BONUS TRACK: DEREITO DE RESPOSTA
Os editores da "Modo de Usar & Co." devem ter publicado já, no Caderno Idéias do JB, una versao curta e editada do texto completo da resposta. A íntegra se reproduz no blog da revista (http://revistamododeusar.blogspot.com) e, como complemento à correspondência do domingo passado, também aquí. O meu respeito pela seriedade do texto que segue e pelas opinioes que foram expressadas aqui no "Escolhas..." me impede seguir postando comments anônimos. Um abraço e bom domingo. a.-
Seleção e síntese: resposta a uma resenha
Quem se dispõe a iniciar ou contribuir com um debate em que as opiniões diversas geram entrincheiramentos inevitáveis prepara-se para oposições e discordâncias, e seria pueril surpreender-se com elas. A existência de opiniões contrárias não ofende quem realmente acredita na necessidade deste debate, pois são até mesmo essenciais à sua criação, e se as escolhas de um poeta não tivessem implicações ético-estéticas sérias, estas discussões muitas vezes não passariam de pequenas batalhas entre egos. No entanto, a postura de muitos poetas nestes debates acaba por desnudar o caráter de hegemonia que segue guiando a discussão do que chamamos muito candidamente de cânone e tradição. O texto de Felipe Fortuna, publicado no Jornal do Brasil a 19 de janeiro e apresentado pelo crítico como “resenha” do número de estréia da revista Modo de Usar & Co., infelizmente ultrapassa qualquer limite aceitável de leviandade. Poderíamos assumir a velha estratégia do silêncio e de “guerra nos bastidores”, já enraizada entre os escritores brasileiros, mas decidimos tomar isto como oportunidade para aclarar e avançar no debate que Felipe Fortuna tentou obscurecer.
O que se pede de um crítico é que primeiramente compreenda o projeto e a proposta que se dispõe a analisar, e então possa debatê-los de acordo com os seus próprios parâmetros estéticos. Felipe Fortuna falha claramente nesta tentativa. Sua resenha do número de estréia de uma revista que traz textos de 22 autores brasileiros e 22 estrangeiros, muitos traduzidos pela primeira vez no Brasil, sem mencionarmos os ensaios, concentra-se em sua maior parte na análise do texto de imprensa enviado por correio eletrônico. Após assumir o papel de gramático iracundo e desperdiçar tanto espaço discutindo este “press release” - desonestamente fazendo-o passar por editorial da revista e ignorando o trabalho de mais de 40 poetas incluídos na publicação que, em sua opinião, não merecem figurar em sua resenha, o autor passa a discorrer sobre seu diagnóstico do que vem devastando a poesia e crítica brasileiras: a “endogamia” que, em sua opinião, rege a crítica contemporânea, demonstrando que a resenha sobre a revista nada mais era que um pretexto para seu trabalho de catequese sobre a situação genérica do cenário poético nacional, para a qual ele oferece a bibliografia que remediaria tal quadro clínico. Fortuna aproveita ainda a ocasião para investir contra o blog Escolhas Afectivas, um dos poucos sites de divulgação de poesia brasileira com regras claras e honestas. O resenhista diz ter buscado simplesmente “compreender” os propósitos dos editores, e que suas críticas foram feitas em um contexto bastante específico. Ora, “contexto” foi a última coisa que Felipe Fortuna respeitou em sua resenha. O que Felipe Fortuna procura escamotear, analisando um press release com tanto afinco? E seria esta revista realmente um exemplo de endogamia?
A revista Modo de Usar & Co. não possui um editorial em seu número de estréia por decisão de seus editores, que seguiram sua crença na responsabilidade de evitar o risco da criação de uma narrativa crítico-ideológica com o uso dos poemas de autores convidados, a partir de sua ordenação nas páginas da revista. Assim, optou-se pela estratégia, neste número, da adoção da ordem alfabética de acordo com o título dos poemas, na tentativa de quebrar com uma noção de hierarquia entre poetas, e também para privilegiar os próprios poemas, que deveriam responder, cada um a seu modo, às necessidades críticas do momento atual. Isto é coerente com o debate sobre “sincronia/diacronia” defendido pela revista. Guiados pela mesma responsabilidade, excluímos qualquer nota biográfica, espalhando pelas páginas da revista textos de poetas de diversas idades e línguas, sem compartimentos de caráter nacional ou