foto: Débora 70
mencionado por
Bianca Lafroy
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Bianca Lafroy
Pedro Maciel
menciona aAdriana Falcão
Affonso Romano de Sant’Anna
Alberto Pucheu
André Gardel
Astier Basílio
Bruno Levinson
Cabelo
Carlos Emílio Barreto Corrêa Lima
Chacal
Christiane Tassis
Claudia Ahimsa
Emmanuel Marinho
Fernando Bonassi
Fernando de Castro
Flávio Viegas Amoreira
Francisco Bosco
Guilherme Zarvos
Ivy Exner
Manoela Sawitzki
Marcelo Rubens Paiva
Martha Medeiros
Mauricio Baia
Nelson de Oliveira
Omar Salomão
Pedro Maciel
Pedro Rocha
Renato Rezende
Tarso Araújo
Tavinho Paes
Vitor Paiva
Viviane Mosé
poemas:
PEDRA,
COM AS UNHAS DA ESPERA
SEU CUME CEGO AFIA-SE NO CÉU
CERCADO PELAS CURVAS DA CIDADE
AGUARDANDO SUA PASSAGEM, PEDRA
UMA ESFERA ARRANHA SEU CHAPÉU
PEDRA,
INVADINDO A SUA IMAGEM
SEU COLAR DE PÁGINAS
NA FILA DAS SETAS SECRETAS
ARREBENTA COM A MIRAGEM, PEDRA
SOTERRANDO A REVOADA PERPÉTUA
(inédito)
p/ Luciana
no nosso último jantar
sentamos à mesa e comemos em silêncio (o próprio)
bebemos vinho e não brindamos
só se brinda quando existem planos
naquela noite, naquela mesa
nosso último jantar era a única certeza
alguém que porventura bisbilhotasse nossa janela
veria talheres e copos flutuando sobre as velas
no nosso último jantar
sentamos à mesa e comemos transparentes
alguém que por ventura bisbilhotasse nossa janela
veria a comida sendo digerida dentro da gente
no nosso último jantar
sentamos à mesa e carcomemo-nos
alguém que por ventura bisbilhotasse nossa janela
nos veria por muito pouco tempo
(Regurgitofagia, 2004, Editora Objetiva)
o homem-de-lata afunda a pata no acelerador de sua caranga de carne-osso. avança sobre o centro nervoso da cidade desalmada a fim de lançar o coração como granada. a missão cumprida lança-o à rotina. homem-de-lata envasa a direção de sua casa num vôo propulsionado a tapa na nuca, cascudo na carapinha, movido a preguiça — como que içado pelos pentelhos de bombril por uma pinça. estaciona na garagem do prédio de carne-osso. mete sua chave de carne na fechadura de osso. senta-se no sofá de fígado e abrindo uma latinha de sangue estupidamente barato encrosta-se na sua tv de cartilagem plana. dorme homem-de-lata, dorme. adentre esta mata de fibra-ótica sob este céu de fusíveis. veja como é belo o mar de gasolina quebrando nos bytes da praia. sonha homem-de-lata, sonha. o que não te fortalece te mata. há de haver um lugar em que a vida é só aço, madeira, ferro, plástico. o mundo também é dos que apenas sonham que podem conquistá-lo. homem-de-lata acorda sobressaltado. onde haverá pedra neste mundo, pensa, estou farto de semimáquinas. senta-se à escrivaninha de gordura e, lembrando-se do amanhã, escreve em seu notebook de estrias:
rio de janeiro,
menos 20 graus.
os patinadores cavalgam parelhos no espelho de gelo da lagoa.
o cristo redentor,
quase irreconhecível,
assim,
com a neve cobrindo-lhe
o dorso das mãos pés braços ombros cabeça...
não fosse a justa localização e tamanho
poderia se suspeitar que fosse outrem ali:
um king-kong petrificado no apogeu da escalada;
uma esfinge, de pé, propondo a pantomima do seu enigma;
a estátua da liberdade – renunciando à tocha,
os braços semi-erguidos como asas, livre;
quiçá a torre eiffel obesa
ou mesmo um patético espantalho gigante afugentando o sol...
a neve tomba sobre a cidade.
queda lentamente escorada pelo absoluto silêncio,
este silêncio hibernado há mais de quinhentos anos,
lapidando as hélices dos flocos
para o desbunde branco.
casais sobre esquis descem o pão-de-açúcar.
na baía de guanabara um pai puxa o filho no trenó.
pingüins aplaudem a aurora boreal no posto 9.
vai mesmo que o pau-brasil cisma desbotar na polônia
e uma ave gargarejar na rússia.
uzbequistão e suas palmeiras do mangue...
sibéria 40º...
hoje,
aqui,
são as neves de março que fecham o verão.
e promessa nenhuma.
nunca mais.
(Regurgitofagia, 2004, Editora Objetiva)
bio/biblio
Michel Melamed é poeta. Autor, ator e diretor dos espetáculos DINHEIRO GRÁTIS e REGURGITOFAGIA (e do livro homônimo que deu origem a peça). Participou da fundação e coordenou o projeto CEP 20.000 - Centro de Experimentação Poética do Rio de Janeiro. Criação, roteiro e apresentação do programa RECORTE CULTURAL da TVE/ Rede Brasil. Prepara para 2007 o lançamento do livro e espetáculo HOMEMÚSICA.
