foto: Lu Schadek
mencionada por:Carlito Azevedo
Diego Vinhas
menciona a:
(subtraí de minhas escolhas aqueles que já postaram aqui)
Francisco Alvim
Izabela Leal
Eudoro Augusto
Leonardo Martinelli
Augusto Massi
Marcos Siscar
poemas
Pretexto
o olho da rua é seco, sarcástico
do mesmo gênero das abotoaduras
e toucadores
de tudo resta sempre o seu mistério virgem
a beleza de íris os ares encardidos a córnea
tal qual um diadema espavorido
sobre nossas cabeças
então ele cruzou a pista sem qualquer melancolia
e travou o zíper sobre a pele
publicado na Inimigo Rumor 17
Punção
campanários. isso sim é uma casa
não aqui
onde os objetos sequer conspiram
onde a pele não se reconhece pele
e não se engendra cápsula de outra cápsula
posse de um único mistério
com seu agravo inabalável. uma casa
requer formas como dormideiras
que se recolham à carícia quando todas as carícias
são íntimas é tão surrado reconhecer
nas paredes que a única propriedade possível
é a fuga e mais ainda o sono profundo e
que sobretudo os mais elaborados sinais de chuva
não passam de sentinelas
resfolegando seu passo de partida
esta casa
não é minha: não se alcança daqui o brejo
afetuoso ao fundo de todas as coisas
não se vê o fosso
translúcido extorquindo das frestas
as esquadrias
tampouco há cantigas
emudecedoras
quando as horas se constrangem ao toque
ou ao contato do antebraço
com o repuxo invisível do acrílico
nesta casa
(assim como em todas as outras)
só resiste a ânsia de um veneno
afogado
em seu desleixo por lãs e puxadores
um veneno tão debilitado e circunstante
inabitável
quanto a certeza de que há ainda
no mundo tanto tremor
por tão pouca terra
publicado na Inimigo Rumor 18
av. brasil
o que se salva aqui são apenas
os elementos construtivos:
condutores singelos
traço um para três
cornija
uma secura de mão doente
essa carne nunca sabe
o que é degradado e o que é
desterro
mas impenitentes as platibandas
arregaçam
o que reluz: intempéries
tomadas de assalto
pela ferocidade branca
de um clique
publicado na Poesia Sempre 20
bio / biblio
Nasceu em 1980, no Rio de Janeiro. Jornalista, faz mestrado em Comunicação Social na Uerj, onde investiga os processos de comunicação e os lugares invisíveis do Morro da Mangueira. Inédita em livro, publicou poemas nas revistas Inimigo Rumor (nº 16, 17 e 18) e Poesia Sempre (nº 20).
poética
Na verdade não sou uma poeta – sou, antes, uma falsária. Digo isso porque a maioria das coisas que escrevo já chega pronta: pode ser um diálogo entreouvido no ônibus, a descrição de um quadro, um aviso no elevador. Sinto que existe uma palavra deslocada naquele ambiente, seja ele qual for, e a trago então para uma outra zona de afeto, para dentro de minhas tensões íntimas. (Eu escrevo para dar intimidade – uma intimidade de texturas, o contato pessoal com a língua - e isso me constrange um bocado). Minha poética é puro instinto de roubo. Por isso, não é minha.
mencionada por:Carlito Azevedo
Diego Vinhas
menciona a:
(subtraí de minhas escolhas aqueles que já postaram aqui)
Francisco Alvim
Izabela Leal
Eudoro Augusto
Leonardo Martinelli
Augusto Massi
Marcos Siscar
poemas
Pretexto
o olho da rua é seco, sarcástico
do mesmo gênero das abotoaduras
e toucadores
de tudo resta sempre o seu mistério virgem
a beleza de íris os ares encardidos a córnea
tal qual um diadema espavorido
sobre nossas cabeças
então ele cruzou a pista sem qualquer melancolia
e travou o zíper sobre a pele
publicado na Inimigo Rumor 17
Punção
campanários. isso sim é uma casa
não aqui
onde os objetos sequer conspiram
onde a pele não se reconhece pele
e não se engendra cápsula de outra cápsula
posse de um único mistério
com seu agravo inabalável. uma casa
requer formas como dormideiras
que se recolham à carícia quando todas as carícias
são íntimas é tão surrado reconhecer
nas paredes que a única propriedade possível
é a fuga e mais ainda o sono profundo e
que sobretudo os mais elaborados sinais de chuva
não passam de sentinelas
resfolegando seu passo de partida
esta casa
não é minha: não se alcança daqui o brejo
afetuoso ao fundo de todas as coisas
não se vê o fosso
translúcido extorquindo das frestas
as esquadrias
tampouco há cantigas
emudecedoras
quando as horas se constrangem ao toque
ou ao contato do antebraço
com o repuxo invisível do acrílico
nesta casa
(assim como em todas as outras)
só resiste a ânsia de um veneno
afogado
em seu desleixo por lãs e puxadores
um veneno tão debilitado e circunstante
inabitável
quanto a certeza de que há ainda
no mundo tanto tremor
por tão pouca terra
publicado na Inimigo Rumor 18
av. brasil
o que se salva aqui são apenas
os elementos construtivos:
condutores singelos
traço um para três
cornija
uma secura de mão doente
essa carne nunca sabe
o que é degradado e o que é
desterro
mas impenitentes as platibandas
arregaçam
o que reluz: intempéries
tomadas de assalto
pela ferocidade branca
de um clique
publicado na Poesia Sempre 20
bio / biblio
Nasceu em 1980, no Rio de Janeiro. Jornalista, faz mestrado em Comunicação Social na Uerj, onde investiga os processos de comunicação e os lugares invisíveis do Morro da Mangueira. Inédita em livro, publicou poemas nas revistas Inimigo Rumor (nº 16, 17 e 18) e Poesia Sempre (nº 20).
