mencionado por:
Marco Dutra
Angélica Freitas
menciona a:
Carlito Azevedo
Heitor Ferraz
Angélica Freitas
Marco Dutra
Lilian Aquino
Carla Kinzo
Juliana Rojas
Gilson Soares
Maria Eugênia
poemas:
Motor
Vou acabar machucando minha boca você diz
seus lábios estão ressecados pelo frio
seus dentes encontram as pontas de pele
para arrancá-las
Antes que se pense a respeito
os dentes lá estão
Mesmo que se pense a respeito
os dentes lá estão
Há pouco você evitou um outro gesto irrefletido
quando sua mão e seu fôlego
estavam prontos a acender um cigarro
Sem um maço
e sem fogo
no bolso
o gesto não se completa
e ainda que o sabor da fumaça não mais o mova
por um instante a mão e o fôlego
são no seu corpo algo que falta
trata-se de um buraco
a morte difícil de um hábito
Meus lábios também se partem no frio
e também os mastigo
Não precisa esperar comigo você diz
passar frio à toa
o ônibus vem logo
ou demora pouco
posso esperar sozinho
Eu sorrio
não sei dizer nada
não saio daqui
necessito
(como sua mão de um cigarro que se tire do maço
e se prenda entre os dedos)
ver você entrar no ônibus olhar ao redor sentar-se
ver você
ainda
enquanto desaparece
Cebolinha
I. Um relato de Cebolinha
O louco está louco
No meio da lua cheia
(a lesma de papel na lama)
o louco toma pastilhas valda
II. A amante de Cebolinha
Quando ele disse a ela
Você é minha selva
Ela respondeu
Sim
espero suas ordens
III. O jardim de Cebolinha
Não vou legar nenhuma flor
Dezesseis anos
O encontro entre as famílias
foi marcado
na churrascaria
para que os pais verdadeiros
conhecessem
o filho
roubado um dia depois
de nascido
outros pais
idade
nome
como foi chegar até aqui
digo o trânsito
esta cidade hoje em dia
o tempo não avisa mais
como
quando vai mudar
por favor
uma lâmina
apenas
a carne fica sempre presa
entre meus dentes
claro
sua falta
cavado um buraco
não deixou de ser
cavado um buraco
falta
não obrigada
leve daqui
estou satisfeita
leve este talho
foi como
morrer
bom
o almoço
eu me lembro do seu rosto
você me lembra
um dia
depois
do outro
Breve biografia:
Nasci em 1981 em Vila Velha, no Espírito Santo. Moro em São Paulo desde fevereiro de 1999. Estudei cinema na USP. Dirigi dois curtas-metragens e alguns vídeos, escrevi três peças de teatro, sempre em processo colaborativo (o texto sendo escrito ao longo dos ensaios). Tive dois poemas publicados na Inimigo Rumor 18. Fiz algumas letras para melodias dos outros (e descobri nisso uma alegria grande).
Poética:
“Visto. / Ouvido. // Anotado.” (Jacques Roubaud)
Coisa que se pode pegar com as mãos.
“(…) como a bola azul em suas mãos é a bola azul
em suas mãos e o verão é outra bola azul em suas mãos.” (Carlito Azevedo)
4 comments:
O Cebolinha é mesmo tão melancólico. :)
Uma vértebra verte minha melancolia em memórias multicapazes de fazer pedra a trovejar onde há íons. Diletante sutileza, como deveria ser! linguagem se diz: ponto e algo aleatoria mais.
planos infalíveis
Cebolinha sempre foi um coiote.
É...lindo ler-te novamente!! ai o Cebolinha!! vc acerta muitas vezes...adoro! saudades querido!
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