Thursday, October 16, 2008

JUSSARA SALAZAR











Mencionada por:
Adolfo Montejo Navas
Eduardo Jorge

Menciona:

Cida Pedrosa
Diana Araujo Pereira
Guilherme Mansur
Moacir Amâncio
Lucas Carrasco
Marco Polo Guimarães
Aroldo Pereira
Luis Turiba
Fabio Andrade







POEMAS


O Livro das Tempestades
Fólios sonoros rasgados
ao vento girando os dias
assombrando a terra
(pianoforte) — árvore das mil estrelas qual livro aberto
e tudo e todas as páginas
ao vento também
dos poemas despedaçados
esfera marítima rumorejante
esfomeada
ondulando as roupas coloridas
de um varal aéreo
rodopiantes silfos
sufis, encantos ou Mary Poppins
om su umbrella bianca
— serei as duas almas de Hurricane
subterrâneo vício de Ulisses
no velo do abraço a tarde fria
espumando a boca
do cão com asas
do cão sem asas
guiando meu cego corpo
mar do olho pedregoso atirado à fuligem
sopro preso no sopro
na voragem
e de novo o corpo
em grifos
açoites
entrecortando cidades girando
aqui
meu pequeno vendaval
sobre
o tapete chinês




Água celesteou jogos da amarelinha

antes tarde
que nunca
entulho
antes música
e estilhaço
no ardor
aquático
deste ácido entre
a orla
sempre um cáustico
iça
funde o corpo
um tímpano
ao pólen
quem beira o lago
e o astro
rapta
o concêntrico eco
e antes refaz-se
do que nunca
hálito
enquanto ara
um palavreado
e apalpa
a teia
o átimo
ante
o acústico
caleidoscópio





Peixe Austral

humo y uma
filosofia de dedos acaricia o tigre
silhueta
onde o desenho
sobre a porta
aquece a lâmpada
um círio
entre imagens
uns pequenos encantos
na geometria cálida
desmedida fronteira de um verão
olhos cerrados
quase um espasmo
uma flutuação tênue e cadenciosa
enquanto mergulha
e o verde
são pequeninos pontos
ao longe um pedaço
da desgarrada hora
inútil
minuciosa
e a memória da chuva
às vezes feminina
maná que se oculta
para logo em seguida
emergir superfície
em cifras no anfíbio tear
redondilha
augúrio lampadário
spray
ou cenas do teatro nô
escutam se a si
miram mesmo seus sonhos
quase um mapa
nas delicadezas
e uma ave desavisada arrisca um pouso
perfuma de continuidade
o beiral ovalado
e as lises escamas nos azuis
de uma fotografia impensável
sílabas
na fábula
escrita antes luminosidade
ou fosse a casca
áspera
de um peixe.





BIO/BIBLIOGRAFIA



Jussara Salazar é poeta. Nasceu no agreste de Pernambuco. Publicou os livros: Inscritos da casa de Alice (1999) Baobá, poemas de Leticia Volpi, (2002), Natália (2004) e Coraurissonoros (Buenos Aires, 2008). Tem sua poesia publicada em várias revistas: Tsé-Tsé (Argentina), Chain (EUA), Rattapallax (EUA), Suplemento literário de Minas (Brasil), Galerna (EUA/Espanha), Mandorla (México) Babel (Brasil), Sibila (Brasil), Revista Continente, Caderno Mais! (Folha de São Paulo), Poesia Sempre (Biblioteca Nacional), Mar com Soroche (Chile), entre outros. Faz parte das antologias Na virada do século (2002), Passagens- Poesia Contemporânea no Paraná (2002), Invenção Recife (2004) Poetry Wales, (2004, País de Gales), Relicário Latino, Antologia de poesia latina, (2004), Revista Continente, (Imprensa oficial de Pernambuco), Literatura Brasileira Hoje, (Publifolha 2004), Antologia Comentada da Poesia Brasileira do Século XXI (2006) e Geometry of Hope (2008, New York) entre outros. Atualmente edita a revista eletrônica de arte e literatura Lagioconda7:
http://www.lagioconda.art.br/ e a coleção Livros da Casa 7, Poesia das Américas.







POÉTICA



Na cidade mineira de Montes Claros conheci jovem morador de rua, catador de papel, que acha livros no lixo e os lê como preciosidades. Escreve poesias e me contou: “procurei e acabei encontrando o que eu acho que é o significado da poesia – poesia é o belo...” –, definiu.
Eu perguntei se ele andou lendo Kant e disse que sim, lá a maneira dele.
Então poesia passa a ser o belo, o belo do menino de Montes Claros. Nunca antes alguém havia me convencido de algo tão simples.