Wednesday, September 27, 2006

CARLOS MACHADO




Ruy Proença
Vera Lúcia de Oliveira

menciona

(nomes não citados antes):

Antonio Brasileiro

Déborah de Paula Souza
Iracema Macedo

Maria Esther Maciel
Roberval Pereyr








poemas





(todos de Pássaro de Vidro, 2006):





RELÓGIO DIGITAL


com o passo rijo
das certezas
escondes
a sutileza do rio
esse rio
que tens na alma
e traça a
doutrina de tua
máquina

aos saltos
em teu teatro
mambembe
retalhas o lençol
das horas
num show volátil
de números

fazes crer
com esse ar de
quem não erra
que tudo é
justo e preciso
pura fusão
de equação e
músculo




HERACLITIANO

na segunda chicotada
você já é outro

— não importa o lado
do chicote




HOMEM-BOMBA

em que pensa
o homem-bomba
no exato
momento
de soltar o pino
e estancar
o tempo?

em que pensa
o homem-bomba
na hora imensa
em que o sangue
se adensa
e todos os sóis
e todos os poros
e todas as luas
do universo
projetam
forças vorazes
de gravitação na
explosiva
nave de
seu coração?

em que veia
cava o
medo crava
seus tentáculos?
em qual
infinitésimo
de segundo
a mão trêmula
avança para
o pino e
vence a inércia
do ser vivo
que deseja
permanecer
capaz de semente
— não de idéias
mas de
carne viva?





CÂMERA

How you die is the most
important thing you ever do.
Timothy Leary

uns preferem
a morte discreta
asséptica
sem vexame

outros apostam
no alvoroço:
enxame
de câmeras até
o osso do nada

timothy leary
guru
lisérgico não quis
o analgésico
do silêncio

morreu em show
cibernético
câmera aberta
para o olho
poente



BIO/BIBLIO





Carlos Machado nasceu em Muritiba (BA), em 1951. Jornalista, reside em São Paulo. Cursou engenharia mecânica na UFBa e, em São Paulo, fez jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. Tem poemas publicados em revistas e jornais literários. É autor do livro Pássaro de vidro (Hedra, 2006). Edita na internet o boletim semanal poesia.net (www.algumapoesia.com.br). E-mail: cmachado@algumapoesia.com.br









UMA POÉTICA? TALVEZ ESTA



Creio que, em sua maioria, os poetas que tentaram definir o que entendem por poesia acabaram -- os mais felizes -- escrevendo um poema. Então, existem muitas poéticas, mas talvez nenhuma seja capaz de abarcar completamente a idéia de poesia. O grande poema talvez seja aquele que, além de exibir uma arquitetura inventiva, consegue perturbar a ordem emocional do leitor.





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3 comments:

Anonymous said...

Carlos, gostei demais dos seus poemas, mas o meu preferido é HERACLITIANO! Muito bom. Um grande abraço, Heitor

Unknown said...

me olvide todo lo que te iba decir
estoy muy mal

Anonymous said...

na segunda lufada voce já nao é voce.
a dualidade eu/outro enfrentada com simples fechar de cilios.
panta rei.
tudo flui.
fogo.