escola literária. Poetas da primeira vanguarda, ligados a DADA, como Hans Arp e Pierre Albert-Birot (inéditos no Brasil e vertidos diretamente do alemão e francês, respectivamente), são colocados entre poetas brasileiros surgidos nos últimos anos, como Juliana Krapp e Walter Gam, autores contemporâneos como os franceses Jean-François Bory (importante poeta sonoro e visual) e Joseé Lapeyrère, também traduzida pela primeira vez no Brasil, textos dos norte-americanos John Cage e Jack Spicer, austríacos do Grupo de Viena (poetas experimentais da década de 50, pouquíssimo conhecidos no país que o resenhista parece querer salvar de nossa “irresponsabilidade”) como H.C. Artmann e Gerhard Rühm, além de autores de língua hispânica, como os espanhóis Benjamín Prado e Sandra Santana, ou os argentinos Cristian De Nápoli e Martin Gambarotta. Todos traduzidos pelos editores da revista diretamente dos originais (francês, alemão, inglês e espanhol), trabalho que o resenhista tenta fazer parecer apenas outro sintoma de sua teoria da “endogamia”, da qual seríamos exemplo. No entanto, nenhuma destas traduções é mencionada na resenha tendenciosa e leviana de Felipe Fortuna, que provavelmente não saberia como discutir tais poetas. Das traduções da revista, ele limita-se a mencionar uma única, feita por Rodrigo Ponts, de uma letra de John Lennon para uma canção assinada por ele e Paul McCartney, mesmo assim sem explicitar se discorda das escolhas de Ponts ou da decisão de uma revista de poesia ao publicar letras de música, tema polêmico que, obviamente, serve melhor à tentativa do resenhista de anulação completa do trabalho empreendido pelos editores da revista com responsabilidade, em debate constante e colaboração. A recusa de Felipe Fortuna é, no entanto, completa e totalitária. Nada entre as 204 páginas da revista com dezenas de autores de 5 línguas tem qualquer valor para o diplomata-crítico, e resulta em um produto de “qualidade duvidosa” e atos de camaradagem. É a primeira vez que presencio uma revista de poesia ser condenada por possuir uma linha editorial e fazer escolhas, essência do trabalho crítico: assumir uma posição, ser capaz da difícil conjugação de seleção e síntese. Certamente não se espera dos editores da revista que passem a editá-la com aqueles que possuem parâmetros estéticos de que discordam frontalmente, ou com poetas como Felipe Fortuna, que consideramos medíocre.
O resenhista tenta sugerir que a escolha do conteúdo da revista seguiu apenas questões de amizade e politicagem, prática com a qual ele talvez esteja acostumado, já que trabalha para o governo. Além disso, a citação entre poetas é coisa antiga mas, para nos limitarmos ao material em discussão, bastaria que Felipe Fortuna conhecesse melhor os poetas que publicamos para saber que isto foi prática comum entre os dadaístas, sendo uma das características e técnicas de contextualização (especialmente em Pierre Albert-Birot) que mais tarde influenciariam poetas da chamada New York School, como Frank O´Hara e James Schuyler, sendo que outras de suas práticas de intervenção e reação contra noçoes puristas e equivocadas de “universalidade” teriam efeitos sobre o trabalho “grupal” do, ora veja, Grupo de Viena. No entanto, o crítico deveria buscar entender o “uso” (Modo de Usar & Co., lembra-se?) que todos estes poetas fizeram destas estratégias em seus contextos específicos de intervenção poética, seja na Europa de 1916 ou década de 50, nesta mesma década nos Estados Unidos ou no momento atual da poesia brasileira. Mesmo assim, é ridículo criticar um grupo de poetas que se respeitam mutuamente e compartilham parâmetros críticos por decidirem editar uma revista em conjunto. A crítica deveria recair sobre estes parâmetros, já que o convite aos poetas publicados foi feito a partir de nossa fé em seus trabalhos e na necessidade de suas propostas estéticas para o debate poético contemporâneo. É completamente lícito que Felipe Fortuna discorde dos nossos parâmetros e critérios, mas é necessário que ele demonstre poder compreendê-los. Os próprios editores da revista criticam abertamente os parâmetros poéticos de outros poetas e “grupos”, por um questionamento das implicações ético-estéticas destes no contexto atual. Não somos adeptos da “estratégia do silêncio”, agindo como se fôssemos os únicos poetas ativos no Brasil de hoje.
