mencionado por:
Francisco Bosco
Claudia Roquette-Pinto
Caio Meira
Mariana Ianelli
Sérgio Nazar David
Michel Melamed
Luci Collin
Cláudio Oliveira
Valério Oliveira
menciona a:
Alberto Pucheu
Caio Meira
Sérgio Nazar DavidPaulo Henriques Britto
Mariana Ianelli
Ronald Polito
poemas:
A PERNA
Numa esquina perto da minha casa
vive uma mendiga
de perna amputada.
Tenho vontade de beijar
a perna que falta.
Acariciar
aquele pedaço de nada.
A mão dela está queimada
e parece que foi costurada
de volta ao braço.
Com essa mão ela pede esmola.
Hoje passei por lá
e vi que a perna dela
(a outra)
estava bronzeada.
Ela é loira, ela é moça, é a flor
da perna amputada.
Me deu vontade
de entrar em seu corpo
(fragmentado)
a meio metro da calçada.
Entrar em seu corpo e ser ela,
ser a perna que falta.
Ser a falta da perna dela.
Tive vontade de amar
e ser nada.
O ESPELHO
Vindo, no caminho, estão
todas as coisas que percebo, tudo
o que toco,
sinto
e vejo:
frutos do meu próprio pensamento.
Delas, uma a uma, me despeço
como num último, íntimo beijo.
Em mim,
a sombra de todos os vultos, lago
límpido, espelho
do céu e das nuvens
que passam;
do qual limpo
as imagens que turvam o fundo,
e que me unem ao mundo
pelo desejo.
Também eu
desapareço
na superfície, sem deixar vestígios
SURJO
] CORPO [
Partindo do princípio, eu desisto
dos meus pés, e subindo
eu desisto das minhas pernas.
Elas latejam e me fazem sentir vivo,
mas eu não quero mais sentir-me vivo.
Ao cortar o pau, prender nele uma pedra
até que penda para sempre, eu só penso
nos olhos de todas aquelas mulheres.
Eu entrego
ao fogo o mel dos olhos.
As emoções,
eu desisto delas todas, o coração limpo
ou não, eu desisto do coração, do umbigo
que me ligou à minha mãe, eu desisto da minha mãe
e de todas as palavras que usei
quando compreendi que era alguém, desisto de ser alguém
para ser oco, novo, fogo, ouro:
UM CORPO DEVORA O OUTRO
Data 2
Saí para almoçar e, ao passar entre dois carros estacionados no meio-fio, vi uma menina de rua, já para lá de adolescente, cagando. Estava agachada, de cócoras, com a calça abaixada. Quando me viu, abriu o maior sorriso, e disse, “meu banheiro é aqui mesmo, moço”, sem por um instante parar de fazer o que fazia. Dava para ver, por entre o vão formado por suas pernas, a massa de merda no asfalto. Eu, que costumo me indignar com os dejetos de cães nas ruas, não me ofendi, e não me senti diante de um ato estranho ou transgressor. Rolou até uma certa e indiscutível sensualidade, um inconfundível apelo erótico, e por um momento pensei em parar para admirar a cena completa, até o fim. Retribui o sorriso dos seus olhos brincalhões e continuei passando—apenas um pouco surpreso com a total naturalidade de tudo.
bio/biblio
Nascido em 1964, Renato Rezende abandonou seus estudos na USP no início da década de 1980 para viajar, tendo percorrido toda a Europa e parte da América do Norte. No trajeto produziu centenas de desenhos, expostos em Sommerville, Boston e cidade do México. Recebeu o diploma de Bachelor of Arts pela Universidade de Massachusetts, com dissertação sobre a poeta porto-riquenha Julia de Burgos. Estudou na Espanha e na Índia, vivendo por alguns anos num ashram de Siddha Yoga. Como poeta publicou, entre outros, Aura (2AB, 1997), Asa (Velocípede, 1999), Passeio (Record, 2001), com o qual recebeu a Bolsa da Fundação Biblioteca Nacional para obra em formação e Ímpar (Lamparina, 2005), ganhador do Prêmio Alphonsus de Guimaraens da Biblioteca Nacional. Também é autor de Memórias e curiosidades do bairro de Laranjeiras, Avenida Rio Branco – um projeto de futuro e Praça Tiradentes – do império às origens da cultura popular. Tradutor de dezenas de livros e artigos de filosofia, história e arte contemporânea, além de poetas de língua inglesa e espanhola. Vive no Rio de Janeiro. Website: http://www.renato-rezende.com
POESIA
Passagem. São Paulo: João Scortecci, 1990.
