Cláudio Oliveira
menciona a:
5 poetas (Fora meus poetas-fetiche, Cláudia Roquette-Pinto, Alberto Pucheu, Francisco Bosco e Renato Rezende, cito quem ainda não está, mas merecer estar presente)
Antonio Cícero
Cláudio Oliveira
Simone Brantes
Claudia Ahimsa
Izabela Leal
poemas
3 poemas do livro “Coisas que o primeiro cachorro na rua pode dizer”.
1. entre-fôlegos de um basqueteiro solitário
quinze para as duas da tarde
na trajetória indefinida da bola, um vôo cego de idéias
inacabadas quicando no chão e nos muros
ah!, se não tivesse quebrado tantas promessas de intimidade,
ou não faltasse aos encontros e aos riscos
talvez fosse milionário e igualmente descontente, talvez
estivesse feliz criando cogumelos em Nova Lima
não tenho radar para me guiar no escuro, e na claridade desta
tarde orientes e mitos surgem ofuscados
sobram contornos, arestas, rugosidades
e entre uma linha e outra, inúmeras e imprudentes lagartas
esmagadas
e entre o chão e o aro, o peso e a circunferência onde me
arremesso
talvez eu deva jogar na mega-sena acumulada
e se ganhar aquela bolada (ah!, se ganhar aquela bolada), ir
rifar o dinheiro com as putas parisienses, subornar um senador
da república ou patrocinar cocaína para os amigos
mas o que pode restar de alguém que um dia ganhou tantos
milhões de dinheiros
poderá caminhar à tarde, pegar o metrô em Botafogo e ir ao
centro da cidade procurar um livro no sebo?
poderá dormir no ônibus, com o rosto encostado no vidro, e
não saltar no ponto de descida?
perder-se, sentir fome, carregar silenciosamente uma hérnia de
disco, ter um pâncreas ectópico, uma esofagite de refluxo
não sei por quanto tempo os joelhos vão suportar todos estes
impactos
há tantos arremessos, encontros, chutes, medidas
e coisas sem sentido que me compõem, habitam os passos e os
intestinos
há ainda muito a fazer
escutar cantores populares que vêem deuses todo santo dia, ou
comem pentes, ou decifram o mistério das pirâmides, a
configuração das estrelas
não para tentar responder ao tablóide inglês qual o sentido da
vida
pois essa é mais uma coisa que você pode perguntar ao
primeiro cachorro na rua que ele vai lhe dizer
2. …mas prefiro ficar calado
nesta manhã de janeiro, pesa-me o peso de todas as coisas,
com os olhos ainda embaçados de sono, os ouvidos guardando a
acústica de silêncios, e a boca, a língua, a saliva, as
fibrocartilagens, a glote, os uivos, a janela fechada, os
retesamentos, o bolo alimentar, os movimentos peristálticos, a
pirose, a ânsia, a fôrma da bacia persistindo na espuma, a
estridência do rádio-relógio, o arcabouço do teto, e demais
zumbidos que instigam o nervo motor da laringe
esparramado entre vetores de força, decisões se misturam às
dúvidas, ocupar determinada posição na cama, mudar de
bairro, freqüentar universidades, gafieiras, bordéis, analistas,
atravessar a casa, lidar com as coisas domésticas, voltar a
dormir ou ir para a rua ver o primeiro sol do dia, abrir bem os
braços, estufar o peito e inclinar a cabeça para trás, em meio à
poeira e o vento, e sentir, na coluna vertebral, o deslocamento
simultâneo da minha vida
que importa a neurose, a escoliose, a miopia, os atos lerdos ou
incisivos, a marca do mercúrio no termômetro, ou as fases da
lua, se estou inapelavelmente nu, sem ruído, sem sorriso, sem
proeza, apenas unhas e cabelos transitando de modo
esporádico entre projetos de viagens, de vacinas, de farras, de
livros, essas coisas que já nem impressionam os amigos em
mesas de bar ou ao telefone
num desses dias eu paro de nascer sem mesmo ter tempo de
improvisar qualquer lápide ou discurso, e mesmo se eu tiver
uma caneta bic no bolso e um guardanapo ao alcance da mão,
