poemas
Verão
no saguão
uma moça estuda japonês
sobre a mesa
pequenas tiras de papéis onde anota ideogramas
em outro canto
o jornal dobrado embaixo do braço
um papel com apontamentos
discute-se Marx e Engels
presos às paredes altas, por cima do limite das portas, também altas
passam fios elétricos descascados, pendendo como varais
no banheiro
as torneiras das duas pias pingam
ainda que remendadas com plásticos pretos
amarrando a caixa do vaso, barbantes
do lado de fora, na piscina
um grupo de senhoras é liderado
por gritos de entusiasmo da instrutora de ginástica aquática
é quando chega a hora
as mãos tremem
o ar fica mais seco
Caráter
Janela
vento movimenta a cortina
ondas no horizonte coberto de branco
o lençol constrange
cerceia o corpo montanhoso
Cílios
gotas d'água descem, curvas
são perguntas caindo
uma após a outra
Folha
branca e lisa
à espera
flutuaria leve
seria verde a sua cor
mas branca
representa-se e afunda
aprofunda-se o espaço por onde afunda
Palavras
só ocorrem brancas
onde estão outras palavras?
Rio Negro
seu leito
Grave
Quase sempre, antes de dormir, me acontece o seguinte:
deito, e
sobre mim
deita
a gravidade.
Suspiro
cada partícula de ar que não respirei.
Se durante o longo dia ri,
é com sarcasmo que o escuto então.
Se séria estive,
esmagam-me as dobras do cenho.
Folha por folha até a capa,
percorro e fecho,
em camadas,
meus olhos.
É com alívio que deixo ser
para amanhã.
E custo a escutar o acorde.
Verão
no saguão
uma moça estuda japonês
sobre a mesa
pequenas tiras de papéis onde anota ideogramas
em outro canto
o jornal dobrado embaixo do braço
um papel com apontamentos
discute-se Marx e Engels
presos às paredes altas, por cima do limite das portas, também altas
passam fios elétricos descascados, pendendo como varais
no banheiro
as torneiras das duas pias pingam
ainda que remendadas com plásticos pretos
amarrando a caixa do vaso, barbantes
do lado de fora, na piscina
um grupo de senhoras é liderado
por gritos de entusiasmo da instrutora de ginástica aquática
é quando chega a hora
as mãos tremem
o ar fica mais seco
Caráter
Janela
vento movimenta a cortina
ondas no horizonte coberto de branco
o lençol constrange
cerceia o corpo montanhoso
Cílios
gotas d'água descem, curvas
são perguntas caindo
uma após a outra
Folha
branca e lisa
à espera
flutuaria leve
seria verde a sua cor
mas branca
representa-se e afunda
aprofunda-se o espaço por onde afunda
Palavras
só ocorrem brancas
onde estão outras palavras?
Rio Negro
seu leito
Grave
Quase sempre, antes de dormir, me acontece o seguinte:
deito, e
sobre mim
deita
a gravidade.
Suspiro
cada partícula de ar que não respirei.
Se durante o longo dia ri,
é com sarcasmo que o escuto então.
Se séria estive,
esmagam-me as dobras do cenho.
Folha por folha até a capa,
percorro e fecho,
em camadas,
meus olhos.
É com alívio que deixo ser
para amanhã.
E custo a escutar o acorde.
bio/biblio
Nasci em São Paulo, em 1970, e moro atualmente no Rio. Sou formada em psicologia, mas trabalho há bastante tempo como professora e orientadora de crianças pequenas. Escrevo coisas aleatórias desde a adolescência, e tive um poema publicado na última Inimigo Rumor (número 18).
poética
poética
"um talento para as coisas avulsas, que não duram nem rendem" (Ricardo Ramos, em Circuito fechado)
21 comments:
oi dani, já que você abandonou a rua senador vergueiro, pelo menos já posso te ver e ler por aqui... (brincadeirinha...)
esta mensagem é só pra re-afirmar como eu adoro o seu poema "Verão", que me dá a mesma alegria/euforia sempre que o releio desde aquela quarta-feira fria.
beijos
carlito
Dani, os poemas estão muito legais. Concordo com o Carlito, Verão é mesmo muito bonito. Valeu, moça. Beijos, Heitor
Dandi: Amo seus poemas.Como pode alguém ser tão poética? Estou orgulhosa!
