mencionado por:
Marcelo Diniz
Claudia Roquette-Pinto
Caio Meira
Michel Melamed
Cláudio Oliveira
menciona a:
Renato Rezende
Angélica Freitas
Lu Lapan
poemas:
3 poemas do livro Da Amizade (7Letras, 2003)
As Musas
1. Pequeno manual do ócio
2. (ou, três movimentos de uma hecatombe doméstica):
3. saturar as horas,
4. deixar crescer as unhas,
5. escutar com os pés.
6. “Poemas são presentes para os atentos”.
7. Dão um boi para não aparecer e uma boiada para não ir embora.
8. Não se consegue ler na presença delas;
9. pois estão sempre murmurando algo que, embora indistinto, parece ser mais interessante que qualquer livro.
10. Têm a distância por regra,
11.
12.
13.
14. mas quando estão perto: números, aspas, vazios - tudo torna-se forma.
A Estória da Madame de la Pomeraye e o Marquês des Arcis
Não se amavam mais; melhor
dizendo, eram suas vidas
corroídas por qualquer
coisa que fora perdida
(ambos sabiam, porém
empurravam com a barriga).
Até que um dia a Marquesa,
racional e destemida,
abriu as cartas na mesa:
o amor já não existia.
O Marquês, reconhecendo
igualmente a chama fria,
de bom grado assentiu
à recíproca alforria.
Entretanto, de repente,
eis que um sentimento errático
na Marquesa penetrava,
destruindo o espetáculo
de um desamor sensato:
ressentida e patética,
a Marquesa vingativa
revelava que a ética
do amor não admite
uma tal razão tão prática
(a propósito, o Marquês,
depois de ter imitado
da outra a fria distância,
sugeriu, entusiasmado,
se tornassem confidentes
sobre futuros amados:
há perigos à espreita
nas paixões desencantadas,
onde, embaixo de sorrisos,
facas, lâminas, espadas).
O Fim do Livro
1. (Não no sentido pedagógico, teleológico ou histórico-apocalíptico. No sentido doméstico).
2. Os livros, ao contrário dos poemas, nunca sabemos quando terminam.
3. (Os poemas terminam “com um corte brusco de luz”).
4. (Mas não os livros: maiores e mais complexos, um corte brusco não os atinge em sua totalidade).
5. (Os livros não terminam agora, como os poemas
6. (os livros têm fundos falsos, como a cartola dos mágicos),
7. terminam depois - e aos poucos, sob hesitações).
8. (Pois na mão do escritor há pulsões de vida e de morte).
9. (Deve-se tomar cuidado com as pulsões de morte).
10. (Por isso Horácio advertia os estreantes, que as têm mais urgentes: nonum prematur in annum).
11. (Ou, traduzido do latim gnômico para o português vulgar: os livros são como cagar - quanto mais se segura, melhor eles saem.)
bio/biblio
francisco bosco é ensaísta e letrista, autor de 'da amizade' (7letras, 2003) e 'dorival caymmi' (pela série 'folha explica', ed. publifolha, 2006)
8 comments:
ola que maravilha
adorei ler o francisco
e mui lisonjeada com a menção
beijo da baleia lu lapan
caro cristobo,
poderia colocar um link para a baleia em meu lu lapan na menção do francisco?
e como efetivamente participar afectivamente na escolha e mencionar?
congratulações ao intento
e um abraço da baleia
lu lapan
que bom que voce apareceu desde as profundezas: queria falar consigo mas nao consigo. nao tinha teu e-mail. agorinha te escrevo mesmo.
a.-
Vejo a dissonancia inerte
deitadas nas antenas
ir ao além mais uma vez - com bordao.
De qualquer maneira, partir-ir.
A longa lâmina do fluxo d´água heracliticamente o torvelinho de dureza de ser co-tidiano.
como poeta, o francisco é um ótimo colírio...
Isso aqui é genial!!
Esse encontro de tantos poetas contemporâneos..
Parabéns ao autor!!!
Adorei "(os livros têm fundos falsos...)". Os poetas também têm fundos falsos.
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