mesmo se eu tentar ficar de bico fechado, desviar o olhar ou
apenas sorrir com simpatia, mesmo que eu invente um
compromisso inadiável com um fiscal da prefeitura, mesmo
mordendo a língua, esperneando ou abjurando a minha estirpe,
as coisas vão estar resolvidas, agudamente, e quaisquer que
sejam os números da soma de meu nome (de fato, será
indiferente o fato de ter ou não um nome), já estarei na
companhia dos demais canalhas
3. ornitorrinco
tem aquela vez que imitei um macaco para arrancar a primeira
gargalhada dos meninos
tem o tiro passional, a quantidade de chumbo na água, as
anotações rabiscadas de madrugada no caderno verde
tem um cara discursando sobre um caixote numa praça de
Londres, outro acaba de afirmar na televisão que tudo é
química
tudo é beijo, coxa, intriga, números de telefone esquecidos,
sonda orbitando outros mundos
ou tudo poderia ser geografia, economia, ortodoxia, taxionomia
de órgãos propulsores, um apêndice supurado, configurações
cervicais, o mapa da vida estampado no consultório de um
japonês, no centro da cidade
tem todas as aberrações costuradas de modo a parecerem uma
obra de arte, mas que são, sobremaneira, inverossímeis
até agora, o destino me tem sido maleável, e junto à
mandíbula e ao esporão, junto ao pavilhão auricular a essa
altura entorpecido por buzinas e alarmes contra roubo, junto
aos molares, cabem dores lancinantes e o desopilar de uma
gargalhada
cabe tudo o que entra pela janela do olho e se amontoa com as
transcrições, edições de revistas folheadas em sala de espera,
diferentes versões de uma mesma sonata de Beethoven
cabem até os estampidos que ninguém ouviu (a árvore que caiu
sozinha no meio da floresta) e listas intermináveis de tudo que
faz mal à vida
um dia, talvez se chegue à conclusão de que a vida faz mal à
vida, e só seremos socorridos por essas coisas de origem remota
e misteriosa
esses cachorros equívocos que atravessam cidades e voltam
para casa, ou a coordenação das revoadas de pardais às seis
horas da tarde
e demais gestos peculiares de todos, híbridos de tudo e de
nada, à proa de vontades subcutâneas, pormenores do jogo de
forças macroeconômicas (sobredeterminados por uma jogada
da bolsa de Cingapura)
e se decidirem que a vida faz mal à vida e o mundo estiver por
um fio (se digitados os códigos certos), pelo menos deixem-me
perpetuar o segredo de algumas misturas
Bio-bibliografia de A a Z (ou: pequena poética)
(a) Quando nasci, em 1966, era noite de São João.
(b) Meu percurso poético é composto por 3 livros: “No oco da mão” (UERJ, 1993), “Corpo Solo” (Sette Letras, 1998) e “Coisas que o primeiro cachorro na rua pode dizer” (Azougue, 2003).
(c) Tem mais um livro no forno: Ufa!
(d) Escrevo para uma época indeterminada.
(e) Rimbaud: “é preciso ser absolutamente moderno”: meu dever poético é cumprir à risca e da forma mais radical que conseguir essa injunção.
(f) Literatura: forma de celebrar a vida, a amizade e os demais afetos afirmativos.
(g) O poeta não é nem mais culto, nem mais inteligente, nem mais sábio do que os demais: a poesia brota de uma falha, de uma fissura, de uma rachadura, de algo que falta para sempre.
(h) F.S. Fitzgerald: “há várias maneiras de um homem rachar”.
(i) Quem convive com a poesia, quem existe em função da poesia, percebe e cultiva essa rachadura.
(j) A convivência com a própria fissura dá a medida e o valor de uma poética.
(k) Thoreau: “close to the bone”: por uma escrita que se faça não somente a partir do corpo, mas a partir do osso, do nervo, do tutano.
(l) O corpo, fendido, como na fratura exposta, expõe o nervo à flor da pele.
(m) Atingir essa escrita do nervo: escrever não mais com a ponta dos dedos ou com a mão, mas com o tutano dos meus ossos.
