Thursday, March 01, 2007

REYNALDO DAMAZIO


(foto: Regina Kashihara)


mencionado por:Tarso de Melo

menciona a:
Priscila Figueiredo
Astier Basílio
Linaldo Guedes
Delmo Montenegro
Fernando Paixão
Carlos Felipe Moisés




[Poemas de Reynaldo Damazio]

Sem título

Olhos-cogumelo explodem
Na tarde opaca, sem trânsito,
Absorvem conceitos

E inventam o olhar carícia

Vazio de palavras

Onde só o relevo da pele

* * *

Distúrbio periférico
Tonto, não porque o planeta
se mova em órbita improvável,
a mente plane liberta da
física do corpo, os objetos
saltem frenéticos e inaugurem
nova e paradoxal inércia;
tonto de náusea labiríntica, esquiva
de argumentos, aflita de
incompletudes, movimento interno
de suspensão do tempo,
este presente instável, parêntese
ziguezagueante, ávido de concretude,
embora órfão de referências, à guisa
de ancoradouros; tontura
antimelancólica por excelência,
projeção de lapsos mentais,
zunindo, carrosséis, caracóis,
livros, sinais, lombadas, vozes
sem palavras, música sem instrumentos,
texturas e cheiros, cambaleando na
calma aparente da noite, ressonar
do pequeno ao lado: o quarto
se move, ou sou eu que me movo,
extático?

* * *



Desmesurado humano

A fúria que amiúde
Me fascina
Não é a do intelecto
Fescenina
Mas a do corpo
Anti-euclidiana
Feminina

Aquela que arrebata
Salto cego
E faz da presa
Amuleto
Gesta do gozo obsceno
Extrai do tato
Seu sustento

Vivo fruto sem polpa
Flor transversa
Tesa trama de amianto
Feita de pele
Matéria lassa
Que contra si revele
O espanto

A fúria do corpo
Não é mental
Antes um soco
Aos poucos instalado
No incerto do gesto
Oca caverna
Desabrigo do mito

Enfurecido o vasto
Mundo não é nada
Senão a pálida
E pífia ilustração de
Um ideograma
Verso de pé quebrado
Osso sem tutano

O nó da fúria
Não se desata
Com palavras ou
Teorias da falibilidade
Ele nos ata ao
Mais íntimo
O inumano


Bio/biblioReynaldo Damazio (São Paulo, 1963) trabalha como editor e escreve resenhas e artigos sobre literatura, entre outras atividades. Autor dos livros O que é criança (Brasiliense), Poesia – linguagem (Fundação Memorial da América Latina) e Nu entre nuvens (Ciência do Acidente). Participou das antologias Na virada do século (Landy), de Frederico Barbosa e Cláudio Daniel; Paixão por São Paulo (Terceiro Nome), de Luiz Roberto Guedes; e Antologia comentada da poesia brasileira do século 21 (PubliFolha), de Manuel da Costa Pinto. Faz parte do conselho editorial de “K – Jornal de Crítica” e dirige o site Weblivros. Apaixonado pelo Corinthians, devoto de São Francisco de Assis, pai do Nícolas e do Aléxis.

Poética
A poesia acontece quando alguém desconfia da linguagem e tenta reinventá-la, achando que, com isto, pode mudar a própria realidade, ou a nossa compreensão dela. Às vezes dá certo.


9 comments:

Anonymous said...

amiúde criar.
trindade filosofica.
Traçar, inventar, criar
evohé

Anonymous said...

O livro " Nu entre Nuvens " do Damázio é um dos mais rigorosos e sofisticados da nova geração .

Quem Mandou? said...

Muito belos poemas!

Quem Mandou? said...

Muito belos poemas!
Parabéns,

Sérgio Alcides.

Louise Tommasi said...

Aqui tudo é muito lindo. Quero participar deste blog. Vai me ver!

www.rasgosdemim.blig.ig.com.br

Obrigada

Louise Tommasi

Giovani Iemini said...

Perfeito. Impressionante.
O cara consegue rimar transversalmente e com ritmo incompletudes e concretude numa msg completa.
Depois jorra um vocabulário extenso, simples porém completo e deixa a história repleta de imagens.

Vi que era um crítico. Adoro os críticos. Somente aqueles que tem coragem de falar do erro alheio é seguro o suficiente nos próprios escrivinhados.

Conheça o bar do escritor, uma comunidade de pseudo-críticos e escrevinhadores despudorados e lindinhos: www.bardoescritor.xpg.com.br
[]s

Anonymous said...

Reynaldo: Un placer leerte. Al fin! Cuando estuvimos en SP, pizza de Urka mediante, te conté de este proyecto, y aquí estás!
Un gran abrazo. J

Unknown said...

Querido Juan, sí, un encuentro virtual pero verdadero. Los "ramos generales" tienen buenas raíces... Gracias y un fuerte abrazo cronopiano, R

Unknown said...

Caro Reynaldo
Que surpresa a beleza inusitada de sua poesia. Fluidez de carícias na alma, nos olhos do leitor. E, paradoxalmente, concretude de imagens singulares. Que ficam.
Sônia Barros