ADOLFO MONTEJO NAVAS
foto: Diana Pereira
mencionado por:
Janice Caiafa
Marcelo Diniz
Lu Menezes
menciona a:
(só menciono poetas que ainda não estão no blogue)
Age de Carvalho
Angela de Campos
Angela Melim
Alberto Martins
Anelito de Oliveira
Dora Ribeiro
Duda Machado
Eudoro Augusto
João Bandeira
Jussara Salazar
Maria Rita Khel
Milton Machado
Ronald Polito
Sebastião Nunes
Vivian Kogut
POEMAS
Nada que se pareça com nada.
Isso, para começar o dia
sem cartas nem tridente. Porque
depois sobe a temperatura
até o lugar da prova, ou a maré
desce e há que procurar de novo
o pequeno fio extraviado pelas coisas.
*
p / Gabriel
São pequenos ruídos de sabres
e lanças, às vezes pequenos lampejos
isolados, rendidos diante da iminência
da noite. Fogos contra
o Fogo, do outro lado da parede,
que a tarde dava por perdidos
no horizonte do tempo que arde?
*
A imagem volta, mas o som
não. A fotografia está detida
num lugar que já não existe,
ainda que olhe para aqui.
Pelas cores deve ser outono,
mas também não é certo.
A música está escrita nos olhos.
De Enquanto passa o vento (2001/04, inédito)
(Tradução do autor)
#
Nu é o nome
que apagamos juntos
com os lábios poentes de depois.
Êxtase de deus a que vens assim morrendo
na boca? Como reino
consagrado aos acentos, somos
relâmpago descendo ao alto,
até outro ritmo.
*
O sexo divide o amor em dois,
em um,
em nada que não seja o Éden agora,
cruzado de par em par,
no meio deste ar
possuído até a medula.
Soa tudo a paraíso, a antes dos lábios.
*
Espaço onde o cobre fala
mais alto. Cabeleira
alta, contrária a quase tudo,
diz-me onde se dilata o ruído
imensamente
doador da lascívia, seus ramos
vermelhos, de tinta errante, sedentos.
De Sem título, mas com ímã (2004/5, RevistAtlántica, 2006)
(Tradução Ronald Polito, revisão do autor)
#
Nomear o fio que se abre aos signos que vem pelo desfiladeiro. Si olho as palavras, pesam as pálpebras, atravesso, e assim sucessivamente. Compensa rodear de amarelo esta fissura, que alguns chamam poesia frente ao abismo invertebrado.
Corta e continua. O remoto contínuo é esse moto que não separa nada de seus lados, numerosos dados. Assim se filma: oh ação, privilegiada sobre as palavras em movimento, a ponto de se ferir. No salto se voa, com todas as cicatrizes.
A palavra qualquer só deveria ser aberta pelo acaso. Para desatar nós assíduos em nosso frente mais mortal.
Entre uma palavra e outra, um abismo. Sílabas cegas, desconhecidas.
De Cesuras (2005/6, inédito)
(Tradução do autor)
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BIO/BIBLIO
Adolfo Montejo Navas, poeta e crítico, nasceu em Madri em 1954 mas mora no Brasil há mais de quatorze anos. Colaborador de diversas publicações culturais da Espanha e do Brasil, é correspondente no Brasil da revista de arte internacional Lápiz, de Madri, desde 1998, onde publica periodicamente ensaios e artigos. Foi correspondente do jornal El Mundo, Madri, na metade da década de 90 e foi crítico de arte do site no.com.br. no período 2001/2002. Colaborou intensamente com a revista Cult, São Paulo (participou do dossier Joan Brossa –com João Bandeira– e organizou o dedicado à Literatura espanhola contemporânea). Faz parte dos conselhos da revista/site LaGioconda.art.br e do jornal de crítica K de São Paulo, e é colunista do site www.confrariadovento.com.br Possuí textos críticos em livros e catálogos de Waltercio Caldas, Arthur Omar, Efrain Almeida, Artur Barrio, Regina Silveira, Nelson Leirner, Miguel Rio Branco, Anna Bella Geiger, Eduardo Coimbra, Victor Arruda e José Rufino. Tem realizado numerosas curadorias na Espanha e no Brasil, e a partir de 2004 é palestrante da Rede de Artes Visuais (Funarte).
