mencionado porRicardo Corona
menciona a
Adalberto Muller
Álvaro Faleiros
Ricardo Carvalho
Cláudio Willer
Felipe Leprevost
Josely V. Baptista
Marilia Kubota
Mario Domingues
poemas
O VÔO
sem
o rigor da areia
do corpo sem
asas em alas
em bote
quando
em queda
sobre
a estrada
veloz sem
o rio que falta
ao corpo se
aberto ao vôo
e absorto e
morto sem morte
possível seja
por água que
falte seja
por falha de
régua ou plano
de vôo seja
sem areia ou
sem corpo
*(publicado na MONTURO)
OS POEMAS QUE ELA ESTARÁ ESCREVENDO
Imanta de turvo. Marolas da pele, oceaniza-as. De cabelos serosos à primeira vista. Banhados. Aguardente de sésamo. Tarde e brisa de fim de frutas. Figos há dias. Lábio variolado ameríndio. Neblinado lago. Criam-se livres
buquês uvas. Carnosa água. Gomos de ácaros úmidos. Disparate de galhos
de pomos cor nacarada. Coração da rosa coral babuja seiva no chão:
Vejam, eu era rosal em festa ! Infinito, eu quero de volta a carne de seda !
Erma de um céu macieira e as maçãs mordiscadas a esteira. Cascas.
Folhas ácidas. Teve a febre asselvajada:O meu louvor veio das frutas fuji rajadas de incêndio !Árvores de bosque imperial. Perfume fatal.
Besouros acordam em lufas feras e dormem às brisas.
Pira inextinguível e caralhos. Relaxa na pérgula arbórea. Brisas que evolam
flashes de tonterías. Arves de érvoras floridas de versos. Por excesso.
Era o fim da noite e o pensamento do tempo possesso. Dizia pra si mesma:
Em farsa aventureça e apodreça. A terra molhada ou instante em que se morre
à beça. Ela que prevê pelos pássaros seus tomtons será louquinha oráculo
do silêncio. Do silêncio dos silêncios.
Bagulho comestível o mais raro. Sinal da língua de sua rápida decomposição.
Daquele que lhe provava qualquer uma a posição: a vala.
Sina da mulher da morte clara.
A cama onde o fogo abranda em coma e as formigas moram.
Pás de bosta. Gangas da casa. Cascas. As línguas de grama ramas comunidade
dos matagais. O céu estanho jogando 'sombra !' com a flor do quiabeiro.
Da horta a galinha-só na sua clareira. Circulada por cágados amanhecidos.
Leque de lâminas da que o sol mais flor amarela.
A ilhéu de crepes belas se altera.
Brancas álulas na planta disposta em capítulos,
De almiscarados pecíolos é o quiabo cheiroso:Acende a resina. Pisa no gramado. Ouve o z dos insetos.
Não lhe parece um deserto silvestre ?
*(publicado na OROBORO)
FALA A CABEÇA DE TIMOTHY LEARY
num aquário (morte falsa) num aquário (não há) noites em claro, água com açúcar (há), sal sob a língua (há), liquid sky é minha saída para dias-distorção
embrulhem migalhas: hoje não há mais loucos quase sonados e aquém sonhantes, eles, se vêm, vêm e buum ! somem. a infância foi um lugar de vencer corridas (morte falsa), lá só os loucos escreviam completamente, uma fala de espirro amoníaco, fabulando praias demais.
morcegos, pessoas distantes que não virão aqui sob as árvores de resina
envenenada, possuem o sonar circulador do brilho seu reino (vê: não dá
pra se armar da fome do povo). se meu filho comesse todos os peixes do mar e 'de la tierra nace el pan, y debajo de ella estará como convertida en fuego'.
o futuro tecnologicamente falando reserva-me o enxerto, com aquela superfície que em mim é vivida de outro modo, o vagar e vau abismo. do que você sente mais falta ? estradas cheias, dizem, de transes, e malocas indígenas onde me abriria a um unicórnio, as estrelas veladas por seda.
(morte falsa) ou o universo é uma casa - diriam certo, leves nas celas
os monges de silêncio, o universo é uma passagem - onde escrevo a ética
da desaparição. mais vastos são os corpos vazios, voz de anjos, salto suicida de uma cadeira, ou cemitério dos sons, insinua o pouso e não toca o chão.
a forca era uma espécie de picnolepsia enquanto escrever era um vício, a asa delta sem lapsos, a oficina de areias extremas. penso nas crises das
ex-lagartas no campo à quase-chuva: o verde é um mar tão amplo, caminho que sempre se percorre e ao fim morre-se.
anotações de um pós-fotógrafo à espera de pássaros: agora o que faço ? os pássaros tão cabaço, não apareceu um, não veio. o silêncio que ocupa
o espaço: o som não cabe mais no espaço - o espaço é o animal que pensa
que a membrana de água da noite me adormeça.
torso oleado, onde a pele ao escamar-se, escaldar-se, e eles rind'à-toa, hálito do sol rezere-me em mim, em mel ! pasta de miolos ! esquecer o céu,
mas vejo olhos de papel (anotar - morte falsa - pássaros iluminam o sol),
há a luz onde palavras não dizem nada.
queimar livros, ser self-made man na terra do prazer, respirar de estrelas
mais portas invisíveis, have you ever been to electric ladyland ? adeus
projetos hidrográficos, que jamais velejem sozinhos, sob quedas repentinas
de energia eu sonho um dia vos reinundarei.
