foto: Fabio Weintraub
mencionado por
Ricardo Domeneck
Tarso de Melo
menciona a
Priscila Figueiredo
Nauro Machado
Ronald Polito
Alberto Pucheu
Nuno Ramos
Ricardo Rizzo
Fabio Weintraub
poemas
Ação (início)
Coisas putas emitem luz
e eu não sei qual o teu nome
ó isto que transpira e tem o medo
Coisas putas têm filhos
terei esquecido o nome de isto
que urina e ama
putas essas coisas e as outras
isto prefiro ignorar
mas respira e mente
putas e são mães e minhas
entre sombras a recordação isto é a luz
entre escrita e mênstruo
Coisas putas emitem luz
isto quer nome e eu não sei de nada
apenas ejaculo e oro
essas coisas, não o que elas são,
emitem sim o que elas não
*
Uns versinho bem ingeno
Vamos agora estudar,
Não dão tese de poética,
Só cultura popular,
Ou seja, matéria inculta,
Bacharel quer Bachelard,
E sem Lacan, nem lá com
Derrida, vão nos negar
A teorética das bolsas
De estudo da capitar!
Só pra ver luta de classes
Com monóculo de Marx
É que servem as estrofe
Deste rasteiro arraiá,
Uns versinho sem ingenho,
É o que pode rascunhá
O povo plebe proleta
Sem nós, os intelectuá,
- O reitor vai tomar posse!
Vamos todos se apressar,
Nossa pesquisa científica
Será discurso copiá,
Deixe o poeta com nome
De passarinho banar:
Quando ele voa, não canta,
Se canta, deixa de voar.
(Patativa do Assaré diz que não faz verso, mas escreve na mente)
(o vôo canta sem voz)
(os ingênuos querem o engenho; os gênios esqueceram-no)
(na terra cultiva o vôo de pisá-la)
(mais que a virtude dos pássaros
e mais que o alado pesar:
quando lhe tiram o céu,
voa o vôo de cantar)
poesia não faz verso, escreve na mente
[de O palco e o mundo, Lisboa: &Etc, 2002]
Schmittät, Bestialität
é soberano quem decreta o genocídio.
nada mais simples do que isto:
quando ele fala soberano,
diz genocídio.
é genocídio quem decreta o soberano.
nenhum prejuízo, nenhum dano:
quando ele cala genocídio,
diz soberano.
e quem não fala soberano ou genocídio?
por que estaria ainda vivo?
se soberano
não fala, cala-o o genocídio.
porém alguém vive? senão o soberano?
nenhum vivente, mas falamos
do genocídio
a imitar a luz passeando pelos crânios
e nesse dia, aceso pelo genocídio,
nos atravessa o aziago brilho
do soberano
que ossos abraça e chama filhos.
é soberano quem decreta o soberano?
é genocida o genocídio?
porém os ossos sob os gritos
rugem: cresçamos
BREVE BIOBIBLIOGRAFIA
Pádua Fernandes nasceu no Rio de Janeiro em 1971. Publicou o livro de poesia O palco e o mundo em 2002 (Lisboa: &etc). Em 2004, organizou a primeira antologia lançada no Brasil da poesia de Alberto Pimenta (A encomenda do silêncio, São Paulo: Odradek). Foi conselheiro das revistas de literatura Cacto (São Paulo) e Jandira (Juiz de Fora), e colaborador do periódico virtual português de cultura Ciberkiosk. Em 2004, mudou-se para São Paulo, onde é professor universitário.
POÉTICA
Certidão
I
Opus nigrum: compôs a peça para oboé, krummhorn e incêndio.
Opus primum: compôs a anti-sonata para piano formada tão-somente por quatro acordes que exigiam vinte e seis dedos.
Opus sordidum: a fantasia para gaita que exigia sextos de tom.
Opus nullum: e o apocalipse para sintetizador e serra elétrica, mas as notas fugiam à freqüência audível.
finalmente organizaram o concerto dedicado às suas obras. e, quando viu que os cães correram para o teatro atraídos pelas freqüências sonoras, e que acharam músicos produzidos pelas mutações genéticas obtidas pelo consumo diário de refrigerantes, sacou o revólver.
assassinou-os. os cães alimentaram-se dos cadáveres.
no som dos tiros, porém, ouviu-se a música. e então nasci.
