Mencionado por:
Alice Sant'anna
Menciona:
Alice Sant’Anna
Ismar Tirelli NetoLuiz Coelho
Lucas Viriato
Carlos Andreas
Gabriel Tupinambá
POEMAS
Receita para um dálmata
(ou Soneto branco com bolinhas pretas)
Pegue um papel, ou uma parede, ou algo
que seja quase branco e bem vazio.
Amasse-o até que tome forma
de um animal: focinho, corpo, patas.
Em cada pata ponha muitas unhas
e em sua boca muitos dentes. (Caso
queira, pinte o focinho de qualquer
cor que pareça rosa). Atrás, na bunda,
ponha um fiapo nervoso: será seu
rabo. Pronto. Ou quase: deixe-o lá
fora e espere chover nanquim. Agora
dê grama ao bicho. Se ele rejeitar,
é dálmata. Se comer (e mugir),
é uma vaca que tens. Tente outra vez.
(A Partir de amanhã eu juro que a vida vai ser agora, 7Letras, 2008)
o meio de todas as coisas
entre o fim do começo e o começo
do fim toda coisa tem uma massa
inerte feito ponte pela qual
passamos distraídos – ou não:
os astecas sentiam chegar o exato
momento do meio da vida – o meio
do meio da vida, o momento em que
o que já vivemos é exatamente
igual ao que ainda não vivemos
– e nesse momento preciso o mais
comum dos astecas sentia uma súbita
e inexplicável vontade de tomar um trem
mas como ainda não o tinham inventado
ele acabava por entristecer-se
(daí a tristeza, essa vontade de algo
que ainda não inventaram)
(A Partir de amanhã eu juro que a vida vai ser agora, 7Letras, 2008)
elephant gun
para Isabel Wilker
Te encontro na Moldânia ou na Manóvia
às sete da noite de 2016 na praça
principal de uma cidade excusa
em que as ciganas foram proibidas
de tomar café e os negros pintam a palma
da mão de amarelo e as pousam sobre
a fronte cansada da longa viagem de trem.
(chegaremos a pé cada um de um lado
e você se sentará sobre um banco envolta
em serpentinas e um manto xadrez
e sobre o teu colo eu tombarei como um boi.)
(A Partir de amanhã eu juro que a vida vai ser agora, 7Letras, 2008)
BIO/BIBLIOGRAFIA:
Gregorio Duvivier é ator, poeta, nasceu no dia 11 de Abril de 1986 e mora na Gávea. É formado em Letras pela PUC-Rio, embora nunca tenha ido buscar o diploma. Seu primeiro livro, “A partir de amanhã eu juro que a vida vai ser agora” foi publicado pela 7Letras. Era para ser um livro póstumo, mas para isso era necessário que ele morresse. Como Gregório tem pavor de gilette e de grandes alturas, seu próximo livro só será póstumo se deus quiser e contribuir com um acidente de carro ou uma pneumonia.
POÉTICA
Sobre construir janelas
(para Paulo Henriques Britto)
Erguer antes de tudo uma parede –
a parede no caso é importantíssima,
pois as janelas só existem sobre
paredes, as janelas sobre nada
são também nada e não são sequer vistas.
Em seguida quebrá-la até fazer
nela um grande buraco, não maior
que a parede, pois precisamos vê-la,
nem menor que seus braços – as janelas
sobre as quais não se pode debruçar
não são janelas, são buracos. Pronto.
Ou quase: agora basta construir
um mundo do outro lado da parede,
para que possas vê-lo, emoldurado.
Ismar Tirelli NetoLuiz Coelho
Lucas Viriato
Carlos Andreas
Gabriel Tupinambá
POEMAS
Receita para um dálmata
(ou Soneto branco com bolinhas pretas)
Pegue um papel, ou uma parede, ou algo
que seja quase branco e bem vazio.
Amasse-o até que tome forma
de um animal: focinho, corpo, patas.
Em cada pata ponha muitas unhas
e em sua boca muitos dentes. (Caso
queira, pinte o focinho de qualquer
cor que pareça rosa). Atrás, na bunda,
ponha um fiapo nervoso: será seu
rabo. Pronto. Ou quase: deixe-o lá
fora e espere chover nanquim. Agora
dê grama ao bicho. Se ele rejeitar,
é dálmata. Se comer (e mugir),
é uma vaca que tens. Tente outra vez.
