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Ana Guadalupe
Bruna Beber
Alice Sant'anna
Sérgio Cohn
Marcos Siscar
Poemas
de repente quando o granizo
revoada invertida dos mesmos pássaros
que haviam seguido por ali antes
eu pude identificar gaivotas,
tinham a pena por couro, uma pele
espessa
e o granizo punha pedregulhos
como jóias cravejadas em seus
dorsos mínimos: havia,
de outro modo, uma
pelúcia glacial que podíamos ver
ou tocar mas jamais saber
a dor de ter sido incrustada ali
de repente quando o granizo,
silêncios tecidos
e uma outra ave convergiam,
desenhavam no ar, embaralhavam
as letras de nossos nomes
......................
buraco negro
as obsessões certas.
cartas de baralho e
de palavras. pessoas.
lã. lugares. geometria.
presunções equivocadas
tão orgânicas que até
perfeitas. o exame
radiográfico deste
tipo subsidiário de
solidão. coletivos de
nomes. as grandes
mandíbulas das cidades.
as alegações. as negações.
vícios e atrasos.
carne no freezer. vazio.
etiópia. luminárias.
o abandono dos cadernos
escolares. o sexo dos
cheiros. a doutrina
sacramental do absoluto
nada dizer. a soma
de termos aleatórios
pinçados de provérbios.
o viço dos cavalos. as
lâminas potencialmente
mortais dos ventiladores.
conversa tola. um quadro.
um abraço. um camelo.
uma pose de mártir. uma
sonda espacial. gravuras.
porcos. síntese. um
restaurante com estalactites.
museu. barcos. uma balsa
morta dos mortos para os
mortos. falar mal de vivos.
um pensamento. canela. ar.
golas. placas tectônicas.
a umidade assumida nas
bochechas e retinas.
o receptáculo para um
coração quente pulsante.
plástico. ovos. flanela para
a poeira dos abajures.
pássaros. a circunferência
irregular de um buraco negro
que engole cada minúcia
disso tudo e com arrojo
arrota.
....................
o anil adolescente deste céu
debaixo do qual respiramos
as nuvens para dentro de
nossos corpos
melodia fina e quase-quieta
de papéis sendo compressos
em envelopes retangulares
ao infinito
infusão nos copos de chá
bebidos às pressas de tarde
em dias demasiado curtos
para amar
novas e maravilhosas coisas
papel de parede para a vida
a escola nos transformando
em comunistas
.....................
Bio: Nasci em Março de 1981, em Santa Fé do Sul, interior escondido de SP. Leciono inglês há 7 anos, desde que parei de trabalhar com rádio, o que fiz durante outros 7 anos. Escrevo crítica musical desde 2004. Publiquei poemas em minguados ex-blogs no passado, e hoje mantenho um pequeno espaço (http://renatomazzini.blogspot.com) onde veiculo o que tenho escrito nesses últimos anos, além de algumas traduções de poetas de língua inglesa de que gosto neste outro blog (http://poesiacomchopsticks.blogspot.com) com a ajuda da Ana e de possíveis colaboradores futuros. Manufaturei, no passado, alguns poezines, folhetins minúsculos de poemas, distribuídos entre muitos amigos e uns poucos estranhos interessados e atenciosos. Não existem mais. (Os escritos, claro; os amigos permanecem, e os estranhos ainda devem estar por aí).
Poética:
Vejo que, com a poesia, é possível percorrer dois caminhos principais distintos: 1) encher o mundo com pequenos fragmentos de autobiografia, não importa o quão inconscientemente disfarçada esteja, ou 2) observar e transmitir impressões externas através da lente mais singular possível, que é a sua própria. Ainda não sei qual dos dois atalhos tomo com meus poemas. Honestamente, espero que seja um misto de ambos, acoplado de muitas outras coisas que não sei bem o que são, mas que sempre se revelam bastante adequadas ou terrivelmente avessas ao centro da escrita.
................
1 comment:
A poesia do Mazzini é tudo que eu queria ouvir para entender melhor meu próprio contexto. É uma descrição de situações "sem relação" que promovem um "não sentido". Tornou-se uma água, ela é fluída, me faz ver, sentir, cheirar e olhar melhor.
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