Thursday, August 31, 2006

FABIANO CALIXTO



menciona a:
Carlito Azevedo
Ricardo Domeneck
Zhô Bertholini
Andréa Catropa
Marília Garcia




poemas:



TAKKA TAKKA
Para Zhô Bertholini
entre arcos, carros, pactos, a vida escorre
viscosa, com o veneno da esperança,
já sem biografia, sem a umidade dos dedos
degustando-a em contorno de dicionário.


a luz, redimida do inferno, estilha
sobre a coragem do dia-a-dia, cai,
desaba. a luz é uma sangria. porém,
grita (outra luz) sonhos e coleção
de casamentos, onde a felicidade
acaba antes do noticiário. nítidos, todavia,
socos nos tímpanos, formigas de chumbo
a escavar as vísceras, pântano no estômago.


a ternura fria com que a madrugada
desperta a manhã -sem canhões, distanciando-se
com seus pesados passos, guardando suas
tralhas no esquecimento das estrelas.

nas sobras da cidade (da noite)
um rosto esguio, juvenil, debaixo
de olhares nublados de sono,
ponteado a benday, já-ido,
vaza



E-MAIL A TORQUATO NETO

do lado de dentro do vento
um cisco no olho do furacão
anjo fáustico declamando ácido sulfúrico
colhe um vocábulo em cada lábio
alivia a lira com a saliva da dríade
não revela ressalvas ao poema
escancara o riso da partida
sabendo que o fim não tem fim
deseja a linda ítaca na língua da morena
recita a ira ácida deciana (geléia geral)
para incitar o demônio dentro da vulva da devota
toma partido do caminho do passeio
lava a palavra lírio com o sangue do tiroteio



TRAMÓIA TRAPAÇA E TRETA

“Vossa excelência é
mais transparente do que
o líquor de uma pessoa
que não tem meningite!”
: orgulha a goela do nobilíssimo
ao naco patético do sufoco nacional.

a máfia pudibunda escoa seu scotch
à paisagem de nádegas especuladas
da abundante suruba monetária.

como sempre (para sempre),
a pátria pária patina na escória.
- diante tal disparatada partilha
(fundadora já antiga de desastres,
perfeita má fé que a tudo anula)
ser seria um refrão pequeno, mínimo,
aziago?


(poemas inéditos do livro em preparo Sangüínea)




bio/biblio

Fabiano Calixto nasceu no dia 08 de junho de 1973 em Garanhuns/ PE e reside em Santo André/ SP. Publicou Algum (ed. do autor1998), Fábrica (Alpharrabio, 2000), Um mundo só para cada par (Alpharrabio, 2001) – este em parceria com Kleber e Tarso, e Música possível (CosacNaify/ 7Letras, 2006). Organizou, com André Dick, o livro A linha que nunca termina – Pensando Paulo Leminski (Lamparina, 2005). Traduziu, com Claudio Daniel, poemas do dominicano Leon Félix Batista, reunidos no livro Prosa do que está na esfera (Olavobrás, 2003). Atualmente prepara uma revista de poesia, cujo primeiro número sairá em breve.


poética
"Será que eu ainda penso poesia em termos de poética? Creio que não. Acho que uma outra coisa está querendo acender-se no incêndio de nossos dias. Aguardemos, pois." Fabiano Calixto


2 comments:

Anonymous said...

incendio - voraz
seletor cupido
indutor capaz

Ixra A. said...

Sanguínea é um belo livro. Percebe-se nele a tão buscada "música possível". Agora, a possibilidade não é uma probabilidade.
Parabéns, Calixto.