(A Partir de amanhã eu juro que a vida vai ser agora, 7Letras, 2008)
o meio de todas as coisas
entre o fim do começo e o começo
do fim toda coisa tem uma massa
inerte feito ponte pela qual
passamos distraídos – ou não:
os astecas sentiam chegar o exato
momento do meio da vida – o meio
do meio da vida, o momento em que
o que já vivemos é exatamente
igual ao que ainda não vivemos
– e nesse momento preciso o mais
comum dos astecas sentia uma súbita
e inexplicável vontade de tomar um trem
mas como ainda não o tinham inventado
ele acabava por entristecer-se
(daí a tristeza, essa vontade de algo
que ainda não inventaram)
(A Partir de amanhã eu juro que a vida vai ser agora, 7Letras, 2008)
elephant gun
para Isabel Wilker
Te encontro na Moldânia ou na Manóvia
às sete da noite de 2016 na praça
principal de uma cidade excusa
em que as ciganas foram proibidas
de tomar café e os negros pintam a palma
da mão de amarelo e as pousam sobre
a fronte cansada da longa viagem de trem.
(chegaremos a pé cada um de um lado
e você se sentará sobre um banco envolta
em serpentinas e um manto xadrez
e sobre o teu colo eu tombarei como um boi.)
(A Partir de amanhã eu juro que a vida vai ser agora, 7Letras, 2008)
BIO/BIBLIOGRAFIA:
Gregorio Duvivier é ator, poeta, nasceu no dia 11 de Abril de 1986 e mora na Gávea. É formado em Letras pela PUC-Rio, embora nunca tenha ido buscar o diploma. Seu primeiro livro, “A partir de amanhã eu juro que a vida vai ser agora” foi publicado pela 7Letras. Era para ser um livro póstumo, mas para isso era necessário que ele morresse. Como Gregório tem pavor de gilette e de grandes alturas, seu próximo livro só será póstumo se deus quiser e contribuir com um acidente de carro ou uma pneumonia.
POÉTICA
Sobre construir janelas
(para Paulo Henriques Britto)
Erguer antes de tudo uma parede –
a parede no caso é importantíssima,
pois as janelas só existem sobre
paredes, as janelas sobre nada
são também nada e não são sequer vistas.
Em seguida quebrá-la até fazer
nela um grande buraco, não maior
que a parede, pois precisamos vê-la,
nem menor que seus braços – as janelas
sobre as quais não se pode debruçar
não são janelas, são buracos. Pronto.
Ou quase: agora basta construir
um mundo do outro lado da parede,
para que possas vê-lo, emoldurado.
13 comments:
muito bom te ver por aqui.
parabéns!!
um abraço.
up!
Esse cara é um verdadeiro poeta!
Oi, Gregório. Fico bastante feliz em conhecer sua poesia.
bjs
olá
um amigo indicou esse blog e entrei e logo de cara li esse seu e adorei...
tão divertido, moderno, inteligente ..
parabéns
já há nela
a liberdade
sem parede
gostei sobremaneira do poema no meio de todas as coisas. para mim,
ele toca num ponto fulcral:
a agonia provocada pela sofreguidão
por algo que não se conhece ou se ouviu falar, as imensuráveis pradarias que se descortina a nossa
frente.
jessé barbosa de oliveira
Muito, muito, muito legal!!!!
adorei!!!
abraços desde Urbanotopia (escolha afectiva-Perú)
Muito bom, solto. Ainda que com influenza de Cortázar.
o meio de todas as coisas
à gregório duvivier
entre o começo e o fim do começo
existe um momento em que tudo esconde
ao passo em que tudo inteiro revela,
flaubert numa ponte olhando pro fim talvez
futuro da sua vida, entendeu o que
não seria jamais, sentiu a totalidade
dos seus dias, passados e futuros;
do seu ser inteiro, exíguo como
as horas - diz sartre que foi desta forma
que madame bovary urgiu seu primeiro
gozo, seu prazer de representar,
não as óbvias vontades do poeta,
mas a inteireza dos seus sonhos; quiçá
( daí a totalização, essa vontade de tudo
que só nós podemos querer, e não há)
FODA!
"um mundo do outro lado da parede,
para que possas vê-lo, emoldurado."
simples e lindo como uma brisa tocando o rosto, dá até pra sentir..
Estou organizando uma folhinha poética para 2012. Quem quiser participar, envie o seu poema para manedcafe@gmail.com.
Maisd etalhes em http://folhinhapoetica.blogspot.com/
Passe palavra. Obrigado.
Totalmente apaixonada por seus filmes,suas peças, seus poemas e por VC CLARO!!!!!! vc é aquela vontade que me dá de tomar Fanta Uva...
Post a Comment