Mas a resenha de Felipe Fortuna é o atestado de que ele não compreendeu as implicações de uma revista sem editorial que o guiasse, ou que ele deliberadamente agiu de má-fé, tentando fazer estes parâmetros passarem por inexistentes. Sua resenha dá sinais de sua incapacidade para o trabalho crítico, tanto por não estar aparelhado para discutir uma possível poética contemporânea, como por agir de forma leviana e tendenciosa ao discutir o trabalho de poetas que claramente seguem parâmetros estéticos diferentes dos seus. Como exemplo, basta que os interessados leiam os poemas “Sobre portas”, “Interior Via Satélite” e “Deustchkurs” de Carlito Azevedo, Marcos Siscar e Aníbal Cristobo publicados na revista, e decidam por si mesmos se estão ali por politicagem ou por serem poemas de uma qualidade que Felipe Fortuna jamais consquistou, segundo nossos critérios, é claro. Também desafiamos o resenhista a discorrer sobre esta suposta “fórmula” que ele acredita flagrar sob o trabalho editorial de uma revista como a Inimigo Rumor, crendo que nós a “repetimos” neste primeiro número da Modo de Usar & Co. Poderíamos ser acusados de endogamia se tivéssemos tentado apresentar nossa seleção de autores como canônica, ou como único grupo no país, da maneira como editores de certas revistas e curadores de festivais organizam seleções dentro de seus grupos e as apresentam como “A Poesia Contemporânea”, no Brasil e América Latina. Não foi o caso desta revista, outro motivo pelo qual evitamos um editorial. No entanto, o sarcasmo arrogante de Felipe Fortuna não pode esconder a pobreza de sua argumentação, que evitou ao máximo a discussão de autores de que ele discorda. Só isto explicaria a decisão deliberada de adulterar o trabalho editorial desta revista, ignorando seu conteúdo, 22 autores brasileiros, 22 autores estrangeiros, ensaios sobre Alexander Calder e Dom Tomás de Noronha; ou o caso específico do ensaio dedicado ao trabalho de Sebastião Uchoa Leite, sobre o qual a tentativa de crítica de Felipe Fortuna merece reflexão, pois parece mostrar que o resenhista não leu muito atentamente o ensaio antes de alinhavar suas afirmações, e que não conhece muito bem a bibliografia sobre Sebastião Uchoa Leite. O ensaio de Alves Dassie é uma contribuição importante para a tentativa de ler a obra de Uchoa Leite fora dos parâmetros usuais de concretude, concisão/minimalismo e objetividade (dita cabralina), que o próprio poeta pernambucano declarou passar a questionar de forma sistemática a partir de seu livro Antilogia. No entanto, a opinião de Felipe Fortuna sobre Uchoa Leite, que ele considera poeta epigonal, impede-o de apreciar ou sequer compreender o que Franklin Alves Dassie aporta ao debate poético contemporâneo e criação de possíveis parâmetros estéticos para o nosso momento histórico, a partir da releitura que empreende em seu ensaio. Esta releitura está intimamente ligada ao questionamento dos parâmetros críticos hegemônicos no país há vários anos, como os já mencionados: objetividade, concretude, concisão, economia de meios, precisão, repetidos à exaustão, e que os editores da revista não crêem poder seguir guiando o trabalho poético contemporâneo em todos os seus meandros. Simplesmente por não “darem conta” de poetas que interessam aos editores, como Jack Spicer e John Ashbery, Emmanuel Hocquard e Josée Lapeyrère, Hans Arp e Tristan Tzara, além de condicionar e limitar a leitura das obras de poetas como Gertrude Stein e August Stramm. Estes são questionamentos e discussões que este primeiro número da Modo de Usar & Co. buscou iniciar, publicando poemas que deliberadamente não se encaixam facilmente em tais parâmetros de qualidade, como os de Franklin Alves Dassie, Walter Gam, Juliana Krapp, além da quebra deliberada de hierarquias culturais em textos como os de Veronica Stigger ou Marcelo Montenegro. Estes são exemplos de poetas reagindo e questionando os parâmetros críticos hegemônicos atuais, e não é à toa que um poeta conservador como Felipe Fortuna os rejeite por completo. Se ele houvesse lido com mais cuidado e respeito, poderia usar a própria inteligência para compreender as implicações éticas e estéticas de nossas escolhas, e teria obtido todas as suas respostas, implícitas ou não, espalhadas pelas páginas da revista, como o nome da publicação, que busca dialogar, entre outros, com o Wittgenstein que escreveu: “O significado de uma palavra é seu uso na língua”, citado em meu ensaio, ou o Georges Bataille que escreveu: “Um dicionário começaria a partir do momento em que já não fornecesse o sentido senão o uso das palavras.”, citado por Franklin Alves Dassie, além da quebra de dicotomias de pureza/impureza literárias e lingüísticas, já discutidas por ensaístas que tratam o trabalho poético dos editores desta revista com seriedade. Será preciso explicar a Fortuna de que maneira isto se relaciona ao questionamento dos parâmetros mencionados acima? Não estou tentando criar a ficção de um bloco monolítico de interesses e critérios em comum a todos os poetas publicados neste primeiro número da Modo de Usar & Co. Há na revista poetas que seguem relaçoes distintas com a tradição e que muito provavelmente não concordam com todas as opiniões expressas neste texto. Poetas com pesquisas diferentes dos mencionados acima, ligados a outras revistas e grupos, e com trabalhos e critérios que não se confundem aos que discuti até aqui, como Eduardo Sterzi, Dirceu Villa ou Andréa Catrópa.
Se ele houvesse lido com mais acuidade, teria nos poupado parte de seu sarcasmo, como ao afirmar que o press release sugeria uma “revista espírita”, mudando de forma desonesta o verbo “surgir” por “nascer”, e mais uma vez falhando em compreender o debate sobre “sincronia/diacronia”, já mencionado, num desapego ao idioma e à lógica que o impediu de perceber que nos referíamos a poetas inéditos, espalhados pelo país, com os quais buscamos estabelecer um contacto e oferecer parâmetros alternativos aos vigentes, da mesma forma que a obra de poetas mortos passa por releituras a cada nova geração, unido à nossa recusa em participar da prática contemporânea de deduzir do conceito de sincronia histórica a noção equivocada de trans-historicidade, defendida por certos grupos de poetas nos dias de hoje. Melhor aparelhado, o resenhista teria percebido que nossa preocupação primordial não reside na discussão de “formas poéticas”, mas nas funções que estas exercem no cenário contemporâneo e em suas implicações éticas ou mesmo políticas.