II
compôs o sopro para oboé e tempestade
compôs os dedos para piano e triturador
os gritos para a fuga em mil vozes caladas
e o corpo para o apocalipse, que recusou tocar uma peça tão fraca
(ouvi música áspera, eram os dentes no contato com a carne; vi os mortos sendo devorados: os cães, também eles, eram cadáveres)
Nigrum primum sordidum nullum: a obra do homem, o homem.
mencionado por
Ricardo Domeneck
Tarso de Melo
menciona a
Priscila Figueiredo
Nauro Machado
Ronald Polito
Alberto Pucheu
Nuno Ramos
Ricardo Rizzo
Fabio Weintraub
poemas
Ação (início)
Coisas putas emitem luz
e eu não sei qual o teu nome
ó isto que transpira e tem o medo
Coisas putas têm filhos
terei esquecido o nome de isto
que urina e ama
putas essas coisas e as outras
isto prefiro ignorar
mas respira e mente
putas e são mães e minhas
entre sombras a recordação isto é a luz
entre escrita e mênstruo
Coisas putas emitem luz
isto quer nome e eu não sei de nada
apenas ejaculo e oro
essas coisas, não o que elas são,
emitem sim o que elas não
*
Uns versinho bem ingeno
Vamos agora estudar,
Não dão tese de poética,
Só cultura popular,
Ou seja, matéria inculta,
Bacharel quer Bachelard,
E sem Lacan, nem lá com
Derrida, vão nos negar
A teorética das bolsas
De estudo da capitar!
Só pra ver luta de classes
Com monóculo de Marx
É que servem as estrofe
Deste rasteiro arraiá,
Uns versinho sem ingenho,
É o que pode rascunhá
O povo plebe proleta
Sem nós, os intelectuá,
- O reitor vai tomar posse!
Vamos todos se apressar,
Nossa pesquisa científica
Será discurso copiá,
Deixe o poeta com nome
De passarinho banar:
Quando ele voa, não canta,
Se canta, deixa de voar.
(Patativa do Assaré diz que não faz verso, mas escreve na mente)
(o vôo canta sem voz)
(os ingênuos querem o engenho; os gênios esqueceram-no)
(na terra cultiva o vôo de pisá-la)
(mais que a virtude dos pássaros
e mais que o alado pesar:
quando lhe tiram o céu,
voa o vôo de cantar)
poesia não faz verso, escreve na mente
[de O palco e o mundo, Lisboa: &Etc, 2002]
Schmittät, Bestialität
é soberano quem decreta o genocídio.
nada mais simples do que isto:
quando ele fala soberano,
diz genocídio.
é genocídio quem decreta o soberano.
nenhum prejuízo, nenhum dano:
quando ele cala genocídio,
diz soberano.
e quem não fala soberano ou genocídio?
por que estaria ainda vivo?
se soberano
não fala, cala-o o genocídio.
porém alguém vive? senão o soberano?
nenhum vivente, mas falamos
do genocídio
a imitar a luz passeando pelos crânios
e nesse dia, aceso pelo genocídio,
nos atravessa o aziago brilho
do soberano
que ossos abraça e chama filhos.
é soberano quem decreta o soberano?
é genocida o genocídio?
porém os ossos sob os gritos
rugem: cresçamos
BREVE BIOBIBLIOGRAFIA
Pádua Fernandes nasceu no Rio de Janeiro em 1971. Publicou o livro de poesia O palco e o mundo em 2002 (Lisboa: &etc). Em 2004, organizou a primeira antologia lançada no Brasil da poesia de Alberto Pimenta (A encomenda do silêncio, São Paulo: Odradek). Foi conselheiro das revistas de literatura Cacto (São Paulo) e Jandira (Juiz de Fora), e colaborador do periódico virtual português de cultura Ciberkiosk. Em 2004, mudou-se para São Paulo, onde é professor universitário.
POÉTICA
Certidão
I
Opus nigrum: compôs a peça para oboé, krummhorn e incêndio.
Opus primum: compôs a anti-sonata para piano formada tão-somente por quatro acordes que exigiam vinte e seis dedos.
Opus sordidum: a fantasia para gaita que exigia sextos de tom.
Opus nullum: e o apocalipse para sintetizador e serra elétrica, mas as notas fugiam à freqüência audível.
finalmente organizaram o concerto dedicado às suas obras. e, quando viu que os cães correram para o teatro atraídos pelas freqüências sonoras, e que acharam músicos produzidos pelas mutações genéticas obtidas pelo consumo diário de refrigerantes, sacou o revólver.
assassinou-os. os cães alimentaram-se dos cadáveres.
no som dos tiros, porém, ouviu-se a música. e então nasci.
II
compôs o sopro para oboé e tempestade
compôs os dedos para piano e triturador
os gritos para a fuga em mil vozes caladas
e o corpo para o apocalipse, que recusou tocar uma peça tão fraca
(ouvi música áspera, eram os dentes no contato com a carne; vi os mortos sendo devorados: os cães, também eles, eram cadáveres)
Nigrum primum sordidum nullum: a obra do homem, o homem.
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