Friday, September 29, 2006

ANDRÉ VALLIAS




mencionado por
Ricardo Aleixo


menciona a
Age de Carvalho
Omar Khouri
Lenora de Barros
João Bandeira
Walter Silveira





poemas




Geologia
de uma tradução

a claridade elíptica
do frágil mineral
o faz verter assim
”ein Atemkristall” –
em hálito



C(anti)-
lena

para adriana calcanhotto

+
doce
que o som
da lira
helena
por dentro

por fora
atena
(ânfora)
estrigídea
caprina
falena
ortóptera
penélope
fia

acri-
suave
prazer
de vencer
vertigens
!)
a
fina
falésia
que
desafia
(…)



Reza-brava
para São Sebastião

ah quem
dera tivesse
o teu
martírio
(o corpo
ereto/os arcos
tesos)
se consumado
na rija coluna
de
granito!
e
não
inglório
(longe dos
olhos)
soçobrando
(sem pose)
entre
os
dejetos
da cidade
§
sancta venus
cloacina
rogai por nós


……………………………………


André Vallias é poeta, designer gráfico e produtor de mídia interativa. Nasceu em 1963, em São Paulo, onde se formou em Direito pela USP. Começou a criar poemas em 1985, usando da técnica serigráfica que aprendeu com o impressor e artista Omar Guedes. De 1987 a 1994, residiu na Alemanha, onde orientou suas atividades para a mídia digital, influenciado pelas idéias do filósofo Vilém Flusser. Organizou em 1992, com Friedrich Block, a primeira mostra internacional de poesia feita em computador: "p0es1e - digitale dichtkunst". Publicou trabalhos em diversas revistas, entre as quais: Et Cetera, Cacto, Zunái, Artéria, Visible Language, Alire e High Quality. Participou de exposições de "arte e tecnologia", poesia digital e visual: "Hiper > relações eletro//digitais" (Santander Cultural, Porto Alegre 2004), "p0es1s - digital poetry" (Kulturforum,Berlim 2004), "Brazilian Visual Poetry" (Mexic-Art Museum, Austin 2002), "Schrift und Bild in Bewegung" (Gasteig, Munique 2000), "Arte & Tecnologia" (Itaú Cultural, São Paulo 1997), "No limiar da tecnologia" (Paço das Artes, São Paulo 1995), "Transfutur" (Kunstetage, Kassel 1990), "Palavra Imágica" (MAC, São Paulo 1987), entre outras. Seus poemas digitais podem ser vistos no site www.andrevallias.com ou na revista eletrônica Errática, que edita juntamente com o poeta e ensaísta Eucanaã Ferraz: www.erratica.com.br. Vive no Rio de Janeiro, onde dirige a produtora Refazenda: www.refazenda.com.

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POESIA

Terrível: esta arte! Eu de minha carne teço fios,
E estes fios são também o meu caminho pelo ar.

Hugo von Hofmannsthal

[Reflexão]

Há graus de entusiasmo. Entre a diversão, o seu ponto mais baixo, e o entusiasmo do líder que em meio à batalha conserva forte o gênio com discernimento, eleva-se uma escada infinita. Subir e descê-la é vocação e prazer do poeta.
*
Tem-se inversões de palavras na oração. Porém maior e bem mais eficaz deverá ser a inversão mesma das orações. A colocação lógica das orações, onde a causa (da oração principal) é sucedida pela ação, a ação pelo fim, o fim pelo objetivo, e onde as orações subordinadas vão se encadeando à principal a qual imediatamente se referem – é certamente ao poeta de quase ou nenhuma utilidade.
*
Esta é a medida de entusiasmo que é dada a cada um para que guarde, alguns no fogo forte, outros no mais fraco, o grau necessário de discernimento. Onde a sobriedade te abandona, aí está o limite do teu entusiasmo. O grande poeta não se encontra nunca fora de si, por mais alto que queira elevar-se sobre si mesmo. Ora tanto se pode cair para o alto, como para baixo. Deste último protege o espírito maleável; do primeiro, a força da gravidade que jaz no discernimento sóbrio. Porém a melhor sobriedade e o melhor discernimento do poeta é com certeza o sentimento, quando é reto, caloroso, forte e claro. É a espora e o bridão do espírito. Com calor o impele adiante, prescreve-lhe com ternura, retidão e clareza o limite, segurando-o para que não se perca; é assim entendimento e vontade ao mesmo tempo. Contudo quando é dócil e brando em demasia, torna-se mortífero, verme roedor. Se o espírito se limita, aquele outro sente com medo excessivo a prisão temporária, torna-se caloroso demais, perde a claridade e arroja com uma inquietação incompreensível o espírito no ilimitado; se o espírito se acha mais livre e temporariamente elevado sobre regra e matéria, o sentimento se apavora com o perigo de se perder, assim como antes temera o aprisionamento, tornando-se frígido e apático, esmorecendo o espírito e fazendo-o afundar, estancar e penar sob o fardo de dúvida supérflua. Se de tal modo se acha doente o sentimento, o melhor que o poeta, porque o conhece, tem a fazer é não se deixar assustar em caso algum por ele, procurando apenas prosseguir com maior moderação, utilizando-se do entendimento o mais levemente possível, para que o sentimento, tanto aquele que limita como o que liberta, se endireite e, tendo assim se ajudado amiúde, reintegre ao sentimento a segurança e consistência naturais. Acima de tudo o poeta precisa acostumar-se a não querer atingir num lance só o todo a que se propôs e a suportar a imperfeição momentânea; o seu prazer deve ser a superação gradativa de si mesmo, nos modos e medidas que a matéria exige, até que, no fim, o tom principal ganhe o seu todo. Que ele não pense que apenas crescendo do fraco ao mais forte é que pode superar-se, do contrário se tornará falso e excêntrico; deve sentir que ele ganha em leveza aquilo que perde em significação, que a calma até supre a veemência, e o juízo, o arroubo; assim não haverá, no transcorrer da sua obra, nenhum tom necessário que não supere de certa maneira os anteriores, e o tom dominante apenas o será, porque o todo está composto desta forma e não de outra qualquer.
*
Só esta é a verdade mais verdadeira, onde mesmo o erro, porque ela o coloca em seu tempo e lugar no todo do seu sistema, torna-se verdade. É a luz que a si mesma e a noite ilumina. Esta é também a poesia mais elevada, onde mesmo o não-poético, porque dito no todo da obra em tempo e lugar certo, torna-se poético. Mas é aí que a rapidez do conceito se faz mais necessária. Como poderás usar a coisa no lugar adequado, se tímido ainda te demoras sobre ela e não sabes o que ela traz, nem o que fazer ou não com ela. Isto é o contentamento eterno, alegria de Deus, colocar cada uma das partes no todo, no lugar que lhes pertence; é por isso que sem entendimento ou sem um sentimento inteiramente organizado não há acerto, não há vida.
*
Será que o homem tem que perder na fluência da força e do sentido, o que ganha no espírito todo-abrangente? Ora, um sem o outro não é nada!

Friedrich Hölderlin

(Traduções: A. V.)




2 comments:

Anonymous said...

Adorei seu blog ! . O André Valias é muito bom , e lembrar Omar Khouri que é um poeta de grande qualidade é um grande acerto

Anonymous said...

André Vallias
um heremita na cidade - cosmo-réia.
holderlin e voce são da mesma genealogia... rsrsrsr
buscam entender de onde e nao entender quando vem o : nada.
mas... aceitam.