Tuesday, August 29, 2006

FRANCISCO BOSCO



mencionado por:
Marcelo Diniz
Claudia Roquette-Pinto
Caio Meira

Michel Melamed
Cláudio Oliveira

menciona a:

Renato Rezende
Angélica Freitas
Lu Lapan


poemas:
3 poemas do livro Da Amizade (7Letras, 2003)


As Musas


1. Pequeno manual do ócio

2. (ou, três movimentos de uma hecatombe doméstica):

3. saturar as horas,

4. deixar crescer as unhas,

5. escutar com os pés.

6. “Poemas são presentes para os atentos”.

7. Dão um boi para não aparecer e uma boiada para não ir embora.

8. Não se consegue ler na presença delas;

9. pois estão sempre murmurando algo que, embora indistinto, parece ser mais interessante que qualquer livro.

10. Têm a distância por regra,

11.

12.

13.

14. mas quando estão perto: números, aspas, vazios - tudo torna-se forma.





A Estória da Madame de la Pomeraye e o Marquês des Arcis


Não se amavam mais; melhor
dizendo, eram suas vidas

corroídas por qualquer
coisa que fora perdida

(ambos sabiam, porém
empurravam com a barriga).

Até que um dia a Marquesa,
racional e destemida,

abriu as cartas na mesa:
o amor já não existia.

O Marquês, reconhecendo
igualmente a chama fria,

de bom grado assentiu
à recíproca alforria.

Entretanto, de repente,
eis que um sentimento errático

na Marquesa penetrava,
destruindo o espetáculo

de um desamor sensato:
ressentida e patética,


a Marquesa vingativa
revelava que a ética

do amor não admite
uma tal razão tão prática

(a propósito, o Marquês,
depois de ter imitado

da outra a fria distância,
sugeriu, entusiasmado,

se tornassem confidentes
sobre futuros amados:

há perigos à espreita
nas paixões desencantadas,

onde, embaixo de sorrisos,
facas, lâminas, espadas).




O Fim do Livro


1. (Não no sentido pedagógico, teleológico ou histórico-apocalíptico. No sentido doméstico).

2. Os livros, ao contrário dos poemas, nunca sabemos quando terminam.

3. (Os poemas terminam “com um corte brusco de luz”).

4. (Mas não os livros: maiores e mais complexos, um corte brusco não os atinge em sua totalidade).

5. (Os livros não terminam agora, como os poemas

6. (os livros têm fundos falsos, como a cartola dos mágicos),

7. terminam depois - e aos poucos, sob hesitações).

8. (Pois na mão do escritor há pulsões de vida e de morte).

9. (Deve-se tomar cuidado com as pulsões de morte).

10. (Por isso Horácio advertia os estreantes, que as têm mais urgentes: nonum prematur in annum).

11. (Ou, traduzido do latim gnômico para o português vulgar: os livros são como cagar - quanto mais se segura, melhor eles saem.)




bio/biblio



francisco bosco é ensaísta e letrista, autor de 'da amizade' (7letras, 2003) e 'dorival caymmi' (pela série 'folha explica', ed. publifolha, 2006)

8 comments:

baleia said...

ola que maravilha
adorei ler o francisco
e mui lisonjeada com a menção

beijo da baleia lu lapan

baleia said...

caro cristobo,
poderia colocar um link para a baleia em meu lu lapan na menção do francisco?

e como efetivamente participar afectivamente na escolha e mencionar?

congratulações ao intento
e um abraço da baleia

lu lapan

Aníbal Cristobo said...

que bom que voce apareceu desde as profundezas: queria falar consigo mas nao consigo. nao tinha teu e-mail. agorinha te escrevo mesmo.
a.-

Anonymous said...

Vejo a dissonancia inerte
deitadas nas antenas

ir ao além mais uma vez - com bordao.
De qualquer maneira, partir-ir.

A longa lâmina do fluxo d´água heracliticamente o torvelinho de dureza de ser co-tidiano.

Anonymous said...

como poeta, o francisco é um ótimo colírio...

Carleto Gaspar 1797 said...

Isso aqui é genial!!


Esse encontro de tantos poetas contemporâneos..

Parabéns ao autor!!!

Daniel Féres said...
This comment has been removed by the author.
Anonymous said...

Adorei "(os livros têm fundos falsos...)". Os poetas também têm fundos falsos.