MARCELO DINIZ
Foto: Bia Petri
mencionado por
Armando Freitas Filho
André Luiz Pinto
menciona a
Antonio Cicero
Adolfo Montejo Navas
Angélica FreitasFrancisco Bosco
Leonardo Gandolfi
poemas:
1. Uma gota no lóbulo da orelha
esquerda quase - curvo, o basculante
e, das suas esguelhas, a cidade
hesitam refletir-se - um alarido
ou um brinco? - não pergunte, escute - tudo
não passa de uma gota pensa, quase
às três horas da tarde - ninguém há de
lembrar a data de hoje, quantas coisas
destinadas ao ralo - ninguém há de
se lembrar desta gota que do lóbulo
da orelha esquerda quase - não, você
não vai morrer agora nem o mundo,
prédios, desertos, mares, bibliotecas,
há de acabar neste segundo - cai.
2. Um dia hei de escrever como uma escada
de incêndio que por fora de um imenso
edifício descesse e, em contra-senso,
esquecesse que sua imensa arcada
às paredes do prédio fosse atada,
e assim, em sua urgência, tal suspenso
delírio não soubesse mais se incenso
que subisse ou escada despregada,
e, sem saber se sobe ou desce, a escrita
já não reconhecesse mais a lei
da gravidade e, ainda que esquisita
a alguém pareça a escrita que não sei
aonde leva nem qual incêndio agita,
como escada, escrevê-la, uma dia hei.
14. Definitivamente, não seremos
nós, meu raro leitor, a nossa pressa,
o nosso tempo escasso, mal sabemos
o que dizer ao outro, quanto mais
o que no fim das contas vai valer,
que valha a pena ao menos, que não tenha
sido em vão o minuto, ainda que míopes
sejamos nós, que surdos-mudos sejam
todos amanhã, não seremos nós,
pois nós sequer seremos, como o pó
que se espana dos livros, nós sequer
repousaremos, nós, os nossos olhos,
passageiro leitor, mal se encontraram,
e seguem seu caminho sem retorno.
bio/biblio
Nasci em 1967. Publiquei dois livros: Trecho - Aeroplano e Biblioteca Nacional, 2002 - e Cosmologia - 7 Letras, 2004. Componho letras de música para Fred Martins.
poetica
3. Um soneto por dia, eis a missão,
e enquanto arrumo a rima de segunda,
um avaro mistério na segunda
estrofe do de ontem ainda não
me bateu uma sílaba na mão,
mas o de quarta já na tela abunda
tanto que para quinta, já rotunda,
a quarta estrofe quase cai no chão,
um soneto por dia, o desgraçado
que no sábado enfia aqui um flamingo
a fim de que se prove um fim rimado,
– rima rara? – cogita e grita – bingo! –
e, sem vergonha, ajusta este safado
truque de arrematar o de domingo.
4 comments:
oi, aníbal!
que legal o teu blog!
passei aqui por indicação da angélica, que sempre rende ótimas dicas na internet. show, adorei o projeto.
beijinhos
que bom você ter gostado ana. obrigado. ainda estamos na fase de decolagem, mas acredito que em pouco tempo teremos mais e mais poetas para apresentar.
abraços,
a.-
Adorei este lugar.
Freqüento este endereço de poesia desde o começo, por indicação do Marcelo Diniz, sou flautista e decoro poemas como decoro música.
Já estou viciada neste endereço, aí achei que deveria escrever.
tina
Post a Comment