mencionado por
Lígia Dabul
Claudio Daniel
Rodrigo de Souza Leão
menciona aRodrigo Garcia Lopes
Douglas Diegues
Claudio Daniel
Maurício Arruda Mendonça
Micheliny Verunschk
Marcos Losnak
Mario Bortolotto
poemas:
Descida aos Inferninhos
I
eureka –– grita o poeta
achei meu estilo, traço rude de fino tino,
quer dizer, daqui detrás dos montes
vai ser ferro na perereca
cuspe seco, pedra cabralina
sinalização de pista de aeroporto
fox-xote caboclo muito louco
paulista neurótico de férias em amaralina
& que se ferrem as fadas
sóis de gelo de falas delicadas
não, vai ser na porrada
verso cortado a facada
bucho de bode, rixa de galo
poesia que bebe a pinga no gargalo
poeta maldito será o benedito
príncipe nefasto das noites de blackout
& assim sendo segue a ladainha
bandeira à meio pau o poeta arreganha a bainha
e sapeca mais uma, assim, digamos
descabela o mico,
enquanto sonha que enraba as ninfas
& bebe o vinho na boca das musas
II
cansado da palavra polida
hímem rompido da beleza clássica
o poeta talha o verso com pedra lascada
primata astuto, ladrão convicto
despedaça pétalas, arrebenta rimas
imola virgens, deflora rosas
segue viagem com um guia cego
desce aos infernos, aos inferninhos
gilete nos dentes, entre travecas e putas
disputa a tapa a taça de cicuta
lambuza os lábios, descobre aos trancos
o mesmo gosto do nobre vinho das festas finas
III
quisera o paraíso, sim, quisera
mas só anjas trapaceiras encontrara
uma tocava harpa, outra cravava os dentes
sacanas amantes dos banqueiros
peles ardentes de sóis tatuados
sóis negros, céus delirantes
sugando esperma em troca de dinheiro
vulgares em suas rimas ricas
musas de luxo na corte das artes
carne a la carte, poesia em postas
máscara bem moldada ao talhe da face
técnicas, sem dúvida
mas sem as dádivas e com eternas dívidas
do livro Zona Branca
V DE VINGANÇA
v — meu nome é vento,
passo sem ser visto
aliso crinas, enlaço dálias, resisto, despisto
mas quando me enfureço
derrubo muros, esmurro rimas, usinas, destruo
São Paulo em chamas, caóticas esquinas
o edifício da Fiesp em ruínas
v — meu nome é vento,
passo sem ser visto
mas num piscar de olhos
espalho teu ouro, arraso tua herança
e deixo inscrito em grafite no topo da torre do céu
meu outro nome
v de vingança
COMO SE CHAMA?
a tarde aspira o aroma do incenso
a vida dura um tempo
mínima moldura onde flora e transfigura
o que se fez fundo, beijo, iluminura
e como se chama mesmo aquilo que se faz
em nós, nômades em paz na borda de um oásis
a brisa breve valsa sem nenhum alarde
névoa espessa, uma vez desfeita, nunca mais
MINIBIO
Ademir Assunção nasceu em 1961. Poeta, jornalista e prosador, publicou LSD Nô (poesia, ed. Iluminuras, 1994), A Máquina Peluda (prosa, Ateliê Editorial, 1997), Cinemitologias (prosa poética, Ciência do Acidente, 1998), Zona Branca (poesia, ed. Altana, 2001) e Adorável Criatura Frankenstein (prosa, Ateliê Editorial, 2003). Integrou as antologias Outras Praias/Other Shores (poesia, ed. Iluminuras, 1998), Na Virada do Século (poesia, ed. Landy, 2002), Geração 90 – os transgressores (prosa, ed. Boitempo, 2003), Musa Paradisíaca (entrevistas, ed. Mirabilia, 2003) e Paixão por São Paulo (poesia, ed. Terceiro Nome, 2004). Participou também das antologias internacionais Pindorama: 30 Poetas de Brasil, (Revista tsé=tsé, Buenos Aires/Argentina, 2000), New Brazilian & American Poetry, (Revista Rattapallax, New York/EUA, 2003), Arco-Íris de Oxumaré (Revista Homúnculos, Lima/Peru, 2004)e Perfectos Extraños – Seis Poetas de Brasil (Revista El Poeta y Su Trabajo, Cidade do México, 2004).Tem poemas musicados e gravados em discos por Itamar Assumpção, Edvaldo Santana e Madan. É um dos editores da revista de poesia e arte Coyote, junto com os poetas Rodrigo Garcia Lopes e Marcos Losnak. Blog: http://zonabranca.blog.uol.com.br
POÉTICA?
Não me interessa apenas escrever poesia. Quero me colocar em estado de poesia. Ser uma antena, hipersensível. Feroz, como um tigre. Sutil, como um vagalume. Intenso, como um vendaval.