Este primeiro número da revista dá passos e inicia ainda um questionamento que pretende intensificar, sobre o engessamento de uma certa “taxinomia” de gêneros literários que segue controlando o trabalho crítico contemporâneo. Refiro-me aqui à prática de primeiramente buscar “encaixar” um texto em gêneros com características estanques, seja poesia ou prosa, tanto por críticos como por escritores, que desde meados da década de 90 tem levado a poesia e prosa brasileiras a retornar a parâmetros de gênero do fim do século XIX e início do XX, antes que as vanguardas borrassem tais fronteiras, sugerindo a crença de saberem exatamente o que é um “poema” e o que é um “conto”, por exemplo, numa década em que prosadores e poetas deram-se as costas, e que hoje gera uma postura que se recusa a compreender muitos textos por não se filiarem de forma óbvia ao conceito tedioso de “poesia-poesia”. Penso em certos livros de Roland Barthes como Fragmentos de um Discurso Amoroso ou Barthes por Barthes, nas lectures de John Cage e Gertrude Stein, em “peças” de Heiner Müller e Bernard-Marie Koltès, nos questionamentos de Susan Howe quanto às intervenções editoriais na obra de Emily Dickinson e outros autores norte-americanos, em roteiros de Isidore Isou ou Guy Debord, em certos textos dos poetas da Escola de Nova Iorque, como Three Poems de John Ashbery ou Meditations in an Emergency de Frank O´Hara, nos textos coletivos do Grupo de Viena, especialmente com Konrad Bayer e Gerhard Rühm, em trabalhos como o Livre des Questions de Edmond Jabès ou I, etc de Susan Sontag, ou mesmo em propostas como a de Michael Davidson de ler os manuscritos de George Oppen, com fragmentos, lembretes, citações e mesmo listas de compras, como textos em si.
Isto se reflete, nós cremos, em certa atitude comum na resenharia do país, de autores que acreditam que a mera avaliação “Isto não é poesia” constitua crítica e encerre o debate sobre determinado texto. Unido à obsessão por Guttemberg, tanto por parte de poetas como críticos, vemos como o trabalho crítico no Brasil em grande parte exila áreas gigantescas do trabalho poético e recusa-se a discutir ou interessar-se por poetas como Henri Chopin, Bernard Heidsieck, Brion Gysin, François Dufrêne, Bob Cobbing, para quem a noção de poesia concreta não implicou obsessão pela semântica (penso no manifesto de Henri Chopin em que ele declara: “Não podemos seguir com a palavra todo-poderosa”); e assim segue-se ignorando outras vanguardas do pós-guerra, como os trabalhos dos letristas, já mencionados, (surgidos no fim da década de 40 em Paris) como Isidore Isou, Maurice Lemaître, Guy Debord ou Gil J. Wolman (estes dois últimos mais tarde ligados à dissidência da Internacional Letrista e Internacional Situacionista), as performances e intervençoes públicas do Grupo de Viena, o círculo de poetas ligado a Jack Spicer, ou todo o trabalho em vídeo, som e performance sendo empreendido por jovens como Maja Ratkje, Amanda Stewart, Jörg Piringer, Eduard Escoffet, Michael Lentz e tantos outros. É devido a isso que decidimos, como editores da Modo de Usar & Co., dividir os esforços da revista em duas frentes: como revista impressa, anual, divulgando os trabalhos de poetas que seguem contribuindo para a manifestação da poesia como escrita; e como revista virtual, usando o blog para passar a divulgar, em breve, o trabalho de poetas que se concentram em outras mídias como vídeo, ou seguem a pesquisa no campo da poesia sonora.
Que isto não seja confundido com a tentativa de anulação do trabalho das vanguardas brasileiras do pós-guerra, por quem mantemos o respeito que não só permite como incentiva o questionamento. Não defendemos a prática do que Marjorie Perloff chama de therapy of replacement, substituindo uma vanguarda por outra ou certos poetas por outros poetas no cânone. Os editores da Modo de Usar & Co. rejeitam o trabalho de estabelecimento deste cânone que segue praticando a crítica como instituição de hegemonias, e pretendemos radicalizar ainda mais estas escolhas e questionamentos. De qualquer forma, não há motivos para que o resenhista Felipe Fortuna, que colaborou inconscientemente com nosso desejo de “acionar um clima de intervenção”, perca o sono e reste “acordado como um cão”, pois jamais correu o risco de ser convidado a publicar poemas na revista Modo de Usar & Co. A isto ele chamará de endogamia. Nós chamamos de crítica.
