mencionado por:Michel Melamed
Italo Moriconi
Camila do Valle
menciona a:Ericson Pires
Flávio Amoreira
Márcio-André
Botika
Laurent Gabriel
Rod Bitto
poemas:
Verde
Se eu morrer amanhã que se salve a poesia ou que me salve a poesia e não estarei morto amanhã. Minha voz e as letras - como é preciso o encaixe das palavras – que dão sentido e, na busca, o encontro do que é estético ético do que é sintonia. Não vaguei neste mundo besta à toa, se bem que é bom vadiar. Vadiei. Se na volta da mesa toalha de cânhamo e vaso deixei vagar pensamentos e cheiro e sabor: como gosto de você. E procurei ajudar outros vadios, em precisão maior que a minha, pois há retorno na camaradagem. Sou de um grupo de semente vândala, de esparramante coração. Assumido vagabundo. Sinto falta de você. E lá se vão anos e gente de todas as vidas. Vi venderem a peso de ouro copeques sem valor. Fui passado para trás com um sorriso vago. Era vantagem. Vendo o sorriso vago de quem vendia. Não sou vítima. E cada disso com sentido: eu amo ser humano que se aventura...contudo vem agora canseira do vago, ventrílocos, vociferação. Já sinto sono no meio da volta. Este teatro eu vi ontem. E não que valha apenas o versado. Mas vai chegando a velhice e devagar cedo ao vigor do vento. Continuo amando o que é verde...ver-te vou indo ver.
Henrique
Ele era branco. A camada de tinta
sobre a tela. A primeira segunda cama-
das de tinta brancas sobre a tela. intacta.
Ele era branco. O rosto pretensiosamente
masculino. Francês pernas finas com mús-
culos de corrida. O short e a camisa brancos.
Olhei me olhou. Tantas vezes. O número
que supera desculpe-me, ou você está me
olhando porquê. Ele era francês perdido no
vagão do metrô. Eu sou do Rio. Cada um
media a liberdade e o espaço. Foram poucas
palavras. Não era de palavras. Sem retórica. Eu
não falo francês. Seu olhar pretensioso aborrecia-me.
O corpo muito belo. Quase todos os machos sabem
que os rapazes atraem certos homens. Poucos
são inocentes. As mães nunca são inocentes. Os
pais raramente são inocentes. Os adultos poucas
vezes não sabem que rapazes atraem muitos
homens. Isso é repugnante! Os homens riem dos
homens que deixam transparecer atração por rapazes.
O francês era belo. O buço do francês era belo.
Os poucos pelos da coxa do francês de pernas finas
e musculosas eram belos. Ele me olhava. Olhava para ele.
Deitou na minha cama sem palavras. Seu
corpo era magro e musculoso. Entumecido o
membro era pequeno. aparentava fragilidade. En-
volto em pelos finos como seu cabelo seus ombros
seus músculos. Branco foi a imagem que
restou. O ventre branco espargido de esperma
que escorria ou gotejava aqui acolá - o quadro
final: o silêncio do branco e o cheiro de homem
que enjoa ou agrada a muitos homens - quadro
insólito. O francês vestiu a camiseta e o calção
brancos e apertou minha mão. Saiu em silêncio e
o cheiro que impregnava foi pela janela. Como são
brancas as nuvens!
Brasília
Voando ver sobre as asas de
Lúcio seguindo sua coluna vertebral
Tocando teclas nódulos e assistindo
Para além das asas as irmãs Guará e
Tabatinga. Vô vi vi Brasília brincando
De amar. Há tantos: o lutador gentil como
Um pequeno urso acariciado pela mãe
Protegendo e protegido seu amigo
Parelha o desavergonhado Fashion
Vô vi ver Fashion a estátua do belo
Magérrimo levantando seu braço
Raio Flach Gordon apontando estrela
E seu corpo manequim e seu braço
Manequim e seu dedo manequim
Esticando-se pois mais que estrelas
Apontava o limite do corpo heróico
Já que alguém o afrontava e seu corpo
Impinado desafiava como a solidez
De obra do Oscar ou de uma pena de
Ema todos seres do cerrado
Vô e na sala de aula modernosa USP
Ou PUC tanto faz fala-se do
Moderno Autoritário de Brasília
Vô a Brasília de Jucelino de Oscar
De Lúcio e de Darcy vô pelas Super
Quadras no entardecer de um inverno
E me sento com o Denílson na UNB e
O pequeno urso o inseparável Faschion
E seus mais sete ou nove amigoas
Que andam soltos flor do cerrado
Porém não tão soltos que possam soltar o
Celular de cada progenitora e vejo a igreja e
Vejo os santos e os vitrais, tudo flutua e
Sigo para outro caminho
Da procura que o dedo determina.
bio / biblio:
Guilherme Zarvos nasceu em São Paulo em 1957 e vive desde os dois anos no Rio de Janeiro. Formou-se em Economia PUC-1980, fez mestrado em Ciências Sociais IFCS-UFRJ -1989 e é doutorando em Letra, PUC-RJ. De 83-87 trabalhou com Darcy Ribeiro no Programa Especial de Educação. Foi viajante mochileiro por dezenas de países.
Em 1990, fundou com outros poetas o CEP 20.000 – Centro de Experimentação Poética do Rio de Janeiro, sendo ainda hoje, 2007, um dos organizadores.
Escritor, professor, editor, diretor de teatro e participante de grupos de poesia falada, produtor cultural, publicou seis livros, de 1990 até agora, passando pela poesia e prosa. Zombar, 2004, é seu livro mais novo.
poetica:
Poesia- Mais do que gênero a forma de ver e ouvir e a história e a descoberta e o deixar chegar.Unté, Já vou let ar.
3 comments:
Dá-le Zarvoleta! o cara mais querido da poesia carioca! Abraços e contiunue enchendo o Rio de alegria!
Salve, primo! Ha' quanto tempo? Sou eu, Luiz Augusto, filho de Victor e Gilda. A ultima vez que nos vimos foi em casa de sua mae, Teresa Maria. Soube que faleceu ja fazem varios anos. Nunca soube como te contatar entao. Estou nos EUA, trabalhando no meu doutorado em Humanidades (Diaspora Africana nas Americas--Brasil no momento). Mande-me noticias: ldasilve@fsu.edu
Como o seu BLOG eh moderado, posso escrever meu e-mail sabendo que voce nao o vai publicar.
O que voce vem fazendo? Jah se dotourou? Qual sua area... deixa ver se adivinho... Poesia. Se nao for isso, vou ficar surpreso -- mas nao muito.
Abrs, Luiz Augusto (da Silveira).
Zarvos: estamos juntos no juri daquele concurso... não revelo para não provocar assédio... e queria incluir você no meu Portal de Poesia, onde já estão outros amigos seus/nossos. Por favor, me envie seus poemas!!! Antonio Miranda www.antoniomiranda.com.br
e no e-mail
poesiaiberoamerica@hotmail.com
Um abraço
Antonio Miranda
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