Tuesday, November 28, 2006

CARLOS TAMM


mencionado por:
Janice Caiafa
Lu Menezes

menciona a:
(Ausentes do site)
Dora Ribeiro
Ferreira Gullar
José Almino
Lúcio Autran
Ronald Polito
Vivien Kogut




poemas:
Carne crua
Nas telhas dos dias claros
os portos de ruptura
o antes onde inteiro
escrevo e arranco
o papel da parede
e busco a camada
atrás da camada
por trás da qual
outra camada
parede toda amassada
onde o que é cru -
crua carne vermelha.

(De Osso e Vento, 1996)



Outra Família
Aquela dor sem culpa
ou sentido
imóvel, estalando
longe da vítima
ou algoz.
Fria, gelo no olho
emaranhado, aquilo
atroz – repartido
entre todos, vidro estilhaçado
de fé cega – o que sempre
já está tarde – neve
lama, luto – linha
sem chegada – urtiga
à beira da estrada, estrépito:
alma
entre nós.
(De Sob Luz Branca, 2002)

História


Era uma vez.
Havia uma voz.
Tudo era escuro.
No princípio era o Verbo.
E então.
Para sempre.
Que.
Disse o lobo.
Seu pai tinha morrido.
Eles eram pobres.
Ela era uma princesa.
O gigante.
Havia um castelo.
Floresta.
Foi deixado na floresta escura, nu e pobre.
Fez-se a luz.
Hoje está aqui.
A floresta também.

(Inédito)





bio/biblio: Carlos Tamm, carioca com raízes mineiras, tem 46 anos, é poeta e psicanalista. Mestre em Letras pela PUC-Rio com tese sobre Ana Cristina Cesar, é membro e professor da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Colaborou com poemas, contos, traduções e ensaios com o Jornal Verve, revistas Poesia Sempre, O Carioca, Azougue, Trieb, Ficções, EntreClássicos e Revista Camoniana, entre outras publicações. Foi premiado nos concursos de poesia Raimundo Corrêa (1988), Jornal Verve (1989) e Stanislaw Ponte Preta, da Secretaria Municipal de Cultura (1992). Publicou os livros de poemas Osso e Vento (Ed. Sette Letras/ 1996) e Sob Luz Branca (Azougue Editorial/2002), premiado no Concurso Literário Internacional Maestrale-San Marco, na Itália (2003). Finalizou recentemente o romance Esse Rio Sem Ponte.



Poética:
Na poesia e na arte de que gosto penso que atua uma força centrípeta: lapidar para chegar ao mais bruto, como fez Paul Klee, como faz Gullar. Gosto também da idéia expressionista de receber o impacto do mundo (externo e interno) para devolvê-lo transformado – no nosso caso operando com a sintaxe - de acordo com a própria percepção.
Acho que a poesia é mais busca do que descrição de algum sentido. Esbarramos a todo momento nos limites da linguagem, como faz a Alice de Lewis Carroll. Ocasionalmente roçamos esses limites, tornando evidentes as falhas de sentido ocultas na fala comum, terra estreita para tanto mar. É o máximo que podemos alcançar: Holanda construindo diques.


1 comment:

Anonymous said...

o ar puro - reflexo
fluído da vida-indigência
numa libelada criação,
celérica
longe do fluxo das armadilhas cotidianas
turíbula minha aura
em tudo que passa por meu envolto querer.