Tuesday, January 02, 2007

VALESKA DE AGUIRRE



mencionada por:
Heitor Ferraz
Marília Garcia

menciona a:
Annita Costa Malufe
Gabriela Marcondes
Lucas Haas Cordeiro
Bruna Beber
Maria Helena Latini



poemas


Assobio você

Caixa preta
furo preto
parecia experiência de colégio
algo como “a lâmpada acende
se amarrar os fios” ou “o feijão
nasce no algodão” parei
ao escutar a vibração
das experiências sonoras
contidas em oito
caixotes de dois metros
de alto-falantes
em círculo claustrofóbico
convidando a mexer
as partes do corpo
que melhor estalam
e continuam a estalar
cada vez mais baixo no infinito pretume

ruído
ruído
a mandíbula
a língua
o dente
a garganta
a glote
a direção do vento
o lábio superior e inferior
assobio você

do corredor o círculo
preto de dois metros falantes
ocupam seu espaço ao chão
octogonal corrompem a visão
o corpo estica-se ao encontro
gigante postura em vale árido
duas caixas se distanciam de acordo
sugerindo passagem ao corpo

o alongamento de vértebras
conversam.





Ao som do vinil

“Não acredito que te perdi”
cochichou perdendo a faixa
da música que deveria colocar
para as pessoas não escutarem
o que gritava tentando cochichar
ao ouvido da garota que se despedia
e que pensou escutar
“não acredito que te perdi”
mas não pediu para ele repetir
pois já tinha ouvido o ruído da faixa
terminando e ele afastando-se
para posicionar a agulha em qualquer
outro círculo e assim ninguém
reparar na garota que ali permanecia
na tentativa de ir embora.




NESTE DIA REPLETO DE GIRINOS e dez minutos de ócio penso no que sou e o que serei em cinco anos não há vácuo nos intervalos da história mas a continuidade é incompleta olho o muro de pedras o futuro é ali e perfura meus gestos conto as histórias no espelho e aguardo as manhãs lentas o vagar dos dedos na xícara de qualquer coisa quente ou nos cabelos dos meninos.





Valeska de Aguirre é carioca e nasceu em 1973. Publicou o mini-livro Ela disse, Ele disse, pela Moby Dick.



poética:
E pra beber?
A menor das traições.

5 comments:

Anonymous said...

intragável traição que escreve no tempo da tela corruptível.

Poetiza - sorriso cabisbaixo
prisma de quem quer fundo os olhos na escuridão do globo ocular.

Anonymous said...

sensacional.
lembrei dos tempos
de café e bolo de laranja.
beijos
carlito

Anonymous said...

Valeska,
muito legais os poemas.
Bom ter você aqui. E adorei
"o cabelo dos meninos"!
Beijo, Heitor

quasechuva said...

ja tive marido alcoolatra
e eu rezava mto pra que algum dia ele me trocasse só por outra mulher

Guto Melo said...

Come alguma coisa? Pra comer eu quero alguns arrepios que consolam. Mas sem pimenta, por favor.