(n) Emily Dickinson escreveu 366 poemas em 1862; em média, um poema por dia!
(o) Sem sair de casa, E.D. nos levou a regiões que poucos alcançaram.
(p) Rimbaud, Thoureau e E.D.: o viajante, o caminhante e a monja: todos freqüentadores do desconhecido — lugar próprio da poesia.
(q) Na poesia, sobretudo, um engajar-se por regiões paradoxais: eloqüência do silêncio, vôo e pouso conciliados num mesmo movimento, nascimento imbricado na morte: apresentar o que já está escapando.
(r) Poema: ser complexo, visível e invisível, próximo e distante, que está dito sendo indizível, que tem sua face clara sem deixar de ser obscuro, o algo obscuro.
(s) No poema, há sempre algo que escapa (o poema existe para ser relido, previne Bachelard)
(t) A força poética não está em um ou dois poemas bem feitos; depende muito mais da devoção à invenção, não de versos nem de imagens, mas invenção de mundos aos quais só se tem acesso através de uma poética: um pensamento que se dê na forma de um poema.
(u) Poesia: levar algo a seu extremo, ao ponto máximo do seu ser, mas também à região desconhecida, fronteiriça, onde se dá a separação com outros corpos, outras vidas, outros mundos.
(v) Extremo: lugar do auge e do fim, atingir o ápice e beirar perigoso abismo, a um passo da queda.
(w) O poema imprevisível: não há como anteceder seus movimentos, prever o seu destino.
(x) Ler um bom poema, ser movido por ele, ser arrastado para outra região, para outro mundo.
(y) O poema avalanche: movimento violento que arrasta consigo tudo o que encontra pela frente.
(z) Dentro do quarto de uma cidadezinha da Nova Inglaterra, caminhando pela mata, perambulando pelas ruas sórdidas de Londres ou Paris ou no 226 (Lins-Largo da Carioca), quem pode dizer quando vai se dar de cara com um poema?
menciona a:
5 poetas (Fora meus poetas-fetiche, Cláudia Roquette-Pinto, Alberto Pucheu, Francisco Bosco e Renato Rezende, cito quem ainda não está, mas merecer estar presente)
Antonio Cícero
Cláudio Oliveira
Simone Brantes
Claudia Ahimsa
Izabela Leal
poemas
3 poemas do livro “Coisas que o primeiro cachorro na rua pode dizer”.
1. entre-fôlegos de um basqueteiro solitário
quinze para as duas da tarde
na trajetória indefinida da bola, um vôo cego de idéias
inacabadas quicando no chão e nos muros
ah!, se não tivesse quebrado tantas promessas de intimidade,
ou não faltasse aos encontros e aos riscos
talvez fosse milionário e igualmente descontente, talvez
estivesse feliz criando cogumelos em Nova Lima
não tenho radar para me guiar no escuro, e na claridade desta
tarde orientes e mitos surgem ofuscados
sobram contornos, arestas, rugosidades
e entre uma linha e outra, inúmeras e imprudentes lagartas
esmagadas
e entre o chão e o aro, o peso e a circunferência onde me
arremesso
talvez eu deva jogar na mega-sena acumulada
e se ganhar aquela bolada (ah!, se ganhar aquela bolada), ir
rifar o dinheiro com as putas parisienses, subornar um senador
da república ou patrocinar cocaína para os amigos
mas o que pode restar de alguém que um dia ganhou tantos
milhões de dinheiros
poderá caminhar à tarde, pegar o metrô em Botafogo e ir ao
centro da cidade procurar um livro no sebo?
poderá dormir no ônibus, com o rosto encostado no vidro, e
não saltar no ponto de descida?
