Monday, August 21, 2006


MANOEL RICARDO de LIMA


Foto: Júlia Studart
menciona a: 
Carlos Augusto Lima
Carlito Azevedo
Franklin Alves Dassie
Marília Garcia
Régis Bonvicino
 
Ricardo Aleixo  
Cristiano Moreira
mencionado por:
Marília Garcia
Franklin Alves Dassie
Maria Esther Maciel
Laura Erber

poemas:


de polir com areia

a água dorme no fundo
da casa. mas tudo dorme
no fundo da casa. se uma
esfera de papéis
avulsos, o grampo do fundo
da esfera desfeito.
o exílio encostado ao lado
da janela, uma ou
duas árvores, alguém conversa
o tempo inteiro e fala alto
sobre desertos sem
qualidade –
uma linha muda, o que
se refaz.
um campo de trabalho
a quem se morre num
campo de trabalho numa outra
guerra pura num breve
embaraço, este
um mundo sem miniatura
dentro de casa e todas
as passagens numa
convoluta, à tarde

Asja Lacis se me visita
enquanto o olhar
pousa:
ninguém reage à minha
frente
, com medo

tinha um sonho bem
aqui ao lado da minha mão
distraindo a fenda daquilo
a que não se diz nome:
as paredes desabando no meio
da cabeça, a gente, estas outras
duas borrachas brancas, esta luz
forte, o slogan que grita:
ninguém
passa
. a menina olha, a menina
faz buuu.
se ele disse hopper, ele disse
ele voltou a deitar no meio da
sacada. e ninguém se aproxima
tão rápido, ele ouve. menos
o murmúrio, você disse, repetindo
que ele sempre deita no meio
da sacada, outra vez.
lembramos os desertos: lugar
de repetir o infinito. ele também
perdeu um amigo por
atropelamento. quase não respira,
ofega.
o que nos prende a ele? o que
nos faz confiar nele?
precisamos
voltar a arrumar os desertos, como
nos dissesse. ou encenasse um
desvio de hopper:
o cão deitado e
o sol.
quem sabe a quem aqui, quem
sabe o que. a palavra a palavra
e a falta: lejos.


bio/biblio


Manoel Ricardo de Lima nasceu em Parnaíba, PI, 1970. É professor de Literatura Portuguesa da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, onde também faz doutorado em Teoria da Literatura, Textualidades Contemporâneas, a partir de Joaquim Cardozo e Ruy Belo. Publicou Embrulho (7Letras, RJ, 2000); Falas Inacabadas - Objetos e um Poema, com a artista visual Elida Tessler (Tomo Editorial, RS, 2000); Entre Percurso e Vanguarda - alguma poesia de P. Leminski (Annablume, SP, 2002), As Mãos (7Letras, RJ, 2003) e outra manhã, uma plaqueta, com Anibal Cristobo e Eduardo Frota (Dragão do Mar, CE, 2006). É colaborador como articulista de alguns jornais e revistas. Vive em Florianópolis.


"Minha idéia com o texto e no entorno ao texto é tentar pontuar uma experiência móvel daquilo que não sei, algo mais perto de um fronteiriço com outras coisas e outros sensos da linguagem, algo mais pantanoso, algo em que a própria noção de fronteira se desapareça mesmo que num limite artificial. O poema, se poema, como uma pulverização do que poderia dizer. E assim, tentar deslocar um pouco a mim e ao texto da tradição, dos cânones, das filiações, das mesquinharias etc. Penso o texto não como permanência, mas como aquilo que pode morrer; depois como dignidade, como política, como uma ética. Gosto também de pensar o meu trabalho se fazendo junto ao trabalho de outras pessoas que fazem outros moveres, numa conversa, numa tensa. É que isto, de alguma maneira, desfaz o ego, diminue os silêncios e amplia o segredo de nossos trabalhos, destas experiências do não; e creio que isso é muito legal." Manoel Ricardo de Lima

9 comments:

Aníbal Cristobo said...

Muito obrigado, Thiago. Acredito que esta "bola de neve" vai nos deparar muitas surpresas e alegrias - a todos. Fico atente. Pode contactar comigo no meu e-mail: kriller71@hotmail.com - abraço fraterno, a.-

@renatagames said...

adorei isto aqui. novas tecnologias para o bem. adorei os novos poemas do MR Lima (P., agora posso eu deixar comentários num blog pra você!). sobretudo o do Hopper -- suspeito, ele sabe por quê.

não conheço você, Aníbal, mas já também apóio a iniciativa.

Renata

Aníbal Cristobo said...

Muito obrigado, Renata. A acolhida que vocês estao dando ao projeto me faz pensar que verdadeiramente todos vamos desfrutar muito. Tomara que assim seja. Abraço,
a.-

Aníbal Cristobo said...

Muito obrigado, Cláudia. Sinta-se em familia mesmo... como em casa.
Abraços,
a.-

Anonymous said...

Mané, outro dia li um poema seu chamado "Praia". Estava na estante do Carlins, no trabalho. Mané, como esses aqui, aquele também era lindo. Um arraso. A cópia me acompanha, na mala. Sua poesia, Mané, vai saindo do fundo da casa. Gostei muito. Abraços, Heitor

Anonymous said...

manoel, te procuro há tanto tempo, sempre que escrevo pro teu email da UOL recebo um bounce back; escreve pra mim? tenho saudades e silêncios.
aníbal, ótimo blog!!!
beijos
tat(y)iana

Aníbal Cristobo said...

Obrigado Tatiana! Acredito que aqui acabara por encontrar o Mané sim... rs...
abraços
a.-

Priscila Lopes said...

Ah, o Manoel é sensacional! Tenho orgulho em tê-lo tido como professor. Aprendi com ele sobre "melancolia" e "confinamento", levo comigo inserido em quase tudo que escrevo.

Sobre-
vivo.

Unknown said...

Os poemas são muito bons