MARCELO SANDMANN
mencionado por:
Joca Wolff
menciona a:
(bons poetas amigos que ainda não se encontram no índice do blog)
Luciana Martins
Jussara Salazar
Adalberto Müller
Mário Domingues
Celso Borges
poemas
PRESTIDIGITAÇÕES
1.
Nada nesta mão,
nada nesta outra.
Agora um gesto rápido
(movimento insidioso do braço).
E extraio, entre os dedos,
do espaço abstrato,
um pássaro, que se desata,
ascende e se desbarata:
magnífica elisão
de todo este cenário!
2.
EI-LO: UM PÁSSARO EM CHAMAS
3.
Partamos do pressuposto
de que as plumas que caem
sobre o tablado
(lâminas luminosas
de silêncio concentrado)
são os fragmentos impossíveis
de uma metáfora irrecusável.
Partamos do pressuposto
de que um novo gesto lépido e enigmático
(costura musical
invisível no espaço)
logrará remendá-la,
propondo de novo o pássaro,
posto que agora empalhado.
Partamos do pressuposto.
PARA QUE LEDA ME LEIA
(voltas sobre mote de leminski)
para que leda me leia
escrevo em papel de seda
à mão, mas mão que tateia
muito lenta, quase queda
a mão de alguém que receia
romper a trama da teia
queimar-se na labareda
para que leia me leda
escrevo com grãos de areia
que ampulheta, sim, me ceda
sobre manchas, a mancheias
grãos bem claros, como greda
por que a gemas só suceda
de restarem na bateia
para que leda me leia
escrevo a vera vereda
que a laguna, em lua cheia
logo leve, lá onde leda
ao doce canto que enleia
(fero canto de sereia?)
seu sorriso me conceda
3 POSTAIS
1.
no viaduto, em
pleno lusco-fluxo
atrelados à própria miséria
eles voltam para casa
centauros do cu-do-mundo
carregados de refugo
eles mesmos: refugo?
2.
que saltimbanco é esse
que salta ao
sinal vermelho?
nas mãos, três
bolas de meia
pés descalços sobre o asfalto
e uma intangível labareda
no bafo na lata
de cola
3.
ali
naquele trecho da calçada
agora à noite
alguns se deitam, cobrem-se
com sacos de estopa
e dissimulam
piras
funerárias
bio/biblio
Nasci em Curitiba, em 15 de novembro de 1963, onde moro e não pretendo sair, a menos que receba uma intimação para ir habitar os Campos Elíseos. Em 1998, lancei o CD Cantos da palavra, em parceria com Benito Rodriguez, produção musical de Paulo Brandão e interpretações de Silvia Contursi. Meu primeiro livro de poemas, Lírico Renitente, veio a público em 2000, sob a chancela da Editora 7Letras, do Rio de Janeiro. Em 2006, pela Editora Medusa, de Curitiba, saiu Criptógrafo amador, de onde extraí os poemas acima transcritos.
mencionado por:
Joca Wolff
menciona a:
(bons poetas amigos que ainda não se encontram no índice do blog)
Luciana Martins
Jussara Salazar
Adalberto Müller
Mário Domingues
Celso Borges
poemas
PRESTIDIGITAÇÕES
1.
Nada nesta mão,
nada nesta outra.
Agora um gesto rápido
(movimento insidioso do braço).
E extraio, entre os dedos,
do espaço abstrato,
um pássaro, que se desata,
ascende e se desbarata:
magnífica elisão
de todo este cenário!
2.
EI-LO: UM PÁSSARO EM CHAMAS
3.
Partamos do pressuposto
de que as plumas que caem
sobre o tablado
(lâminas luminosas
de silêncio concentrado)
são os fragmentos impossíveis
de uma metáfora irrecusável.
Partamos do pressuposto
de que um novo gesto lépido e enigmático
(costura musical
invisível no espaço)
logrará remendá-la,
propondo de novo o pássaro,
posto que agora empalhado.
Partamos do pressuposto.
PARA QUE LEDA ME LEIA
(voltas sobre mote de leminski)
para que leda me leia
escrevo em papel de seda
à mão, mas mão que tateia
muito lenta, quase queda
a mão de alguém que receia
romper a trama da teia
queimar-se na labareda
para que leia me leda
escrevo com grãos de areia
que ampulheta, sim, me ceda
sobre manchas, a mancheias
grãos bem claros, como greda
por que a gemas só suceda
de restarem na bateia
para que leda me leia
escrevo a vera vereda
que a laguna, em lua cheia
logo leve, lá onde leda
ao doce canto que enleia
(fero canto de sereia?)
seu sorriso me conceda
3 POSTAIS
1.
no viaduto, em
pleno lusco-fluxo
atrelados à própria miséria
eles voltam para casa
centauros do cu-do-mundo
carregados de refugo
eles mesmos: refugo?
2.
que saltimbanco é esse
que salta ao
sinal vermelho?
nas mãos, três
bolas de meia
pés descalços sobre o asfalto
e uma intangível labareda
no bafo na lata
de cola
3.
ali
naquele trecho da calçada
agora à noite
alguns se deitam, cobrem-se
com sacos de estopa
e dissimulam
piras
funerárias
bio/biblio
Nasci em Curitiba, em 15 de novembro de 1963, onde moro e não pretendo sair, a menos que receba uma intimação para ir habitar os Campos Elíseos. Em 1998, lancei o CD Cantos da palavra, em parceria com Benito Rodriguez, produção musical de Paulo Brandão e interpretações de Silvia Contursi. Meu primeiro livro de poemas, Lírico Renitente, veio a público em 2000, sob a chancela da Editora 7Letras, do Rio de Janeiro. Em 2006, pela Editora Medusa, de Curitiba, saiu Criptógrafo amador, de onde extraí os poemas acima transcritos.
Poética (à guisa de)
POÉTICA NEGATIVA (do livro Lírico renitente)
Não quero a palavra enrijecida:
pedra circunspecta
impermeável à vida.
Não quero a palavra mutilada:
autópsia incisiva,
vísceras reviradas.
Não quero a palavra intransponível:
ponte que pende
no vão do invisível.
Não quero a palavra imaculada:
ária rarefeita
avessa a ser cantada.
2 comments:
Joca,
nunca comentei nos escolhas afetivas! Seus poemas, e não em demérito de outros poemas, deram a mim um impulso para fazê-lo.
Suas aliterações e assonâncias em "para que leda me leia" criam uma interessante pauta sonora, isso é raro! Parabéns!
"Ei-lo: um pássaro em chamas" é um autêntico exemplar do poema poundiano= melopéia+logopéia+fanopéia!
Desculpa, Marcelo, a troca dos nomes, pois vi o nome Joca embaixo de sua foto!
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