foto: Bel Pedrosa
mencionado por:
Carlito Azevedo
Chacal
Heitor Ferraz
Juliana Krapp
Zuca Sardan
Cadão Volpato
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Carlito Azevedo
Chacal
Heitor Ferraz
Juliana Krapp
Zuca Sardan
Cadão Volpato
Ruy Proença
menciona a:
ZUCA SARDAN
menciona a:
ZUCA SARDAN
VERA PEDROSA
MARIA LÚCIA ALVIM
EUDORO AUGUSTO
ROBERTO SCHWARZ
JOÃO CARLOS PÁDUA
GERALDO CARNEIRO
CHARLES
VERA AMERICANO
NICHOLAS BEHR
ÂNGELA MELIM
MARIA LÚCIA VERDI
JOÃO MOURA
DUDA MACHADO
SEBASTIÃO NUNES
AUGUSTO MASSI
ANGELA DE CAMPOS
AGE DE CARVALHO
RONALD POLITO
JOSE ALMINO
A MORTE DE ALGUNS
Procuro na pasta
algum endereço
para orientar-me
em busca do termo
Mais certo talvez
olhar da janela
na tarde cruenta
tribos se devoram
Como sofreá-las
no impulso hediondo?
As leis não coíbem
a antropofagia
Ora, não me preocupo:
só termos pelejam
Os poetas se escondem
atrás de janelas
E não vejo sangue
na aragem anêmica
(termos se devoram
incruentamente)
A MORTE DE ALGUNS
Procuro na pasta
algum endereço
para orientar-me
em busca do termo
Mais certo talvez
olhar da janela
na tarde cruenta
tribos se devoram
Como sofreá-las
no impulso hediondo?
As leis não coíbem
a antropofagia
Ora, não me preocupo:
só termos pelejam
Os poetas se escondem
atrás de janelas
E não vejo sangue
na aragem anêmica
(termos se devoram
incruentamente)
Nesta guerra é certo
como em Uccello
só se valorizam
os gestos mais belos
Mesmo porque desertas
de homens as janelas
nelas só se vêem
poetas
(in Sol dos Cegos, 1968)
ORDENHA
Os dedos flácidos
acompanham trôpegos
o embate da testa
Ordenham esta idéia
e mais aquela outra
espremem bem a teta
Longe o telefone
acorda um latido-
o bastante afinal
para que a córnea escorra
sobre a fronha
(in Passatempo, 1974)
SONHAR OS HOMENS CANIBAIS
Sonhar os homens canibais
que moqueiam as carnes do combate-
em cada mão uma cabeça
nos ombros as pernas guerreiras
Lembrar os degraus da ilha
que algum passo há de descer.
Com paciência esperar
Pensar o mar
(in Lago, Montanha, 1981)
VARANDA DE UM VÔO
Um tempo de neve-
volta
por dentro do sol
e da água
Olho de um lago
que olha dentro de si
para se ver
não se ver
Olhar de fora
luz tamanha
névoa na neve-
montanha
(in Festas, 1981)
OS DOIS NA COZINHA
Entre os picumãs do teto da cozinha
havia um cipó velho
Que cipó é aquele meu tio?
Prendia umas cabaças com sebo de boi
Os pretos
Mesmo porque desertas
de homens as janelas
nelas só se vêem
poetas
(in Sol dos Cegos, 1968)
ORDENHA
Os dedos flácidos
acompanham trôpegos
o embate da testa
Ordenham esta idéia
e mais aquela outra
espremem bem a teta
Longe o telefone
acorda um latido-
o bastante afinal
para que a córnea escorra
sobre a fronha
(in Passatempo, 1974)
SONHAR OS HOMENS CANIBAIS
Sonhar os homens canibais
que moqueiam as carnes do combate-
em cada mão uma cabeça
nos ombros as pernas guerreiras
Lembrar os degraus da ilha
que algum passo há de descer.
Com paciência esperar
Pensar o mar
(in Lago, Montanha, 1981)
VARANDA DE UM VÔO
Um tempo de neve-
volta
por dentro do sol
e da água
Olho de um lago
que olha dentro de si
para se ver
não se ver
Olhar de fora
luz tamanha
névoa na neve-
montanha
(in Festas, 1981)
OS DOIS NA COZINHA
Entre os picumãs do teto da cozinha
havia um cipó velho
Que cipó é aquele meu tio?
Prendia umas cabaças com sebo de boi
Os pretos
antes de ir para o eito
untavam-se
Evitavam as frieiras
o reumatismo
(in O Corpo Fora, 1988)
UM TELEFONE
De nosso bisavô Teófilo
passou pra Vovô
de Vovô pra Tilê
de Tilê pro Nico
Agora está com Clara
Eu, criancinha, lá em BH
Ouvia: aqui é 2-7359
Hoje o prefixo é outro
221 mas o número
7359
o mesmo
untavam-se
Evitavam as frieiras
o reumatismo
(in O Corpo Fora, 1988)
UM TELEFONE
De nosso bisavô Teófilo
passou pra Vovô
de Vovô pra Tilê
de Tilê pro Nico
Agora está com Clara
Eu, criancinha, lá em BH
Ouvia: aqui é 2-7359
Hoje o prefixo é outro
221 mas o número
7359
o mesmo
(in Elefante, 2000)
Francisco Alvim
Nasce em 1938, em Minas Gerais. Livros: Sol dos cegos (ed. do autor, 1968); Passatempo (coleção Frenesi, 1974, Rio de Janeiro); Dia sim dia não, com Eudoro Augusto (coleção Mão no Bolso, 1978, Brasília); Lago, montanha (coleção Capricho, 1981, Rio de Janeiro); Festa (id.); Passatempo e outros poemas, coletânea dos livros publicados, à exceção de Dia sim dia não (Brasiliense,1981, São Paulo); Poesias reunidas, com o conjunto dos livros anteriores, inclusive Dia sim dia não, e mais o inédito O Corpo fora (Duas Cidades, 1988, São Paulo). Elefante (Companhia das Letras, 2000, São Paulo); Poemas – 1968/2000 (Cosac & Naify, 2004, São Paulo).
POÉTICA
Acho que os poemas acima, uns de modo mais direto, como “A Morte de Alguns” e, num de seus planos, “Ordenha”, dizem bastante do modo que tenho de pensar, quase sempre sem que tenha (se isso não é absurdo) conciência do que estou pensando, a poesia. A idéia que tenho deles, quando os leio sob esse prisma e neste momento, é de um certo jogo do poema com o real (no fundo, meu único interesse), o que traz de aparente vitória e de segura derrota. Nisso, devo estar tentando uma poesia que nasceu no sec. XIX e agonizou no sec. XX; que está morta, e não traz nenhuma idéia de futuro. Trago para aqui (sem estabelecer um vínculo com o que acabo de escrever) duas imagens, de duas poéticas que me encantam particularmente: a poesia como espécie de líquido amneótico que banha o universo e a vida humana, de Bandeira, e a imagem do poeta como esgrimista, numa luta incessante com o real, o dentro versus o fora (e vice-versa), de Baudelaire.
4 comments:
amneótico esgrimático!
Alvim é um poeta da memória afetiva.
escolho a mistura entre ostracismo-engano na barriga da mãe e um chute para fora do parto solar.
evoé
varanda de um vôo!
uau.
adorei
Belinha
francisco alvim é um daqueles poetas com uma forte ligação com o passado, diga-se a sociedade como já foi, um reacionário.
Mas tem umas tiradas legais.
grande alvim, certeiro.
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