Ricardo Domeneck
Os editores da "Modo de Usar & Co." devem ter publicado já, no Caderno Idéias do JB, una versao curta e editada do texto completo da resposta. A íntegra se reproduz no blog da revista (http://revistamododeusar.blogspot.com) e, como complemento à correspondência do domingo passado, também aquí. O meu respeito pela seriedade do texto que segue e pelas opinioes que foram expressadas aqui no "Escolhas..." me impede seguir postando comments anônimos. Um abraço e bom domingo. a.-
Seleção e síntese: resposta a uma resenha
Quem se dispõe a iniciar ou contribuir com um debate em que as opiniões diversas geram entrincheiramentos inevitáveis prepara-se para oposições e discordâncias, e seria pueril surpreender-se com elas. A existência de opiniões contrárias não ofende quem realmente acredita na necessidade deste debate, pois são até mesmo essenciais à sua criação, e se as escolhas de um poeta não tivessem implicações ético-estéticas sérias, estas discussões muitas vezes não passariam de pequenas batalhas entre egos. No entanto, a postura de muitos poetas nestes debates acaba por desnudar o caráter de hegemonia que segue guiando a discussão do que chamamos muito candidamente de cânone e tradição. O texto de Felipe Fortuna, publicado no Jornal do Brasil a 19 de janeiro e apresentado pelo crítico como “resenha” do número de estréia da revista Modo de Usar & Co., infelizmente ultrapassa qualquer limite aceitável de leviandade. Poderíamos assumir a velha estratégia do silêncio e de “guerra nos bastidores”, já enraizada entre os escritores brasileiros, mas decidimos tomar isto como oportunidade para aclarar e avançar no debate que Felipe Fortuna tentou obscurecer.
O que se pede de um crítico é que primeiramente compreenda o projeto e a proposta que se dispõe a analisar, e então possa debatê-los de acordo com os seus próprios parâmetros estéticos. Felipe Fortuna falha claramente nesta tentativa. Sua resenha do número de estréia de uma revista que traz textos de 22 autores brasileiros e 22 estrangeiros, muitos traduzidos pela primeira vez no Brasil, sem mencionarmos os ensaios, concentra-se em sua maior parte na análise do texto de imprensa enviado por correio eletrônico. Após assumir o papel de gramático iracundo e desperdiçar tanto espaço discutindo este “press release” - desonestamente fazendo-o passar por editorial da revista e ignorando o trabalho de mais de 40 poetas incluídos na publicação que, em sua opinião, não merecem figurar em sua resenha, o autor passa a discorrer sobre seu diagnóstico do que vem devastando a poesia e crítica brasileiras: a “endogamia” que, em sua opinião, rege a crítica contemporânea, demonstrando que a resenha sobre a revista nada mais era que um pretexto para seu trabalho de catequese sobre a situação genérica do cenário poético nacional, para a qual ele oferece a bibliografia que remediaria tal quadro clínico. Fortuna aproveita ainda a ocasião para investir contra o blog Escolhas Afectivas, um dos poucos sites de divulgação de poesia brasileira com regras claras e honestas. O resenhista diz ter buscado simplesmente “compreender” os propósitos dos editores, e que suas críticas foram feitas em um contexto bastante específico. Ora, “contexto” foi a última coisa que Felipe Fortuna respeitou em sua resenha. O que Felipe Fortuna procura escamotear, analisando um press release com tanto afinco? E seria esta revista realmente um exemplo de endogamia?
A revista Modo de Usar & Co. não possui um editorial em seu número de estréia por decisão de seus editores, que seguiram sua crença na responsabilidade de evitar o risco da criação de uma narrativa crítico-ideológica com o uso dos poemas de autores convidados, a partir de sua ordenação nas páginas da revista. Assim, optou-se pela estratégia, neste número, da adoção da ordem alfabética de acordo com o título dos poemas, na tentativa de quebrar com uma noção de hierarquia entre poetas, e também para privilegiar os próprios poemas, que deveriam responder, cada um a seu modo, às necessidades críticas do momento atual. Isto é coerente com o debate sobre “sincronia/diacronia” defendido pela revista. Guiados pela mesma responsabilidade, excluímos qualquer nota biográfica, espalhando pelas páginas da revista textos de poetas de diversas idades e línguas, sem compartimentos de caráter nacional ou escola literária. Poetas da primeira vanguarda, ligados a DADA, como Hans Arp e Pierre Albert-Birot (inéditos no Brasil e vertidos diretamente do alemão e francês, respectivamente), são colocados entre poetas brasileiros surgidos nos últimos anos, como Juliana Krapp e Walter Gam, autores contemporâneos como os franceses Jean-François Bory (importante poeta sonoro e visual) e Joseé Lapeyrère, também traduzida pela primeira vez no Brasil, textos dos norte-americanos John Cage e Jack Spicer, austríacos do Grupo de Viena (poetas experimentais da década de 50, pouquíssimo conhecidos no país que o resenhista parece querer salvar de nossa “irresponsabilidade”) como H.C. Artmann e Gerhard Rühm, além de autores de língua hispânica, como os espanhóis Benjamín Prado e Sandra Santana, ou os argentinos Cristian De Nápoli e Martin Gambarotta. Todos traduzidos pelos editores da revista diretamente dos originais (francês, alemão, inglês e espanhol), trabalho que o resenhista tenta fazer parecer apenas outro sintoma de sua teoria da “endogamia”, da qual seríamos exemplo. No entanto, nenhuma destas traduções é mencionada na resenha tendenciosa e leviana de Felipe Fortuna, que provavelmente não saberia como discutir tais poetas. Das traduções da revista, ele limita-se a mencionar uma única, feita por Rodrigo Ponts, de uma letra de John Lennon para uma canção assinada por ele e Paul McCartney, mesmo assim sem explicitar se discorda das escolhas de Ponts ou da decisão de uma revista de poesia ao publicar letras de música, tema polêmico que, obviamente, serve melhor à tentativa do resenhista de anulação completa do trabalho empreendido pelos editores da revista com responsabilidade, em debate constante e colaboração. A recusa de Felipe Fortuna é, no entanto, completa e totalitária. Nada entre as 204 páginas da revista com dezenas de autores de 5 línguas tem qualquer valor para o diplomata-crítico, e resulta em um produto de “qualidade duvidosa” e atos de camaradagem. É a primeira vez que presencio uma revista de poesia ser condenada por possuir uma linha editorial e fazer escolhas, essência do trabalho crítico: assumir uma posição, ser capaz da difícil conjugação de seleção e síntese. Certamente não se espera dos editores da revista que passem a editá-la com aqueles que possuem parâmetros estéticos de que discordam frontalmente, ou com poetas como Felipe Fortuna, que consideramos medíocre.
