Saturday, October 14, 2006

ANA ELISA RIBEIRO




menciona aElisa Andrade Buzzo
Mônica de Aquino
Lau Siqueira
Luiz Roberto Guedes


poemas



Peças de madeira em pau-marfim

A linha dos olhos
faz flechas da cor de futuros
As mãos formam conchas
de pegar contentamentos
Os pés são grandes como
as telas holandesas realistas
O corpo inteiro é um tabuleiro
de jogar jogos de azar
As costas quadriculadas
As coxas quadriculadas
A boca quadriculada
Onde eu me finjo
de dama




Antigüidade d’onde viemos
Péricles disse que a maior virtude de uma mulher
Era ficar calada.
Péricles se fodeu.
Péricles, hoje, levaria uma surra
dada por mil mulheres como eu.






Ciuminho básico
escuta
calado
a proposta rude
deste meu
ciúme:
vou cercar tua boca
com arame farpado
pôr cerca elétrica
ao redor dos braços
na envergadura
pra bloquear o abraço
vou serrar teus sorrisos
deixar apenas os sisos
esculhambar com teus olhos
furá-los com farpas
queimar os cabelos
no pau acendo uma tocha
que se apague apenas
ao sinal da minha xota
finco no cu uma placa
"não há vagas, vagabundas"
na bunda ponho uma cerca
proíbo os arrepios
exceto os de medo
e marco no lombo, a brasa,
a impressão única do meu dedo.



bio/bilio

Ana Elisa Ribeiro nasceu em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, em 1975. Graduou-se em Letras, língua portuguesa, e desenvolve tese de doutoramento sobre a formação de leitores de textos na Internet. Publicou Poesinha (Poesia Orbital, 1997) e Perversa (Ciência do Acidente, 2002), além de minicontos e poemas em revistas e jornais, no Brasil e em Portugal. É cronista do site Digestivo Cultural (www.digestivocultural.com). Tem dois livros prontos para serem publicados: Meu amor é puro sangue, de contos, e Portáteis, de poemas.


poética
Um jeito exato de dizer as coisas? A poesia de que eu gosto não pode ser simbólica, nem aproximada. À maneira do que diz Ítalo Calvino em suas seis propostas, identifico a poesia com a exatidão do que é dito. Melhor: não com o conteúdo, que pode ser inexato, como de resto tudo é, mas o jeito de dizer, a forma que se propõe, sim, esta deve ser exata. E ao mesmo tempo leve. Poesia que tem peso me parece prosa. Talvez fosse um romance travestido com a roupa errada. Um engano. Poesia deixa bolhas no ar. É um atrevimento. Mas vejam que ela consegue suspender tudo no último verso. Eu acredito em chave-de-ouro como ninguém. Um poema não pode ser em capítulos. Ele é tudo. Não digo daquela chave-de-ouro com rimas, mas do fechamento da idéia num zíper de aço cirúrgico. Precisão. O poema tem que conter. E deixar o leitor incontido.

1 comment:

João Evangelista Rodrigues said...

i, ana, lhe enviei um comentário atraavés do Digestivo Culatural...gostaria de manter contato com vc...meu email:jevare@uaigiga.com.br
31- 3317 55 25 e 94 31 48 21
Até mais, ]
João Evangelsita