perder-se, sentir fome, carregar silenciosamente uma hérnia de
disco, ter um pâncreas ectópico, uma esofagite de refluxo
não sei por quanto tempo os joelhos vão suportar todos estes
impactos
há tantos arremessos, encontros, chutes, medidas
e coisas sem sentido que me compõem, habitam os passos e os
intestinos
há ainda muito a fazer
escutar cantores populares que vêem deuses todo santo dia, ou
comem pentes, ou decifram o mistério das pirâmides, a
configuração das estrelas
não para tentar responder ao tablóide inglês qual o sentido da
vida
pois essa é mais uma coisa que você pode perguntar ao
primeiro cachorro na rua que ele vai lhe dizer
2. …mas prefiro ficar calado
nesta manhã de janeiro, pesa-me o peso de todas as coisas,
com os olhos ainda embaçados de sono, os ouvidos guardando a
acústica de silêncios, e a boca, a língua, a saliva, as
fibrocartilagens, a glote, os uivos, a janela fechada, os
retesamentos, o bolo alimentar, os movimentos peristálticos, a
pirose, a ânsia, a fôrma da bacia persistindo na espuma, a
estridência do rádio-relógio, o arcabouço do teto, e demais
zumbidos que instigam o nervo motor da laringe
esparramado entre vetores de força, decisões se misturam às
dúvidas, ocupar determinada posição na cama, mudar de
bairro, freqüentar universidades, gafieiras, bordéis, analistas,
atravessar a casa, lidar com as coisas domésticas, voltar a
dormir ou ir para a rua ver o primeiro sol do dia, abrir bem os
braços, estufar o peito e inclinar a cabeça para trás, em meio à
poeira e o vento, e sentir, na coluna vertebral, o deslocamento
simultâneo da minha vida
que importa a neurose, a escoliose, a miopia, os atos lerdos ou
incisivos, a marca do mercúrio no termômetro, ou as fases da
lua, se estou inapelavelmente nu, sem ruído, sem sorriso, sem
proeza, apenas unhas e cabelos transitando de modo
esporádico entre projetos de viagens, de vacinas, de farras, de
livros, essas coisas que já nem impressionam os amigos em
mesas de bar ou ao telefone
num desses dias eu paro de nascer sem mesmo ter tempo de
improvisar qualquer lápide ou discurso, e mesmo se eu tiver
uma caneta bic no bolso e um guardanapo ao alcance da mão,
mesmo se eu tentar ficar de bico fechado, desviar o olhar ou
apenas sorrir com simpatia, mesmo que eu invente um
compromisso inadiável com um fiscal da prefeitura, mesmo
mordendo a língua, esperneando ou abjurando a minha estirpe,
as coisas vão estar resolvidas, agudamente, e quaisquer que
sejam os números da soma de meu nome (de fato, será
indiferente o fato de ter ou não um nome), já estarei na
companhia dos demais canalhas
3. ornitorrinco
tem aquela vez que imitei um macaco para arrancar a primeira
gargalhada dos meninos
tem o tiro passional, a quantidade de chumbo na água, as
anotações rabiscadas de madrugada no caderno verde
tem um cara discursando sobre um caixote numa praça de
Londres, outro acaba de afirmar na televisão que tudo é
química
tudo é beijo, coxa, intriga, números de telefone esquecidos,
sonda orbitando outros mundos
ou tudo poderia ser geografia, economia, ortodoxia, taxionomia
de órgãos propulsores, um apêndice supurado, configurações
cervicais, o mapa da vida estampado no consultório de um
japonês, no centro da cidade
tem todas as aberrações costuradas de modo a parecerem uma
obra de arte, mas que são, sobremaneira, inverossímeis
até agora, o destino me tem sido maleável, e junto à
mandíbula e ao esporão, junto ao pavilhão auricular a essa
altura entorpecido por buzinas e alarmes contra roubo, junto
aos molares, cabem dores lancinantes e o desopilar de uma
gargalhada
cabe tudo o que entra pela janela do olho e se amontoa com as
transcrições, edições de revistas folheadas em sala de espera,
diferentes versões de uma mesma sonata de Beethoven
cabem até os estampidos que ninguém ouviu (a árvore que caiu
sozinha no meio da floresta) e listas intermináveis de tudo que
faz mal à vida
um dia, talvez se chegue à conclusão de que a vida faz mal à
vida, e só seremos socorridos por essas coisas de origem remota
e misteriosa
esses cachorros equívocos que atravessam cidades e voltam
para casa, ou a coordenação das revoadas de pardais às seis
horas da tarde
e demais gestos peculiares de todos, híbridos de tudo e de
nada, à proa de vontades subcutâneas, pormenores do jogo de
forças macroeconômicas (sobredeterminados por uma jogada
da bolsa de Cingapura)
e se decidirem que a vida faz mal à vida e o mundo estiver por
um fio (se digitados os códigos certos), pelo menos deixem-me
perpetuar o segredo de algumas misturas
Bio-bibliografia de A a Z (ou: pequena poética)
(a) Quando nasci, em 1966, era noite de São João.