*(inédito)
bio/biblio
Atualmente tenho uma papelaria, vendo papel em branco. Poesia é bom que não venda. Sempre puxado pelos acontecimentos, sem construir meu tempo. Ganhei Prêmio Estímulo da prefeitura de Campinas: com a grana publiquei Desencantos Mínimos (Iluminuras,1996). Vim para Curitiba, montei um sebo, fali. Abandonei o mestrado em Sociologia da Cultura na Unicamp, faltava defender a tese. Tive um programa de rádio (Metáfora) com minha ex-mulher: durou uns seis meses, foi legal. Publiquei na imprensa local e, mais recentemente, críticas no Diário Catarinense e no Correio Braziliense. Não participei de seminários, mesa-redonda, sarau e o escambau. Nem grupos de estudo, nem traduzi (apenas para o consumo interno), nem dei oficinas. Publiquei em revistas: Cópula, Monturo, Inimigo Rumor, Cigarra, Oroboro. Não saí em antologias, nem me citaram em lugares quaisquer. Não tenho nada virtual. Recentemente fiz um show com meus poemas no Wonka Bar, sendo vaiado e pouco apupado, apesar da verdade que sei nas minhas palavras. Fiquei como professorzinho de história muito tempo, agora sou SIMPLES, isento de ICMS e mascando o juro que o diabo amassou. Estou sozinho nessa. Sou, portanto, aos 35 anos, um quase ou um ex (tb o q foi sem nunca ter sido). Mas é só assim que consigo. [ricardopedralves@ibest.com.br]
poética
Só escrevo em transe. Construo com os cacos, depois. Tenho por utopias a liberdade e o sublime. Como a poesia é uma religião, diria que sou ateu, mas assustado. E também teve o punk o rimbaud o f. gullar o bagulho denotativo e conotativo muita teoria sobre poesia e sobre os poetas-máscaras a escrita automática (quando se desintegra) o artista como sofredor exemplar a pretensão de filosofia cópula com a linguagem conluio com o lindo na calada da lenda sempre de uma perspectiva encantatória a árvore do regozijo contra o teatro da crueldade josé mojica marins e o ônibus 174 mantra cobertor-voador de dropar a língua.
menciona a
Adalberto Muller
Álvaro Faleiros
Ricardo Carvalho
Cláudio Willer
Felipe Leprevost
Josely V. Baptista
Marilia Kubota
Mario Domingues
poemas
O VÔO
sem
o rigor da areia
do corpo sem
asas em alas
em bote
quando
em queda
sobre
a estrada
veloz sem
o rio que falta
ao corpo se
aberto ao vôo
e absorto e
morto sem morte
possível seja
por água que
falte seja
por falha de
régua ou plano
de vôo seja
sem areia ou
sem corpo
*(publicado na MONTURO)
OS POEMAS QUE ELA ESTARÁ ESCREVENDO
Imanta de turvo. Marolas da pele, oceaniza-as. De cabelos serosos à primeira vista. Banhados. Aguardente de sésamo. Tarde e brisa de fim de frutas. Figos há dias. Lábio variolado ameríndio. Neblinado lago. Criam-se livres
buquês uvas. Carnosa água. Gomos de ácaros úmidos. Disparate de galhos
de pomos cor nacarada. Coração da rosa coral babuja seiva no chão:
Vejam, eu era rosal em festa ! Infinito, eu quero de volta a carne de seda !
Erma de um céu macieira e as maçãs mordiscadas a esteira. Cascas.
Folhas ácidas. Teve a febre asselvajada:O meu louvor veio das frutas fuji rajadas de incêndio !Árvores de bosque imperial. Perfume fatal.
Besouros acordam em lufas feras e dormem às brisas.
Pira inextinguível e caralhos. Relaxa na pérgula arbórea. Brisas que evolam
flashes de tonterías. Arves de érvoras floridas de versos. Por excesso.
Era o fim da noite e o pensamento do tempo possesso. Dizia pra si mesma:
Em farsa aventureça e apodreça. A terra molhada ou instante em que se morre
à beça. Ela que prevê pelos pássaros seus tomtons será louquinha oráculo
do silêncio. Do silêncio dos silêncios.
Bagulho comestível o mais raro. Sinal da língua de sua rápida decomposição.
Daquele que lhe provava qualquer uma a posição: a vala.
Sina da mulher da morte clara.
A cama onde o fogo abranda em coma e as formigas moram.
Pás de bosta. Gangas da casa. Cascas. As línguas de grama ramas comunidade
dos matagais. O céu estanho jogando 'sombra !' com a flor do quiabeiro.
Da horta a galinha-só na sua clareira. Circulada por cágados amanhecidos.
Leque de lâminas da que o sol mais flor amarela.
A ilhéu de crepes belas se altera.