poética
www.michelmelamed.com.br
menciona aAdriana Falcão
Affonso Romano de Sant’Anna
Alberto Pucheu
André Gardel
Astier Basílio
Bruno Levinson
Cabelo
Carlos Emílio Barreto Corrêa Lima
Chacal
Christiane Tassis
Claudia Ahimsa
Emmanuel Marinho
Fernando Bonassi
Fernando de Castro
Flávio Viegas Amoreira
Francisco Bosco
Guilherme Zarvos
Ivy Exner
Manoela Sawitzki
Marcelo Rubens Paiva
Martha Medeiros
Mauricio Baia
Nelson de Oliveira
Omar Salomão
Pedro Maciel
Pedro Rocha
Renato Rezende
Tarso Araújo
Tavinho Paes
Vitor Paiva
Viviane Mosé
poemas:
PEDRA,
COM AS UNHAS DA ESPERA
SEU CUME CEGO AFIA-SE NO CÉU
CERCADO PELAS CURVAS DA CIDADE
AGUARDANDO SUA PASSAGEM, PEDRA
UMA ESFERA ARRANHA SEU CHAPÉU
PEDRA,
INVADINDO A SUA IMAGEM
SEU COLAR DE PÁGINAS
NA FILA DAS SETAS SECRETAS
ARREBENTA COM A MIRAGEM, PEDRA
SOTERRANDO A REVOADA PERPÉTUA
(inédito)
p/ Luciana
no nosso último jantar
sentamos à mesa e comemos em silêncio (o próprio)
bebemos vinho e não brindamos
só se brinda quando existem planos
naquela noite, naquela mesa
nosso último jantar era a única certeza
alguém que porventura bisbilhotasse nossa janela
veria talheres e copos flutuando sobre as velas
no nosso último jantar
sentamos à mesa e comemos transparentes
alguém que por ventura bisbilhotasse nossa janela
veria a comida sendo digerida dentro da gente
no nosso último jantar
sentamos à mesa e carcomemo-nos
alguém que por ventura bisbilhotasse nossa janela
nos veria por muito pouco tempo
(Regurgitofagia, 2004, Editora Objetiva)
o homem-de-lata afunda a pata no acelerador de sua caranga de carne-osso. avança sobre o centro nervoso da cidade desalmada a fim de lançar o coração como granada. a missão cumprida lança-o à rotina. homem-de-lata envasa a direção de sua casa num vôo propulsionado a tapa na nuca, cascudo na carapinha, movido a preguiça — como que içado pelos pentelhos de bombril por uma pinça. estaciona na garagem do prédio de carne-osso. mete sua chave de carne na fechadura de osso. senta-se no sofá de fígado e abrindo uma latinha de sangue estupidamente barato encrosta-se na sua tv de cartilagem plana. dorme homem-de-lata, dorme. adentre esta mata de fibra-ótica sob este céu de fusíveis. veja como é belo o mar de gasolina quebrando nos bytes da praia. sonha homem-de-lata, sonha. o que não te fortalece te mata. há de haver um lugar em que a vida é só aço, madeira, ferro, plástico. o mundo também é dos que apenas sonham que podem conquistá-lo. homem-de-lata acorda sobressaltado. onde haverá pedra neste mundo, pensa, estou farto de semimáquinas. senta-se à escrivaninha de gordura e, lembrando-se do amanhã, escreve em seu notebook de estrias:
rio de janeiro,
menos 20 graus.
os patinadores cavalgam parelhos no espelho de gelo da lagoa.
o cristo redentor,
quase irreconhecível,
assim,
com a neve cobrindo-lhe
o dorso das mãos pés braços ombros cabeça...
não fosse a justa localização e tamanho
poderia se suspeitar que fosse outrem ali:
um king-kong petrificado no apogeu da escalada;
uma esfinge, de pé, propondo a pantomima do seu enigma;
a estátua da liberdade – renunciando à tocha,
os braços semi-erguidos como asas, livre;
quiçá a torre eiffel obesa
ou mesmo um patético espantalho gigante afugentando o sol...
a neve tomba sobre a cidade.
queda lentamente escorada pelo absoluto silêncio,
este silêncio hibernado há mais de quinhentos anos,
lapidando as hélices dos flocos
para o desbunde branco.
casais sobre esquis descem o pão-de-açúcar.
na baía de guanabara um pai puxa o filho no trenó.
pingüins aplaudem a aurora boreal no posto 9.
vai mesmo que o pau-brasil cisma desbotar na polônia
e uma ave gargarejar na rússia.
uzbequistão e suas palmeiras do mangue...
sibéria 40º...
hoje,
aqui,
são as neves de março que fecham o verão.
e promessa nenhuma.
nunca mais.
(Regurgitofagia, 2004, Editora Objetiva)
bio/biblio
Michel Melamed é poeta. Autor, ator e diretor dos espetáculos DINHEIRO GRÁTIS e REGURGITOFAGIA (e do livro homônimo que deu origem a peça). Participou da fundação e coordenou o projeto CEP 20.000 - Centro de Experimentação Poética do Rio de Janeiro. Criação, roteiro e apresentação do programa RECORTE CULTURAL da TVE/ Rede Brasil. Prepara para 2007 o lançamento do livro e espetáculo HOMEMÚSICA.
poética
www.michelmelamed.com.br
3 comments:
Olá, fiquei curiosa, onde sou mencionada?
Beijocas,
Ivy
Ivy, os poetas que participam do projeto vao mencionando outros, que sao convidados também para participar. Porém, para nao bagunçar muito as coisas, vou convidando eles aos poucos -assim que posso ir colocando o material de outros que foram mencionados antes, etc -
Nao sei se consegui explicar... se nao for assim, pode me escrever e eu te respondo melhor.
a.-
Michel Malamed não é poeta nem aqui nem no Egito. Se me mostrarem um só verso seu metrificado, vou pensar no assunto! Ele não faz poesia, que é ARTE! Ele faz uma prosa dura de roer, marcada por pensamentos medíocres e uma filosofia de vida que não tem nada de novo a revelar. Acho bom que ele escolha uma outra profissão.
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