Saturday, October 21, 2006

CHACAL


mencionado por
Michel Melamed
Zuca Sardan
Francisco Alvim

menciona a
Marcelo Montenegro
Luís Felipe Leprevost
Paulo Henriques Britto
Viviane Mosé
Chico Alvim
Zuca Sardan



poemas



a palavra e o corpo

a palavra mora no papel
com vírgulas hífens crases reticências
leva uma vida reclusa de carmelita descalça

o corpo aprende a ler na rua
com manchetes de jornais
jogadas na cara pelo vento
com gírias palavrões
zoando no ouvido
com gritos sussurros
impressos na pele
o corpo sabe letras com gosto
de carne osso unha e gente

o corpo lê estrelas
o corpo conhece os sinais
o corpo não mente
o corpo quer sair do sufoco
o corpo quer dizer o que sabe
o corpo sabe
o corpo quer
o corpo diz:
- falapalavra !!!


publicado em " a vida é curta pra ser pequena" (2002)





caro ácaro
I

bailar
como um dervixe
como um zulu

bailar
e abolir o fixo
o estável o previsto

bailar
e bulir com as células
a linfa o plasma

bailar
e fluir como um rio
e flanar pelo rio

bailar





II

dançar
e não estagnar, carne triste
em presídios, hospícios, escritórios

dançar
e deixar o corpo ditar o rítmo
e deixar a boca soltar a voz

( quem sou eu para contrariar meu corpo
aliás, quem sou eu senão meu corpo?
quem é esse que diz eu?

um anãozinho com distúrbios sexuais?
um infeliz que se faz de vítima?
um bípede implume? um impostor vulgar? )

dançar



VIDA ERRADA

Estou passando pelos 35 anos de poeta desde Muito Prazer, Ricardo, cem cópias mimiografadas em 1971. Fiz 13 livros, fui incluído em antologias do final de século. Sou muito grato por isso. Mas não me considero um poeta no sentido literal da palavra. Não consegui dominar o verso. Nunca experimentei o soneto, o heptassílabo, não dei a mão à métrica. Tão pouco resolvi a equação arte = vida. Não, não sou um poeta. Li muito pouco. Só falo, mal e porcamente, o português. Fui poeta sem ter a sombra dos mestres. Foi um impulso irresistível em tentar me expressar. Sou poeta para me expressar. Não sou músico ou pintor, dançarino ou ator. Sou poeta. Mas não devia. Sou um poeta que se revoltou contra o papel e foi em busca de um corpo que fala. Um corpo que faz parte da vida e da cidade. Um corpo que entre outros, fala poemas. De passagem.


bio: escrevi 13 livros. o primeiro foi "muito prazer ' (71). o último " a vida é curta pra ser pequena (2002).
editei a revista O Carioca (96 / 98). Dirijo o Centro de Experimentação Poética - CEP 20.000 - desde 1990.
Fiz parte da Nuvem Cigana.

quanto à poética: poesia = ôôôôô bah....

5 comments:

Anonymous said...

Chacal, fico feliz por sua participação neste blog. Era necessária. Há um bom tempo que não nos vemos nem nos falamos. Forte abraço
André Luiz Pinto

Anonymous said...

vi voce na telinha, mudo-in-cantamento no templum de um jovem, o que senti -- mutável - ... Perturbar-me nesse fatalismo, despertar-me à força - em verdade sempre foi fatalmente sombrio. - Tomar a si mesmo como um fado, não se querer ‘diferente' - eis um nao ensinamento, eis uma filosofia da difenrença e da impregnancia da vida.

Eduardo Mamcasz said...

Véio.
Há quanto tempo...
Tento, tonto, a sobrevida.
Mas inda não me qualifico fantasma.
Um grande abraço real.
MAMCASZ

Alexandre Damasceno said...

Pois é, "O impossível sempre acontece..." E eis que, fuçando os blogs poéticos, topo com você, que não se julga poeta. No seu caso não seria pretensão. Já no meu, não sei não. Meu caro, não tem jeito: essa sua inadmitida poesia não é nem um pouco fiel. Vai te trair sempre. Um grande abraço.

Carleto Gaspar 1797 said...

Eram épicas as recitações no Cep...