Aura. Rio de Janeiro: 2AB, 1997.
Asa. Rio de Janeiro: Velocípede, 1999.
Leaves of Paradise. São Paulo: 100 Leitores, 2000. (poemas em inglês)
Passeio. Rio de Janeiro: Record, 2001. Bolsa Fundação Biblioteca Nacional.
Ímpar. Rio de Janeiro: Lamparina, 2005. Prêmio Alphonsus de Guimaraens.
OUTROS LIVROS
Memórias e Curiosidades do Bairro de Laranjeiras. Rio de Janeiro: Eco Rio, 1999.
Parques do Rio de Janeiro: um olhar poético. Rio de Janeiro: Eco Rio, 2000.
Avenida Rio Branco – um projeto de futuro: 100 anos. Rio de Janeiro: Usina das artes, 2002.
Praça Tiradentes – do império às origens da cultura popular. Rio de Janeiro, Usina das artes, 2003.
PRINCIPAIS TRADUÇÕES
As Duas Culturas e uma segunda leitura (C.P. Snow). São Paulo: Edusp, 1995.
Mediatamente! – Televisão, Cultura e Educação (Jesús Martín-Barbero, Francisco Martinez Sánchez). Brasília: Ministério da Educação, 1999.
TAZ - Zona Autônoma Temporária (Hackin Bey). São Paulo: Conrad, 2001.
Duveen—o marchand das vaidades (S. N. Behrman). São Paulo: BEI, 2002.
Caos – Terrorismo Poético & Outros Crimes (Hackin Bey). São Paulo: Conrad, 2003.
Sobre a História e outros ensaios (Michael Oakeshott). Rio de Janeiro: Topbooks, 2003.
Cartas (Jacob Burckhardt), Rio de Janeiro: Topbooks, 2003.
Mar de Glória—viagem americana de descobrimento (Nathaniel Philbrick), São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
Brasil experimental: arte/vida: proposições e paradoxos. (Guy Brett, org. de Kátia Maciel), Rio de Janeiro: Contracapa, 2005.
Crimes de Guerra—culpa e negação no século XX (Omer Bartov, Atina Grossman, Mary Nolan), Rio de Janeiro: Difel, 2005.
Uma Questão de Vida e Sexo (Oscar Moore), Rio de Janeiro: José Olympio, 2006.
TRADUÇÕES DE POESIA
Twentieth-Century Latin American Poetry (Ferreira Gullar, Raul Bopp). University of Texas Press, 1996. Ed. por Stephen Tapscott.
Poesia Sempre n. 9 (C. Day Lewis, W. B. Yeats). Fundação Biblioteca Nacional, março, 1998.
Life Beats (Ferreira Gullar). Wilton Manors, FL, USA: Impsat, 1999.
Crença e Imaginação (poemas de Milton, Wordsworth, Blake, Shakespeare, Rilke, Brönte, Coleridge, Keynes, Browning). Rio de Janeiro: Imago, 2003.
Puentes/ Pontes – Poesia Argentina e Brasileira Contemporânea (Amelia Biagioni, Juana Bignozzi, Joaquín Gianuzzi, Roberto Juarroz, Leónidas Lamborghini, Francisco Madariaga). Buenos Aires: Fondo de Cultura Econômica, 2003. Ed. por Heloísa Buarque de Hollanda e Jorge Monteleone; bilíngüe.
Saí para almoçar e, ao passar entre dois carros estacionados no meio-fio, vi uma menina de rua, já para lá de adolescente, cagando. Estava agachada, de cócoras, com a calça abaixada. Quando me viu, abriu o maior sorriso, e disse, “meu banheiro é aqui mesmo, moço”, sem por um instante parar de fazer o que fazia. Dava para ver, por entre o vão formado por suas pernas, a massa de merda no asfalto. Eu, que costumo me indignar com os dejetos de cães nas ruas, não me ofendi, e não me senti diante de um ato estranho ou transgressor. Rolou até uma certa e indiscutível sensualidade, um inconfundível apelo erótico, e por um momento pensei em parar para admirar a cena completa, até o fim. Retribui o sorriso dos seus olhos brincalhões e continuei passando—apenas um pouco surpreso com a total naturalidade de tudo.
