot.com/
visite o meu blog! :)
ENGLISH BREAKFAST
Ervas Twinnings:
não importa a hora,
não precisa ser agora.
é melhor beber com calma
e lembrar dos pés das montanhas do Himalaia
onde nem o presidente nem o irmão
dele jamais pisaram,
mas o importante é beber o aroma queimando
a beira dos lábios para umedecer a ponta do nariz
pois Twinnings é o melhor caminho,
o feliz recanto da mocinha que gosta da mocinha,
do velho que sonha com o rapaz,
da menina que quer se casar aos vinte,
da viúva alcoolizada de Chelsea ou da Sambaíba.
é melhor provar o caldo pardo amargo e mastigar a torrada,
mastigar a torrada, mastigar a torrada, mastigar a torrada.
Smoothly, a swift posh cat whispers purple blue notes:
- Wake up, little sugarcane, let’s have some tea.
"O poeta é uma deformidade."
Meu espírito aprendendo com Cláudia Roquette-Pinto.
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