É autor de 30 Duetos, em Poemas-Cadernos de Literatura 3, com Armando Freitas Filho (Impressões do Brasil, 1996), Inscripciones (Coda, Madri, 1999), Íntimo infinito (Moby Dick, Rio, 2001), Pedras pensadas (Ateliê, São Paulo, 2002), Na linha do horizonte/Conjuros (7 Letras, Rio, 2003), 49 silêncios (Ed. de autor, Rio, 2004), 6 Poemas instrumentais (ed. objeto, 2005), Da Hipocondria (Ed.7 Letras, 2005), Esse animal de água (Espectro Editorial, Belo Horizonte, 2005), Sín título, mas com imán (Revista Atlântica, 29, Cádiz, 2006), Ventreadentro (com Diana Araujo Pereira, ed. do autor, Rio, 2007) e Sobretempo (ed. com Dupla Design, Rio, 2007). Como tradutor destacam-se Poemas de Álvaro de Campos/Fernando Pessoa, I, II e III (Hiperión, 1998) e Correspondencia Celeste (Nueva Poesía Brasileña 1960-2000) (Árdora, 2001), além de vários livros de Armando Feitas Filho (Cabeza de hombre, Hiperión, 1995; Cable tierra, DVD, 2002), Sebastião Uchoa Leite (Contratextos, DVD, 2001), Carlos Drummond de Andrade (Sentimiento del mundo, Hiperión, 2005), e em breve, Waly Salomão (Algarabías y otros poemas).
Tem recebido várias bolsas de tradução (do Dpto. Nacional do Livro-Biblioteca Nacional) e bolsa de pesquisa cultural (Literatura) da RIOARTE, 2001, para o livro É chapa quente - Dicionário de vozes cariocas, , em processo de publicação. Idealizador e organizador do livro de Anna Bella Geiger – Territórios, passagens, situações (Ed. Casa da Palavra, Rio, 2007), com o apoio da Petrobrás / Memória das Artes – 2004. Autor também de Marcos Chaves (Ed. Casa da Palavra, Rio, 2007). Em breve aparecerá o volume “Aproximações críticas (Arte brasileira contemporânea)” (Ed. Unimarco, São Paulo), com parte da produção crítica de artes visuais e em 2008 o ensaio “Fotografia e Poesia (afinidades eletivas)” (Ed. Jorge Zahar, Rio de Janeiro). Vem realizando a partir de 1994 diversas exposições como artista plástico de poemas-objeto e visuais, sendo a última mostra individual Livros-objeto-livros, no Centro Dragão do Mar, Fortaleza, 2006, e em parceria, Exposição de arte, de Eduardo Coimbra, com Amália Giacomicini, Paço Imperial, Rio, 2006.
&
POÉTICA
Só se escreve a partir de certa abissalidade, da irregular consciência de que entre a linguagem e o mundo há sempre uma fresta, uma fissura. Escreve-se então na procura de sentido longe da mimese, fora das polaridades envelhecidas, no exercício do equilíbrio: poesia como limiar, como corda pela qual se atravessa o vazio da página. A invenção de um território verbal que promete chamar-se poema por extenso, nunca corresponde inteiramente à literatura, é dicção que ultrapassa a fronteira de nosso conhecimento para chegar a uma outra celebração do nomear (íntimo/coletivo): leitura ainda primogênita onde se trocam signos por sinais, cesuras por palavras. (Rio, dezembro de 2006)
Ou
POÉTICAS*I
Guardas e roubas das palavras os motivos, os vice-versa dobrados.
Ou impasse ou chama, ou as duas coisas de uma vez, segundo o dia e o ofício.
II
Sobre a mesma linha, qualquer pretexto das palavras é mortal.
Puro duelo dos motivos dentados, cara a cara.
III
Vergonha de que as palavras saibam mais do que é devido, de que caiam
nesse lado, sem dentro e fora, cravado mas sem empunhadura.
(*Tradução Armando Freitas Filho, revisão do autor)
2 comments:
ler sua poesia incessante; busca de silêncios, pontes e precipícios, paradoxos e contra-dicções.
entre um comentário e outro, um tempo para leitura e fim.
um fim até o limite de outro achar.
abraços
Hola, soy uruguaya, psicoanalista, vivo en Brasil hace 13 años, escribo poesía desde siempre. Por más que intenté, nunca logré escribir en portugués nada que me resultara interesante. Mi poesía continúa en un terco castellano. Me gustaría saber lo que piensa sobre el asunto, y leer más de su poesía. Tengo un blog interactivo donde vengo postando textos de escritores contemporáneos en el "exilio", buena parte de los textos son de escritores uruguayos en la diáspora. Si tiene algún texto, en cualquier idioma, sugestivo de ese tema, me gustaría postarlo en mi blog. La dirección es http://psicoanalisisyotrasintermitencias.blogspot.com y mi e-mail para contactos es veronicaperez@terra.com.br Abrazos, Verónica Pérez
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