bio/biblio
Nascido em 1964, Renato Rezende abandonou seus estudos na USP no início da década de 1980 para viajar, tendo percorrido toda a Europa e parte da América do Norte. No trajeto produziu centenas de desenhos, expostos em Sommerville, Boston e cidade do México. Recebeu o diploma de Bachelor of Arts pela Universidade de Massachusetts, com dissertação sobre a poeta porto-riquenha Julia de Burgos. Estudou na Espanha e na Índia, vivendo por alguns anos num ashram de Siddha Yoga. Como poeta publicou, entre outros, Aura (2AB, 1997), Asa (Velocípede, 1999), Passeio (Record, 2001), com o qual recebeu a Bolsa da Fundação Biblioteca Nacional para obra em formação e Ímpar (Lamparina, 2005), ganhador do Prêmio Alphonsus de Guimaraens da Biblioteca Nacional. Também é autor de Memórias e curiosidades do bairro de Laranjeiras, Avenida Rio Branco – um projeto de futuro e Praça Tiradentes – do império às origens da cultura popular. Tradutor de dezenas de livros e artigos de filosofia, história e arte contemporânea, além de poetas de língua inglesa e espanhola. Vive no Rio de Janeiro. Website: http://www.renato-rezende.com
POESIA
Passagem. São Paulo: João Scortecci, 1990.
Aura. Rio de Janeiro: 2AB, 1997.
Asa. Rio de Janeiro: Velocípede, 1999.
Leaves of Paradise. São Paulo: 100 Leitores, 2000. (poemas em inglês)
Passeio. Rio de Janeiro: Record, 2001. Bolsa Fundação Biblioteca Nacional.
Ímpar. Rio de Janeiro: Lamparina, 2005. Prêmio Alphonsus de Guimaraens.
OUTROS LIVROS
Memórias e Curiosidades do Bairro de Laranjeiras. Rio de Janeiro: Eco Rio, 1999.
Parques do Rio de Janeiro: um olhar poético. Rio de Janeiro: Eco Rio, 2000.
Avenida Rio Branco – um projeto de futuro: 100 anos. Rio de Janeiro: Usina das artes, 2002.
Praça Tiradentes – do império às origens da cultura popular. Rio de Janeiro, Usina das artes, 2003.
PRINCIPAIS TRADUÇÕES
As Duas Culturas e uma segunda leitura (C.P. Snow). São Paulo: Edusp, 1995.
Mediatamente! – Televisão, Cultura e Educação (Jesús Martín-Barbero, Francisco Martinez Sánchez). Brasília: Ministério da Educação, 1999.
TAZ - Zona Autônoma Temporária (Hackin Bey). São Paulo: Conrad, 2001.
Duveen—o marchand das vaidades (S. N. Behrman). São Paulo: BEI, 2002.
Caos – Terrorismo Poético & Outros Crimes (Hackin Bey). São Paulo: Conrad, 2003.
Sobre a História e outros ensaios (Michael Oakeshott). Rio de Janeiro: Topbooks, 2003.
Cartas (Jacob Burckhardt), Rio de Janeiro: Topbooks, 2003.
Mar de Glória—viagem americana de descobrimento (Nathaniel Philbrick), São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
Brasil experimental: arte/vida: proposições e paradoxos. (Guy Brett, org. de Kátia Maciel), Rio de Janeiro: Contracapa, 2005.
Crimes de Guerra—culpa e negação no século XX (Omer Bartov, Atina Grossman, Mary Nolan), Rio de Janeiro: Difel, 2005.
Uma Questão de Vida e Sexo (Oscar Moore), Rio de Janeiro: José Olympio, 2006.
TRADUÇÕES DE POESIA
Twentieth-Century Latin American Poetry (Ferreira Gullar, Raul Bopp). University of Texas Press, 1996. Ed. por Stephen Tapscott.
Poesia Sempre n. 9 (C. Day Lewis, W. B. Yeats). Fundação Biblioteca Nacional, março, 1998.
Life Beats (Ferreira Gullar). Wilton Manors, FL, USA: Impsat, 1999.
Crença e Imaginação (poemas de Milton, Wordsworth, Blake, Shakespeare, Rilke, Brönte, Coleridge, Keynes, Browning). Rio de Janeiro: Imago, 2003.
Puentes/ Pontes – Poesia Argentina e Brasileira Contemporânea (Amelia Biagioni, Juana Bignozzi, Joaquín Gianuzzi, Roberto Juarroz, Leónidas Lamborghini, Francisco Madariaga). Buenos Aires: Fondo de Cultura Econômica, 2003. Ed. por Heloísa Buarque de Hollanda e Jorge Monteleone; bilíngüe.
1 comment:
Gostaria de conhecer mais Julia de Burgos, como ter acesso ä sua dissertaçao?
Abraços
edorneles@yahoo.com.br
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