Saturday, November 10, 2007

MASÉ LEMOS



mencionada por:
Izabela Leal
Marcos Siscar

menciona a:
Carlito Azevedo
Marcos Siscar
Régis Bonvicino
Paula Glenadel
Luiza Leite
Mauro Santa Cecîlia
Paulo Moreira


poemas





Os lados



Os cílios espessos


determinam


as cores


cinco


se voltam


a cada espessura


vários raios


cortam


os fios.








De lado

Os lados desenham diversos fragmentos

naquele vinil do Jimi Hendrix

as notas

embora às vezes aceleradas

lentamente querem alcançar

sem sobreaviso

elas ameaçam sobrepujar a simples canção encadeada.




o exercício das coisas

1- o cortador

acordo. volto à cama e conto todas as pintas do corpo. nada cresceu. ranhuras. o vermelho e o negro são tão cosméticos quanto banhos d’água oxigenada. espumantes. arranho. vontade ditirâmbica de passar merthilolate. arde dói, germicida. vetustos esparadrapos e gazes, complices. [o amor], unhas, lixas, pinças.


2- o creme

durmo. volto ao banheiro permeado de broncos insectos. um para o rosto, um para as pernas, outro para os seios, especial para o contorno. retinol. [azelha]. estrangeiros e peles. grudam, transformam-se em outros tantos. películas. pro sol, pro mar. gosmas em frasqueira empedernida.



3- o abajur

levanto. deito ao lado, mudo. os livros agitados. de um para o outro, pilhas entrecortadas. agir, ação. sentir, distração. sem, dicção. lençóis seiscentas linhas. conto uma a uma. penas de gansos intoxicados. espinheira santa noturna. o fato desenvolvido nunca empregado. seguro datilógrafas em tipografias bastante minúsculas para servirem de criado. [a vida], escovas, pentes, espanadores.


4- confort

a roda rodeada de triângulos, pontas arrendondadas.
circunscrita de arabescos sinuosos, eles o são sempre.
uma linha que rompe o vermelho formando uma oval.
coroada de bolas flutuando.
o encardido embrulho do corpo.
o pequeno ventre, um umbigo marcante.
poros pequeninos quase imperceptíveis.
de cor parda manchando de respingos.
pulam fios negros ordenados.

[Redor, 2007]


Bio/Biblio
Nasceu em Belo Horizonte e mora do Rio. Já foi advogada e designer gráfica. Doutora em letras (Paris 3) é pesquisadora e professora de literatura na Uerj. Fez algumas traduções para a Inimigo Rumor. Publicou em 2007 Redor pela 7letras.


poética
roubar outras, o silêncio, ler se apropriando, traduzir, ficar perto de.

"la poésie dit ce qu'elle dit en le disant (ne dit rien d'autre, le dit littéralement : non paraphrasable, voire, c'est encore pire, non interprétable), et à ceci : la poésie dit ce qu'elle dit en se disant (fait ce qu'elle dit et dit ce qu'elle fait). Réflexivité et littéralité ont quelque chose à voir. Littéralement c'est-à-dire explicitement. Proématiquement toujours. Et encore : la «littéralité» a affaire à la question (difficile) de : dire ce qui est, ce qui se passe, dire cela, transférer aux mots (impossiblement, mais nécessairement) cela qui est la réalité, le «réel», intraitable, etc. La réalité c'est-à-dire la nudité, la nudité dénudée, l'«ossature des choses»." [Jean-Marie Gleize]

4 comments:

Priscila Lopes said...

Ai, que coisa boa esse blog, este post em particular!

Apareça no Cinco Espinhos.

Fazemos crítica literária em forma de literatura. Também, toda semana, garimpamos a Internet à procura do texto que valha a pena de um autor desconhecido.

Ajude-nos a fomentar o debate acerca de literatura "contemporânea".

http://cincoespinhos.blogspot.com

Abraços!

Anonymous said...

Fiquei particularmente interessado com sua sintaxe, a forma como ela reagrupa as palavras formando sempre novas imagens, pictóricas e gramaticais. Gosto dos seus exercícios de linguagem, bom trabalho. Como faço para encontrar seu livro?

Abraço,
Luiz
http://rastrosdocoelho.blogspot.com

Clóvis Struchel said...

Maravilha este espaço.
Instigante, lírico, belo-belo.


Beijo.

Anonymous said...

Que site maravlilhoso.