O resenhista tenta sugerir que a escolha do conteúdo da revista seguiu apenas questões de amizade e politicagem, prática com a qual ele talvez esteja acostumado, já que trabalha para o governo. Além disso, a citação entre poetas é coisa antiga mas, para nos limitarmos ao material em discussão, bastaria que Felipe Fortuna conhecesse melhor os poetas que publicamos para saber que isto foi prática comum entre os dadaístas, sendo uma das características e técnicas de contextualização (especialmente em Pierre Albert-Birot) que mais tarde influenciariam poetas da chamada New York School, como Frank O´Hara e James Schuyler, sendo que outras de suas práticas de intervenção e reação contra noçoes puristas e equivocadas de “universalidade” teriam efeitos sobre o trabalho “grupal” do, ora veja, Grupo de Viena. No entanto, o crítico deveria buscar entender o “uso” (Modo de Usar & Co., lembra-se?) que todos estes poetas fizeram destas estratégias em seus contextos específicos de intervenção poética, seja na Europa de 1916 ou década de 50, nesta mesma década nos Estados Unidos ou no momento atual da poesia brasileira. Mesmo assim, é ridículo criticar um grupo de poetas que se respeitam mutuamente e compartilham parâmetros críticos por decidirem editar uma revista em conjunto. A crítica deveria recair sobre estes parâmetros, já que o convite aos poetas publicados foi feito a partir de nossa fé em seus trabalhos e na necessidade de suas propostas estéticas para o debate poético contemporâneo. É completamente lícito que Felipe Fortuna discorde dos nossos parâmetros e critérios, mas é necessário que ele demonstre poder compreendê-los. Os próprios editores da revista criticam abertamente os parâmetros poéticos de outros poetas e “grupos”, por um questionamento das implicações ético-estéticas destes no contexto atual. Não somos adeptos da “estratégia do silêncio”, agindo como se fôssemos os únicos poetas ativos no Brasil de hoje.
Mas a resenha de Felipe Fortuna é o atestado de que ele não compreendeu as implicações de uma revista sem editorial que o guiasse, ou que ele deliberadamente agiu de má-fé, tentando fazer estes parâmetros passarem por inexistentes. Sua resenha dá sinais de sua incapacidade para o trabalho crítico, tanto por não estar aparelhado para discutir uma possível poética contemporânea, como por agir de forma leviana e tendenciosa ao discutir o trabalho de poetas que claramente seguem parâmetros estéticos diferentes dos seus. Como exemplo, basta que os interessados leiam os poemas “Sobre portas”, “Interior Via Satélite” e “Deustchkurs” de Carlito Azevedo, Marcos Siscar e Aníbal Cristobo publicados na revista, e decidam por si mesmos se estão ali por politicagem ou por serem poemas de uma qualidade que Felipe Fortuna jamais consquistou, segundo nossos critérios, é claro. Também desafiamos o resenhista a discorrer sobre esta suposta “fórmula” que ele acredita flagrar sob o trabalho editorial de uma revista como a Inimigo Rumor, crendo que nós a “repetimos” neste primeiro número da Modo de Usar & Co. Poderíamos ser acusados de endogamia se tivéssemos tentado apresentar nossa seleção de autores como canônica, ou como único grupo no país, da maneira como editores de certas revistas e curadores de festivais organizam seleções dentro de seus grupos e as apresentam como “A Poesia Contemporânea”, no Brasil e América Latina. Não foi o caso desta revista, outro motivo pelo qual evitamos um editorial. No entanto, o sarcasmo arrogante de Felipe Fortuna não pode esconder a pobreza de sua argumentação, que evitou ao máximo a discussão de autores de que ele discorda. Só isto explicaria a decisão deliberada de adulterar o trabalho editorial desta revista, ignorando seu conteúdo, 22 autores brasileiros, 22 autores estrangeiros, ensaios sobre Alexander Calder e Dom Tomás de Noronha; ou o caso específico do ensaio dedicado ao trabalho de Sebastião Uchoa Leite, sobre o qual a tentativa de crítica de Felipe Fortuna merece reflexão, pois parece mostrar que o resenhista não leu muito atentamente o ensaio antes de alinhavar suas afirmações, e que não conhece muito bem a bibliografia sobre Sebastião Uchoa Leite. O ensaio de Alves Dassie é uma contribuição importante para