Thursday, September 07, 2006

JOCA WOLFF

(Joca e 'Urso' em São José dos Ausentes, RS, carnaval 2006)

mencionado por:Ricardo Corona

menciona a:fábio brüggemann
dennis radünz
fernando scheibe
simone curi




poemas


BATUQUE

depois de gil -moreno




essa é pra tocar no vídeo

essa é pra tocar nos fones

essa é pra tocar nos foles


essa é pra girar nos guizos

essa é pra girar nos frisos

essa é pra girar na fronte


essa é pra silvar na mídia

essa é pra silvar na selva

essa é pra silvar no vento


essa é pra congar nos congos

essa é pra congar nos quengos

essa é pra congar no mangue


essa é pra chorar chovendo

essa é pra chorar cruzando

essa é pra chorar cosendo


essa é pra viver vivido

essa é pra viver vingado

essa é pra viver variado


essa é pra pedir pecado

essa é pra pedir fiado

essa é pra pedir metade


essa é pra obter o todo

essa é pra obter o quase

essa é pra obter o novo


essa é pra morder o rabo

essa é pra morder a dama

essa é pra morder o dobro


essa é pra molhar a chama

essa é pra molhar o cristo

essa é pra molhar a casta



essa é pra dizer que sempre

essa é pra dizer que nada

essa é pra dizer que basta

25nov05



A ZEBRA
depois de josé paulo blake



Zebra, zebra, velha dama
Que os amantes da noite engana,
Que deus ou diabo imoral podia
Safar-te de outra vilania?

Em que deserto ou charco logo caiu
A sombra dos bichos teus?
Com que tintas tentou ela um outro?
Que não quis pôr-a-mão-no-fogo?

Que sorte & berço pôde assim
Tolher-te as fímbrias da vocação?
Quando ela já estava nascendo,
Que unhas & que narinas crescendo?

Que crinas? que riscos,
Que guerras viveu o teu sexo?
Que balbúrdia? que dança
sorveu-lhe os venenos astrais?

Quando os pastos se ouriçaram
No breu e em pântanos se acharam,
Dançou ela ao dar com o leito?
Fez-se masturbar pelo Toureiro?

Zebra, zebra, velha dama,
Que os amantes da noite engana,
Que deus ou diabo imoral tentaria
Safar-te de mais uma vilania?

6dez05


a biblioteca de papel

na biblioteca de papel

não cabem discos

nem os de aluguel



na biblioteca de papel

não cabem dados

nem os indeléveis



a menos que sejam

letras vivas mortas

prensadas nas manchas

das folhas resinosas

que as traças traçam

as lupas grassam

e os dedos dilatam

sobre uns pequenos céus

em busca do frágil chão



na biblioteca de papel

os passos não percutem

os sons são surdos mudos

os dedos saem sujos

os olhos dão em dor

e os pés farejam

enquanto mãos adormecem

e bocas rejeitam babas

sobre superfícies de folículas

ou nódoas ou ventosas ou

bocas de lobo pensantes

vegetais coisas mentais

soçobrantes sobrenadantes

sempre mais abertas

feito barquinhos emborcados

sobre as miliuma noites

nas mesas fumigadas pelo tempo

da biblioteca de papel

6dez05


bio/biblio

Joca Wolff nasceu em Porto Alegre em 1965 e vive em Florianópolis desde 1983. É autor de PATETA EM NOVA YORQUE (poesia, 2002); A VIAGEM COMO METÁFORA PRODUTIVA (ensaio, 1998); MÁRIO AVANCINI. POETA DA PEDRA (biografia, 1996), todos publicados pela editora Letras Contemporâneas, de Florianópolis, SC, Brasil. Traduziu COMO SE LÊ E OUTRAS INTERVENÇÕES CRÍTICAS (Argos, 2002), de Daniel Link, e AS FORMAÇÕES DO MODERNO (no prelo), de Carlos Real de Azúa.


poética
Poesia é o que todo mundo fala, em todas as línguas, ao mesmo tempo...

1 comment:

Anonymous said...

ecoar, arremeçar entre palavras - lavradas
sentado em polo - escrevinhador
vem e fisga as escolhas.