Friday, March 16, 2007

CAMILA DO VALLE



mencionada por:Izabela Leal
menciona a:Armando Freitas Filho
Guilherme Zarvos
Izabela Leal
Rod Britto
Ana Rüsche
(e já que ando lendo muitos argentinos, deixarei que os vizinhos invadam _ por favor, um pouco mais _ este território: Cecilia Pavón e Washington Cucurto)




3 poemas:





Missão diplomática na China (pianíssimo)





Onde pousar a palavra?




Como se a caneta fosse a asa de uma xícara




de porcelana rara que eu estaria a segurar




com todo o cuidado




no ar.




Do ar ao pires, podemos,




ou não,




espatifar a dinastia Ming.




Delicadamente.










Memorial de uma oração por um amor com flores


Os olhos dos outros regam a nossa existência.
Os olhos do jardineiro desconfiam:
— O marido é ou não é o homem que sabe fazer a mulher feliz?
Perguntam-me esses olhos com um início de indignação:
— Então, por quê? Por que trabalho para fazer bonito este jardim?
Respondo, entre tímida, estiolada e resoluta,
passeando com os olhos no rosto dele,
que um belo jardim ajuda-me a ter esperanças
de que o marido aprenda a amar com flores.
Entendemo-nos, pois:
gente com gente, trabalho com trabalho.
Choro minhas pitangas por cá
[quando o trabalho não dá certo.
Certamente ele chora as dele em algum lugar
[longe dos meus olhos.
Não fosse assim,
não teríamos esse diálogo de olhos tão claros
[um ao pé do outro.
E cheios de pétalas de rosas.
O jardineiro espalha o adubo sobre a terra
(um tom de marrom a mais que o adubo).
Parece um balé de cores próximas.
Um balé de movimentos leves
executado delicada e magicamente pelo jardineiro
com o aparente desauxílio da força muscular.
Meus olhos marejam sobre terra firme e adubada.
Os olhos dos outros rezam a nossa existência.




















Carta aos novíssimos


Hay que decir aos poetas muito, muito jovens que
Enforcar-se não é um exercício de equilíbrio entre a obra e a vida.
Há muito mais a se fazer com uma corda:
Girá-la.
Armá-la num laço.
Trazer para junto de seu corpo de poeta
o corpo do inimigo.
Seduzi-lo ou matá-lo.
Ou ser morto por ele.
Tudo com a mesma corda.
Mas a herança que se deixa nunca é a morte,
Mas a forma como se vive.
Que é a mesma de como se morre.
E ainda que o efeito de morte possa ser o mesmo para todos,
A vida resta de herança.
Portanto: hay que convencer muitas das novíssimas gerações de aqui e de allá que
Enforcar-se no es um exercício de equilíbrio entre la vida y la obra.






bio/biblio

Camila do Valle nasceu em Leopoldina, Minas Gerais. Publicou o livro de poemas Mecânica da distração: os aprisântempos pela Editora Casa 8 em 2005. Em 2006, este livro foi traduzido e publicado na Argentina pela Siesta Editorial. Seu livro bilíngüe de contos Roubei e engoli um colar de pérolas chinesas/Robé y me tragué un collar de perlas chinas foi publicado pela Editorial Eloisa Cartonera com tradução da escritora argentina Cecilia Pavón. Trouxe a Editorial Cartonera, pela primeira vez, oficialmente, ao Brasil, em 2005. Esta operação foi feita em conjunto com o poeta Guilherme Zarvos. Em 2006, a Cartonera foi convidada a participar da Bienal de Arte de São Paulo. Também no ano que passou, integrou a antologia de poetas mineiros contemporâneos Livro de 7 faces (Nankin Editorial / Funalfa) e foi traduzida ao alemão por Timo Berger para o Latin log. Está terminando de preparar seu próximo livro de poemas: Modos de abrir o mundo com as mãos. E organiza, para muito breve, um Festival de Literatura Latino-Americana em Niterói. É doutora em Estudos Literários com o ensaio Literatura de semicolônia.





Poética:

COMIDA
“Trouxe papéis com versos, é tudo quanto tenho.”(Camões, psicografado por Saramago)
Às vezes, muitas vezes, de dentro da sala da minha felicidade, onde fico me distraindo,
me divertindo, pulando meu carnaval íntimo,
olho pelo buraco da fechadura e dou de cara com o olho da tristeza a me espreitar.
Levo um susto: "Lá pra trás, ó homem!"
Não sei nem o porquê do susto se o olho sempre esteve lá.
Fico a vigiar se ele vai embora,
No entanto, ele, de quando em vez, me toma de assalto.
Está lá. Dá um medo...
Pode ser a morte ou um fim qualquer.
Enquanto isto não chega,
Sigo a marcha das tentativas de diversão o mais coletiva possível.
E, quando não é possível, passo aos projetos de vida como antídotos contra a tristeza:
melhorar o mundo, transformá-lo, essas coisas: projetos de vida, não de morte...
Ainda que não sejam, necessariamente, divertidos, eles o serão, quiçá um dia, na memória.
Tenho alguns. Outros desenvolvo.
Poesia?... É, infelizmente, um projeto muito pouco sólido, pouco palpável.
Pouco realizável, quero dizer. Muito pouco.
Poesia é maniçoba. Uma comida que não sei explicar o que é, mas que tem um nome bonito.
E vivo disso: de uma comida pouco encontrável,
que eu não sei explicar ao certo o que é,
mas que tem, seguramente, um nome bonito.
Angústia de quem vive? Alguém sabe ao certo do que vive?

11 comments:

alejandro mendez said...

Camila:

Me gustaron muchísimo tus poemas, tanto como aquella vez que te escuché en Buenos Aires.

Te mando un saludo desde Argentina

Alejandro Mendez
www.laseleccionesafectivas.blogspot.com

Anonymous said...

Camila

estreitar fronteiras

principiasse encontros sonoros

quedasse a olhares curiosos.

alejandro mendez said...

No, Camila. Yo te recuerdo de una lectura, el año pasado, en una biblioteca en Avenida Córdoba al 1500; estaban además Joca Terron, Angelica Freitas, Vivien Kogut y voce.
Además, presentba Cristian Di Napoli, Marina Mariasch, Cecilia Pavón y Santiago Llach (mon dieu ! qué poetas)

Saludos

Alejandro

PD: De qué se trata y cuándo es el festival de poesía que estás organizando en Niteroi

Thiago Ponce de Moraes said...

Parabéns, Camila, pelos belos poemas.
O encontro há de vir dia desses.

Boa viagem nestas terras de língua próxima e não.


Um beijo;


Ponce.

Anonymous said...

Poemas de grande razões e emoções.Foi u prazer a leitura que aqui eu me fiz devorador

Rodrigo Castillo said...

Hola Camila, cómo estás? tus poemas siempre me han gustado y ahora trabajo una traducción de tus textos. fuerte abrazo desde México.
laseleccionesafectivasmexico.blog
spot.com

Alexandre Damasceno said...

Belíssimas! Sua poesia é maravilhosa, parabéns.

Guto Melo said...

Gostei da caneta.

Clara Vasconcellos said...

"Carta aos novíssimos" é belíssimo!

redonda said...

Achei o seu blog interessante. Espero que não se importe que o "link" para ser mais fácil regressar outro dia.

Anonymous said...

camila, recientemente lei tu libro mecanica de la distracción e fique louco con tus poemas, pronto viajaré largo tiempo por brasil y desearia contactarme con colegas poetas

beijos desde bs as
lucas