Lígia Dabul
Claudio Daniel
Rodrigo de Souza Leão
menciona aRodrigo Garcia Lopes
Douglas Diegues
Claudio Daniel
Maurício Arruda Mendonça
Micheliny Verunschk
Marcos Losnak
Mario Bortolotto
poemas:
Descida aos Inferninhos
I
eureka –– grita o poeta
achei meu estilo, traço rude de fino tino,
quer dizer, daqui detrás dos montes
vai ser ferro na perereca
cuspe seco, pedra cabralina
sinalização de pista de aeroporto
fox-xote caboclo muito louco
paulista neurótico de férias em amaralina
& que se ferrem as fadas
sóis de gelo de falas delicadas
não, vai ser na porrada
verso cortado a facada
bucho de bode, rixa de galo
poesia que bebe a pinga no gargalo
poeta maldito será o benedito
príncipe nefasto das noites de blackout
& assim sendo segue a ladainha
bandeira à meio pau o poeta arreganha a bainha
e sapeca mais uma, assim, digamos
descabela o mico,
enquanto sonha que enraba as ninfas
& bebe o vinho na boca das musas
II
cansado da palavra polida
hímem rompido da beleza clássica
o poeta talha o verso com pedra lascada
primata astuto, ladrão convicto
despedaça pétalas, arrebenta rimas
imola virgens, deflora rosas
segue viagem com um guia cego
desce aos infernos, aos inferninhos
gilete nos dentes, entre travecas e putas
disputa a tapa a taça de cicuta
lambuza os lábios, descobre aos trancos
o mesmo gosto do nobre vinho das festas finas
III
quisera o paraíso, sim, quisera
mas só anjas trapaceiras encontrara
uma tocava harpa, outra cravava os dentes
sacanas amantes dos banqueiros
peles ardentes de sóis tatuados
sóis negros, céus delirantes
sugando esperma em troca de dinheiro
vulgares em suas rimas ricas
musas de luxo na corte das artes
carne a la carte, poesia em postas
máscara bem moldada ao talhe da face
técnicas, sem dúvida
mas sem as dádivas e com eternas dívidas
do livro Zona Branca
V DE VINGANÇA
v — meu nome é vento,
passo sem ser visto
aliso crinas, enlaço dálias, resisto, despisto
mas quando me enfureço
derrubo muros, esmurro rimas, usinas, destruo
São Paulo em chamas, caóticas esquinas
o edifício da Fiesp em ruínas
v — meu nome é vento,
passo sem ser visto
mas num piscar de olhos
espalho teu ouro, arraso tua herança
e deixo inscrito em grafite no topo da torre do céu
meu outro nome
v de vingança
COMO SE CHAMA?
a tarde aspira o aroma do incenso
a vida dura um tempo
mínima moldura onde flora e transfigura
o que se fez fundo, beijo, iluminura
e como se chama mesmo aquilo que se faz
em nós, nômades em paz na borda de um oásis
a brisa breve valsa sem nenhum alarde
névoa espessa, uma vez desfeita, nunca mais
MINIBIO
Ademir Assunção nasceu em 1961. Poeta, jornalista e prosador, publicou LSD Nô (poesia, ed. Iluminuras, 1994), A Máquina Peluda (prosa, Ateliê Editorial, 1997), Cinemitologias (prosa poética, Ciência do Acidente, 1998), Zona Branca (poesia, ed. Altana, 2001) e Adorável Criatura Frankenstein (prosa, Ateliê Editorial, 2003). Integrou as antologias Outras Praias/Other Shores (poesia, ed. Iluminuras, 1998), Na Virada do Século (poesia, ed. Landy, 2002), Geração 90 – os transgressores (prosa, ed. Boitempo, 2003), Musa Paradisíaca (entrevistas, ed. Mirabilia, 2003) e Paixão por São Paulo (poesia, ed. Terceiro Nome, 2004). Participou também das antologias internacionais Pindorama: 30 Poetas de Brasil, (Revista tsé=tsé, Buenos Aires/Argentina, 2000), New Brazilian & American Poetry, (Revista Rattapallax, New York/EUA, 2003), Arco-Íris de Oxumaré (Revista Homúnculos, Lima/Peru, 2004)e Perfectos Extraños – Seis Poetas de Brasil (Revista El Poeta y Su Trabajo, Cidade do México, 2004).Tem poemas musicados e gravados em discos por Itamar Assumpção, Edvaldo Santana e Madan. É um dos editores da revista de poesia e arte Coyote, junto com os poetas Rodrigo Garcia Lopes e Marcos Losnak. Blog: http://zonabranca.blog.uol.com.br
POÉTICA?
Não me interessa apenas escrever poesia. Quero me colocar em estado de poesia. Ser uma antena, hipersensível. Feroz, como um tigre. Sutil, como um vagalume. Intenso, como um vendaval.
1 comment:
ademir
agradável dose-mais uma-de contorcionismo cerebral.
Uma relação de contraponto - musical --estabelece-se entre a articulação do discurso musical e o fio-cabível da sua reflexão.
AVE.
quantas vezes percebi que lendo em voz-experiente, sentia prazer.
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