Muitos beijos
Mami
Oi, Dani. Adorei chegar aqui e ler (e/ou reler) poemas seus. Um beijo grande, Maria Cecilia (oficina)
A dança-poética não só aciona todo o sistema muscular-sensivel do dançarino-deus como também capta a atividade capital, nem sequer quer muito, mas a visão que guia o dançarino em seus movimentos entre os outros e o ouvir que lhe permite seguir o ritmo. finalidade- apenas nao saber qual.
dani só agora consegui entrar no blog, acredita?
estou muito feliz em te ver!
gostei do poema que fala da gravidade, do cenho ,
adoro sua maneira de escrever
alem de ser uma pessoa linda, mas isso deixa para falar em outro lugar. bjs nora
Muito bonitos os seus poemas. Parabéns. Você teria um blog?
Oi Lucas,
Obrigada pelo elogio!
Não, não tenho blog.
Quem sabe no futuro?
Abraços,
Daniela.
Dani,
Teus poemas já apareceram nos meus sonhos (juro!).
Adorei ler os novos. Pura evolução.
Vou guardar bem os que tenho em manuscritos , certeza vai valer uma nota em leilões no futuro.
Saudades,
Caio Vilela
Dani !!
Fiquei com saudades, te procurei no google...
Adorei os poemas, parabéns.
Caio Vilela
Daniela,
estou precisando muito falar com você sobre a publicação de alguns dos seus poemas em uma antologia que sairá na Espanha. Você pode deixar seu email aqui ou então enviar um email para luizabandeira@gmail.com?? É um projeto muito legal, mas preciso falar com você urgente!
Obrigada,
Luiza Bandeira
Dani,
'Cílios' é maravilhoso!!
Perguntas ininterruptas, uma após outra. Perguntar dói...
Oi Daniela,
onde eu posso encontrar mais poemas seus?
Oi Daniela,
onde encontro mais poemas seus?
Marcello
Oi Marcello,
Você pode encontrar mais poemas meus nas revistas Inimigo Rumor número 18 e número 19. Também foram publicados recentemente (no dia 16 de agosto) 3 poemas no jornal "Diário Catarinense", em uma coluna do poeta Manoel Ricardo de Lima chamada Objeto-Experiência n.4. Um beijo, Daniela.
Oi Dani,
Te achei durante as minhas viagens pela internet. Gostei muito dos teus poemas! Sabe que também ando escrevendo? Será um desvio comum às psicólogas?
Um beijão,
Lili
Oi Lili querida,
Que bom!
E como vão Teresa e Luiz?
Muitos beijos,
Dani.
Olá,Daniela!!!
Será q vc se lembra de mim?
Voce era recém formada em psicologia e eu levava minha filha Luciana para fazer terapia com vc na USP,lembra???
Hoje a Luciana tem 26 anos é formada em publicidade e faz pós graduação na Inglaterra,é o orgulho da mamãe....
Não me esqueço nunca de vc....que me ajudou muito naquela situação.
bjinhos,q Deus a abençõe sempre...
Oi, Daniela, gostei sobretudo do poema "Grave". "Verão" é muito bonito, mas este é meu preferido. Já era para ter deixado isso registrado. Li há poucos dias o seu poema da Inimigo Rumor 18, que me deixou muito, muito feliz de ter sido indicada por vc para o escolhas afectivas. Um beijo. Simone Brantes.
Oi Dulcinea,
Que delícia saber notícias tão boas da Luciana e de você. É claro que me lembro, como poderia esquecer? Beijos e felicidades para as duas, Dani.
Olá, Simone,
Adoro mesmo os seus poemas, e seu recado foi muito muito simpático. Beijos, Dani.
Gosto tanto de seu poemas Dani!
Não me canso de reler.
Beijão.
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