a tentativa de ler a obra de Uchoa Leite fora dos parâmetros usuais de concretude, concisão/minimalismo e objetividade (dita cabralina), que o próprio poeta pernambucano declarou passar a questionar de forma sistemática a partir de seu livro Antilogia. No entanto, a opinião de Felipe Fortuna sobre Uchoa Leite, que ele considera poeta epigonal, impede-o de apreciar ou sequer compreender o que Franklin Alves Dassie aporta ao debate poético contemporâneo e criação de possíveis parâmetros estéticos para o nosso momento histórico, a partir da releitura que empreende em seu ensaio. Esta releitura está intimamente ligada ao questionamento dos parâmetros críticos hegemônicos no país há vários anos, como os já mencionados: objetividade, concretude, concisão, economia de meios, precisão, repetidos à exaustão, e que os editores da revista não crêem poder seguir guiando o trabalho poético contemporâneo em todos os seus meandros. Simplesmente por não “darem conta” de poetas que interessam aos editores, como Jack Spicer e John Ashbery, Emmanuel Hocquard e Josée Lapeyrère, Hans Arp e Tristan Tzara, além de condicionar e limitar a leitura das obras de poetas como Gertrude Stein e August Stramm. Estes são questionamentos e discussões que este primeiro número da Modo de Usar & Co. buscou iniciar, publicando poemas que deliberadamente não se encaixam facilmente em tais parâmetros de qualidade, como os de Franklin Alves Dassie, Walter Gam, Juliana Krapp, além da quebra deliberada de hierarquias culturais em textos como os de Veronica Stigger ou Marcelo Montenegro. Estes são exemplos de poetas reagindo e questionando os parâmetros críticos hegemônicos atuais, e não é à toa que um poeta conservador como Felipe Fortuna os rejeite por completo. Se ele houvesse lido com mais cuidado e respeito, poderia usar a própria inteligência para compreender as implicações éticas e estéticas de nossas escolhas, e teria obtido todas as suas respostas, implícitas ou não, espalhadas pelas páginas da revista, como o nome da publicação, que busca dialogar, entre outros, com o Wittgenstein que escreveu: “O significado de uma palavra é seu uso na língua”, citado em meu ensaio, ou o Georges Bataille que escreveu: “Um dicionário começaria a partir do momento em que já não fornecesse o sentido senão o uso das palavras.”, citado por Franklin Alves Dassie, além da quebra de dicotomias de pureza/impureza literárias e lingüísticas, já discutidas por ensaístas que tratam o trabalho poético dos editores desta revista com seriedade. Será preciso explicar a Fortuna de que maneira isto se relaciona ao questionamento dos parâmetros mencionados acima? Não estou tentando criar a ficção de um bloco monolítico de interesses e critérios em comum a todos os poetas publicados neste primeiro número da Modo de Usar & Co. Há na revista poetas que seguem relaçoes distintas com a tradição e que muito provavelmente não concordam com todas as opiniões expressas neste texto. Poetas com pesquisas diferentes dos mencionados acima, ligados a outras revistas e grupos, e com trabalhos e critérios que não se confundem aos que discuti até aqui, como Eduardo Sterzi, Dirceu Villa ou Andréa Catrópa.
Se ele houvesse lido com mais acuidade, teria nos poupado parte de seu sarcasmo, como ao afirmar que o press release sugeria uma “revista espírita”, mudando de forma desonesta o verbo “surgir” por “nascer”, e mais uma vez falhando em compreender o debate sobre “sincronia/diacronia”, já mencionado, num desapego ao idioma e à lógica que o impediu de perceber que nos referíamos a poetas inéditos, espalhados pelo país, com os quais buscamos estabelecer um contacto e oferecer parâmetros alternativos aos vigentes, da mesma forma que a obra de poetas mortos passa por releituras a cada nova geração, unido à nossa recusa em participar da prática contemporânea de deduzir do conceito de sincronia histórica a noção equivocada de trans-historicidade, defendida por certos grupos de poetas nos dias de hoje. Melhor aparelhado, o resenhista teria percebido que nossa preocupação primordial não reside na discussão de “formas poéticas”, mas nas funções que estas exercem no cenário contemporâneo e em suas implicações éticas ou mesmo políticas.
