Wednesday, July 25, 2007

FABRÍCIO CARPINEJAR



Foto: Eduardo Nasi (RS)


mencionado por:
Jorge Lucio de Campos
Mariana Ianelli
Pedro Maciel

Leandro Sarmatz

menciona a:
Ricardo Aleixo
Wilmar Silva
Leandro Sarmatz
Paulo Scott
Leonardo Fróes
Geraldo Carneiro



POEMAS

O que procuras no tapete
verde que não tenha sido limpo?
Estirado como uma flecha, uma cruz,

dormes sem conforto, um peixe
dentro da baleia do corredor,
a espirrar espuma, a respirar

para todos os lados da carne.
O que pretendes me dizer?
Cuidado, filho, o chão alucina.

Meu filho, fala alto,
meu ouvido está no fim,
já não escuto a minha infância,

já não sei pensar com os símbolos,
as metáforas e os sinais.
Alguns amadurecem, a maioria cansa.





Do livro "Meu Filho, Minha Filha" (Bertrand Brasil, 2007)










Mal leio os jornais de manhã.
Fui me desinformando por completo,
eliminando a noção das enchentes, das calamidades,
dos crimes, o que me alojava no mundo.


Não tenho nada para conversar
que não seja escrito.


Prefiro comer em silêncio, como se estivesse pescando.


Ergo os joelhos na cama para acordar e volto a dormir.
O quarto já tem o cheiro de meu corpo.
Com o cinza fúnebre das tumbas,
as pombas arrulham nas telhas e não me dão paz.


Fracasso para poder contar aos filhos.
Pouco resta de minha intuição.
Aqui estou, como tu, cavando
uma posição para não morrer à toa.


Não há regresso possível sem que alguém fique.


Toco o sexo, toco, movido pelo tédio,
esperando uma explosão áspera,
o dobrar da seiva, toco, conferindo se respiro.


Quem não chegou a uma estação tarde de si
a pressentir que o último ônibus já passou?


("Como no céu/Livro de Visitas", Bertrand Brasil, 2005)












Separar-se é ter a residência invadida.
Conferir peças na sala, armário,
carteira, com pouca noção exata
do que foi embora.
Olhar desconfiado
aos objetos que viram
e nada dizem.


Separar-se, uma porta
arrombada por dentro.


("Cinco Marias", Bertrand Brasil, 2004)








Fazer as coisas pela metade
é minha maneira de terminá-las.


("Cinco Marias", Bertrand Brasil, 2004)










bio/biblio
Nasceu em 1972, na cidade de Caxias do Sul (RS), Fabrício Carpi Nejar, Carpinejar, é poeta, cronista, jornalista e professor. É autor dos livros de poesia "As Solas do Sol" (1998, 2ª edição, Bertrand Brasil), "Um Terno de Pássaros ao Sul" (2000, 3ª edição, Bertrand Brasil), "Terceira Sede" (2001, 2ª edição, Escrituras), "Biografia de uma árvore" (2002, 2ª edição, Escrituras), "Caixa de sapatos" (2003, Companhia das Letras), "Cinco Marias" (2004, 2ª edição, Bertrand Brasil) e "Como no céu/Livro de Visitas" (2005, Bertrand Brasil), do livro de crônica "O Amor Esquece de Começar" (Bertrand Brasil, 2ª edição, 2006), e dos infantis "Porto Alegre e o Dia em que a Cidade Fugiu de Casa" (Alaúde, 2004) e "Filhote de Cruz-credo" (Girafinha, 2006).


Em abril de 2007, publicou um novo livro de poesia, "Meu filho, minha filha", pela Bertrand Brasil, que já está na 2ª edição.


Recebeu vários prêmios como o Erico Verissimo 2006, pelo conjunto da obra, pela Câmara Municipal de Vereadores de Porto Alegre; Olavo Bilac 2003, da Academia Brasileira de Letras; Cecília Meireles 2002, da União Brasileira de Escritores (UBE); duas vezes o Açorianos de Literatura, edições 2001 e 2002.


Carpinejar também foi traduzido ao alemão por Curt Meyer-Clason e assinou contrato com Italianova e Terre de Mezzo (Itália) e Éditions Eulina Carvalho (França). articipou de coletâneas no México, Colômbia, Índia, Estados Unidos, Itália, Austrália e Espanha. Em Portugal, a Quasi editou sua antologia Caixa de sapatos (2005).


Seu blog http://fabriciocarpinejar.blogger.com.br já ultrapassou a marca de 370 mil visitantes.








poética


Não desejo escrever como o pássaro canta, mas cantar como o pássaro escreve.

4 comments:

Anonymous said...

FABRÍCIO CARPINEJAR:
se seus poemas são sua imagem, se houve um proposito em reunir esses poemas... entendo alguns sentimentos que não são fáceis de transmitir.
apenas, não corro o risco de repeti-los como mantra porque a intensidade não é para todos os momentos.

Anonymous said...

nessa parte
será que é assim:

Hão há regresso possível sem que alguém fique.

acho que é não no começo.

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Carpinejar, sua poetica é forte. se ela reflete quem és, decifra-se faustosiosamente para mim.
gosto muito dos poemas assim reunidos por que eles tem o poder de transportar quem lê para a esfera de criacoes que não foram, como na leitura, sucessivas.
te abraço
afonso alves

Unknown said...

Debo decir que me ha gustado. ¿Què más puede uno decir de la poesía?
Como dijo alguien: "Acho porque acho, argumentos arranjo depois"

Anonymous said...

fabrício carpinejar, embora um poeta não se meça com fita métrica - como bem disse drummond -é o maior poeta brasileiro em atividade, ao lado de ferreira gullar.
j.