poética
Na verdade não sou uma poeta – sou, antes, uma falsária. Digo isso porque a maioria das coisas que escrevo já chega pronta: pode ser um diálogo entreouvido no ônibus, a descrição de um quadro, um aviso no elevador. Sinto que existe uma palavra deslocada naquele ambiente, seja ele qual for, e a trago então para uma outra zona de afeto, para dentro de minhas tensões íntimas. (Eu escrevo para dar intimidade – uma intimidade de texturas, o contato pessoal com a língua - e isso me constrange um bocado). Minha poética é puro instinto de roubo. Por isso, não é minha.
11 comments:
Juka,
assim que a gente se conheceu eu pensei "essa menina tem uma inteligência diabólica"... lá se vão três anos, não é?, e não mudei minha opinião...
vê se pára de freqüentar esses "lugares invisíveis da Mangueira" (o que os leitores desse blog vão pensar de você agora?) e termina logo esse livro de poemas, hijita! Ás de colete precisa de você!!!!
beijo
carlito
Juliana,
muito bons os seus poemas. Não conhecia o av. Brasil. Estou embasbacado. A poesia respira. Mesmo como esse ar, com esse marasmo. Que bom! Bjs, Heitor
Complemento: só agora li a sua "poética". Juliana, só queria dizer que eu gostaria de ter escrito isso. Não seria capaz. Você disse tudo. Bjs, Heitor
viva!!!
Ricardo: fico muito feliz que vc tenha aprovado. Angie, Marilia e você são tudo de bom nessa vida.
Carlito: ah, meu amigo, o que dizer? minhas incursões literárias não existiriam sem você. obrigada pela força, incentivo, generosidade. é uma honra ter o seu olhar por perto.
Heitor: a poesia respira sim - toda vez que folheio o "Coisas Imediatas" me lembro disso, e fico feliz.
Angie: que venha o rilke! conhecer vc e sua obra é uma alegria para todos nós.
oi juliana!
faz tempo q não dou sinal de vida, mas essa é só p/ dizer que a cada poema novo seu que leio,percebo que não dá p/ não ser seu fã :)
Essa fundiu minha cabeça. Excelente.
Leo Soares
Juliana, vc precisa de um livro... quer dizer, eu preciso do seu livro...
Bem, vc sabe o que quer ou precisa.
Seus muitos felizes leitores (entre os quais me incluo desde 2004) querem e precisam dos seus poemas em seus respectivos lares.
O que é meu no corpo ? o que significa subjetivar o corpo ao ver voce? Tais questões levarão a trilhar uma trajetória cujos prenhes sonhos de um encontro ainda nao sei, significação.
sou sua fã. bjs
Juliana,
seus poemas me fascinam, ao ponto de eu escrever algo em homenagem ao seu poema "Pretexto", espero que não se ofenda, foi feito com a intenção de homenagear o seu texto, fantástico!
o olho da rua não é seco
muito menos é sarcástico
as pupilas que são fleumáticas
virgem o olho guarda a vertigem
da retina enfastiada de repetir focos
e na amargura da rua sem saída
especula em água a última imagem
do assassino
sorria você está sendo distorcido
no vórtice de película gelatinosa
intermediada pela pelica varilux
ao redor do olho
red lightning
vasos rachados
de sangue sobre o branco
desenham acidentes geográficos
atalhos para o centro a espera
do flerte verde do semáforo
para cruzar de uma pálpebra a outra
os cílios brancos do asfalto
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