(b) Meu percurso poético é composto por 3 livros: “No oco da mão” (UERJ, 1993), “Corpo Solo” (Sette Letras, 1998) e “Coisas que o primeiro cachorro na rua pode dizer” (Azougue, 2003).
(c) Tem mais um livro no forno: Ufa!
(d) Escrevo para uma época indeterminada.
(e) Rimbaud: “é preciso ser absolutamente moderno”: meu dever poético é cumprir à risca e da forma mais radical que conseguir essa injunção.
(f) Literatura: forma de celebrar a vida, a amizade e os demais afetos afirmativos.
(g) O poeta não é nem mais culto, nem mais inteligente, nem mais sábio do que os demais: a poesia brota de uma falha, de uma fissura, de uma rachadura, de algo que falta para sempre.
(h) F.S. Fitzgerald: “há várias maneiras de um homem rachar”.
(i) Quem convive com a poesia, quem existe em função da poesia, percebe e cultiva essa rachadura.
(j) A convivência com a própria fissura dá a medida e o valor de uma poética.
(k) Thoreau: “close to the bone”: por uma escrita que se faça não somente a partir do corpo, mas a partir do osso, do nervo, do tutano.
(l) O corpo, fendido, como na fratura exposta, expõe o nervo à flor da pele.
(m) Atingir essa escrita do nervo: escrever não mais com a ponta dos dedos ou com a mão, mas com o tutano dos meus ossos.
(n) Emily Dickinson escreveu 366 poemas em 1862; em média, um poema por dia!
(o) Sem sair de casa, E.D. nos levou a regiões que poucos alcançaram.
(p) Rimbaud, Thoureau e E.D.: o viajante, o caminhante e a monja: todos freqüentadores do desconhecido — lugar próprio da poesia.
(q) Na poesia, sobretudo, um engajar-se por regiões paradoxais: eloqüência do silêncio, vôo e pouso conciliados num mesmo movimento, nascimento imbricado na morte: apresentar o que já está escapando.
(r) Poema: ser complexo, visível e invisível, próximo e distante, que está dito sendo indizível, que tem sua face clara sem deixar de ser obscuro, o algo obscuro.
(s) No poema, há sempre algo que escapa (o poema existe para ser relido, previne Bachelard)
(t) A força poética não está em um ou dois poemas bem feitos; depende muito mais da devoção à invenção, não de versos nem de imagens, mas invenção de mundos aos quais só se tem acesso através de uma poética: um pensamento que se dê na forma de um poema.
(u) Poesia: levar algo a seu extremo, ao ponto máximo do seu ser, mas também à região desconhecida, fronteiriça, onde se dá a separação com outros corpos, outras vidas, outros mundos.
(v) Extremo: lugar do auge e do fim, atingir o ápice e beirar perigoso abismo, a um passo da queda.
(w) O poema imprevisível: não há como anteceder seus movimentos, prever o seu destino.
(x) Ler um bom poema, ser movido por ele, ser arrastado para outra região, para outro mundo.
(y) O poema avalanche: movimento violento que arrasta consigo tudo o que encontra pela frente.
(z) Dentro do quarto de uma cidadezinha da Nova Inglaterra, caminhando pela mata, perambulando pelas ruas sórdidas de Londres ou Paris ou no 226 (Lins-Largo da Carioca), quem pode dizer quando vai se dar de cara com um poema?
2 comments:
Caio Meira
Não conhecia mas tô impressionado
das melhores coisas que eu li...
desde argentina, en buenos aires ahora: amo lo que escribís: rimbaud ha sido honrado.
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