Brancas álulas na planta disposta em capítulos,
De almiscarados pecíolos é o quiabo cheiroso:Acende a resina. Pisa no gramado. Ouve o z dos insetos.
Não lhe parece um deserto silvestre ?
*(publicado na OROBORO)
FALA A CABEÇA DE TIMOTHY LEARY
num aquário (morte falsa) num aquário (não há) noites em claro, água com açúcar (há), sal sob a língua (há), liquid sky é minha saída para dias-distorção
embrulhem migalhas: hoje não há mais loucos quase sonados e aquém sonhantes, eles, se vêm, vêm e buum ! somem. a infância foi um lugar de vencer corridas (morte falsa), lá só os loucos escreviam completamente, uma fala de espirro amoníaco, fabulando praias demais.
morcegos, pessoas distantes que não virão aqui sob as árvores de resina
envenenada, possuem o sonar circulador do brilho seu reino (vê: não dá
pra se armar da fome do povo). se meu filho comesse todos os peixes do mar e 'de la tierra nace el pan, y debajo de ella estará como convertida en fuego'.
o futuro tecnologicamente falando reserva-me o enxerto, com aquela superfície que em mim é vivida de outro modo, o vagar e vau abismo. do que você sente mais falta ? estradas cheias, dizem, de transes, e malocas indígenas onde me abriria a um unicórnio, as estrelas veladas por seda.
(morte falsa) ou o universo é uma casa - diriam certo, leves nas celas
os monges de silêncio, o universo é uma passagem - onde escrevo a ética
da desaparição. mais vastos são os corpos vazios, voz de anjos, salto suicida de uma cadeira, ou cemitério dos sons, insinua o pouso e não toca o chão.
a forca era uma espécie de picnolepsia enquanto escrever era um vício, a asa delta sem lapsos, a oficina de areias extremas. penso nas crises das
ex-lagartas no campo à quase-chuva: o verde é um mar tão amplo, caminho que sempre se percorre e ao fim morre-se.
anotações de um pós-fotógrafo à espera de pássaros: agora o que faço ? os pássaros tão cabaço, não apareceu um, não veio. o silêncio que ocupa
o espaço: o som não cabe mais no espaço - o espaço é o animal que pensa
que a membrana de água da noite me adormeça.
torso oleado, onde a pele ao escamar-se, escaldar-se, e eles rind'à-toa, hálito do sol rezere-me em mim, em mel ! pasta de miolos ! esquecer o céu,
mas vejo olhos de papel (anotar - morte falsa - pássaros iluminam o sol),
há a luz onde palavras não dizem nada.
queimar livros, ser self-made man na terra do prazer, respirar de estrelas
mais portas invisíveis, have you ever been to electric ladyland ? adeus
projetos hidrográficos, que jamais velejem sozinhos, sob quedas repentinas
de energia eu sonho um dia vos reinundarei.
*(inédito)
bio/biblio
Atualmente tenho uma papelaria, vendo papel em branco. Poesia é bom que não venda. Sempre puxado pelos acontecimentos, sem construir meu tempo. Ganhei Prêmio Estímulo da prefeitura de Campinas: com a grana publiquei Desencantos Mínimos (Iluminuras,1996). Vim para Curitiba, montei um sebo, fali. Abandonei o mestrado em Sociologia da Cultura na Unicamp, faltava defender a tese. Tive um programa de rádio (Metáfora) com minha ex-mulher: durou uns seis meses, foi legal. Publiquei na imprensa local e, mais recentemente, críticas no Diário Catarinense e no Correio Braziliense. Não participei de seminários, mesa-redonda, sarau e o escambau. Nem grupos de estudo, nem traduzi (apenas para o consumo interno), nem dei oficinas. Publiquei em revistas: Cópula, Monturo, Inimigo Rumor, Cigarra, Oroboro. Não saí em antologias, nem me citaram em lugares quaisquer. Não tenho nada virtual. Recentemente fiz um show com meus poemas no Wonka Bar, sendo vaiado e pouco apupado, apesar da verdade que sei nas minhas palavras. Fiquei como professorzinho de história muito tempo, agora sou SIMPLES, isento de ICMS e mascando o juro que o diabo amassou. Estou sozinho nessa. Sou, portanto, aos 35 anos, um quase ou um ex (tb o q foi sem nunca ter sido). Mas é só assim que consigo. [ricardopedralves@ibest.com.br]
poética
Só escrevo em transe. Construo com os cacos, depois. Tenho por utopias a liberdade e o sublime. Como a poesia é uma religião, diria que sou ateu, mas assustado. E também teve o punk o rimbaud o f. gullar o bagulho denotativo e conotativo muita teoria sobre poesia e sobre os poetas-máscaras a escrita automática (quando se desintegra) o artista como sofredor exemplar a pretensão de filosofia cópula com a linguagem conluio com o lindo na calada da lenda sempre de uma perspectiva encantatória a árvore do regozijo contra o teatro da crueldade josé mojica marins e o ônibus 174 mantra cobertor-voador de dropar a língua.
1 comment:
Muito, muito bom, Ricardo.
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