mencionado por
Rodrigo de Souza Leão
menciona a
Claudia Roquette-Pinto
Lu MenezesVivien Kogut
Claudio Daniel
Fabricio Carpinejar
Rodrigo de Souza Leão
poemas
O PRAZER DO TEXTO
a Roland Barthes
Ainda que não haja céu
e a desolação da terra
seja um fato prumo
espírito
tudo dorme em retirada −
colar de ceifa e flama
Então resolvo, na verdade, a
mim não cabe o mundo
indiscernível toque
de matema
apenas sei de frases verdes −
nela
o jarro d’água em
que mergulho e
oferto ao vão do mundo
: o que fala e aquieta o
mais-ser do que não-é?
: o que na luz pensada
da manhã sem pernas
o lábio raspa
a frase, não na
hora incerta e metafísica
em que o prazer nos range
não importa quão
distinto-escuro
(Do inédito: A hipótese do cinza)
A ORIGEM DO SENTIDO
a Emmanuel Levinas
1
Eu queria ter
lágrimas
minando em
meus olhos
como sonhos −
coisas leves
que a razão já
leva embora
2
É quando
sinto o solo −
a substância
do solo −
e me aproximo
da morte que
me faz sorrir
3
Não me importa
tanto o que aspiro
se respiro sem
risadas, devaneios −
passo de uma
idéia à outra
sinto o humor
infindo do que é
4
Mas a morte
(que não me
deixa quieto)
sempre me
pergunta:
“quando?”
(Do inédito: Devoração)
CÃO
a Francis Bacon
Um cão se meteu
em minha alma
pra não mais sair ─
não quero que saia
mas que desvele
um vagalhão de
estrelas
Não penso em vê-lo
nem ouso ouvi-lo ─
que parques floridos
o façam por mim
em meio a grandes
revoadas
Nem a polpa do
mundo, nem o luto
impossível de seu
pelo negro, seus
melismas, fatias
de luz
nem o estar-aqui
do mundo pode
explicar um cão
assim
(Do inédito: A chegada do outro)
bio/biblio
JORGE LUCIO DE CAMPOS nasceu no Rio de Janeiro em 15 de setembro de 1958. Publicou as coletâneas: Arcangelo (1991), Speculum (1993), Belveder (1994), A dor da linguagem (1996) e À maneira negra (1997). É ensaísta e professor da UERJ (Filosofia e Teoria da Arte Contemporânea), desde 1986.
poética
Sobre a poesia gostaria de reafirmar que, em minha opinião, fazê-la é dizer muito – o máximo que a palavra permite no momento tão tênue e alongado do versejamento, do transe estético, do esgarçamento sensório-conceitual – sobre o mundo que nos cerca, com a condição que interferir nessa relação com a treva, de atirar um pouco de luz no processo através do apuro da forma, da geometrização do caos, ou seja, é avançar sobre o mundo, procurar desabismá-lo, desdesertificá-lo e dizer, com isso, todo o possível sobre ele, de modo a reaproximá-lo, torná-lo, novamente, íntimo de si mesmo.
Rodrigo de Souza Leão
menciona a
Claudia Roquette-Pinto
Lu MenezesVivien Kogut
Claudio Daniel
Fabricio Carpinejar
Rodrigo de Souza Leão
poemas
O PRAZER DO TEXTO
a Roland Barthes
Ainda que não haja céu
e a desolação da terra
seja um fato prumo
espírito
tudo dorme em retirada −
colar de ceifa e flama
Então resolvo, na verdade, a
mim não cabe o mundo
indiscernível toque
de matema
apenas sei de frases verdes −
nela
o jarro d’água em
que mergulho e
oferto ao vão do mundo
: o que fala e aquieta o
mais-ser do que não-é?
: o que na luz pensada
da manhã sem pernas
o lábio raspa
a frase, não na
hora incerta e metafísica
em que o prazer nos range
não importa quão
distinto-escuro
(Do inédito: A hipótese do cinza)
A ORIGEM DO SENTIDO
a Emmanuel Levinas
1
Eu queria ter
lágrimas
minando em
meus olhos
como sonhos −
coisas leves
que a razão já
leva embora
2
É quando
sinto o solo −
a substância
do solo −
e me aproximo
da morte que
me faz sorrir
3
Não me importa
tanto o que aspiro
se respiro sem
risadas, devaneios −
passo de uma
idéia à outra
sinto o humor
infindo do que é
4
Mas a morte
(que não me
deixa quieto)
sempre me
pergunta:
“quando?”
(Do inédito: Devoração)
CÃO
a Francis Bacon
Um cão se meteu
em minha alma
pra não mais sair ─
não quero que saia
mas que desvele
um vagalhão de
estrelas
Não penso em vê-lo
nem ouso ouvi-lo ─
que parques floridos
o façam por mim
em meio a grandes
revoadas
Nem a polpa do
mundo, nem o luto
impossível de seu
pelo negro, seus
melismas, fatias
de luz
nem o estar-aqui
do mundo pode
explicar um cão
assim
(Do inédito: A chegada do outro)
bio/biblio
JORGE LUCIO DE CAMPOS nasceu no Rio de Janeiro em 15 de setembro de 1958. Publicou as coletâneas: Arcangelo (1991), Speculum (1993), Belveder (1994), A dor da linguagem (1996) e À maneira negra (1997). É ensaísta e professor da UERJ (Filosofia e Teoria da Arte Contemporânea), desde 1986.
poética
Sobre a poesia gostaria de reafirmar que, em minha opinião, fazê-la é dizer muito – o máximo que a palavra permite no momento tão tênue e alongado do versejamento, do transe estético, do esgarçamento sensório-conceitual – sobre o mundo que nos cerca, com a condição que interferir nessa relação com a treva, de atirar um pouco de luz no processo através do apuro da forma, da geometrização do caos, ou seja, é avançar sobre o mundo, procurar desabismá-lo, desdesertificá-lo e dizer, com isso, todo o possível sobre ele, de modo a reaproximá-lo, torná-lo, novamente, íntimo de si mesmo.
2 comments:
Jorge Lúcio de Campos é um poeta muito interessante, merece ser lido com atenção.
Claudio Daniel
Descomer, espanto pacífico pela luz que me paliava
A Jorge Lucio de Campos que seu vaivém, triagem de um poeta – filósofo.
Me fez enxergar venustamente, o estourar.
Pocar no interior de um matuto
Um sonho de porta-olhar-lira.
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