Este primeiro número da revista dá passos e inicia ainda um questionamento que pretende intensificar, sobre o engessamento de uma certa “taxinomia” de gêneros literários que segue controlando o trabalho crítico contemporâneo. Refiro-me aqui à prática de primeiramente buscar “encaixar” um texto em gêneros com características estanques, seja poesia ou prosa, tanto por críticos como por escritores, que desde meados da década de 90 tem levado a poesia e prosa brasileiras a retornar a parâmetros de gênero do fim do século XIX e início do XX, antes que as vanguardas borrassem tais fronteiras, sugerindo a crença de saberem exatamente o que é um “poema” e o que é um “conto”, por exemplo, numa década em que prosadores e poetas deram-se as costas, e que hoje gera uma postura que se recusa a compreender muitos textos por não se filiarem de forma óbvia ao conceito tedioso de “poesia-poesia”. Penso em certos livros de Roland Barthes como Fragmentos de um Discurso Amoroso ou Barthes por Barthes, nas lectures de John Cage e Gertrude Stein, em “peças” de Heiner Müller e Bernard-Marie Koltès, nos questionamentos de Susan Howe quanto às intervenções editoriais na obra de Emily Dickinson e outros autores norte-americanos, em roteiros de Isidore Isou ou Guy Debord, em certos textos dos poetas da Escola de Nova Iorque, como Three Poems de John Ashbery ou Meditations in an Emergency de Frank O´Hara, nos textos coletivos do Grupo de Viena, especialmente com Konrad Bayer e Gerhard Rühm, em trabalhos como o Livre des Questions de Edmond Jabès ou I, etc de Susan Sontag, ou mesmo em propostas como a de Michael Davidson de ler os manuscritos de George Oppen, com fragmentos, lembretes, citações e mesmo listas de compras, como textos em si.
Isto se reflete, nós cremos, em certa atitude comum na resenharia do país, de autores que acreditam que a mera avaliação “Isto não é poesia” constitua crítica e encerre o debate sobre determinado texto. Unido à obsessão por Guttemberg, tanto por parte de poetas como críticos, vemos como o trabalho crítico no Brasil em grande parte exila áreas gigantescas do trabalho poético e recusa-se a discutir ou interessar-se por poetas como Henri Chopin, Bernard Heidsieck, Brion Gysin, François Dufrêne, Bob Cobbing, para quem a noção de poesia concreta não implicou obsessão pela semântica (penso no manifesto de Henri Chopin em que ele declara: “Não podemos seguir com a palavra todo-poderosa”); e assim segue-se ignorando outras vanguardas do pós-guerra, como os trabalhos dos letristas, já mencionados, (surgidos no fim da década de 40 em Paris) como Isidore Isou, Maurice Lemaître, Guy Debord ou Gil J. Wolman (estes dois últimos mais tarde ligados à dissidência da Internacional Letrista e Internacional Situacionista), as performances e intervençoes públicas do Grupo de Viena, o círculo de poetas ligado a Jack Spicer, ou todo o trabalho em vídeo, som e performance sendo empreendido por jovens como Maja Ratkje, Amanda Stewart, Jörg Piringer, Eduard Escoffet, Michael Lentz e tantos outros. É devido a isso que decidimos, como editores da Modo de Usar & Co., dividir os esforços da revista em duas frentes: como revista impressa, anual, divulgando os trabalhos de poetas que seguem contribuindo para a manifestação da poesia como escrita; e como revista virtual, usando o blog para passar a divulgar, em breve, o trabalho de poetas que se concentram em outras mídias como vídeo, ou seguem a pesquisa no campo da poesia sonora.
Que isto não seja confundido com a tentativa de anulação do trabalho das vanguardas brasileiras do pós-guerra, por quem mantemos o respeito que não só permite como incentiva o questionamento. Não defendemos a prática do que Marjorie Perloff chama de therapy of replacement, substituindo uma vanguarda por outra ou certos poetas por outros poetas no cânone. Os editores da Modo de Usar & Co. rejeitam o trabalho de estabelecimento deste cânone que segue praticando a crítica como instituição de hegemonias, e pretendemos radicalizar ainda mais estas escolhas e questionamentos. De qualquer forma, não há motivos para que o resenhista Felipe Fortuna, que colaborou inconscientemente com nosso desejo de “acionar um clima de intervenção”, perca o sono e reste “acordado como um cão”, pois jamais correu o risco de ser convidado a publicar poemas na revista Modo de Usar & Co. A isto ele chamará de endogamia. Nós chamamos de crítica.
Ricardo Domeneck
7 comments:
(Aníbal, achei você na Inimigo Rumor de 1997! Que belo presente porque um nome leva a outro, e eu encostei em Gonzalo Rojas - muito bom)
Obrigado, Priscila. É bom saber que coisas assim, mais de 10 anos depois, ainda possam continuar vivas e bem de saúde. Um abraço,
a.-
por que parou? parou por quê? tanto poeta indicado que ainda não apareceu aqui... tem um que até morreu antes de vocês publicarem...
Nao esquente nao: vamos continuar publicando, mesmo que o plural seja só uma amostra da minha esquizofrenia. Mas nem por isso conseguiremos evitar a morte de nenhum poeta, a deus graças.
a.-
Muito interessante.
ótima iniciativa, aníbal!
Nossa, Andei pesquisando sobre Francisco Bosco e acabei caindo aqui em seu blog.
Definitivamente, estou apaixonada!
Me considero completamente amadora nas artes literárias, apenas traduzo a linguagem do meu coração e compartilho. Então, ter uma fonte como a sua para inspiração e reflexão é tudo que mais precisava!!!
Não pare não!!!
Um abração e sucesso!
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